A Consciência da Alma Vive
Em Um Oceano de Pensamentos
Carlos Cardoso Aveline
Como um barco movido por sua própria dinâmica, a mente de cada indivíduo
avança através de um vasto mar astral cuja “água” é feita de todo tipo de pensamentos,
sentimentos, sonhos, lembranças e intenções.
Nesse oceano, navegar é
preciso, e viver também é preciso. O mar oferece perigos. Perder o
rumo não é difícil. De que modo se pode manter a consciência individual
navegando a caminho da sabedoria, em meio a tantas distrações, tantos
ventos laterais, e tamanhas correntes marinhas que a cada momento de desatenção
podem desviar o barco para longe do rumo escolhido?
Estamos na cabine de
comando das nossas consciências. Talvez estejamos adormecidos, mas isso não
diminui nossa responsabilidade. Deixar-se arrastar pela correnteza é uma opção
soberana - e ela é exercida todos os dias pelos mais desinformados.
O Oceano da Consciência
tem águas superficiais e profundas, conscientes e inconscientes. Ele tem
marés, tempestades e bonanças. A vigilância e a determinação de quem está no
comando de cada barco de autoconsciência devem ser constantes e regulares, para
que se mantenha o rumo correto e o foco da consciência não naufrague na
ilusão.
O leme do barco - e do
carma - é o pensamento. O seu comando é possível através do livre arbítrio. Um bom
uso do leme consiste em concentrar a mente em pensamentos, ações e
sentimentos que têm pelo menos três características.
Eles devem ser:
1) Fundamentalmente
construtivos;
2) Fundamentalmente
altruístas; e sobretudo,
3) Fundamentalmente
verdadeiros.
Os pontos dois e três são
decisivos porque nenhuma construção é possível sem altruísmo ou sem
sinceridade. Criando hábitos corretos no mundo emocional, no mundo
mental e no mundo físico, o barco da autoconsciência ganha força e resistência,
e isso é extremamente útil quando surgem as inevitáveis tempestades.
Para que o barco responda
facilmente ao leme, é preciso que não esteja sobrecarregado. Uma mente
entulhada de coisas é difícil de dirigir. A carga de preocupações excessivas
pode afundar um navio até mesmo em um mar tranquilo. É necessário esvaziar a
consciência para que ela se encha naturalmente de Intenção Espiritual e para
que possamos confiar plenamente no Oceano da Vida.
Uma consciência leve,
desapegada, é fácil de comandar. Quando reduzimos a bagagem pessoal, podemos
pensar com nitidez no rumo da viagem, e erguemos facilmente o olhar para o
mundo celeste. Isso tem sua importância, porque é do céu que vem o sentido de
orientação. É pela luz das estrelas que o bom navegador sabe o seu Norte.
Como Estabilizar a Consciência
Sustentando a mente,
sustentamos as emoções, e criamos uma plataforma de estabilidade que nos levará
a ações duráveis num rumo correto.
O primeiro passo, se
quisermos viver de modo consistente, é examinar, perante nossa própria
consciência, qual é de fato a nossa meta. Será “tocar a vida para a
frente”? Ou será buscar efetivamente um objetivo? E neste caso qual
é ele? A nossa meta será o auto-aperfeiçoamento através de uma
visão de vida que transcende o eu inferior e os temas de curto prazo?
Uma vez que tenhamos a
meta clara, saberemos para onde queremos ir. Isso, porém,
não nos dará inicialmente nem a força de vontade nem
o discernimento necessários para um avanço eficaz.
Será
recomendável então apostar no ciclo virtuoso da tentativa,
seguida de graus variáveis de erro ou acerto. O ciclo continua com
a identificação e a correção dos erros, seguida de nova tentativa, e
assim sucessivamente. Este é o processo da experimentação no caminho do
auto-aperfeiçoamento, e nele, para que o aprendizado seja efetivo, é essencial
haver paciência.
O esforço intenso a
serviço de uma intenção nobre - acompanhado de desapego e
capacidade de esperar -, constitui o segredo de uma chave-mestra que
abre a seu devido tempo as portas aparentemente trancadas que
o Caminho coloca diante de nós.
“Bate à porta e a
porta se abrirá”, diz a tradição esotérica. Bater à porta significa
TENTAR.
“Nada como um dia depois
do outro”, diz o ditado popular.
O esforço contínuo
desenvolve o discernimento e ensina a navegar com segurança pelo oceano do
tempo eterno e da vida infinita.
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O texto acima foi publicado inicialmente de modo anônimo
na edição de julho de 2010 do boletim mensal O Teosofista.
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