Um Fator Decisivo na
Caminhada Teosófica
John Garrigues
John Garrigues
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Nota Editorial de 2012:
O artigo
a seguir foi publicado pela primeira
vez na
revista “Theosophy”, de Los Angeles,
em
janeiro de 1925, pp. 102-106. Mais tarde
foi
publicado
pela mesma revista em Outubro de 1949,
e pela
revista eletrônica “The Aquarian
Theosophist”
em sua
edição especial de fevereiro de 2006, pp. 13-16.
Esta é a primeira vez
que o nome do autor é revelado.
A análise do conteúdo
e do estilo, e a data da sua primeira
publicação, indicam
que o texto foi escrito por Garrigues.
(CCA)
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“Como são poucos, entre os muitos
peregrinos que têm de começar viagem
sem mapa nem bússola pelo Oceano
sem praias do Ocultismo, aqueles que
alcançam a terra desejada! Acredite-me,
fiel amigo, nada, exceto uma
completa
confiança em nós, em nossas boas intenções
se não em nossa sabedoria, em nossa antevisão, se
não onisciência - algo que não é possível encontrar
nesta terra - pode ajudar alguém a avançar desde
a sua terra de sonhos e ficção até a nossa terra da
Verdade, a região da rigorosa realidade e dos fatos.”
[“Cartas
dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Carta 134, Vol. II, p. 299.]
A confiança
é o ponto decisivo nas questões espirituais. A falta de confiança, ao longo do
caminho que buscamos trilhar, leva à derrota de todo esforço aparentemente
elevado.
Em qualquer lugar e qualquer situação, a confiança é a primeira condição
para obter êxito. A confiança na Lei das nossas naturezas imortais, a confiança
no fato de que a justiça prevalece, a certeza da nossa capacidade de aprender,
de crescer, de realizar o que desejamos, e de encontrar respostas para todos os
problemas, são as qualidades por cuja ausência os estudantes sofrem e desistem,
somando-se ao grupo cada vez maior dos “desiludidos”, e chegando a uma morte
espiritual que é mais amarga, e mais verdadeiramente sem vida do que a morte
apenas física jamais foi, ou poderia ser algum dia.
A maldição dos tempos atuais é a suspeita. Aqueles que não confiam em si
mesmos não conseguem confiar em ninguém. Como a característica desta época é a
discórdia típica do materialismo, a visão comum de uma vida superior é a posse
de grandes quantidades de riqueza material. Considera-se que ter “muito
dinheiro” é a mesma coisa que ter êxito na vida. Alguns teosofistas pensam da
mesma maneira que a maioria em relação a isso, e usam como desculpa para aderir
às ideias predominantes o argumento de que, se
tivessem muito dinheiro, poderiam ajudar mais a causa teosófica. Mas a
prática da natureza humana revela o triste fato de que, quanto mais bens
materiais um indivíduo possui, mais preciosos estes se tornam para ele, e menos
inclinado ele fica a abrir mão voluntariamente das suas riquezas.
Os seres humanos suspeitam uns dos outros, porque sabem muito bem, em suas
próprias consciências, o que fariam com a riqueza dos seus vizinhos se houvesse
uma oportunidade. A situação chegou a um ponto em que basta alguém fazer um
trabalho altruísta para que muitos pensem, e com grande convicção, que existe
uma intenção egoísta oculta. Se um Cristo caminhar pelas ruas hoje, fazendo
milagres e curando doentes, haverá suspeitas de que ele faz isso para obter
alguma vantagem pessoal, e alguém dirá que “ele está fazendo propaganda
comercial para alguma coisa!” [1]
Para o estudante de Teosofia que quiser ir além do muro da teoria e da
incerteza, e libertar-se das trincheiras fixas do conhecimento livresco, não basta
permanecer firme contra a forte corrente do materialismo. Ele tem, na
realidade, que avançar contra ela.
