16 de agosto de 2016

O Discipulado no Século 21

Como Trilhar o Caminho do Aprendizado Interior

Carlos Cardoso Aveline

Uma imagem dos Himalaias


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Nota Editorial:

O artigo a seguir foi publicado pela primeira
vez na publicação internacional “The Aquarian
Theosophist”, edição de julho de 2005, pp. 1-7.
Título original: “Discipleship in the 21st Century”.
O texto foi publicado em português em abril de
2012. Como a tradução foi feita pelo próprio autor,  
ela não é necessariamente literal em todos os trechos.

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Talvez valha a pena estudar o tema do discipulado. Há razões para investigar as relações magnéticas sutis e o processo de comunicação não-verbal entre os sábios dos Himalaias e os buscadores da verdade espalhados pelos diversos continentes.  

O movimento teosófico foi concebido e criado durante as décadas de 1870 e 1880 por Helena P. Blavatsky e alguns Mestres orientais. Para o esforço, foi mobilizado um número expressivo de discípulos e aspirantes ao discipulado.   

Desde o primeiro momento, a vida interna do projeto teosófico sempre dependeu da existência de sinceros aspirantes a uma aprendizagem mais elevada. Só isso garante que o movimento exista de fato nos níveis superiores de consciência.

A história demonstrou uma e outra vez que, na ausência de um grupo de indivíduos sinceramente comprometidos com a busca do discipulado através do trabalho altruísta pela humanidade, o movimento é pouco mais que uma casca sem vida. A aspiração ao discipulado sustenta o movimento. Neste ponto, porém, cabe examinar o que queremos dizer quando usamos a palavra “discipulado”. 

Aquele que considera a ideia de ser um discípulo como um símbolo de status ou sinal de vitória pessoal deve abandonar por completo este objetivo. Assim evitará um desastre. Em tal caso é melhor dizer: 

“É mais do que suficiente estudar a literatura da teosofia autêntica e livre de imitações, e tentar viver de acordo com os seus princípios gerais.”

No entanto, a Verdade está frequentemente oculta sob a superfície e as aparências. A semente do discipulado - com todos os seus testes - está presente na intenção aparentemente simples de tentar viver de acordo com os princípios teosóficos.

O Que é o Discipulado

No seu sentido primeiro e original, a palavra discipulado indica um processo de aprendizagem. Não pode haver nele sentimentos de autoimportância. A palavra “discípulo” significa simplesmente “aprendiz”. Do mesmo modo, o termo “disciplina” se refere às condições práticas necessárias para que o aluno desenvolva novas habilidades.

Outro ponto a examinar diz respeito à atitude do estudante diante da misteriosa existência dos Mahatmas ou Iniciados. Ele deve tomar a iniciativa de buscar a verdade de modo independente? Será correto investigar um tema como o trabalho dos Mestres, confiando em fontes autênticas e deixando de lado a pseudoteosofia? Será útil recolher as escassas informações verídicas sobre a existência dos instrutores, o seu esforço pela humanidade e o treinamento dos seus discípulos?

A verdade é que os Mestres - também chamados de Raja-Iogues, Adeptos, Imortais, Arhats, Iniciados, Mahatmas, Rishis e Budas - não estão além do nosso campo de investigação consciente. Robert Crosbie, o principal fundador da Loja Unida de Teosofistas, escreveu:

“H.P. Blavatsky agiu como verdadeira Instrutora ao dizer: ‘Não sigam a mim mesma ou ao meu caminho; sigam o caminho que eu mostro, sigam os Mestres que são a fonte do ensinamento’.” [1]

No entanto, tal Caminho deve ser encontrado através da afinidade interna e não da crença cega. A dinâmica do aprendizado é complexa. O processo probatório, que marca o início da Caminhada, não começa com um Mestre aparecendo para cada aspirante e fazendo a ele algum anúncio formal a respeito. Como regra, provações e testes devem ocorrer sem aviso prévio.  

A provação é um fato natural e inevitável, e não alguma coisa criada artificialmente para testar este ou aquele discípulo. Os testes resultam da lei do carma. Cada porção de conhecimento, em qualquer aspecto da vida, traz consigo uma quantidade correspondente de responsabilidade. Ser responsável pelo seu próprio aprendizado significa enfrentar testes. A provação vem com o primeiro passo da busca pela sabedoria. Sua intensidade estará na proporção direta da seriedade daquele passo - e dos passos seguintes.

