Autoconhecimento, Altruísmo e Boa Saúde
Carlos Cardoso Aveline
Acima,
uma imagem clássica de São Francisco de Assis
Desde um ponto de vista teosófico, fazer
pedidos pessoais em uma oração só faz sentido como um gesto simbólico. O
“Senhor” a quem muitas orações são dirigidas é na verdade o próprio eu superior
daquele que ora, a sua alma imortal, e
também a Lei do Universo.
Ao fazer a oração, o peregrino fala diante do
seu espelho espiritual impessoal, que
reflete as potencialidades sagradas da alma terrestre. Sob a forma poética de
um pedido feito com humildade, o peregrino expressa a sua própria vontade
independente e adota a atitude de um ser autorresponsável.
Em uma das suas obras, Elisabeth Kübler-Ross divulga uma
versão da famosa Oração de São Francisco de Assis, adaptada para os terapeutas
e os curadores em geral.
Diz a oração:
SENHOR,
Faça de mim um instrumento da sua saúde:
Onde houver doença,
Que eu leve a cura;
Onde houver ferimento,
Ajuda;
Onde houver sofrimento,
Alívio;
Onde houver tristeza,
Conforto;
Onde houver desespero,
Esperança;
Onde houver morte,
Aceitação e paz.
FAÇA com que eu procure mais
Consolar do que ser fortalecido;
Entender do que ser obedecido;
Amar do que ser homenageado;
Porque é entregando a nós mesmos
Que nós curamos;
É escutando
que nós confortamos;
E é morrendo,
que nós nascemos para a vida eterna. [1]
Embora aparentemente específica, esta bela oração não se aplica apenas a
aqueles profissionais e estudiosos da área da saúde que percebem os
aspectos éticos e espirituais deste campo de ação.
Cada ser humano que busca com autenticidade a sabedoria é alguém que
irradia ao seu redor sentimentos e pensamentos mais elevados, e portanto
constitui, de certo modo, um curador, um terapeuta - alguém que leva alívio aos
que sofrem.
Do ponto de vista filosófico, porém, é importante perceber com clareza a
linha que estabelece a diferença entre a Cura, de um lado, e a mera Anestesia,
de outro; entre o alívio real da dor, e a simples fuga dela; entre a verdadeira
libertação, e o limitado combate aos efeitos externos do sofrimento. Há
um abismo sutil entre estas duas possibilidades.
O tratamento que leva à eliminação efetiva do sofrimento pode não ser
agradável à primeira vista. O paciente que sofre da doença da ignorância
espiritual terá de reconhecer em si mesmo os fortes adversários que são o
medo da cura e a resistência ao remédio. Estes dois adversários o levam em
parte a rejeitar, de modo mais ou menos inconsciente, a percepção e a vivência
diretas da sabedoria universal.
Assim, tanto o terapeuta como o peregrino experiente no caminho da
sabedoria deverão deixar claro, a quem dialoga com eles sobre o processo da
cura ou de busca espiritual, que é indispensável reconhecer um fato básico:
“Aquilo que é bom, que cura e faz o bem, nem sempre é
agradável; e, por outro lado, aquilo que parece agradável frequentemente não é
bom, nem cura, nem faz bem.”
Portanto, uma certa dose de indiferença estoica à dor de curto prazo é
sumamente importante para que possa ocorrer a verdadeira cura, física ou
espiritual. O apego emocionalmente infantil à satisfação pessoal, assim
como a fuga igualmente imatura de tudo o que parece desagradável, são duas
fontes gêmeas do desequilíbrio interno que leva à ausência de saúde, tanto
física quanto espiritualmente.
Quando se tem consciência destes fatos, a cura se torna mais fácil, mais
profunda, e mais duradoura.
Na medida em que o buscador da verdade e o terapeuta estão em pleno contato com a bem-aventurança e a saúde em seu interior, eles irradiam ativamente
coragem, confiança e bem-aventurança ao seu redor. Onde quer que eles
estejam, eles são um estímulo para que outros seres se conectem mais
diretamente, em seu próprio interior, com a fonte universal de saúde e
bem-estar.
Os verdadeiros terapeutas, assim como os verdadeiros teosofistas, evitam
levar aos outros uma anestesia de curto prazo. Como resultado disso, é preciso
discernimento para reconhecê-los; e é necessário um discernimento maior
ainda para tornar-se, gradualmente, um deles.
A longo prazo, o processo da cura é um processo de autorrealização, de
autorregulação e de autoplenitude, e este processo ocorre em
solidariedade e comunhão interior com os outros seres.
NOTA:
[1] ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO, modificada por Charles C. Wise, e publicada
nas páginas de abertura da obra “Death, the Final Stage of Growth”, de
Elisabeth Kübler-Ross, Prentice-Hall, New Jersey, USA, 1975, 182 pp.
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Leia
também o texto “Francisco, o Santo Panteísta”, de Carlos Cardoso
Aveline, que está disponível em nossos websites associados.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu
formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas
prioridades a construção de um futuro
melhor nas diversas dimensões da vida.
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