Versão Ilegítima da Obra Foi Abandonada
Em Inglês Mas Ainda Circula em Português
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

A ilustração acima
reproduz, na letra de H. P. B., a maior
parte do parágrafo
final da edição original em inglês de “A
Doutrina Secreta”. Em
1888, com a obra já pronta para a
impressão, Helena
Blavatsky escreveu à mão, para ser inserido,
o parágrafo final que
contém a advertência sobre a questão
cármica de como os
teosofistas iriam agir depois de terem
em mãos os dois volumes
iniciais de “A Doutrina Secreta”.
(Fonte da imagem: Sociedade Teosófica de
Pasadena)
Escrita por Helena P.
Blavatsky, a obra máxima da filosofia esotérica moderna foi lançada em Londres
em 1888. Tinha dois volumes.
Pouco
depois da morte da Sra. Blavatsky, Annie Besant estava entre os principais
líderes do movimento teosófico quando abandonou a ética e os ensinamentos
originais da filosofia esotérica.
A
Sra. Besant decidiu então adulterar o texto de “A Doutrina Secreta”, usando a
desculpa de revisá-lo, e publicou uma edição ilegítima da obra, preparada com ajuda
de G. R. S. Mead e outros membros desorientados da Sociedade de Adyar.[1]
A
deslealdade teve êxito a curto e médio prazo. O movimento teosófico foi colhido
de surpresa. O esforço coletivo original, inspirado por H. P. B. e pelos
Mestres de Sabedoria, demorou a reerguer-se. Reergueu-se lentamente, e até hoje
é pequeno.
Algumas
décadas foram necessárias para que surgisse, em 1925 e já por iniciativa da
Loja Unida de Teosofistas (LUT), a primeira reedição fac-similar da versão original
de “A Doutrina Secreta”. Depois disso, a Sociedade Teosófica de Point Loma (Pasadena)
também publicou edições autênticas. Pasadena nunca deturpou obras teosóficas.
O Histórico das Edições
Em
1947, a Loja Unida de Teosofistas lançou sua segunda reedição através da
“Theosophy Company”. O prefácio de 1947 afirma:
“Em torno de 1925, cinquenta anos depois da fundação do
Movimento em Nova Iorque, a primeira edição da obra estava esgotada já havia
muito tempo. Naquele momento, o ponto intermediário do ciclo de cem anos do
Movimento Teosófico, a Theosophy Company tornou disponível pela primeira vez
uma edição fac-similar da grande obra da senhora Blavatsky, com uma reprodução
fotográfica da edição original. O atual volume é idêntico às impressões
anteriores, embora tenha sido impresso a partir de novas chapas.”
Em seguida, o prefácio de 1947 aborda o problema da
falsificação:
“Além da edição original de 1888 - a única autorizada
pela senhora Blavatsky - apareceram várias outras edições desta obra. Uma
delas, a chamada ‘Terceira Edição Revisada’, de 1893, está distorcida e com
muitos milhares de alterações, algumas das quais são triviais, enquanto outras
são verdadeiras mutilações do texto original. Mais adiante, foi incluído nesta
suposta ‘Edição Revisada’ de A DOUTRINA SECRETA um ilegítimo ‘Terceiro Volume’.
Ele foi lançado em 1897, seis anos depois da morte de H. P. Blavatsky.
Compilado de papéis vários achados em seus arquivos, este volume não faz parte
da DOUTRINA SECRETA original escrita pela senhora Blavatsky.” [2]
O prefácio prossegue:
“A ‘Terceira Edição Revisada’ deu lugar a outra edição em
1938, esta vez com seis volumes, que
foi chamada de ‘Edição de Adyar’. Esta edição é substancialmente a mesma versão
‘revisada’, com as exceções do acréscimo de índices remissivos, de um texto
biográfico sobre a autora, de várias mudanças tipográficas e de um texto
tentando justificar a publicação do ilegítimo ‘terceiro volume’.”
H. P. Blavatsky morreu em 8 de maio de 1891, devido a uma
infecção respiratória e de um modo inesperado para seus estudantes. Os volumes
III e IV da obra, que estavam naquele momento quase prontos, não foram
localizados.
O prefácio de 1947 explica deste modo a desaparição:
“A DOUTRINA SECRETA autêntica tem apenas dois volumes.
Como foi escrito inicialmente, A DOUTRINA SECRETA devia ser publicada em quatro
volumes, mas só dois volumes foram dados por H. P. B. ao editor. Os dois
volumes restantes, embora completos, ou quase, foram retirados por ela por
razões claramente indicadas ao final do segundo volume da edição original.” [3]
De fato, nas linhas que concluem o volume II da obra, H.
P. B. anuncia:
“Até aqui foram dados os esboços gerais das crenças e
princípios das primeiras e arcaicas Raças, contidos nos registros Escritos, até
agora secretos. Mas nossas explicações não estão de modo algum completas; e
elas não têm a pretensão de divulgar todo o texto, que foi lido com ajuda de
apenas três ou quatro chaves, das sete chaves de interpretação esotérica que
há. E mesmo isso só foi conseguido em parte. O trabalho é demasiado gigantesco
para que uma pessoa tente fazê-lo individualmente, e ainda mais, para que possa
completá-lo. Nossa principal meta foi simplesmente preparar o solo. Isso, nós
pensamos confiantemente que foi feito. Estes dois volumes constituem apenas o
trabalho de uma pioneira que abriu seu caminho na floresta quase impenetrável e
virgem da Terra do Oculto. Foi iniciada a tarefa de destruir as raízes e
derrubar as mortais árvores upas [4]
da superstição, do preconceito e da ignorância arrogante, de modo que estes
dois volumes devem constituir para o estudante um prelúdio adequado dos volumes
III e IV. Enquanto o lixo acumulado durante eras não for afastado das mentes
dos teosofistas a quem estes volumes são dedicados, é impossível que o
ensinamento mais prático contido no Terceiro Volume seja compreendido. Em
consequência disso, a questão sobre se os dois últimos volumes serão publicados
algum dia - embora eles estejam quase
prontos - depende inteiramente do que os Teosofistas e Místicos fizerem, quando
tiverem em suas mãos os volumes I e II.”
