Uma Interpretação Universalista Dessa Prece Cristã
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

Assim como os livros sagrados de
outras religiões, as escrituras judaico-cristãs trazem em si, em forma velada, inúmeros
ensinamentos da sabedoria eterna e esotérica. Vejamos um exemplo prático.
No
Evangelho segundo Mateus, 6: 9-13, encontramos o Pai Nosso [1]. Trata-se de uma das orações mais famosas e recitadas do mundo.
Infelizmente, é muitas vezes repetida de modo mecânico e dogmático, o que
dificulta o despertar espiritual dos devotos.
É
preciso olhar cada passagem de uma grande escritura a partir da compreensão do
Todo, para que se entenda bem o trecho em questão.
Uma vez
conhecidas algumas chaves de interpretação da tradição cristã, o estudante percebe
a mensagem transcendente implícita no texto clássico. Interpretado
esotericamente, o Pai Nosso deixa de ser uma oração obscura ou monótona, e ganha
um significado universal que tem um efeito libertador e estimulante no plano racional,
e ensina ao peregrino que ele deve libertar a si mesmo ao invés de esperar por
alguma salvação externa.
Há pouco
mais de um século, Helena P. Blavatsky publicou uma interpretação mística do
Pai Nosso em seu jornal mensal “The Theosophist”.
Hoje
quase esquecida, a versão semi-esotérica da oração faz parte de um texto raro intitulado
“Christian Mysticism”, escrito pelo místico alemão Barão von Ekartshausen e
publicado em duas partes, nas edições de fevereiro e março de 1885 da publicação
dirigida por Blavatsky.
Tendo
como base esta interpretação mística da oração, faço a seguinte versão do Pai
Nosso, atualizada e adaptada diretamente aos ensinamentos da teosofia original:[2]
O “Pai Nosso” do Iluminado
Pai Nosso - (Elevo meu pensamento a meu eu superior e ao supremo princípio
criativo, à Lei Universal, fonte
original de toda existência,)
Que estás nos céus, - (que vive nos
planos superiores de consciência;)
Santificado seja o teu Nome; - (possamos
nós ter o devido respeito impessoal pela lei do universo;)
Venha o teu Reino; - (que nossos desejos
e atividades sejam tais que a lei suprema possa cumprir-se plenamente;)
Seja feita a tua Vontade - (que a Lei seja cumprida em nossa consciência e através de nós,)
-
Assim na Terra como no Céu; - (no
universo visível assim como no universo invisível;)
O pão nosso de cada dia nos dá hoje: - (que a
cada dia que passa, nós possamos beber da fonte da vida e tenhamos novas
oportunidades de obter conhecimento;)
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como
perdoamos nossos devedores - (e que
predomine a boa vontade entre todos, pois
lutamos para libertar-nos das nossas imperfeições e para ajudar
os outros a que se libertem do mesmo modo, e porque na medida em que ajudamos
os outros, elevamos a nós próprios;)
Não nos deixes cair em tentação - (que possamos perseverar na busca do mais
elevado, pois sabemos que os
estados inferiores de consciência perdem seus atrativos para quem enxergou a
meta sagrada;)
Mas livra-nos do mal - (que possamos evitar o erro, desejando apenas
o que seja útil para avançar no caminho do aperfeiçoamento.).
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A calma leitura
da oração acima pode ser feita de várias formas sucessivas.
Uma
primeira é uma leitura corrida, como texto contínuo, incluindo tanto o Pai
Nosso em si como os seus comentários.
Uma segunda é ler apenas os comentários, como se eles fossem um texto independente, e consultando quando adequado a linha correspondente do Pai Nosso para ver qual a relação com o texto principal.
Deste modo, o estudante percebe um significado novo e mais amplo do Pai Nosso. Agora esta oração é uma chave prática pela qual ele pode aumentar a sua ligação consciente com a comunidade ilimitada de inteligências divinas que constitui o universo.
NOTAS:
[1] Veja também Lucas, 11: 1-4.
[2] “The Theosophist”, Adyar,
Madras, Índia, fevereiro 1885 (pp. 100-101) e março 1885 (pp. 128-129). A
oração, especificamente, está na edição de março, p. 129.
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