Ele deve fazer mais do que acreditar
em Altruísmo; ele deve tornar-se altruísta. Através de um esforço supremo -
feito com grande persistência e ao mesmo tempo que o corpo, a mente e mesmo a
Alma estão tão desgastados pelo combate desigual que o estudante ficaria contente
de morrer no esforço - ele deve avançar constantemente, ainda que o mundo
inteiro, e ele próprio, em parte, acreditem que avançar é uma tolice.
A confiança é a qualidade eficaz nestas
circunstâncias. Este tipo de confiança não surge como resultado de crença ou de
fé cega. Ela emerge de uma fé raciocinada. Surge de um estudo e de uma
compreensão da filosofia, e de uma rígida aplicação de ensinamentos éticos como
um modo de vida.
O diletante teosófico nunca terá essa
confiança. O estudante que adotou a Teosofia como um meio de obter mais
eficiência em suas atividades de professor, de médico, advogado, artista, ou para
ser mais eficiente como homem de negócios, mais forte intelectualmente ou mais
eficaz em qualquer uma das mil áreas específicas de atuação às quais a mente
humana se apega, nunca chegará a ter uma confiança; e muito menos uma segurança
consciente. O seu conhecimento ficará no nível da “informação e crença” até o
final dos seus dias, sem ir além disso. Quando uma força real for necessária e
o jogo de aparências não der mais resultado, a sua confiança em si mesmo
falhará.
A convicção da autenticidade
das ideias teosóficas básicas é a primeira condição para uma verdadeira
autoconfiança. Isso pode ser obtido inicialmente através do estudo intelectual
e dos seus frutos, que incluem uma compreensão lógica e raciocinada das
explicações e dos conceitos teosóficos. Depois dessa etapa há o processo de
testes da base que foi construída através da observação e da experiência. Os assuntos
do mundo e dos seus habitantes são como um filme cinematográfico de
acontecimentos, pessoas, coisas e métodos que se apresenta para a revisão da
mente, dia após dia. São especialmente necessárias uma vigilância e uma análise
honestas do processo psicológico do próprio estudante.
Então surge o momento
no qual o estudante percebe que já verificou a autenticidade do ensinamento
teosófico, até onde ele é capaz de fazer isso, e a confirmou das seguintes
maneiras:
(a) Através
de uma síntese intelectual e filosófica, tendo como alicerce verdades que são evidentes
por si mesmas;
(b) Através
da aplicação do ensinamento aos assuntos da vida diária, e, acima de tudo, à
sua própria vivência íntima e interior, confirmando a ideia de que a psicologia
é uma ciência exata [2], e de que
ela faz parte da teosofia;
(c) Através
da compreensão do fato de que a Verdade sempre explica, e de que, dada a
explicação completa sobre algo, nós chegamos à Verdade, que não entra em
conflito com qualquer outra Verdade. Este último ponto é uma compreensão, e não uma mera combinação
de palavras. A compreensão surge com uma força propulsora que parece ser lançada
ou projetada na mente do estudante desde algum ponto externo, embora na
realidade ela venha de dentro. Buddhi se expressa como uma convicção.
A percepção
intelectual da necessidade da existência
dos Mestres cresce simultaneamente no cérebro
e no coração do meditador. Se há
conhecimento, deve haver Aqueles que Sabem; o conhecimento não existe por si
mesmo, mas é resultado da observação e da experiência; e deve haver Seres que
fizeram as observações e registraram a experiência. A atividade intelectual
pode levar o estudante de teosofia até este ponto, na travessia “desde a sua terra de sonhos e ficção até a
nossa terra da Verdade, a região da rigorosa realidade e dos fatos.” Porque
até aqui o esforço de quase todos é na direção de obter conhecimento para si
mesmo, por mais que o estudante acredite que sua meta é altruísta.
A mente e o
raciocínio estão satisfeitos; foi obtida uma filosofia que realmente explica os
seus princípios. Nenhuma outra necessidade é sentida, além da de exercitar-se
mentalmente de modo saudável nas claras águas da teosofia, assim como um
nadador se exercita saudavelmente em águas claras, no plano físico. Uma qualidade
essencial ainda não foi desenvolvida.
