Lentamente a Alma Cura a Si
Própria e Aprende a Amar a Vida
Carlos Cardoso Aveline
Ao lidar com a
falsidade, aprendemos a usar o discernimento.
As
pessoas sinceras consideram particularmente desagradável lidar com a
hipocrisia, porque embora ela venha de uma área diferente e perigosa do Carma,
apresenta-se como se fosse docemente bondosa.
A
hipocrisia é uma expressão de ignorância, combinada com egoísmo. O hipócrita é
um desinformado. Ele esconde-se por trás das complexidades e contradições da
vida, não só para enganar os outros, mas também para perpetuar a sua
autoilusão.
A
falsidade muda constantemente de forma, embora o seu conteúdo malcheiroso
permaneça igual. Pode ser expressada de modo brutal ou apresentar-se como a
mais floreada e sutil poesia do pseudoamor.
Um
dos aspectos centrais da hipocrisia está no fato de que, antes de ser um
hipócrita para com os outros, o indivíduo deve ser um hipócrita consigo mesmo.
O mentiroso e o insincero perderam o sentido de realidade. O seu antahkarana
está com problemas. A conexão deles com suas almas superiores foi sacrificada
para lidarem com sentimentos como medo interior, e eles fazem isso através de
emoções compensatórias como ambição, vaidade e busca de poder sobre os outros.
Estas são fugas psicológicas da ansiedade causada pelo sentimento de estar
isolado da vida.
Há
muitos “hipócritas sinceros” no movimento esotérico e outras esferas da vida. São
pessoas basicamente honestas que não tiveram acesso a uma ação pedagógica
eficaz. Só uma pedagogia correta pode ajudar as pessoas a se libertarem da
falsidade herdada da nossa época na família, no trabalho, na sociedade, e
sobretudo na relação interna diária com suas próprias consciências.
Quando
observamos os fracassos pedagógicos das associações teosóficas, com o seu culto
a personalidades e a organizações, o seu “sentimentalismo espiritual”, sua
disfarçada ambição de obter dinheiro das pessoas interessadas em sabedoria, e
sua devoção ritualizada a falsos mestres, devemos lembrar que a opção pela
falsidade raramente é uma decisão individual das pessoas. Ninguém mostrou a
elas outra maneira de viver. Elas nasceram num mundo de falsidade e acreditam
que é necessário aderir a ela.
A
aprendizagem da sinceridade e do discernimento não é tarefa fácil. A primeira
vítima da hipocrisia é o próprio hipócrita. Ele vive sob a tortura de já não
ter um sentido de realidade. Ficou preso na teia de aranha das falsidades
interconectadas, voluntárias e involuntárias, criadas por ele mesmo e por
outros, e cuja natureza ele não consegue discernir.
Por
esse motivo os teosofistas lutam contra a ignorância, sem combater a pessoa do ignorante.
Ainda
assim, o ignorante com frequência se sente “mortalmente ofendido” por aquele
que derruba ilusões ou combate a ignorância apresentada como sabedoria. Quem
não tem bom senso pode amar a sua própria desinformação e identificar-se com
ela.
Aquele
que desistiu da sinceridade sofre ao ver uma pessoa de coração honesto que não
é ingênua e não pode ser facilmente enganada. No fundo, o hipócrita é um
ingênuo e reconhecer isso é doloroso para ele. A vida ensina que a verdadeira
inteligência consiste em ser honesto consigo mesmo e com os outros.
O
teosofista bem informado em relação à natureza humana sabe que é apenas um
peregrino e não está inteiramente livre da ilusão. Embora possa ser guiado por
um coração honesto, o caminho da libertação da falsidade permanece sendo algo que
ele deve percorrer passo a passo, com coragem e paciência. Os tropeços fazem
parte da caminhada. Ele deve ter equilíbrio e firmeza, flexibilidade e
determinação. São necessárias a humildade diante das vitórias, a serenidade
diante das derrotas, e uma visão de longo prazo das coisas.
Para
melhorar o modo como a humanidade cria e renova seu carma, nada melhor que um
sistema ético através do qual as pessoas possam aprender a amar a verdade, a
rejeitar ilusões, e enxergar a diferença entre as duas.
Isso
nos é dado por obras como as de Confúcio, Lao-tzu, Cícero, Sêneca, Marco
Aurélio, Epicteto, Kant, Ivan Il’in, Helena Blavatsky, Robert Crosbie e outros.
Os livros de Blavatsky e as Cartas dos Mahatmas nos oferecem uma estrutura e um
ponto de vista corretos para olhar o conjunto da vida. E no entanto a leitura
não basta. A tarefa é também prática. O grande desafio para quem estuda
Teosofia está em agir diariamente conforme o ideal adotado.
Para
abandonar os erros que identificamos, cabe desenvolver a renúncia e o desapego.
O uso do discernimento permite saber a diferença entre o certo e o errado. Uma
vez que tenhamos obtido uma visão correta das coisas, a vontade moral precisa
ser exercitada desafiando as forças densas do “consenso”, do “conforto
coletivo”, da rotina e das chantagens emocionais, sutis ou não.
O nosso
critério e sabedoria irão falhar em inúmeras situações específicas. Devemos
segui-los mesmo assim, porque este é o caminho da aprendizagem. É claro que
muitas vezes o bom discernimento dirá que devemos aceitar conselhos.
Para
compreender a vida, vale a pena abrir mão da rapidez. O renascimento da sinceridade
ocorre sem pressa.
Reduzimos a distância entre o ideal e a prática
ao criar espaço para o silêncio em diversas oportunidades ao longo do dia. A
atmosfera produzida pela ausência interna de ruído gradualmente harmoniza
pensamentos, sentimentos, palavras, ações, e percepções intuitivas. Na
lentidão, a alma cura a si própria enquanto aprende a amar a vida de modo
profundo.
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