21 de maio de 2018

A LIT Como Pedra e Como Sonho

O Esforço Teosófico Constitui um
Processo de Construção Permanente

Carlos Cardoso Aveline




“Trate […] de aprender uma lição através de
quem quer que seja que ela possa estar sendo dada.
‘Até mesmo as pedras podem pregar sermões’.”

(“Cartas dos Mestres de Sabedoria”,
Editora Teosófica, Brasília, página 147.)



Compilando textos antigos, pesquisando e ensinando uma sabedoria milenar, a Loja Independente de Teosofistas, LIT, constitui uma semente do futuro cuja germinação é guiada pelo ensinamento dos Mestres dos Himalaias.

A Loja é um paradoxo em movimento. De um lado, está voltada para a melhoria do mundo. De outro, sua força depende da interiorização e da disciplina interior com que cada associado convive consigo mesmo na vida diária.

O estudo da teosofia original permite construir a Loja como um pequeno templo compartilhado. Nele o peregrino interage com um ensinamento celestial, isto é, com a consciência cósmica, cujas chaves de acesso estão no acervo dos websites associados.

Fazer parte do território sutil e concreto da LIT implica ouvir sua própria alma e atuar em harmonia com o progresso de todos os seres, nos níveis essenciais da consciência.

A função de uma loja teosófica não é apenas prestar atenção ao drama humano que se desdobra hoje em escala planetária. É também aumentar o contato com o silêncio sagrado. A eliminação do barulho é um ato de vontade própria que sustenta o processo de inspiração superior e fortalece a prática de ações corretas.

É necessária uma vontade imperiosa para vencer as tendências materializantes que transfiguram negativamente o mundo. Não cabe ter revolta ou horror diante do processo infantil de dessacralização atual das coisas divinas. É tarefa do indivíduo bem informado construir uma defesa para a bondade impessoal, e preservar o discernimento e a sabedoria no interior da sua própria alma.

Trabalhando na direção da luz, a Loja Independente partilha um Esquema Conceitual, Referencial e Operativo, ou ECRO. O progresso interior exige autorresponsabilidade. Todo cidadão pode observar e aperfeiçoar com regularidade o seu próprio sistema de orientação. Seu esquema conceitual, referencial e operativo deve ouvir sua alma e estar adaptado à sua própria vida, seu carma específico e suas circunstâncias.

O ECRO individual tem vários níveis de consciência. É físico, emocional, mental, filosófico e opera no mundo do espírito. As referências orientadoras de um aspecto da vida podem entrar em choque com as referências de outro aspecto. Só uma visão ampla do mundo permite harmonizar o todo na sua pluralidade.

O movimento teosófico é um ECRO dinâmico compartilhado. Constitui um processo de construção permanente. Provoca uma “febre cármica de autopurificação”, na existência das pessoas mais atentas. 

A Loja é Pedra e é Grão de Areia

Fundada há pouco tempo, em 14 de setembro de 2016, a Loja Independente de Teosofistas tem como perspectiva o longo prazo. Seu aniversário ocorre sete dias depois da data nacional do Brasil, a mesma data em que foi fundado o movimento teosófico internacional, em 1875.[1]

É bem conhecida em filosofia esotérica a força das letras e dos sons.

A sigla LIT está contida em palavras como literal, literatura, literalidade, literário, e também “litania”, que significa oração ou súplica.

A palavra “lítico” significa “puro, verdadeiro, legítimo, sem mistura”. O estudante de filosofia deve ser lítico. A meta é alcançar uma visão autêntica da sabedoria teosófica.

Litoglifia é a arte de gravar sobre pedra. No mito bíblico, os dez mandamentos de Moisés são litoglíficos. Foram escritos em pedra, simbolizando a luz astral e o seu caráter indelével e indeletável. O associado da LIT busca ser um litóglifo, um especialista em escrever sobre pedra e agir no plano durável da vida. Pedra representa aquilo que está situado nos planos superiores da natureza.

No trecho bíblico que fala da escada de Jacó - o capítulo 28 do Gênese - é sobre uma pedra que Jacó descansa a cabeça, como se fosse um travesseiro, antes de dormir e ter um sonho em que vê a escada entre céu e Terra.

Para a tradição maçônica - que gira em torno da imagem da construção - o pedreiro livre é como uma pedra bruta, e deve trabalhar a si mesmo enquanto faz parte da construção coletiva do templo.

