25 de julho de 2014

A Essência do Movimento Teosófico

Uma Vez Que a Visão da Vida Foi
Ampliada, a Raja Ioga Ensina a Concentrar a Vontade

Carlos Cardoso Aveline




Talvez a Raja Ioga, a ioga do autoconhecimento e do autocontrole, possa ser definida como a dimensão interna do movimento teosófico.

Na primeira fase do contato com a sabedoria, amplia-se a visão de mundo. O estudante deixa de identificar-se de modo excludente apenas com esta ou aquela religião ou filosofia. Ele aprende a ver tanto o joio como o trigo, tanto o erro como o acerto, em cada área de conhecimento humano. Ele passa a pensar e avaliar todas as coisas. Ele “esquece de si mesmo” e adota uma visão altruísta da vida.

Mas nisso há um teste e uma provação. O perigo é permanecer entusiasmado com a nova amplidão de horizontes e deixar de firmar a vontade. Neste caso o aprendiz esquece o lema do filósofo Epicteto: 

“Devemos fazer aquilo que depende de nós e não perder energia com aquilo que não depende de nós”. [1]

A verdade é que o aprendiz precisa tanto de expansão como de concentração. Sístole e diástole são, ambas, indispensáveis.  Se a teosofia amplia radicalmente os horizontes, ela também deve nos levar a uma concentração  e a uma força de vontade muito maiores do que as que havia antes da ampliação de horizontes.

É necessário desenvolver a força de vontade, possuir uma meta clara e  produzir fatos concretos na direção buscada, que é nobre e elevada.  A meta é construir algo, ao invés de apenas coletar informações sobre o que está ocorrendo aqui ou ali.   

Mas onde construir, se não dentro de nós mesmos e na nossa relação com o mundo?

O que construir, exceto uma consciência compartilhada da fraternidade universal e de responsabilidade pelo futuro? 

Quem poderá construir, se não for cada um de nós?  E quando construir, se não for agora? [2]

Portanto,  depois de obtida uma percepção ampla e de longo prazo da vida, a tarefa seguinte é desenvolver uma firme força de vontade e colocá-la a serviço do projeto de  busca ativa da sabedoria.

Este é um tema central da Raja Ioga, ensinada através dos Aforismos de Patañjali [3] e de outras obras. Um mestre de sabedoria resumiu a meta citando trecho de um poema de Alfred Tennyson:

“Autorrespeito, autoconhecimento, autocontrole, só estes três dão à vida um poder soberano”.[4]  Ao longo deste aprendizado devemos agradecer aos obstáculos, porque é graças a eles que - quando a meta é clara - a Vontade se fortalece. 

NOTAS:

[1] “A Manual for Living”, Epictetus, a New Interpretation by Sharon Lebell, HarperSanFrancisco, 1994, 88 pp., ver pp. 9-11.

[2] Estas perguntas são uma adaptação de pensamentos do grande rabino Hillel, citados no Talmude judaico. Veja o livro “A Ética do Sinai”, de Irving Bunim, Ed. Sêfer, SP, p. 54.

[3] A obra “Aforismos de Ioga”, de Patañjali, está disponível em nossos websites associados.

[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa,  Ed. Teosófica, Brasília, 1996, p. 148.

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Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de junho de 2010  do boletim “O Teosofista”.  

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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