A Filosofia Ensina a Maneira
Correta de Viver
Marco Túlio Cícero
Marco Túlio Cícero
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Nota Editorial:
Nascido em 3 de janeiro do ano de
106
antes da era cristã, Marco Túlio
Cícero
foi orador, estadista e filósofo
romano.
Viveu até o ano de 43, antes da
era cristã.
(CCA)
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Aqui estamos, Brutus, no quinto e último
dia das nossas discussões em Túsculo. E este foi o dia em que discutimos o
assunto que é o seu preferido entre todos. Porque o livro que você escreveu com
tanto cuidado e que dedicou a mim, mostrou-me, assim como as nossas numerosas
conversas, a força da sua convicção de que, para ter uma vida feliz, a única
coisa que necessitamos é bondade moral.
Certamente,
depois de todos os variados golpes que a sorte fez descer sobre nossas cabeças,
essa é uma coisa difícil de provar! Ainda assim, temos apenas que fazer todo o
possível para fazer as pessoas aceitarem esta conclusão, porque em todo o
conjunto da filosofia não há coisa alguma mais essencial ou mais sublime. É por isso que já os primeiros filósofos que
alguma vez existiram se devotaram inteiramente à busca da melhor maneira de
viver. O motivo pelo qual eles decidiram
dedicar todo seu cuidado e atenção a esta busca é porque eles acreditavam que
ela revelaria como a felicidade poderia ser alcançada. E se, como eu argumento,
a felicidade só pode vir do que é moralmente correto - uma ideia que eles
criaram e elaboraram - ninguém pode
deixar de admitir que a filosofia, que eles fundaram e à qual nós temos dado
continuidade, é uma atividade muito gloriosa, de fato.
Mas
suponha, por outro lado, que o bom
caminho da vida estivesse à mercê de
todo um conjunto de acasos
impredizíveis, de modo que se os acasos adequados não ocorressem, esta bondade não teria força suficiente para manter-se independentemente e por sua
força própria. Se isso fosse realmente verdade, tudo o que poderíamos fazer
para alcançar uma vida feliz - segundo me parece - seria apenas esperar pelo
melhor e orar ao céu pedindo que a felicidade venha de algum modo até nós. Porque, em tal situação, ter um comportamento
decente não nos beneficiaria de modo algum.
E, de
fato, quando penso em minhas experiências pessoais, e em todos os formidáveis
obstáculos e perigos a que o acaso ou destino me submeteu, há momentos em que
eu mesmo começo a duvidar desta teoria moral: a fraqueza e a fragilidade da espécie humana
parecem assustadoras. O que mais me
perturba é o fato de que a natureza, não contente com o fato de dar-nos corpos
que são fracos e propensos a doenças incuráveis e sofrimentos
insuportáveis, também nos deu corações e
almas que não só compartilham estes sofrimentos físicos mas estão envolvidos,
também, em dores e problemas adicionais, distintos, que são específicos deles.
No
entanto, quando tais considerações parecem demasiado deprimentes eu examino a
mim mesmo, e reflito que talvez eu tenha estado julgando o poder da bondade
moral não pela sua própria força real, apenas, mas sim com base neste ou
naquele defeito demonstrado por seres humanos individuais, inclusive eu mesmo. Pois se uma tal coisa como bondade moral
realmente existe - e foi o seu tio, Brutus, que eliminou minhas dúvidas a
respeito - então ela seguramente possui
a habilidade de erguer-se acima dos acasos e acidentes que podem acontecer com
os seres humanos. Ela pode olhar desde
um ponto de vista superior para todos eles, com completo desprezo pelos
azares da vida mortal: ela é incapaz de quaisquer falhas ou fraquezas, e não
depende de nada exceto de si mesma.
Nós,
mortais, no entanto, não estamos à altura deste padrão. Quando os infortúnios aparecem no horizonte,
nós os exageramos por puro pavor, e quando estão frente a frente conosco nós os
exageramos novamente, por causa da dor que eles nos causam. Estes sentimentos nos impelem a colocar a
culpa nas circunstâncias, quando o que deveríamos culpar é a deficiência em
nosso próprio caráter.
A cura
para essa falha e para todos os nossos
outros erros e enganos é a filosofia. Desde a minha primeira infância eu me
atirei nos seus braços: ela foi a minha
própria escolha deliberada e entusiástica. E agora novamente, nos meus
sofrimentos atuais, quando sou jogado para lá e para cá pela fúria da
tempestade, busquei refúgio exatamente
no mesmo porto do qual eu me lancei pela primeira vez ao mar.
Filosofia! Orientadora das nossas vidas, exploradora de
tudo o que é bom em nós, eliminadora de
todos os males! Se não fosse por sua
orientação, o que teria sido eu - e o que, na verdade, teria sido de toda a
vida humana?
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O texto acima foi traduzido do volume “On the
Good Life”, de Cícero, Penguin Classics, Penguin Books, copyright 1971,
London, 382 pp., ver pp. 52 a 54. O trecho
está no início da parte cinco da obra “Discussions at Tusculum” (“Discussões em
Túsculo”).
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Sobre
o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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