Ao longo do caminho para a sabedoria, não basta que o estudante de filosofia esotérica evite os mecanismos emocionais da autoilusão, do apego, do medo e da ambição “espiritual”. Ele será tentado e testado de muitas formas diferentes.

Na maior parte dos casos, as ideias erradas se apresentarão com toda a aparência de atitudes perfeitamente espirituais, ou ao menos como fatos humanamente aceitáveis.  

Quanto mais profundo for o conhecimento a que o aprendiz tem acesso, maiores serão os testes ocultos. E eles surgirão sem avisos.   

Se tiver a coragem de seguir o seu próprio coração, o estudante pode sentir-se inteiramente sozinho em certas ocasiões - e talvez até desesperadamente sozinho. Mas, se perseverar, saberá que nos momentos difíceis ele está mais presente do que nunca no vasto campo magnético que é mantido sob a observação geral dos Adeptos e dos seus discípulos diretos.

Um Mestre escreveu a um discípulo leigo, em 1882:

“A Natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios sutis de simpatia magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e o homem; o pensamento corre mais rápido do que o fluido elétrico, e o seu pensamento irá encontrar-me caso seja projetado com um impulso puro (.....). Assim como a luz no vale sombrio é vista pelo montanhista do alto dos seus picos, cada pensamento luminoso em sua mente, meu Irmão, brilhará atraindo a atenção deste seu distante amigo e correspondente. Se descobrimos deste modo os nossos Aliados naturais (.....) - e nossa lei manda aproximar-nos de todo aquele que tenha dentro de si ainda que só o mais leve lampejo da verdadeira luz do  Tathagata - então tanto mais fácil será para você atrair-nos![2]

A Lei dos Mestres manda que eles se aproximem de cada aspirante que possui em si um lampejo da verdadeira luz universal. Esta aproximação e observação são feitas em silêncio. Os sábios mantêm contato com o eu superior presente no coração e na consciência do estudante, e não com a sua casca ou personalidade externa. Robert Crosbie escreveu:

“Os Mestres não olham para os nossos defeitos. Eles olham para as nossas intenções e nossos esforços.” [3]

Em uma das Cartas, um sábio dos Himalaias menciona o aspecto externo do ser humano. Chamado em sânscrito de rupa [“forma” ou “veículo”], ele oculta o aspecto interno, invisível e verdadeiro da individualidade. Em seguida, o mestre acrescenta:

“Com o indivíduo ‘visível’ nós nada temos a ver. Ele é para nós apenas um véu que oculta dos olhos profanos o outro ego em cuja evolução nós estamos interessados. No rupa externo, faça o que você quiser, pense o que quiser: só quando os efeitos dessa ação voluntária são vistos no corpo que está em sintonia conosco é nosso dever prestar atenção a ela.” [4]

Os Mestres observam o campo coletivo geral dos aspirantes. Com algumas poucas exceções, a observação realizada por eles não pode ser sentida nem percebida pelos estudantes que estão em observação. Normalmente é necessário um longo tempo para que o buscador da Verdade chegue ao momento que é descrito da seguinte maneira no Fragmento I de “A Voz do Silêncio”:

“Silencia os teus pensamentos e fixa toda tua atenção em teu Mestre, que ainda não vês, mas sentes.”

A obra prossegue: 

“Funde os teus sentidos em um só sentido, se queres estar seguro contra o inimigo. É por este sentido apenas - que está escondido dentro do vazio do teu cérebro - que o caminho íngreme até o teu Mestre pode ser revelado diante dos teus olhos turvos.” [5]  

O estudo das obras clássicas de filosofia esotérica sugere que na maior parte dos casos os Mestres observam e ajudam o Aspirante por um longo tempo antes que ele perceba a presença sutil de um instrutor. O tempo cronológico de curto prazo não tem importância neste nível de aprendizado. A ajuda não-percebida pode ocorrer durante algumas encarnações, enquanto vai sendo construído o verdadeiro  alicerce do  discipulado,  isto é, uma relação mais forte entre as sucessivas personalidades mortais do estudante e a sua alma espiritual imortal.  É depois dessa etapa que o Aspirante desenvolve a capacidade de perceber a influência não-verbal e sutil dos Mestres em sua vida. Ele poderá até mesmo interagir com um instrutor em um plano abstrato, sem imagens ou palavras. Isso, como sugere “A Voz do Silêncio” no trecho visto acima, ocorre longo tempo antes de ser capaz de ouvir ou ver (e reconhecer) um Mestre.

