12 de março de 2015

Uma Escola Esotérica de Três Mil Anos

Os Níveis Avançados da Busca da Sabedoria

Carlos Cardoso Aveline




A tentativa relativamente recente de criação de uma Escola Esotérica visível, feita por H.P. Blavatsky no século 19, só pode ser compreendida no contexto mais amplo da transmissão desde tempos imemoriais de ensinamentos ocultos para aqueles que aspiram pela sabedoria eterna.

Os ensinamentos esotéricos não podem ser dados a personalidades externas. Eles estão disponíveis para as almas dos estudantes dedicados de todas as nações e tradições culturais.

A verdadeira Escola esotérica é interna, invisível, e sua antiguidade não pode ser facilmente descrita. Ela é tão antiga quanto a humanidade, porque o ser humano nunca foi deixado sozinho em seu aprendizado espiritual e sua evolução. No plano das evidências históricas e culturais, essa escola sutil existe há cerca de 3.000 anos, no Oriente e no Ocidente.  

Oculta aos cinco sentidos, a Escola de Almas estava ativa nos tempos da Grécia e do Egito antigos, e prossegue agindo hoje nestes e em outros países. Está viva na Índia e na China. Está essencialmente ligada aos Himalaias. Não há razão para discutirmos a sua “localização física”, já que ela não está limitada a este ou aquele lugar. Basta dizer que ela tem várias ramificações, inclusive nos Andes sul-americanos,  conforme  H. P. Blavatsky esclarece em “A Doutrina Secreta”.[1] Sendo tão antiga quanto a humanidade, ela começou a operar muito antes de qualquer civilização de que possamos ter conhecimento, e possui no século 21 tanta influência como sempre.

A evolução humana não está abandonada, portanto. Não há motivo para desânimo. Nada ocorre por acaso.  A trajetória da humanidade é conduzida silenciosamente no caminho da verdade por dois processos naturais. De um lado há o funcionamento espontâneo da boa lei do Carma, a lei universal da qual nada escapa. De outro lado, há o funcionamento da fraternidade das almas humanas mais sábias e mais experientes, que se libertaram da ignorância e trabalham pela libertação de todos os seres.

Milênio após milênio, esta Fraternidade de Compaixão expressa criativamente a lei do carma na evolução humana, de modo a reduzir a necessidade de sofrimento e de perda de tempo em nosso aprendizado. Ela trabalha em estreita harmonia com os graus mais elevados de consciência planetária.

Muitos dos que possuem uma boa vontade ativa para com todos e uma visão filosófica da vida entram, sem saber, no campo de observação dos Mahatmas e seus discípulos diretos. A razão disso é simples: a consciência do eu superior, que se expressa através do sentimento de fraternidade universal, já está despertando nesses indivíduos. Eles têm uma sintonia interior com o ensinamento.

Toda e qualquer escola esotérica autêntica que trabalhe no plano físico constitui apenas um instrumento da Escola Interna. Um grande número de “alunos” (discípulos  leigos) desta Escola de Almas pode nunca ter ouvido falar de teosofia, Mestres ou de Helena Blavatsky. O trabalho da Escola não está preso a  corporações. Tampouco é “inteiramente secreto”. Não necessita de rituais ou de lutas por poder político. Não utiliza “canalizações”. Ocorre no plano da ética impessoal. Os Versos de Ouro de Pitágoras - um documento de extraordinária importância - apontam para o seu ideal de aperfeiçoamento humano. [2]

A leitura de pensadores clássicos como Platão, Plotino, Porfírio, Sêneca, Cícero, e Arthur Schopenhauer revelará um vasto número de ensinamentos relacionados a esta Escola. E ainda Juliano o Apóstata, Musônio Rufo, Marco Aurélio, Epicteto, Dnyaneshwar, Paracelso, Cardeal de Cusa, Maine de Biran e S. Radhakrishnan, entre muitos outros.

Esta Escola não é, pois, uma instituição visível. Ela funciona por telepatia não verbal [3], a partir de uma afinidade interna de intenções e pensamentos. Os escritos de Helena Blavatsky, William Judge, Damodar Mavalankar, B. P. Wadia, John Garrigues, Robert Crosbie e as Cartas dos Mahatmas dão ao estudante de teosofia elementos para  uma compreensão mais específica do modo de funcionamento da Escola oculta. Ela tem discípulos/alunos que são conscientes da fonte de inspiração, e há vários graus de intensidade nesta consciência. A escola possui também aprendizes semiconscientes. E há, finalmente, certo número de discípulos ou alunos  sem qualquer “consciência verbal clara” do processo. Eles têm um acesso intuitivo à inspiração interior, mas, no plano verbal da mente, o seu esquema referencial é muito mais limitado que as ferramentas de orientação dadas ao estudante da literatura teosófica clássica.   

