21 de julho de 2015

Os Três Gunas e a Evolução da Alma

Alguns Parágrafos do Mestre Oriental
Que Viveu Na Europa, na Década de 1850

Carlos Cardoso Aveline




O Mestre de Sabedoria que participou mais diretamente ao lado de Helena Blavatsky do processo de fundação do movimento teosófico moderno - entre 1875 e 1891 - parece ter estudado pessoalmente quando jovem na Universidade de Dublin, na Irlanda. 

Diversos pesquisadores consideram que o mestre escreveu na década de 1850 uma obra intitulada “The Dream of Ravan”.[1] Publicado de forma seriada por uma revista da Universidade de Dublin e sem indicação do nome do autor, o texto é notável e, apesar disso, ainda hoje é pouco conhecido mesmo entre teosofistas. A sua primeira edição em forma de livro ocorreu em 1895. A Theosophy Company reeditou-o na Índia em 1974. Também está publicado em nossos websites.

“The Dream of Ravan” narra um aspecto da narrativa do poema épico hindu “Ramayana” e tem um estilo de redação semelhante ao das cartas conhecidas do Mestre. A obra aborda os três gunas, as três características da energia da natureza. Faz isso de forma profunda e original. Os gunas são Tamas, Rajas e Satva. Correspondem respectivamente a inércia, movimento e ritmo; ou estabilidade, mudança e harmonia; ou ainda corpo físico, alma mortal, e alma espiritual.

Alguns trechos de “The Dream of Ravan” abordam os gunas como etapas sucessivas do desenvolvimento de uma alma individual e, noutro nível, da vida no planeta.

O autor descreve em poucas linhas a lenta elevação do espírito, desde a insensibilidade da matéria bruta até “as calmas regiões da vida ideal” - nas quais os santos e sábios desenvolvem seu trabalho eterno em uma tranquilidade imperturbada. [2]  

Diz o mestre, habitante dos Himalaias:  

“A qualidade Tamas (...) pode ser considerada como a grande característica da matéria bruta, a insensibilidade, a opacidade, a fria obstrução, a imobilidade; na ciência ótica, o púrpura escuro ou o raio violeta; na moral, a tendência à preguiça e à lentidão, à materialidade e à condição brutal. Sua forma mais alta de desenvolvimento orgânico não vai além da vida meramente animal e da região dos sentidos.”

Esta é a vida física, em que predomina a inércia. Em seguida temos a existência da alma mortal, dominada pelos sentimentos e emoções. Trava-se neste segundo nível a luta entre a matéria e o espírito. Em consequência disso, temos um movimento vital que se esforça por harmonizar-se. O autor do “Dream” escreve:

Rajas é a característica da vida moral, ou da vida da alma; a escura opacidade é penetrada por um brilho intenso e turvo, mas ainda não se torna puramente transparente; a fria obstrução e insensibilidade são despertadas e se tornam ânsias dolorosas de movimento; o púrpura escuro ou o violeta se tornaram mais suaves na forma do raio vermelho. O que estava na esfera da sensação lutou até chegar a ser emocional; o sentimento suplantou os sentidos e o impulso cego.”

A longa luta pela estabilidade faz com que a vida se eleve até os planos superiores de consciência, e chega-se ao terceiro guna:

Satva é a característica do espírito; espírito na realidade ainda colocado em antítese em relação a corpo e alma - ou matéria e vida - e, portanto, embora claro, luminoso e glorioso, ainda partilhando da separação, e preso aos grilhões da individualidade e da limitação; o raio alaranjado em ótica, pronto para escapar e perder-se na pura luz. A alma que sente é compelida pelo sofrimento a alcançar uma autoconsciência e reflexão mais profundas; a paixão eleva-se até a razão e o conhecimento. O autoconhecimento, quando raciocina na direção do mundo, progride até a simpatia universal. A vida de emoção alcança sua expressão máxima, e todas as outras paixões morrem enquanto fazem nascer sentimentos eternos de justiça e de amor, os quais são, em última instância, um só.”

À medida que a vida se expande a consciência passa a incluir todos os seres. O sábio prossegue na narrativa da evolução: 

“Assim, do mesmo modo que o sentido despertou como paixão ou sentimento - o próprio sentimento elevou-se até o princípio eterno: e assim como a vida sensual do impulso animal cego elevou-se até a vida heroica da paixão, essa última, por sua vez, através da reflexão e do conhecimento, é elevada até as calmas regiões da vida ideal ou espiritual, na qual os Rishis, e Munis, e Kavis, sábios e santos, profetas e poetas divinos, vivem uma vida de eterno trabalho em uma tranquilidade imperturbada; um trabalho sem pressa, sem pausa (...).”

Quando a aprendizagem alcança o nível mais elevado de consciência, a diversidade e o contraste se mostram como unidade dinâmica. Tamas é como o carvão, o combustível. Rajas corresponde ao fogo, e Satva, à luz. [3]

O autor de “The Dream of Ravan” afirma:

“Ainda além da qualidade isolada de Satva há uma esfera chamada de puro Satva, que significa a pura essência, o puro ser, a pura verdade e a pura bondade - vistos como uma só essência. Isso só parece ser alcançado quando há uma renúncia a todo isolamento; quando Satva, reingressando dominante em Rajas e Tamas e permeando-os com sua influência, faz com que todos os três raios prismáticos se unam na pura luz universal e em uma consciência de re-união divina.” [4]

Tudo indica que o autor das palavras reproduzidas acima é o principal responsável pela criação do movimento teosófico moderno. Certamente é aquele que mais escreveu Cartas a discípulos leigos. Ao ajudar os esforços dos teosofistas sinceros, ele foi até o limite máximo das suas possibilidades de Adepto.  

NOTAS:

[1] Entre eles, Mary Neff, Virginia Hanson e Fritz Kunz, todos do século 20.

[2]The Dream of Ravan” (“O Sonho de Ravan”), 248 pp., ver pp. 45-48. A obra foi publicada pela primeira vez pela revista da universidade de Dublin em 1853 e 1854.    

[3] A metáfora dos três gunas como carvão, fogo e luz está nas páginas 54 e 55 da obra.

[4]The Dream of Ravan”, páginas 47-48.

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O texto “Os Três Gunas e a Evolução da Alma” foi publicado em julho de 2015.

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