Referindo-se aos Mahatmas, William Q. Judge escreveu:

“Eles também afirmaram que eles não se tornam objetivamente perceptíveis para aqueles que acreditam neles, exceto quando tais crentes estão prontos em todos os aspectos da sua natureza, quando assumiram um compromisso definitivo com o trabalho deles, e quando possuem uma completa compreensão do significado do compromisso. Mas eles disseram ainda que ajudam todos os buscadores sinceros da verdade, e que não é necessário que tais buscadores saibam de onde vem a ajuda, bastando que a ajuda ocorra. (.....) Pessoalmente, sei que os Mestres ajudam intensamente, embora de modo invisível, todos aqueles que trabalham com interesse e confiam sinceramente em sua própria natureza superior, seguindo a voz da sua consciência sem dúvidas nem hesitações.” [6]

Uma questão bastante prática que surge quando se pensa em discipulado é: “Como calcular o tamanho da distância entre um aspirante e os Adeptos?”

É recomendável levar em conta que a distância existe em modos de vibração. A “separação” entre os sábios e a humanidade consiste em uma falta de afinidade em padrões vibratórios, já que as barreiras geográficas ou espaciais não existem para os Mestres e os seus discípulos diretos. A distância vibratória é criada exclusivamente pela nossa própria ignorância. Um dos Mahatmas escreveu a um discípulo leigo:

“Posso aproximar-me de você, mas você deve atrair-me mediante um coração purificado e uma vontade que se desenvolve gradualmente. Como a agulha da bússola, o adepto segue as suas atrações.” [7]

Cada aspirante deve primeiro encontrar em si mesmo o modo de diminuir a distância entre ele e o Dharma, ou Ensinamento. 

No coração silencioso do Ensinamento, durante a reflexão meditativa feita ao longo do dia, o aluno pode encontrar em boa parte a faixa vibratória em que operam os Instrutores. Mas isso não é suficiente. A ação prática é indispensável. Um Mahatma escreveu estas palavras decisivas para o discipulado no século 21:

“Olhe ao seu redor, meu amigo: veja os ‘três venenos’ devastando o coração dos homens - o ódio, a cobiça e a ilusão; e as cinco escuridões: a inveja, a paixão, a hesitação, a preguiça e a descrença, sempre impedindo-os de ver a verdade. Eles nunca se verão livres da poluição dos seus corações vaidosos e maldosos, nem perceberão a parte espiritual que há neles mesmos. Irá você tentar - para diminuir a distância entre nós - libertar-se da rede da vida e da morte em que todos eles estão presos (.....)?” [8]

Cabe a cada estudante dizer se aceita este convite, e decidir se dará os passos necessários para libertar-se de metas e compromissos ilusórios. Não há pressa: o trabalho dos Mestres é de longo prazo.

Embora as condições externas tenham mudado desde os tempos de H. P. B., permanece vivo um elo magnético triangular que une os Mestres e os Estudantes através do estudo e da vivência do Ensinamento. Isso pode ser visto por observação direta e também nas Cartas dos Mahatmas. Uma delas afirma:

“Podemos dirigir e guiar os esforços e o movimento em geral. Embora separados do seu mundo de ação, nós não estaremos inteiramente afastados dele enquanto a Sociedade Teosófica existir.” [9] Neste trecho, a expressão “Sociedade Teosófica” equivale a “Movimento Teosófico”. A definição do trabalho como algo de longo prazo também aparece em outra carta:

 “...Não podemos aceitar a ideia de inundar o mundo, sob pena de afogá-lo, com uma doutrina que deve ser revelada cautelosamente e gota a gota, como um tônico demasiado poderoso que tanto pode matar como curar (.....). A Sociedade nunca morrerá como instituição, embora isso possa ocorrer com lojas e indivíduos que fazem parte dela.” [10] Aqui, novamente, o termo “Sociedade” deve ser entendido como “Movimento”.  