Os aprendizes que não dispõem de uma clara consciência verbal são chamados por H. P. Blavatsky de “ocultistas inconscientes”, sendo o escritor francês Honoré de Balzac um exemplo notável, citado por ela em “A Doutrina Secreta”. Victor Hugo e Alfred Tennyson são outros exemplos, para não falar de Albert Einstein, e centenas, ou milhares, de pensadores e pessoas de boa vontade nos mais diversos campos de conhecimento. 

Um Mestre  escreveu:

“..... A meta do filantropo deve ser a iluminação espiritual dos seus semelhantes, e seja quem for que trabalhe com altruísmo para este objetivo coloca-se necessariamente em comunicação magnética com nossos chelas e conosco.” [4]

Esta é uma afirmação  clara e direta. O que é necessário para ser capaz de levá-la a sério e agir à altura? A resposta a esta pergunta envolve mais a alma do que os níveis voluntários de consciência individual.  

Cada um deve responder por si, e principalmente para si mesmo.

Estar verbal ou visualmente consciente da ligação com uma fonte de inspiração superior traz com frequência mais problemas do que soluções.  

No processo interno do discipulado leigo, a consciência do lado esquerdo do cérebro (que é linearmente lógica, depende de palavras e está presa a uma memória personalizada) é mais um obstáculo do que uma ajuda. A consciência “pessoal” de uma inspiração deve ser voluntariamente deixada  de lado, na maior parte das ocasiões; e nunca deve ser levada para o mundo enganoso das palavras e das aparências.   

Ao contrário do que afirmam certas escolas supostamente esotéricas, as pessoas não entram na esfera de influência desta Escola Sagrada através de crença cega ou obediência automática. Tampouco se ingressa nela indo a rituais, e, muito menos, “pensando que se é membro dela”. As personalidades ou conchas externas não têm acesso à verdadeira Escola.

Fazer parte das correntes oceânicas da sabedoria é algo que depende das intenções reais e internas de cada estudante  - e também das suas ações práticas no mundo. 

As “instruções” não são verbais. Ainda quando as instruções parecem ser transmitidas através de textos, como em tantas passagens das “Cartas dos Mahatmas”, as palavras são na verdade humildes veículos de transmissão da verdadeira mensagem, e agarrar-se excessivamente às palavras anulará o fluxo interno da percepção viva. A própria Vida é a mensagem a ser decifrada. 

Entre os fatores centrais que podem levar o estudante ao nível superior de aprendizado estão os seguintes, segundo os escritos de H. P. Blavatsky:

1) Uma vontade de entender o Cosmo; 

2) Uma decisão pessoal de servir a humanidade mais do que a si mesmo; 

3) Um sentimento de respeito por todos os seres;

4) Trilhar o Caminho do Equilíbrio e da Moderação.   

As verdadeiras instruções estão na “corrente oceânica sutil”, isto é, elas vibram o tempo todo nos níveis superiores  (buddhi-manásicos)  do akasha ou luz astral.

A imagem de uma “corrente oceânica de consciência” aparece várias vezes nos ensinamentos clássicos de teosofia e funciona como uma metáfora que estimula a consciência intuitiva. A aprendizagem da alma é complexa e impessoal: não pode ser  descrita no mundo das palavras. Ela acontece num nível de percepção situado mais além das áreas cerebrais em que atuam os pensamentos verbais. Neste nível podemos compreender, em primeira mão, a dimensão da realidade em que a alma imortal se expressa com plenitude.      

NOTAS:

[1] Veja as páginas 17 e 18 da tradução passo a passo de “A Doutrina Secreta”, disponível em nossos websites associados.


[3] Veja o artigo “Telepatia, a Comunicação Silenciosa”.   

[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”Editora Teosófica, Brasília, Carta 31, primeira série, p. 87.

000

O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em 12 de março de 2015. Ele está disponível também em inglês: “A 3,000 Years Esoteric School”.  

000

Leia mais:


000 

Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

000