Uma Vez Que a Visão
da Vida Foi
Ampliada, a Raja Ioga
Ensina a Concentrar a Vontade
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Talvez a Raja Ioga, a ioga do
autoconhecimento e do autocontrole, possa ser definida como a dimensão interna
do movimento teosófico.
Na primeira fase do contato com a sabedoria,
amplia-se a visão de mundo. O estudante deixa de identificar-se de modo
excludente apenas com esta ou aquela religião ou filosofia. Ele aprende a ver
tanto o joio como o trigo, tanto o erro como o acerto, em cada área de
conhecimento humano. Ele passa a pensar e avaliar todas as coisas. Ele “esquece
de si mesmo” e adota uma visão altruísta da vida.
Mas nisso há um teste e uma provação. O
perigo é permanecer entusiasmado com a nova amplidão de horizontes e
deixar de firmar a vontade. Neste caso o aprendiz esquece o lema do filósofo
Epicteto:
“Devemos fazer aquilo que depende de nós e não
perder energia com aquilo que não depende de nós”. [1]
A verdade é que o aprendiz precisa tanto de
expansão como de concentração. Sístole e diástole são, ambas,
indispensáveis. Se a teosofia amplia radicalmente os horizontes, ela
também deve nos levar a uma concentração e a uma força de
vontade muito maiores do que as que havia antes da ampliação de
horizontes.
É necessário desenvolver a força de vontade,
possuir uma meta clara e produzir fatos concretos na direção buscada, que
é nobre e elevada. A meta é construir algo, ao invés de apenas coletar
informações sobre o que está ocorrendo aqui ou ali.
Mas onde construir, se não dentro de nós mesmos e
na nossa relação com o mundo?
O que construir, exceto uma consciência compartilhada
da fraternidade universal e de responsabilidade pelo futuro?
Quem poderá construir, se não for cada um de
nós? E quando construir, se não for agora? [2]
Portanto, depois
de obtida uma percepção ampla e de longo prazo da vida, a tarefa seguinte é desenvolver
uma firme força de vontade e colocá-la a serviço do projeto de busca
ativa da sabedoria.
Este é um tema central da Raja Ioga, ensinada
através dos Aforismos de Patañjali [3]
e de outras obras. Um mestre de sabedoria resumiu a meta citando trecho de um
poema de Alfred Tennyson:
“Autorrespeito, autoconhecimento, autocontrole, só
estes três dão à vida um poder soberano”.[4] Ao longo deste aprendizado devemos agradecer
aos obstáculos, porque é graças a eles que - quando a meta é clara - a Vontade
se fortalece.
NOTAS:
[1] “A Manual for
Living”, Epictetus, a New Interpretation by Sharon Lebell, HarperSanFrancisco, 1994, 88 pp., ver pp. 9-11.
[2] Estas perguntas
são uma adaptação de pensamentos do grande rabino Hillel, citados no Talmude
judaico. Veja o livro “A Ética do Sinai”, de Irving Bunim, Ed. Sêfer, SP, p.
54.
[3] A obra “Aforismos de Ioga”, de Patañjali, está disponível
em nossos websites associados.
[4] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C.
Jinarajadasa, Ed. Teosófica, Brasília, 1996,
p. 148.
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Uma versão inicial do texto acima foi
publicada de modo anônimo na edição de junho de 2010 do boletim “O Teosofista”.
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Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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