Qual é a qualidade
básica que leva um ser humano, apesar de si mesmo, a seguir por aquele Caminho
ao longo do qual se obtém “completa confiança” nos Mestres? Trata-se de algo
tão raro, embora seja mencionado com muita frequência, que talvez a
incredulidade seja a nossa primeira reação, ao vermos a palavra diante de
nossos olhos: Gratidão.
Pensemos sobre
isso.
A emoção que às vezes ouvimos ou vemos ser
expressada por estudantes de teosofia quando são mencionados os Mestres não é Gratidão. Tampouco se trata de uma
emoção inteligente. A mesma sensação inunda as preces coletivas dos cristãos, o
evento cristão carismático, a seção espírita, a mobilização patriótica e todo
evento em que as pessoas se congregam e se sentem “profundamente emocionadas”. Inúmeras
vezes, durante palestras teosóficas, fala-se nos “Mestres” ou nos “Fundadores”
com tamanho sentimento que tanto o orador como a audiência são tomados pela
emoção -; mas isso não é Gratidão.
A gratidão não é
nenhuma das muitas fases da emoção psíquica que são qualificadas através de
outros termos. Ela tampouco se mostra em palavras, na maior parte dos casos,
nem em expressões de “amor”.
Gratidão é o
reconhecimento de que algo foi feito por nós através de um sacrifício e sem
motivações pessoais. É um reconhecimento tão forte que já não podemos mais
descansar até realizarmos, da nossa parte, um serviço divino que partilha da
mesma natureza.
A gratidão é Buddhi em ação; uma qualidade universal, e por isso mesmo espiritual.
Ela se expressa através do trabalho altruísta e do esforço para colaborar com
os Mestres que são os servidores universais da Natureza. A gratidão
transformada em ação eficaz é calma, controlada, silenciosa, e tão poderosa
como uma eletricidade cósmica. De fato, ela é Fohat “em uma versão mais
terrestre”, em uma versão aplicada ao trabalho que está diante de nós; porque devemos
lembrar que Fohat é uma força inteligente,
e que as forças não existem por si mesmas.
Assim, aqueles raros
estudantes em quem o conhecimento racional da necessidade da existência de
Mestres provoca gratidão constituem os trabalhadores ativos da teosofia. Eles são
os colegas que estão engajados em
todo o mundo na tarefa de fazer com que a teosofia seja espalhada com mais
força. Para o homem ou mulher ocidental dos dias atuais, o processo mental
ocorre mais ou menos assim:
“Alguém tinha que
fazer com que os escritos autênticos ficassem acessíveis, e mantê-los ao
alcance do público. Alguém tinha que preparar as salas de reunião da Loja,
divulgar o trabalho, mantê-lo funcionando, fazer os estudos, dar palestras,
ajudar -, estando bem ou mal de saúde, e nas quatro estações do ano. Alguém
tinha que achar o dinheiro necessário. E é preciso perseverar eternamente
nisso, é claro. Graças ao sacrifício feito por outros seres, eu encontrei a
filosofia e tenho sido ajudado a compreendê-la. Sinto-me então obrigado a fazer
a minha parte, isto é, a fazer tudo o que está ao meu alcance, em qualquer um e
em todos os aspectos da atividade da minha Loja. E vou dedicar uma intensa
energia a aprender aquilo que ainda
não sei fazer.”
Esta atitude, se colocada
em prática, mostra gratidão e é
gratidão.
Ela também é
“devoção”, porque, assim como a verdadeira gratidão, a devoção não é de modo
algum um assunto emocional. Este tipo de estudante não busca desenvolver modos
especiais de trabalho altruísta que são exclusivamente “seus”, contraindo assim
a grave doença da “busca de seguidores”. Ele trabalha aproveitando as
oportunidades e as maneiras que estão ao seu alcance, e que ele viu por si
mesmo serem corretas e verdadeiras. Ele trabalha junto com os seus colegas;
trabalha pelos outros e com os outros.
