23 de maio de 2014

O Pai Nosso da Filosofia Esotérica

Uma Interpretação Universalista Dessa Prece Cristã

Carlos Cardoso Aveline


O Pai Nosso da Filosofia Esotérica



Assim como os livros sagrados de outras religiões, as escrituras judaico-cristãs trazem em si, em forma velada, inúmeros ensinamentos da sabedoria eterna e esotérica. Vejamos um exemplo prático.

No Evangelho segundo Mateus, 6: 9-13, encontramos o Pai Nosso [1]. Trata-se de uma das orações mais famosas e recitadas do mundo. Infelizmente, é muitas vezes repetida de modo mecânico e dogmático, o que dificulta o despertar espiritual dos devotos.

É preciso olhar cada passagem de uma grande escritura a partir da compreensão do Todo, para que se entenda bem o trecho em questão.

Uma vez conhecidas algumas chaves de interpretação da tradição cristã, o estudante percebe a mensagem transcendente implícita no texto clássico. Interpretado esotericamente, o Pai Nosso deixa de ser uma oração obscura ou monótona, e ganha um significado universal que tem um efeito libertador e estimulante no plano racional, e ensina ao peregrino que ele deve libertar a si mesmo ao invés de esperar por alguma salvação externa.

Há pouco mais de um século, Helena P. Blavatsky publicou uma interpretação mística do Pai Nosso em seu jornal mensal “The Theosophist”.

Hoje quase esquecida, a versão semi-esotérica da oração faz parte de um texto raro intitulado “Christian Mysticism”, escrito pelo místico alemão Barão von Ekartshausen e publicado em duas partes, nas edições de fevereiro e março de 1885 da publicação dirigida por Blavatsky.

Tendo como base esta interpretação mística da oração, faço a seguinte versão do Pai Nosso, atualizada e adaptada diretamente aos ensinamentos da teosofia original:[2]

O “Pai Nosso” do Iluminado

Pai Nosso - (Elevo meu pensamento a meu eu superior e ao supremo princípio criativo, à Lei Universal,  fonte original de toda existência,)

Que estás nos céus, - (que vive nos planos superiores de consciência;)

Santificado seja o teu Nome; - (possamos nós ter o devido respeito impessoal pela lei do universo;)

Venha o teu Reino; - (que nossos desejos e atividades sejam tais que a lei suprema possa cumprir-se plenamente;)

Seja feita a tua Vontade - (que a Lei seja cumprida em nossa consciência e através de nós,) -

Assim na Terra como no Céu; - (no universo visível assim como no universo invisível;)

O pão nosso de cada dia nos dá hoje: - (que a cada dia que passa, nós possamos beber da fonte da vida e tenhamos novas oportunidades de obter conhecimento;)

E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos nossos devedores - (e que predomine a boa vontade entre todos, pois lutamos para libertar-nos das nossas imperfeições e para ajudar os outros a que se libertem do mesmo modo, e porque na medida em que ajudamos os outros, elevamos a nós próprios;)

Não nos deixes cair em tentação - (que possamos perseverar na busca do mais elevado, pois  sabemos que os estados inferiores de consciência perdem seus atrativos para quem enxergou a meta sagrada;)

Mas livra-nos do mal - (que possamos evitar o erro, desejando apenas o que seja útil para avançar no caminho do aperfeiçoamento.).

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A calma leitura da oração acima pode ser feita de várias formas sucessivas.  

Uma primeira é uma leitura corrida, como texto contínuo, incluindo tanto o Pai Nosso em si  como os seus comentários.

Uma segunda é apenas ler apenas os comentários, como se eles fossem um texto independente, e consultando eventualmente a linha correspondente do Pai Nosso para ver qual a relação com o texto principal.

Deste modo, o estudante percebe profundamente um significado novo e mais amplo do Pai Nosso. Agora esta oração é uma chave prática pela qual ele pode aumentar a sua ligação consciente com a comunidade ilimitada de inteligências divinas que constitui o universo.

NOTAS:

[1] Veja também Lucas, 11: 1-4.

[2] “The Theosophist”, Adyar, Madras, Índia, fevereiro 1885 (pp. 100-101) e março 1885 (pp. 128-129). A oração, especificamente, está na edição de março, p. 129.

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