Sobre as Ondas do Carma
e da Compaixão Universal
Augusto de Lima

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Nota Editorial:
O poema a seguir faz um exercício de expansão
da consciência para além da esfera de sofrimentos e
ambições pessoais. Acrescentamos notas explicativas.
(CCA)
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O globo estava
escuro, o firmamento baço.
Arrebatado
na asa invisível dos ventos,
eu
ouvia gemer no indefinido espaço
as
mortas gerações dos séculos poentos. [1]
Filhos
de antigos sóis [2], filhos dos
novos dias,
monstros,
ídolos, reis, virgens de rostos pulcros [3],
corpos
vazios de alma, almas de amor vazias,
erguiam-se
a meus pés do fundo dos sepulcros.
Como
ondas que as marés vão arrojando às plagas [4],
num denso
remoinho elétrico de gritos,
eu
via o turbilhão dessas humanas vagas,
bulhando
no cairel [5] dos tempos infinitos.
A
guerra fratricida, a tirania, o roubo,
a
crápula, o veneno, as tramas hediondas…
Messalina
[6], a cadela, Heliogábalo, o lobo [7],
cruzavam-se
a rolar, arrastados nas ondas.
E o
vento cada vez se tornava mais forte,
e o
ruído crescia, e a treva era mais densa;
nisto
ouvi rebentar dos vagalhões da Morte
um
grito, que ecoou pela abóbada imensa.
E
súbito acalmou-se a agitação das massas,
e o
vento me depôs. Um estelino [8]
albor
vinha
lavando o céu das fúnebres fumaças:
-
era a constelação das lágrimas do Amor.
NOTAS:
[1] Poentos: poeirentos.
[2] A filosofia esotérica afirma que sóis e
sistemas solares seguem a mesma lei universal da “reencarnação” periódica,
descansando nos pralayas e voltando à
atividade nos manvântaras. Assim, a
expressão “antigos sóis” é uma referência a existências anteriores de sistemas
solares.
[3] Pulcros: de grande beleza, delicadeza e
graciosidade.
[4] Plagas: terras.
[5] Cairel: borda, beira, fronteira.
[6] Messalina: mulher devassa, meretriz.
[7] Heliogábalo, imperador romano sem ética.
[8] Estelino: o termo, raro, significa
“estrelado”.
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O poema acima foi
reproduzido do volume “Poesias”, de Augusto
de Lima, Editora H. Garnier, Rio de Janeiro / Paris, 1909, 300 pp., ver pp.
9-10. A ortografia foi atualizada.
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Para conhecer um
diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500
anos, leia o livro “Conversas na
Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.

Com 28 capítulos e
170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da Universidade de
Blumenau, Edifurb.
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