A confiança em si
mesmo surge no estudante que sente este tipo de gratidão e que transforma o
sentimento em ação. Surge, então, naturalmente, a confiança nos outros, porque
ele se tornou um trabalhador voluntário junto a outros que sentem e trabalham
como ele; que são inspirados pelo mesmo sentido
de dever intrínseco; que são tão
decididos quanto ele, e tão inteligentemente
felizes quanto ele é inteligentemente feliz. Os princípios da sua natureza
interior o levaram a se engajar nesta luta gloriosa e espontânea, da qual só os
guerreiros favorecidos pela boa sorte podem participar. Ele é feliz porque, na
luta, ele passa a ter uma existência “natural” no sentido mais profundo e mais
elevado da palavra.
À medida que ele
avança, a confiança gera mais confiança; tanto em si mesmo como em seus
colegas, na humanidade, e em toda a Natureza. Na sua consciência, a existência
dos Mestres começa a surgir como um fato
e não como mero ideal. Os Mestres estão “no mundo interno”, no início, e depois
“no mundo externo”; mais tarde, sua presença é reconhecida em todos os aspectos
da vida e em cada fase da mudança constante dos dias e anos da vida do
estudante.
Uma “completa
confiança” Neles é uma questão de crescimento. Ela vem com uma compreensão
crescente, e é confirmada em cada detalhe através da experiência, graças a
processos internos e sutis. Isso ocorre devido a fatos que não iriam constituir
prova de modo algum se fossem apresentados a outras pessoas; mas o sentimento
inseparável de tais acontecimentos internos comprova inegavelmente a sua
autenticidade para o próprio estudante. É um sentimento claro, imaculado,
indescritivelmente convincente.
O estudante está então de fato “avançando”
desta terra de sonhos e ficção para a Terra Deles, a Terra da Verdade. Ao mesmo
tempo, está ganhando “completa confiança” Neles. Os dois acontecimentos formam
uma unidade. Não estão separados. São aspectos do mesmo e velho desenvolvimento
eterno que os escritos antigos mencionam ( e isso também confirma a sua
autenticidade).
O processo é descrito nos ensinamentos atuais
como “a construção de antahkarana”. Este é o verdadeiro significado da frase
segundo a qual o estudante deve “tornar-se o Caminho”. Porque
a realidade é que ele não poderia “avançar” se não houvesse uma “ponte” ou um “Caminho”.
E não poderia construir a ponte, exceto com seus próprios materiais, já que “o
Caminho é interno”. E só pode encontrar e transmutar os materiais para a ponte graças
ao fato de que, como um ser humano em evolução, ele está em contato com todos
os aspectos da Natureza.
Assim, a compreensão dos ensinamentos
científicos da filosofia se une com a Ética e com a Psicologia. A autenticidade
do misticismo velado do mundo antigo é comprovada na vida prática do estudante
de hoje que sabe observar e respeitar o ensinamento.
Uma “completa confiança” é uma forma de
crescimento através do trabalho altruísta, “sem expectativas e livre do
processo da esperança”. A “região da rigorosa realidade e
dos fatos” deve ser necessariamente a “terra da Verdade”, porque só o que é verdadeiro
é imutável, e só o que é imutável é real.
Alcançar esta “terra” não é “ir” a algum
lugar. Não se trata de uma mudança geográfica. Alcançar esta “terra” não é atrair
a atenção dos nossos semelhantes, nem desejar isso. Certamente não é fazer
propaganda de nós próprios, nem direta, nem indiretamente. Trata-se de obter um
ponto de vista diferente, e de desenvolver uma ação inteligente a partir dele. A vida de estudante e a vida pessoal não
estão separadas.
NOTAS:
[1] A
respeito deste tema, veja o texto “Se
Cristo Voltar Neste Natal”, que pode ser localizado em nossos websites
associados. (CCA)
[2] A
Psicologia pode ser vista como uma ciência exata no sentido de que os processos
psicológicos operam de acordo com as leis da natureza. A Psicologia trabalha
com grande número de equações complexas, e nas quais há importantes incógnitas.
Ela é uma ciência exata, isto é, pode trabalhar com precisão, embora sua
precisão não seja mecânica. (CCA)
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Em
setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento
esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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