Um Estudo Sobre o Eu Inferior
e o Otimismo na Busca da
Sabedoria
Carlos
Cardoso Aveline
Estudante A:
Em que sentido o eu inferior pode ser considerado
legítimo, se ele é chamado de “inferior” pelos próprios teosofistas?
Estudante B:
Vale a pena lembrar que o eu inferior é bom. Ele é
“inferior” no sentido de ser básico, mas não no sentido de ser “desprezível”.
Ele é um alicerce, e deve servir como instrumento valioso para a expressão
prática do eu superior.
O que há de aparentemente “ruim” em um ser humano
não é nem o corpo físico, nem o eu inferior. Não é kama manas, a mente
inferior, nem kama, o princípio emocional-animal. Todos estes níveis de
consciência e existência são bons e fundamentalmente saudáveis. Os sete
princípios da consciência fazem parte da caminhada, e nenhum deles é um
estorvo.
A natureza não tem maldade em si. A ideia de
maldade é basicamente uma invenção teológica medieval. Há, apenas, ignorância
espiritual. O que existe de desafiador é a ignorância do eu inferior, mas ela é
passageira. Ela tem remédio, seja nesta vida ou numa encarnação posterior.
Estudante A:
Se a sabedoria é fonte de paz, então por que a
ignorância geralmente se resiste tanto a aceitar a sabedoria?
Estudante B:
As afinidades se constroem pelo costume. Talvez a
ignorância prefira o sofrimento e até o desespero que já são seus velhos
conhecidos, ao invés da paz e da felicidade que ela ainda desconhece.
A dificuldade de optar por uma vida feliz e simples
está no apego aos hábitos alimentados pela ignorância espiritual. A força
destes hábitos é sutil e semi-inteligente. Ela está ligada a elementais, isto
é, a seres sutis da natureza. Em seu lugar, é preciso criar novos hábitos,
compatíveis com a caminhada espiritual. O hábito do pensamento negativo deve
ser substituído pelo hábito do pensamento correto.
Cada ser humano contém em si uma semente de
sabedoria. Cada cidadão possui em si uma promessa de autolibertação. Cabe a nós
a tarefa de cuidar da germinação correta desta semente colocada aos nossos
cuidados. Há obstáculos? Sem dúvida. Mas o ser humano não cria problemas que
não seja capaz de resolver. Toda “noite” é apenas a antecipação da madrugada. Toda
“escuridão” é o ponto inicial do amanhecer. Todo medo é uma preparação para a
coragem.
Otimismo Surge do
Contato com a Lei
Estudante A:
Na prática as dificuldades são muitas. Talvez por
isso tanta gente procure caminhos espirituais imaginários.
Estudante B:
Nenhum grande instrutor disse jamais que o caminho
do autoconhecimento é cômodo ou fácil. Ao contrário: é nos momentos mais desafiadores
que o ser humano pode conhecer melhor a si mesmo.
O hábito da preguiça e da comodidade leva à estrada
ampla do derrotismo, ou da ilusão. O ser humano maduro, porém, olha
profundamente o mundo a seu redor e vê a bênção e a libertação espiritual
ocultas sob a aparência de sofrimento. A sua consciência focaliza a fonte da
bênção, que é permanente, e ignora o sofrimento, que é passageiro.
Estudante A:
O que é, exatamente, otimismo?
Estudante B:
Em teosofia, Otimismo é o hábito de harmonizar a
mente com o Ótimo que há em nosso próprio interior. O Território do Ótimo está
localizado em nossa alma imortal. É ali que mora a bênção permanente; e ela lança
sobre nós os raios de sol da iluminação, cada vez que o merecemos.
O pessimismo, por outro lado, surge de um estado de
infantilidade espiritual e psicológica, pelo qual a pessoa sintoniza com alguma
forma de preguiça de enfrentar os obstáculos. O pessimismo é uma
desistência de avançar em direção à vitória e à sabedoria. É uma justificativa
para o hábito de não fazer nada. É uma desculpa para a irresponsabilidade
ética.
Se não podemos dar grandes passos, podemos dar
passos tão pequenos quanto nossas forças permitirem. Mas sempre é possível
avançar. Avançar, em teosofia, é sinônimo de TENTAR. Interiormente, toda
tentativa sincera é um avanço.
Estudante A:
Uma boa dose de coragem é necessária, então.
Estudante B:
Seguramente. Em uma das suas possibilidades
etimológicas, a palavra “coragem” vem de “core”, a raiz da palavra “coração”. Por
isso temos a expressão popular “coração de leão”; o leão é um símbolo de
coragem.
O otimismo e a coragem andam juntos porque eles são
dois raios da luz que surge do sol, ou do coração. A expressão “raios de luz” é
correta porque o coração é o Sol microcósmico do corpo físico e da aura
individual. Assim como o cérebro, o coração é um centro de vida e de sabedoria.
Mas é bom lembrar que o cérebro de um ser desperto também é comparável a um
pequeno sol. Este fato é ilustrado simbolicamente pelas auréolas que há em
torno da cabeça dos santos, em obras de arte da antiguidade.
Estudante A:
Você deve aceitar o fato de que o crescimento
espiritual traz situações pouco agradáveis.
Estudante B:
Nos grandes momentos da história humana - como nos
grandes momentos da vida de cada aprendiz - rompem-se cascas de ilusão para que
a luz brilhe mais diretamente.
Aquilo que a luz ilumina nem sempre é belo no
primeiro momento. Então os fracos e os inexperientes choram e desanimam. Mas os
fortes despertam para o seu verdadeiro potencial, corrigem o rumo, vão à frente
e agem à altura dos desafios.
O que é ótimo não está apenas “no interior da nossa
alma”. Ele é também a nossa essência, e por isso a filosofia ensina que todo
obstáculo é sempre secundário.
Os desafios são convites para o despertar do Eu
Interior, do Verdadeiro Ser, do eu superior, Atma-Buddhi. O aprendiz da
sabedoria dá atenção ao que é permanente, isto é, à inevitável vitória gradual
da alma.
O indivíduo só se deixa carregar para este ou
aquele estado de espírito, conforme recebe ou vê notícias “boas” ou “ruins” ao
seu redor, enquanto a ingenuidade espiritualmente infantil ainda predomina em
sua vida.
O uso efetivo da força do pensamento - ao longo de um
caminho elevado, realista e justo - é um fator determinante em todo processo
cármico positivo. O pensamento é o leme do carma. Quando assumimos a nossa
responsabilidade sobre o rumo da vida, colocamos o leme na posição correta e
passamos a eliminar as causas do sofrimento.
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O texto acima reúne e adapta duas notas publicadas
inicialmente sem indicação de autor na edição de outubro de 2008 de “O
Teosofista”.
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Em setembro de 2016, depois de
cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como
uma das suas prioridades a construção
de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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