5 de janeiro de 2014

O Mistério dos Nidanas

A Prática do Desejo, o Sofrimento e a Felicidade

Carlos Cardoso Aveline





O teosofista é convidado a estudar a presença e a dinâmica dos Nidanas em sua vida diária. O termo é de origem budista: os nidanas são as causas e os efeitos interligados. São os fios do carma tecendo o destino de cada um conforme o fluir dos desejos, dos pensamentos e das ações individuais.
 

Todo estudante de filosofia esotérica sabe que uma vontade nobre tende a produzir paz e  felicidade. Porém, o ser humano não pode existir apenas com desejos elevados e impessoais, e por esta razão a vida é probatória, como afirma H. P. Blavatsky em “Ísis Sem Véu”.  Cabe examinar, portanto, como funciona em cada caso o nível de aprendizado em que a presença de testes é inevitável. 

Há na consciência de cada indivíduo uma área de luta e de transição entre os seus pensamentos mais elevados e os mais inferiores; e também existe um ponto de encontro e de mutação em que os sentimentos generosos devem enfrentar os sentimentos inferiores. [1] 

A intensidade da luta na alma humana obedece a fatores variados, entre eles o carma individual acumulado, a livre vontade do indivíduo, as suas decisões a cada instante, e o carma coletivo. O carma se relaciona com os hábitos e consiste de causas e efeitos  interdependentes, ou nidanas. 

O Tolo e o Sábio 

O carma individual não é uma ilha e não existe em separado. Ele interage com o carma da nação, da cidade, da família, e com o carma dos grupos sociais a que o indivíduo pertence, desde o movimento teosófico até o trabalho profissional. Perceber isso não é sempre fácil: todos temos um tolo e um sábio em nossas consciências. 

A tolice consiste em produzir sofrimento desnecessário para nós próprios ou para outrem. A satisfação pessoal durável surge da sabedoria que nos permite evitar desejos cujo resultado é sofrimento. 

O tolo exige que a vida lhe satisfaça as vontades: o sábio nada deseja com exagero no plano pessoal, e assim alcança a plenitude. Cada cidadão pode decidir se o tolo em seu próprio interior deve mandar no sábio, ou aprender com ele.  A prática da sabedoria necessita discernimento: a experiência acumulada da alma nos leva à serenidade, e a vontade de buscar o mais elevado nos ensina a voar na direção da luz. 

Como Funciona o Livre Arbítrio 

O ponto central em nossa vida é o livre arbítrio, a vontade individual. Colocar o foco da consciência na tolice ou na sabedoria é uma decisão livre, e cabe olhar bem o modo como usamos a liberdade.  Existe uma conexão de causa e efeito ligando o sofrimento que não buscamos aos objetos de desejo atrás dos quais decidimos correr. No momento de fazer um autoexame, há quatro perguntas úteis.  As duas primeiras são sobre insatisfação: 

* O que é que me frustra ou perturba neste exato momento?  

* E quais são os desejos que estão ocultos sob este sentimento? 

As duas perguntas finais investigam o bem-estar: 

* O que é que me dá um sentimento de paz interior agora mesmo, sejam quais forem as circunstâncias externas?  

* E quais são os desejos que estão na base deste sentimento? 

A auto-observação cura e regenera. Um calmo exame da vida ilumina a consciência e nos transmite lições a partir das quais são colocados em movimento os nidanas da libertação interior. 

NOTA: 

[1] Nem sempre os sentimentos inferiores são desleais aos sentimentos superiores. O inferior pode partilhar das mesmas metas do superior, complementando e apoiando o trabalho nobre dentro das suas possibilidades.

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Sobre o tema dos Nidanas, veja também o texto “Atuando no Plano das Causas”, de Carlos Cardoso Aveline. O artigo está disponível em nossos websites associados.

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