Alguns Parágrafos do Mestre Oriental
Que Viveu Na Europa, na Década de 1850
Carlos Cardoso Aveline

O Mestre de
Sabedoria que participou mais diretamente ao lado de Helena Blavatsky do
processo de fundação do movimento teosófico moderno - entre 1875 e 1891 -
parece ter estudado pessoalmente quando jovem na Universidade de Dublin, na
Irlanda.
Diversos
pesquisadores consideram que o mestre escreveu na década de 1850 uma obra
intitulada “The Dream of Ravan”.[1]
Publicado de forma seriada por uma revista da Universidade de Dublin e sem
indicação do nome do autor, o texto é notável e, apesar disso, ainda hoje é
pouco conhecido mesmo entre teosofistas. A sua primeira edição em forma de
livro ocorreu em 1895. A Theosophy Company reeditou-o na Índia em 1974. Também
está publicado em nossos websites.
“The
Dream of Ravan” narra um aspecto da narrativa do poema épico hindu “Ramayana” e
tem um estilo de redação semelhante ao das cartas conhecidas do Mestre. A obra
aborda os três gunas, as três características da energia da
natureza. Faz isso de forma profunda e original. Os gunas são Tamas, Rajas e Satva.
Correspondem respectivamente a inércia,
movimento e ritmo; ou estabilidade, mudança e harmonia; ou ainda corpo
físico, alma mortal, e alma espiritual.
Alguns
trechos de “The Dream of Ravan” abordam os gunas como etapas sucessivas do
desenvolvimento de uma alma individual e, noutro nível, da vida no planeta.
O
autor descreve em poucas linhas a lenta elevação do espírito, desde a
insensibilidade da matéria bruta até “as calmas regiões da vida ideal” - nas
quais os santos e sábios desenvolvem seu trabalho eterno em uma tranquilidade
imperturbada. [2]
Diz
o mestre, habitante dos Himalaias:
“A
qualidade Tamas (...) pode ser
considerada como a grande característica da matéria bruta, a insensibilidade, a
opacidade, a fria obstrução, a imobilidade; na ciência ótica, o púrpura escuro
ou o raio violeta; na moral, a tendência à preguiça e à lentidão, à
materialidade e à condição brutal. Sua forma mais alta de desenvolvimento
orgânico não vai além da vida meramente animal e da região dos sentidos.”
Esta
é a vida física, em que predomina a inércia. Em seguida temos a existência da
alma mortal, dominada pelos sentimentos e emoções. Trava-se neste segundo nível
a luta entre a matéria e o espírito. Em consequência disso, temos um movimento
vital que se esforça por harmonizar-se. O autor do “Dream” escreve:
“Rajas é a característica da vida moral, ou da vida da alma; a escura opacidade
é penetrada por um brilho intenso e turvo, mas ainda não se torna puramente
transparente; a fria obstrução e insensibilidade são despertadas e se tornam
ânsias dolorosas de movimento; o púrpura escuro ou o violeta se tornaram mais
suaves na forma do raio vermelho. O que estava na esfera da sensação lutou até
chegar a ser emocional; o sentimento suplantou os sentidos e o impulso cego.”
A
longa luta pela estabilidade faz com que a vida se eleve até os planos
superiores de consciência, e chega-se ao terceiro guna:
“Satva é a característica do espírito;
espírito na realidade ainda colocado em antítese em relação a corpo e alma - ou
matéria e vida - e, portanto, embora claro, luminoso e glorioso, ainda
partilhando da separação, e preso aos grilhões da individualidade e da
limitação; o raio alaranjado em ótica, pronto para escapar e perder-se na pura
luz. A alma que sente é compelida pelo sofrimento a alcançar uma
autoconsciência e reflexão mais profundas; a paixão eleva-se até a razão e o
conhecimento. O autoconhecimento, quando raciocina na direção do mundo,
progride até a simpatia universal. A vida de emoção alcança sua expressão
máxima, e todas as outras paixões morrem enquanto fazem nascer sentimentos
eternos de justiça e de amor, os quais são, em última instância, um só.”
À
medida que a vida se expande a consciência passa a incluir todos os seres. O
sábio prossegue na narrativa da evolução:
“Assim,
do mesmo modo que o sentido despertou como paixão ou sentimento - o próprio
sentimento elevou-se até o princípio eterno: e assim como a vida sensual do
impulso animal cego elevou-se até a vida heroica da paixão, essa última, por
sua vez, através da reflexão e do conhecimento, é elevada até as calmas regiões
da vida ideal ou espiritual, na qual os Rishis, e Munis, e Kavis, sábios e
santos, profetas e poetas divinos, vivem uma vida de eterno trabalho em uma
tranquilidade imperturbada; um trabalho sem pressa, sem pausa (...).”
Quando
a aprendizagem alcança o nível mais elevado de consciência, a diversidade e o
contraste se mostram como unidade dinâmica. Tamas
é como o carvão, o combustível. Rajas corresponde
ao fogo, e Satva, à luz. [3]
O
autor de “The Dream of Ravan” afirma:
“Ainda
além da qualidade isolada de Satva há
uma esfera chamada de puro Satva,
que significa a pura essência, o puro ser, a pura verdade e a pura bondade -
vistos como uma só essência. Isso só parece ser alcançado quando há uma
renúncia a todo isolamento; quando Satva,
reingressando dominante em Rajas e Tamas e permeando-os com sua influência,
faz com que todos os três raios prismáticos se unam na pura luz universal e em
uma consciência de re-união divina.” [4]
Tudo
indica que o autor das palavras reproduzidas acima é o principal responsável
pela criação do movimento teosófico moderno. Certamente é aquele que mais
escreveu Cartas a discípulos leigos. Ao ajudar os esforços dos teosofistas
sinceros, ele foi até o limite máximo das suas possibilidades de Adepto.
NOTAS:
[1] Entre eles, Mary Neff, Virginia Hanson e Fritz Kunz, todos do século 20.
[2] “The Dream of Ravan” (“O Sonho de Ravan”), 248 pp., ver pp. 45-48. A obra foi publicada pela primeira vez pela revista da universidade de Dublin em 1853 e 1854.
[3] A metáfora dos três gunas como carvão, fogo e luz está nas páginas 54 e 55 da obra.
[4] “The Dream of Ravan”, páginas 47-48.
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O texto “Os Três Gunas e a Evolução da Alma” foi publicado em julho de 2015.
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