Em relação ao fato de que os Mahatmas mantêm sob sua observação o campo magnético geral dos aspirantes sinceros à Verdade e ao discipulado, é interessante observar estas palavras de Robert Crosbie:

“Aqueles Grandes Seres que eu sei que existem veem cada discípulo dedicado e de coração puro, e estão dispostos a fazer girar a chave do conhecimento, quando chega a hora do progresso do discípulo. Ninguém que se esforça para trilhar o caminho é deixado sem ajuda. Os Grandes Seres veem a sua ‘luz’, e é dado a ele o que ele necessita para melhorar o seu desenvolvimento. Esta luz não é uma imagem poética. Ela existe de fato, e a sua natureza revela a condição espiritual do indivíduo; não há véus naquele nível de visão. A ajuda deve ser de um tipo que preserva para o indivíduo uma perfeita liberdade de pensamento e ação; se não fosse assim, as lições não seriam aprendidas.” [11]

De acordo com H. P. B., “o paradoxo parece ser a linguagem natural do Ocultismo” [12]. A ajuda dada pelos Mestres é um exemplo disso. Ninguém é deixado sem ajuda; mas para que o estudante mereça ajuda de fato, ele deve - e este é um paradoxo - assumir completa responsabilidade pela sua própria caminhada ao longo da estrada. A ação independente é, portanto, um fator de importância decisiva para que alguém mereça e receba ajuda do alto. Uma vez que este princípio básico seja aceito, surge outra questão. Como o aspirante pode avaliar realisticamente as suas possibilidades de progresso na aprendizagem, e quais são os limites do seu crescimento?

Não há resposta fácil neste ponto. 

O aprendizado oculto é um processo multidimensional e depende de muitos elementos dinâmicos que interagem entre si. No entanto, alguns fatores podem ser enumerados e examinados.  

Sete Pontos Para uma Avaliação

1) Observar a “maré” sempre mutável do carma coletivo.   

As condições do carma coletivo estão o tempo todo ajudando ou atrapalhando o processo de aprendizagem. Devemos lembrar que quando surgem momentos difíceis os esforços mais intensos aumentam o bom carma do aprendiz. Em cada obstáculo há mais de uma oportunidade positiva. “A Voz do  Silêncio”  afirma que,  no aprendizado esotérico,  há  uma serpente  enroscada sob  cada flor.[13] Mas existe uma lei da simetria, e o contrário também ocorre. Assim como os progressos externos provocam perigos no plano sutil, assim também os obstáculos externos criam oportunidades internas. 

Por isso um mestre dos Himalaias escreveu a Francesca Arundale sobre a arte de enfrentar dificuldades:

“Ah! Se seus olhos estivessem abertos, vocês poderiam ter tamanha visão das bênçãos potenciais para vocês mesmos e para a humanidade, que repousam no germe do esforço de agora, que teriam suas almas incendiadas pela alegria e pelo entusiasmo! Esforcem-se em direção à Luz, todos vocês, bravos guerreiros da Verdade.....” [14]

2) Examinar o patrimônio cármico do estudante.   

Quanto mais recursos cármicos de longo prazo a alma tiver acumulado, melhores e mais numerosos serão os meios ao seu dispor para enfrentar os desafios atuais, e mais força estará disponível para que seja desenvolvida uma ação eficaz na direção correta. 

Este patrimônio cármico inclui a quantidade de desenvolvimento já obtida na área das sete paramitas de autoaperfeiçoamento. Elas são: Dana, compaixão e amor imortal; Shila, Harmonia em palavra e ação; Kshanti, paciência imperturbável; Viraga, indiferença em relação a prazer e dor;  Virya, energia indômita que abre caminho até a Verdade;  Dhyana, ou  contemplação incessante; e Prajna, a chave da integração que faz de um ser humano um Bodhisattva. [15] 

Os desafios são estimulantes e despertam o patrimônio interior. Até certo ponto, o tamanho da alma é revelado pela dimensão da meta que ela busca.

3) Levar em conta a intensidade dos esforços do aspirante.