Na tradição andina, os seres humanos eram de pedra antes de entrarem em ação como tais, isto é, eram modelos arquetípicos, imóveis, de eras anteriores, aos quais foi dada vida outra vez na abertura do ciclo humano atual.

Em torno da ideia da pedra há um diálogo permanente entre os níveis superiores e inferiores de consciência. O artigo “Um Parentesco Entre a Índia e os Andes” examina o fato de que H.P. Blavatsky visitou pessoalmente a fronteira andina entre a Bolívia e o Brasil:

“Ela juntou um punhado de areia de um rio para levar consigo. HPB conta que viajou com a pequena amostra de minérios para a Europa, onde confirmou que havia na terra pepitas de ouro levadas pela correnteza do rio desde o Brasil para a Bolívia.”

Por algum motivo a Loja Independente estuda a sabedoria andina.

As pedras são objetos magnéticos, e o mesmo artigo afirma:

“Há uma passagem das Cartas dos Mahatmas em que um mestre pede a um discípulo leigo que lhe mande três pedras tiradas das margens do mar Adriático. O Adriático é um braço do Mar Mediterrâneo. O mestre escreveu a Alfred Sinnett: ‘Você poderia encontrar um modo de recolher para mim três seixos? Eles devem vir das praias do Adriático - preferivelmente de Veneza; tão próximo do Palácio Dogal quanto eles puderem ser encontrados (….). Os seixos devem ter três cores diferentes; um vermelho, outro preto, o terceiro branco (ou acinzentado). Se conseguir pegá-los, por favor, mantenha-os separados de qualquer influência e contato exceto os seus…’.” [2]

O escritor argentino Jorge Luis Borges usou a metáfora da pedra como símbolo da permanência e da areia como imagem daquilo que se perde:

“Nada se edifica sobre pedra, tudo sobre areia, mas o nosso dever é edificar como se fora pedra a areia…”. [3]

A LIT é pedra e é areia, cujo grão é uma miniatura da pedra. É também um sonho. Os sonhos fazem parte da realidade.

A pequena Loja, instrumento de uma construção maior, é permanente por um lado e de outro lado está sujeita às marés do tempo cronológico. É um grão de areia à beira do Oceano.

Não há um dilema doloroso entre ser pedra, ser areia, e ser pó. Os teosofistas são pedra e são areia, e são água. O planeta em que vivemos é ele mesmo uma pequena pedra molhada girando e vivendo suas marés à beira de um largo mar de estrelas.

* A ciência atual chama de litosfera a parte externa consolidada do nosso planeta.

* O litoral é o ponto de encontro entre o mar e o continente. No plano simbólico, o litoral liga o flexível e o firme, o imenso e o terrestre, o tempo eterno e o curto prazo. A LIT pertence àquela Faixa Litorânea em que a humanidade se encontra com o oceano da sabedoria eterna. 

* Litoide, diz o dicionário Aurélio, é aquilo que tem aspecto de pedra. A litolatria é o culto ou adoração das pedras.

* Sabemos em teosofia que há pedras com diferentes propriedades psíquicas e espirituais. H.P. Blavatsky escreveu sobre isso, e temos em nossos websites um texto dela sobre o tema: “O Poder Mágico da Safira”. [4]

* A litomancia é a adivinhação por meio de pedras. As runas, das tradições espirituais pagãs do norte da Europa, são tradicionalmente inscrições em pedras que permitem dialogar com o futuro.

* A Loja estuda as chaves da construção do futuro humano saudável.

* O verbo “litar” vem da palavra latina “litare”. Significa oferecer sacrifício, sacrificar com bons presságios, obter bom presságio, ter bons indícios.

A Loja está atenta à liturgia oculta, não-dogmática e autorresponsável que cada um cria com a prática regular pela qual se aproxima da sua alma eterna. Ao fortalecer a ligação com o seu próprio eu superior, o estudante de teosofia passa a cooperar quase imperceptivelmente com os sábios que guiam a caminhada humana no rumo da ética.

NOTAS:

[1] Veja o artigo “Sete de Setembro em Nova Iorque”.

[2] O texto Um Parentesco Entre a Índia e os Andes” está disponível em nossos websites associados.

[3] Citado em “Conversas na Biblioteca”, Carlos Cardoso Aveline, Edifurb, SC, 2007, 170 pp., ver p. 169.


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O texto acima foi publicado como artigo independente dia 21 de maio de 2018. Sua versão inicial está incluída - sem indicação do nome do autor - na edição de maio de 2018 de “O Teosofista” (pp. 01-04).

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