Cabe destacar que as linhas acima foram colocadas já nas
provas finais do livro, pouco antes da impressão, como se pode ver pela
ilustração acima.
É possível que H. P. B. tenha de algum modo previsto, em
linhas gerais, os acontecimentos posteriores à sua morte.
A Importância de “A
Doutrina Secreta”
Só
a verdade permanece: cedo ou tarde, toda ilusão está condenada a desaparecer.
Desde 1934, crescem lentamente a ética e o número de estudantes da teosofia
original, na Sociedade de Adyar. Em 1979, finalmente, a Sociedade abandonou a
edição adulterada por Annie Besant e adotou uma edição autêntica, corretamente produzida
por Boris de Zirkoff.
Assim,
já nenhuma das principais correntes de pensamento teosófico adota a edição
falsificada. Ainda existem, no entanto, sequelas da adulteração anterior. Até o
momento, a única edição completa disponível de “A Doutrina Secreta” em
português é a publicada pela Editora Pensamento, de São Paulo. E esta é a
versão adulterada.
Até
o segundo semestre de 2016 a situação era essencialmente a mesma em espanhol e
francês, de modo que ainda devem ser tomadas providências importantes no século
21 para que o público leitor esteja bem informado e tenha acesso à literatura
autêntica, o que levará ao gradual desaparecimento da falsa literatura.
Em
português, a tradução online da edição original e autêntica desta obra-prima da
literatura teosófica está sendo publicada passo a passo pelos websites ligados
à Loja Independente de Teosofistas, e ainda demorará vários anos para estar
completa. [5]
“A
Doutrina Secreta” foi escrita há menos de 150 anos e já é um dos maiores
clássicos da literatura mundial de todos os tempos. Não há algo comparável a
ela na literatura esotérica ou filosófica produzida e publicada nos últimos
três mil anos.
Para
a sua leitura é necessário um esforço especial. A abordagem meramente
intelectual tem pouco valor. A obra exige o despertar de uma intuição universal
na consciência do leitor, algo que o seu estudo paciente possibilita e
estimula.
Apesar
dos desafios, “A Doutrina Secreta” revela muito mais da sabedoria eterna do que,
por exemplo, as obras de Platão, na Grécia antiga. Acompanhada de “Ísis Sem
Véu” e outros escritos de H.P. Blavatsky, a obra máxima da literatura esotérica
moderna decodifica as principais religiões e filosofias de todos os tempos e
define as grandes linhas da religião, da ciência e da filosofia do futuro.
Quando
percebem a importância da DS na literatura mundial, alguns estudantes se
perguntam:
“Quem,
exatamente, escreveu a obra? H. P. Blavatsky ou os Mahatmas?”
A
questão é complexa. A forma externa da DS ficou a cargo de H. P. B. Quanto ao
conteúdo, duas abordagens semelhantes ao problema podem ser encontradas nas
cartas 69 e 70 da segunda série do volume “Cartas dos Mestres de
Sabedoria”. [6]
Na
Carta 69, um Raja Iogue dos Himalaias anuncia que “A Doutrina Secreta”, quando
estivesse pronta, seria uma “produção tríplice” dele próprio, de outro Raja
Iogue, e de Helena Blavatsky.
Na
Carta 70, outro Mestre se refere a H. P. B. como “Upasika” - palavra que
significa “Discípula” - e escreve as seguintes palavras:
“Se esta puder ser de alguma utilidade ou auxílio (....)
- embora eu duvide disso - eu, o humilde Fakir abaixo assinado, certifico que A
Doutrina Secreta é ditada a Upasika, parte por mim mesmo e parte por
meu Irmão _______[7].”
Estas
duas evidências deixam claro quem são os autores de “A Doutrina Secreta”. No
entanto, saber quem escreveu o livro é ainda uma indicação indireta da sua importância.
O valor da DS deve ser verificado diretamente através da leitura de cada
estudante, e, para isso, o público deve ter acesso à edição original.
NOTAS:
[1] Veja o texto “Changing The Secret Doctrine”.
[2] A edição brasileira da Ed. Pensamento de “A Doutrina Secreta” tem seis volumes. Os dois primeiros correspondem ao primeiro volume da edição falsificada de 1897. Os volumes 3 e 4 correspondem ao volume 2 da edição adulterada. Os volumes 5 e 6 correspondem ao terceiro volume “fabricado” por Annie Besant.
[3] “The Secret Doctrine”, obra publicada nos websites associados; ver volume II, pp. 797-798.
[4] As mortais árvores upas: a espécie antiaris toxicaria, cuja seiva é venenosa. (“Webster’s Encyclopedic Unabridged Dictionary of the English Language”, 1989 edition.)
[5] Veja “A Doutrina Secreta” em nossos websites associados.
[6] “Cartas dos Mestres de Sabedoria” uma compilação de C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, 296 pp. Veja as páginas 246 e 247.
[7] Neste ponto aparecem as iniciais do nome de um Raja-Iogue, seguidas da assinatura do Mestre que escreveu a carta.
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O texto acima foi publicado em 2012.
Clique para ver nos websites associados a parte já publicada da tradução da edição original de “A Doutrina Secreta”.
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Em setembro de 2016,
depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico
internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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