Em dezembro de 1880, H. P. Blavatsky publicou em The Theosophist estas palavras de Thomas Taylor, o pensador platônico:  

“Um pouco de sabedoria é coisa perigosa e agônica
Beba muito, ou não absorva um só gole da fonte PLATÔNICA;
Nela alguns poucos goles intoxicam o cérebro,
E beber grande quantidade nos torna outra vez sóbrios.”[16]

De modo semelhante, lemos no Apocalipse do Novo Testamento:

“Conheço as tuas ações, e não és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, eu te vomitarei da minha boca.” (3: 15-16)

A ideia também se relaciona com Mateus, 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.”

4) Calcular a durabilidade dos esforços feitos.

A sustentabilidade de longo prazo e a resistência aos testes parecem ser mais ainda importantes que a intensidade do esforço. Os melhores resultados só surgem a longo prazo, e eles necessitam de uma ação de longo prazo para amadurecerem. Construir um processo lento de aceleração contínua é muito melhor do que viver um entusiasmo súbito cuja base é a autoilusão. Entusiasmos passageiros não são apenas fonte de autoengano. Também revelam a superficialidade de uma mente espiritualmente infantil. 

5) Avaliar o grau de pureza das motivações do estudante.   

Robert Crosbie escreveu:

“Muitas vezes a intenção ostensiva não é a verdadeira intenção, e nisso nós frequentemente enganamos a nós mesmos. A ambição surge do nada, e o desejo de obter a aprovação dos nossos amigos turva a nossa visão. Há muitas tentações, e algumas delas podem aparecer disfarçadas como anjos de luz.” [17] 

Nossos pensamentos e intenções existem e vivem em vários níveis de consciência que são bastante diferentes uns dos outros. Algumas intenções são abertas e declaradas. Outras intenções são conscientes, mas não são declaradas. Há também motivações subconscientes e involuntárias, que surgem de velhos hábitos e dos instintos da “alma animal”, kama-manas. E há as intenções mais elevadas, mais nobres, “supraconscientes”, que surgem do eu superior. 

Devemos observar todos estes níveis e tipos de motivações em nossas vidas. À medida que aprendemos a ouvir a voz do silêncio, as intenções menores surgem dentro do nosso campo de observação e são gradualmente compreendidas e controladas. A auto-observação, feita desde o ponto de vista da nossa potencialidade superior, submete os nossos desejos pessoais ao exame e à vontade do nosso verdadeiro eu.

6) Perceber em que níveis de consciência é realizada a maior parte dos esforços.

Estudar as obras de Helena Blavatsky apenas no plano mental tende a criar orgulho, além de um sentimento de autoimportância e outros obstáculos à verdadeira aprendizagem. Mas se o estudante vai além desse limite artificial, se ele escuta o silêncio e desafia as rotinas diárias desde o ponto de vista da sabedoria teosófica, então a intuição o ajudará e o processo de aprendizado se tornará cada vez mais amplo e mais profundo. 

7) Determinar o grau de amplitude na percepção do tempo e do espaço.

Um fator central na eficiência do esforço teosófico é a capacidade do estudante de identificar-se com o tempo eterno e o espaço infinito.

O início desta identificação ocorre através do calmo estudo de textos clássicos de filosofia esotérica. Pouco a pouco o estudante desenvolve uma relação interna com os ciclos maiores de espaço e tempo, até que passa a ver a si mesmo tal como é: um fragmento microcósmico do espaço-tempo eterno, momentaneamente “individualizado” e “personalizado”.

Deste modo o estudante obtém uma perspectiva ampla do trabalho dos Iniciados pela humanidade. Ele percebe melhor a influência deles na evolução humana ao longo de muitos séculos e através das mais diversas religiões, filosofias e ciências. Em relação à história da humanidade, um Mahatma escreveu em 1880:   

“Discutiremos inicialmente a (.....) suposta incapacidade [ dos membros] da ‘Fraternidade’ de ‘deixar qualquer marca na história do mundo’. (.....) Como você sabe que eles não deixaram tal marca impressa? (.....) A primeira condição para o êxito deles era que não fossem jamais supervisados ou obstruídos. Eles sabem o que eles têm feito; os que estão do lado de fora do seu círculo só podem observar resultados, cujas causas foram afastadas do campo de visão.”

