Os Níveis
Avançados da Busca da Sabedoria
Carlos Cardoso
Aveline
A tentativa relativamente recente de criação de uma Escola Esotérica visível, feita por H.P. Blavatsky no século 19, só pode ser compreendida no contexto mais amplo da transmissão desde tempos imemoriais de ensinamentos ocultos para aqueles que aspiram pela sabedoria eterna.
Os ensinamentos esotéricos não podem ser dados a personalidades externas. Eles estão disponíveis para as almas dos estudantes dedicados de todas as nações e tradições culturais.
A verdadeira Escola esotérica é interna, invisível, e sua antiguidade
não pode ser facilmente descrita. Ela é tão antiga quanto a humanidade, porque
o ser humano nunca foi deixado sozinho em seu aprendizado espiritual e sua
evolução. No plano das evidências históricas e culturais, essa escola sutil existe
há cerca de 3.000 anos, no Oriente e no Ocidente.
Oculta aos cinco sentidos, a Escola de Almas estava ativa nos
tempos da Grécia e do Egito antigos, e prossegue agindo hoje nestes e em outros
países. Está viva na Índia e na China. Está essencialmente
ligada aos Himalaias. Não há razão para discutirmos a sua “localização
física”, já que ela não está limitada a este ou aquele lugar. Basta dizer que ela tem várias ramificações,
inclusive nos Andes sul-americanos, conforme H. P. Blavatsky esclarece em “A
Doutrina Secreta”.[1] Sendo tão
antiga quanto a humanidade, ela começou a operar muito antes de qualquer
civilização de que possamos ter conhecimento, e possui no século 21 tanta
influência como sempre.
A evolução humana não está abandonada, portanto. Não há motivo para
desânimo. Nada ocorre por acaso. A trajetória
da humanidade é conduzida silenciosamente no caminho da verdade por dois processos
naturais. De um lado há o funcionamento espontâneo da boa lei do Carma, a lei
universal da qual nada escapa. De outro lado, há o funcionamento da
fraternidade das almas humanas mais sábias e mais experientes, que se
libertaram da ignorância e trabalham pela libertação de todos os seres.
Milênio após milênio, esta Fraternidade de Compaixão expressa
criativamente a lei do carma na evolução humana, de modo a reduzir a
necessidade de sofrimento e de perda de tempo em nosso aprendizado. Ela
trabalha em estreita harmonia com os graus mais elevados de consciência
planetária.
Muitos dos que possuem uma boa vontade ativa para com todos e uma visão
filosófica da vida entram, sem saber, no campo de observação dos Mahatmas e
seus discípulos diretos. A razão disso é simples: a consciência do eu superior,
que se expressa através do sentimento de fraternidade universal, já está
despertando nesses indivíduos. Eles têm uma sintonia interior com o
ensinamento.
Toda e qualquer escola esotérica autêntica que trabalhe no plano
físico constitui apenas um instrumento da Escola Interna. Um grande número
de “alunos” (discípulos leigos) desta Escola de Almas pode nunca ter
ouvido falar de teosofia, Mestres ou de Helena Blavatsky. O trabalho da Escola não está preso a corporações. Tampouco é
“inteiramente secreto”. Não necessita de rituais ou de lutas por poder político.
Não utiliza “canalizações”. Ocorre no plano da ética impessoal. Os Versos de
Ouro de Pitágoras - um documento de extraordinária importância - apontam
para o seu ideal de aperfeiçoamento humano. [2]
A leitura de pensadores clássicos como Platão, Plotino, Porfírio,
Sêneca, Cícero, e Arthur Schopenhauer revelará um vasto número de ensinamentos
relacionados a esta Escola. E ainda Juliano o Apóstata, Musônio Rufo,
Marco Aurélio, Epicteto, Dnyaneshwar, Paracelso, Cardeal de Cusa, Maine de
Biran e S. Radhakrishnan, entre muitos outros.
Esta Escola não é, pois, uma instituição visível. Ela funciona por telepatia
não verbal [3], a partir de uma
afinidade interna de intenções e pensamentos. Os escritos de Helena
Blavatsky, William Judge, Damodar Mavalankar, B. P. Wadia, John Garrigues, Robert
Crosbie e as Cartas dos Mahatmas dão ao estudante de teosofia elementos
para uma compreensão mais específica do modo de funcionamento da Escola oculta. Ela tem discípulos/alunos que são conscientes da fonte de inspiração, e há
vários graus de intensidade nesta consciência. A escola possui também
aprendizes semiconscientes. E há, finalmente, certo número de discípulos
ou alunos sem qualquer “consciência verbal clara” do processo. Eles têm
um acesso intuitivo à inspiração interior, mas, no plano verbal da mente, o seu
esquema referencial é muito mais limitado que as ferramentas de orientação dadas
ao estudante da literatura teosófica clássica.
