A Arte de Usar Corretamente o Tempo e a
Capacidade de Trabalho Que Estão ao Nosso Dispor
John
Garrigues
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O texto a seguir foi publicado inicialmente
de modo anônimo pela revista “Theosophy”,
de Los Angeles, em sua edição de janeiro de 1928,
pp. 106-108. Título
original: “The Futility of Haste”.
(CCA)
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“…. Não nos apressemos por
coisa
alguma. A Eternidade
está aqui o tempo todo.”
(William
Q. Judge, no livro “Letters That Have Helped Me”.)
Provavelmente
ninguém sabe de tantas coisas que devem ser feitas quanto um teosofista. Mas
quando o vasto número de atividades é reduzido aos deveres que cabem
especificamente a ele, fica bem mais fácil percorrer o caminho com estabilidade,
e sem atropelos.
O teosofista dedicado deseja
conscientemente assumir a responsabilidade pela sua própria evolução com o objetivo de prestar
serviço, do modo mais eficaz possível, à humanidade. Ele busca uma meta que na
maior parte dos casos será alcançada depois de várias vidas, se tudo der certo;
e para a obtenção desta meta o espírito da pressa não só é fútil, mas constitui,
claramente, um obstáculo.
A pressa
é uma coisa de curto prazo. O atleta que corre por longas distâncias
estabelece o seu ritmo e o mantém de modo constante e inalterável. Uma criança,
correndo ao lado do atleta por uma breve fração do tempo da jornada, pode
passar por ele e em seguida abandonar a corrida. Enquanto a criança fica
satisfeita com sua vitória, o atleta prossegue firmemente, imperturbado pelo
que parece ser uma derrota aos olhos de quem observa apenas aquele trecho da
corrida, sem ver a meta distante.
No entanto, o fato de estimular a
ação deliberada, que está livre do espírito da pressa, não significa aprovar a
preguiça, ou a indulgência.
Não há cura melhor, para a ansiedade
medíocre ou a sensação de estar trabalhando sob pressão, do que a reflexão
sobre as verdades últimas do cosmo.
Mas a nossa contemplação da Duração
Infinita não deve levar-nos a deixar de lado a importância da ação presente.
O passado e o futuro fazem parte do
Eterno Agora. Porém, embora a ação presente possa alterar o significado do
passado - enquanto os seus resultados alcançam o futuro longínquo - a ação,
propriamente dita, só pode acontecer no ponto de encontro entre o passado e o
futuro, que chamamos de presente.
Cada momento, quando passa do futuro
para o passado, deve levar consigo a sua carga devida de atividade deliberada.
A ação é indispensável; mas se ela não
for rítmica e harmoniosa, não desenvolverá suas possibilidades mais elevadas,
capazes de produzir um benefício duradouro. Para que estas características sejam
desenvolvidas, são necessários uma avaliação e um discernimento conscientes do
objetivo da atividade, assim como do modo como a atividade se desenvolve.
Há um conflito de deveres apenas no
plano da aparência.
Em quaisquer circunstâncias, nosso
dever não pode ser maior do que o limite da nossa capacidade. Do mesmo modo, a
cada instante, o dever não inclui coisa alguma além do que é possível realizar
naquele momento. A avaliação das exigências colocadas por deveres aparentemente
conflitantes, assim como a sua adequação, é algo que só pode ser conseguido à
luz do discernimento mais elevado, e esta é uma função do verdadeiro ser
humano.
O progresso do teosofista depende em
grande parte de até que ponto ele reconhece e presta atenção à voz do seu Eu
Superior, e para esta atividade a calma é indispensável.
Até que estejamos mais adiantados, a
comunhão com nossa verdadeira natureza é algo espasmódico e intermitente. Nós,
como personalidades, não recebemos o fluxo ininterrupto de inspiração a que, em
última instância, aspiramos; mas devemos esforçar-nos por olhar com mais
frequência e regularidade para as situações em que estamos desde o ponto de
vista da nossa natureza mais elevada, e para encontrar deste modo as soluções
dos problemas e a aprovação das ações que pretendemos desenvolver.