E o Mestre prossegue:

“Nunca houve uma época, antes ou durante o chamado período histórico, em que os nossos predecessores não estivessem moldando os acontecimentos e ‘fazendo história’, cujos fatos foram a seguir sempre distorcidos pelos historiadores para que se adaptassem aos preconceitos da época. Você tem completa certeza de que as figuras heroicas visíveis, nos seus dramas sucessivos, não foram frequentemente apenas suas marionetes? Nunca tivemos a pretensão de levar o conjunto das nações a este ou àquele momento decisivo, contrariando o rumo geral das relações cósmicas do mundo. Os ciclos devem percorrer suas rondas. Períodos de luz e escuridão - no plano mental como no plano moral - devem suceder-se uns aos outros assim como o dia e a noite. Os yugas maiores e menores devem ser concretizados de acordo com a ordem estabelecida das coisas. E nós, carregados pela poderosa maré, só podemos modificar e direcionar algumas das suas correntes menores. Se tivéssemos o poder do Deus Pessoal imaginário, e as leis universais e imutáveis fossem apenas brinquedos em nossas mãos, realmente nós poderíamos haver criado condições que teriam transformado esta terra em uma arcádia de almas elevadas. Mas tendo que lidar com uma lei imutável, e sendo nós próprios filhos desta lei, temos feito o que podemos, e somos gratos. Houve ocasiões em que ‘uma parte considerável de mentes esclarecidas’ recebeu instrução em nossas escolas. Houve épocas assim na Índia, na Pérsia, no Egito, na Grécia e em Roma.” [18] 

À medida que o estudante passa a compreender o trabalho de longo prazo feito pelo bem da humanidade, ele começa inevitavelmente a deixar de lado as suas preocupações pessoais e suas metas mundanas de curto prazo. Tais temas perdem importância quando ele vê a ampla linha de tempo da evolução humana.

Deste modo, no templo interno da sua consciência mais elevada, o estudante oferece os seus esforços à sua própria Mônada imortal, ou talvez ao plano de trabalho dos Mestres. As duas possibilidades estão interligadas.

A partir de então, dentro dos seus limites individuais, o aprendiz aceita o fato de que é corresponsável pelo futuro da humanidade e tenta agir à altura do desafio. Ele faz isso mudando a sua própria vida. 


NOTAS:

[1] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, The Theosophy Company, Los Angeles, 1945, ver p. 373.

[2] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes, ver Carta 47, volume I, pp. 217-218.

[3] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, 1945, 415 pp., ver p. 39.

[4] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 42, p. 190.

[5] “A Voz do Silêncio”, de H. P. Blavatsky, Fragmento I. A obra está publicada em nossos websites associados.

[6] Forum Answers”, livro de William Q. Judge, Theosophy Co., Los Angeles, 1982, 141 pp., ver pp. 75-76.

[7] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 47, p. 216. 

[8] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 47, p. 214.
 
[9] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume II, Carta 99, p. 156.

[10] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume II, Carta 87, p. 52-53. 

[11] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, ver p. 07, metade inferior.  

[12] Veja o primeiro parágrafo do texto “O Grande Paradoxo”, de Helena P. Blavatsky, que pode ser facilmente encontrado em nossos websites associados.   

[13] “A Voz do Silêncio”, H. P. Blavatsky. Fragmento I, em nossos websites associados.

[14] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, transcritas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, primeira série, Carta 20, p. 66.

[15] “A Voz do Silêncio”, H. P. Blavatsky, obra citada. Veja o início do Fragmento III.  

[16] “The Theosophist”, Bombay, volume II, 1880-1881. Na época esta publicação era editada por H. P. Blavatsky. Ver a edição facsimilar feita por Eastern School Press, 1983 (Wizards Bookshelf), página 52.  Os versos em inglês são os seguintes: “A little learning is a dangerous thing, / Drink deep, or taste not the PLATONIC spring; / There shallow draughts intoxicate the brain, / And drinking largely sobers us again.”

[17] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, ver p. 07, metade superior.

[18] “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”, Editora Teosófica, volume II,  Anexo I, pp. 345-346. 

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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