Os aprendizes que não dispõem de uma clara
consciência verbal são chamados por H. P. Blavatsky de “ocultistas
inconscientes”, sendo o escritor francês Honoré de Balzac um exemplo notável,
citado por ela em “A Doutrina Secreta”. Victor Hugo e Alfred Tennyson são
outros exemplos, para não falar de Albert Einstein, e centenas, ou
milhares, de pensadores e pessoas de boa vontade nos mais diversos campos
de conhecimento.
Um Mestre escreveu:
“..... A meta do filantropo deve ser a iluminação espiritual dos seus
semelhantes, e seja quem for que trabalhe com altruísmo para este objetivo
coloca-se necessariamente em comunicação magnética com nossos chelas e
conosco.” [4]
Esta é uma afirmação clara e direta. O que é necessário para ser
capaz de levá-la a sério e agir à altura? A resposta a esta
pergunta envolve mais a alma do que os níveis voluntários de consciência
individual.
Cada um deve responder por si, e principalmente para si mesmo.
Estar verbal ou visualmente consciente da ligação com uma fonte de
inspiração superior traz com frequência mais problemas do que soluções.
No processo interno do discipulado leigo, a consciência do lado
esquerdo do cérebro (que é linearmente lógica, depende de palavras e está presa
a uma memória personalizada) é mais
um obstáculo do que uma ajuda. A consciência “pessoal” de uma inspiração deve
ser voluntariamente deixada de lado, na maior
parte das ocasiões; e nunca deve ser levada para o mundo enganoso das palavras
e das aparências.
Ao contrário do que afirmam certas escolas supostamente esotéricas, as
pessoas não entram na esfera de influência desta Escola Sagrada através de
crença cega ou obediência automática. Tampouco
se ingressa nela indo a rituais, e, muito menos, “pensando que se é membro
dela”. As personalidades ou conchas externas não têm acesso à verdadeira Escola.
Fazer parte das correntes oceânicas da sabedoria é algo que depende das
intenções reais e internas de cada estudante - e também das suas ações
práticas no mundo.
As “instruções” não são verbais. Ainda quando as instruções parecem
ser transmitidas através de textos, como em tantas passagens das “Cartas dos
Mahatmas”, as palavras são na verdade humildes veículos de transmissão da
verdadeira mensagem, e agarrar-se excessivamente às palavras anulará o fluxo
interno da percepção viva. A própria Vida é a mensagem a ser decifrada.
Entre os fatores centrais que podem levar o estudante ao nível superior de
aprendizado estão os seguintes, segundo os escritos de H. P. Blavatsky:
1) Uma vontade de entender o Cosmo;
2) Uma decisão pessoal de servir a humanidade mais do que a si
mesmo;
3) Um sentimento de respeito por todos os seres;
4) Trilhar o Caminho do Equilíbrio e da Moderação.
As verdadeiras instruções estão na “corrente oceânica sutil”, isto é, elas vibram o tempo todo nos
níveis superiores (buddhi-manásicos) do akasha ou luz astral.
A imagem de uma “corrente oceânica de consciência” aparece várias vezes
nos ensinamentos clássicos de teosofia e funciona como uma metáfora que
estimula a consciência intuitiva. A
aprendizagem da alma é complexa e impessoal: não pode ser descrita no mundo
das palavras. Ela acontece num nível de percepção situado mais além das áreas
cerebrais em que atuam os pensamentos verbais. Neste nível podemos compreender,
em primeira mão, a dimensão da realidade em que a alma imortal se expressa com plenitude.
NOTAS:
[1] Veja as páginas 17 e 18 da tradução passo a passo de “A Doutrina Secreta”, disponível em nossos websites associados.
[3] Veja o artigo “Telepatia, a Comunicação Silenciosa”.
[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Editora Teosófica, Brasília, Carta 31, primeira série, p. 87.
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O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em 12 de março de 2015. Ele está disponível também em inglês: “A 3,000 Years Esoteric School”.
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Leia mais:
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Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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