Este exame do ponto de vista
superior elimina o julgamento curto e estreito, e impõe um teste e uma
verificação saudáveis, embora eles possam ser incômodos para o temperamento
impulsivo.
Aquele cuja mente trabalha
rapidamente muitas vezes se sente superior a quem pensa de modo calmo e deliberado,
mas a rapidez mental tem as suas próprias desvantagens, e foi mencionada deste modo em uma das Cartas
dos Mahatmas:
“Todos os pensadores rápidos são difíceis
de impressionar - num relance eles partem ‘a toda velocidade’ antes de terem
entendido o que desejamos que pensem.” [1]
Muita gente considera que a mera
inquietação, devida a uma questão de temperamento, significa um meritório
interesse pelo trabalho. Estes indivíduos jogam fora sua energia com uma
constante movimentação febril, e enganam a si próprios cultivando a sensação de
estarem ocupados, mas os seus esforços não têm um propósito valioso, nem
durável. Eles são tão escravos da qualidade rajásica quanto os
preguiçosos mais radicais são escravos da qualidade tamásica. Aquele
cuja ação é harmoniosa, ou sátwica, não cai em ações impensadas, mas economiza
energia. [2]
Ele não se desgasta com sentimentos
de medo ou aflição. Ele concentra sua atenção e esforço no dever de cada
momento, à medida que cada momento surge. Uma tendência comum é ficar ansioso
em relação a um acontecimento futuro qualquer, focar a atenção no próximo
“ponto importante” da jornada da vida, e assim tirar a atenção do presente e
das suas lições. Mas se a eternidade está aqui o tempo todo, cada momento é
intrinsecamente e potencialmente tão importante como qualquer outro. Podemos
ter acesso à nossa herança ou patrimônio a qualquer momento que quisermos. E
quanto mais completa for a atenção naquilo que estamos fazendo, tanto mais
eficiente será a nossa administração do tempo disponível.
Outro fato que pesa contra a pressa
é que ela torna mais difícil tirar proveito dos indícios e sugestões que o
Carma coloca ao nosso alcance. Afirma-se
que o sábio não deve comprometer-se antecipadamente com qualquer plano fixo de
ação, mas deve estar pronto para adequar sua conduta aos fatos.
Um homem que age em alta velocidade
tende a ignorar advertências no sentido de que precisa mudar de rumo, e por
isso vem a sofrer mais tarde. A natureza tem as suas próprias leis e a sua
“polícia rodoviária”. A “armadilha da velocidade” - um problema dos motoristas
modernos - tem o seu protótipo na reação cármica que resulta de toda pressa
desatenta.
Algo que se deve ter presente ao
olhar para todas as nossas atividades é o fato de que o teosofista não está
fazendo um trabalho por tarefa, mas a teosofia é um trabalho em tempo
integral, no qual a qualidade da produção é mais importante do que a mera
quantidade.
Todo verdadeiro teosofista trabalha
na construção das defesas externas do Templo da Verdade, que foi erguido pelos
esforços de gerações incontáveis de Adeptos. É uma tarefa elevada. Ela exige do
trabalhador cuidado e habilidade ao colocar cada tijolo firmemente no lugar
adequado.
As tarefas feitas por incompetentes
apressados, assim como as realizadas por inimigos que estejam dentro do
Movimento, precisam ser anuladas e realizadas de novo.
O número de tijolos que cada
trabalhador é capaz de colocar depende da sua qualificação diante da lei do
carma; mas, se nos libertarmos da ansiedade e da irritação que surgem da
pressa, teremos ao nosso alcance a possibilidade de fazer tudo o que somos
capazes de fazer - seja pouco ou muito -; e de construir para os séculos que
virão.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mahatmas”, Editora
Teosófica, Brasília, 2001, volume I, p. 105, Carta 15. (CCA)
[2] Para o hinduísmo, as três gunas
ou características da vida na natureza são tamas, rajas e satwa, ou inércia,
movimento e ritmo; ou, rotina, agitação e equilíbrio; ou preguiça, ambição e
sabedoria. (CCA)
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Leia também o artigo
“Um Elogio à Tartaruga”, que pode ser
localizado em nossos websites associados.
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