Criador de Sherlock Holmes Deixou-se Iludir
Pelas Acusações Falsas
Contra Helena Blavatsky
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Em
relação a Helena Blavatsky, faltou a Doyle
(1859-1930)
a capacidade investigativa de Sherlock
O escritor
inglês Arthur Conan Doyle, famoso por haver criado o personagem Sherlock
Holmes, conheceu pessoalmente o teosofista Alfred P. Sinnett e se interessou
pela filosofia esotérica durante algum tempo.
Doyle parece ter retirado da teosofia algumas ideias fascinantes
presentes em seus livros. Mas não teve o
mesmo faro investigativo que o seu personagem Sherlock e por isso abandonou o
movimento teosófico. Devido à sua ingenuidade,
Doyle perdeu sua confiança na teosofia depois de saber do famoso Relatório
Hodgson, a farsa pseudoinvestigativa pela qual a Sociedade de Pesquisas
Psíquicas (SPP), de Londres, “condenou” H. P. Blavatsky por fraude, em meados
da década de 1880.
Helena Blavatsky, uma escritora descasada
trabalhando em pleno século 19, questionou os principais dogmas científicos,
culturais e religiosos do seu tempo. Na época, parecia conveniente
atacá-la como meio de preservar a rotina do mundo intelectual e religioso. O
tempo passou, e as mulheres pensantes deixaram de ser perseguidas injustamente. Cem
anos depois da “condenação” de Helena Blavatsky, a própria Sociedade de
Pesquisas Psíquicas fez uma autocrítica em abril de 1986 e admitiu publicamente
que os seus acusadores usaram de falsidade e fraude nas acusações contra ela e
contra o movimento teosófico. Nos anos 1880, porém, Conan Doyle
acreditou pelo menos em parte na encenação política da Sociedade de Pesquisas.
Recuou diante dos ataques contra HPB, e
deixou de lado a teosofia. Em seu livro de memórias, o escritor
afirma:
“Durante um ou dois anos, interessei-me profundamente pela
teosofia, pois, se naquele tempo o espiritismo me parecia caótico, do ponto de
vista filosófico, a teosofia propunha um esquema muito bem delineado e lógico,
que, em alguns dos seus aspectos - tais como a reencarnação e o carma,
principalmente - parece conter uma explicação para as anomalias da vida. Li ‘O Mundo Oculto’, de Sinnett, e depois,
com uma admiração ainda maior, a magnífica explicação da teosofia que ele nos
dá em ‘O Budismo Esotérico’, um
livro dos mais admiráveis.[1]
Cheguei a conhecê-lo, pois era um velho amigo do general
Drayson, e fiquei impressionado com sua conversa. Pouco depois, contudo, veio à
luz o relatório do dr. Hodgson a respeito das atividades da sra. Blavatsky em
Adyar, o que abalou seriamente a minha confiança.”[2]
Conan
Doyle é autor de uma “História do Espiritismo” e de outros livros sobre
doutrina espírita, como “A Nova Revelação” e “A Mensagem Vital”. Seu livro mais
interessante do ponto de vista teosófico talvez seja “A Cidade Submarina”, um
romance de ficção científica publicado no Brasil pela editora Melhoramentos.[3] “A Cidade Submarina” é uma
versão fantástica da lenda da destruição de Atlântida, e inclui uma reflexão de
bom nível sobre a relação entre a falta de ética e de valores morais e o final
das civilizações.
Outro
volume de Doyle que coincide com escritos de Helena Blavatsky e Alfred
Sinnett é “O Veneno Cósmico”.[4] A principal história do livro
contém alguns elementos da advertência feita por Helena Blavatsky sobre a
possibilidade de uma forma misteriosa de guerra que destruísse instantaneamente
a maior parte da nossa humanidade. O movimento teosófico foi criado por Helena tendo
como um dos seus objetivos evitar este tipo de guerra através da construção de um núcleo de fraternidade
universal.
Além
disso, uma das histórias menores do mesmo volume, intitulada “A Máquina
Desintegradora”, antecipa bem-humoradamente a ideia do teletransporte ou desmaterialização e materialização de objetos. O
fato pertence à Raja Ioga e foi abordado testemunhalmente por Alfred Sinnett em seus livros e também nas “Cartas dos
Mahatmas”. Doyle adaptou a ideia para um contexto de ficção científica.
NOTAS:
[1] Os dois livros citados estão disponíveis em língua portuguesa. “O Mundo Oculto” está à venda pela
Editora Teosófica, de Brasília. “O Budismo Esotérico” está publicado pela
Editora Pensamento, de São Paulo.
[2] “Memórias e Aventuras, Autobiografia”, Conan Doyle, Ed. Marco Zero,
SP, 328 pp., 1993, ver p. 71.
[3] Título original: “The Maracot
Deep”.
[4] “O Veneno
Cósmico”, Conan Doyle, Edições Melhoramentos, Tradução de Raul de Polillo, 221
pp. A edição não tem data, mas provavelmente é da década de 1960.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada
de modo anônimo na edição de outubro de 2007 de “O Teosofista”.
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Veja também o artigo “A Filosofia de
Sherlock Holmes”, de Carlos Cardoso
Aveline. O texto está disponível em nossos websites
associados.
Sobre o mistério
do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição
luso-brasileira de “Luz no Caminho”,
de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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