Como Trilhar o Caminho do
Aprendizado Interior
Carlos Cardoso Aveline

Uma imagem dos Himalaias
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Nota Editorial:
O artigo a seguir foi publicado
pela primeira
vez na publicação internacional “The
Aquarian
Theosophist”, edição de julho de 2005,
pp. 1-7.
Título original: “Discipleship in the 21st Century”.
O texto foi publicado em
português em abril de
2012. Como a tradução foi feita
pelo próprio autor,
ela não é necessariamente literal
em todos os trechos.
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Talvez valha a pena estudar o tema
do discipulado. Há razões para investigar as relações magnéticas sutis e o
processo de comunicação não-verbal entre os sábios dos Himalaias e os buscadores
da verdade espalhados pelos diversos continentes.
O
movimento teosófico foi concebido e criado durante as décadas de 1870 e 1880 por
Helena P. Blavatsky e alguns Mestres orientais. Para o esforço, foi mobilizado um
número expressivo de discípulos e aspirantes ao discipulado.
Desde o
primeiro momento, a vida interna do projeto teosófico sempre dependeu da
existência de sinceros aspirantes a uma aprendizagem mais elevada. Só isso
garante que o movimento exista de fato nos níveis superiores de consciência.
A história
demonstrou uma e outra vez que, na ausência de um grupo de indivíduos sinceramente
comprometidos com a busca do discipulado através do trabalho altruísta pela
humanidade, o movimento é pouco mais que uma casca sem vida. A aspiração ao discipulado
sustenta o movimento. Neste ponto, porém, cabe examinar o que queremos dizer quando
usamos a palavra “discipulado”.
Aquele
que considera a ideia de ser um discípulo como um símbolo de status ou sinal
de vitória pessoal deve abandonar por completo este objetivo. Assim evitará um
desastre. Em tal caso é melhor dizer:
“É mais
do que suficiente estudar a literatura da teosofia autêntica e livre de
imitações, e tentar viver de acordo com os seus princípios gerais.”
No
entanto, a Verdade está frequentemente oculta sob a superfície e as aparências.
A semente do discipulado - com todos
os seus testes - está presente na intenção aparentemente simples de tentar
viver de acordo com os princípios teosóficos.
O Que é o Discipulado
No seu
sentido primeiro e original, a palavra discipulado
indica um processo de aprendizagem. Não pode haver nele sentimentos de autoimportância.
A palavra “discípulo” significa simplesmente “aprendiz”. Do mesmo modo, o termo
“disciplina” se refere às condições práticas necessárias para que o aluno desenvolva
novas habilidades.
Outro
ponto a examinar diz respeito à atitude do estudante diante da misteriosa
existência dos Mahatmas ou Iniciados. Ele deve tomar a iniciativa de buscar a
verdade de modo independente? Será correto investigar um tema como o trabalho
dos Mestres, confiando em fontes autênticas e deixando de lado a pseudoteosofia?
Será útil recolher as escassas informações verídicas sobre a existência dos
instrutores, o seu esforço pela humanidade e o treinamento dos seus discípulos?
A
verdade é que os Mestres - também chamados de Raja-Iogues, Adeptos, Imortais,
Arhats, Iniciados, Mahatmas, Rishis e Budas - não estão além do nosso campo de
investigação consciente. Robert Crosbie, o principal fundador da Loja Unida de
Teosofistas, escreveu:
“H.P.
Blavatsky agiu como verdadeira Instrutora ao dizer: ‘Não sigam a mim mesma ou ao meu caminho; sigam o caminho que eu mostro,
sigam os Mestres que são a fonte do ensinamento’.” [1]
No
entanto, tal Caminho deve ser encontrado através da afinidade interna e não da
crença cega. A dinâmica do aprendizado é complexa. O processo probatório, que
marca o início da Caminhada, não começa com um Mestre aparecendo para
cada aspirante e fazendo a ele algum anúncio formal a respeito. Como regra, provações
e testes devem ocorrer sem aviso prévio.
A
provação é um fato natural e inevitável, e não alguma coisa criada artificialmente
para testar este ou aquele discípulo. Os testes resultam da lei do carma. Cada
porção de conhecimento, em qualquer aspecto da vida, traz consigo uma
quantidade correspondente de responsabilidade. Ser responsável pelo seu próprio
aprendizado significa enfrentar testes. A provação vem com o primeiro passo da busca pela sabedoria.
Sua intensidade estará na proporção direta da seriedade daquele passo - e dos
passos seguintes.
Ao longo do caminho para a sabedoria, não basta que o
estudante de filosofia esotérica evite os mecanismos emocionais da autoilusão, do
apego, do medo e da ambição “espiritual”. Ele será tentado e testado de muitas
formas diferentes.
Na maior parte dos casos, as ideias erradas se
apresentarão com toda a aparência de atitudes perfeitamente espirituais, ou ao
menos como fatos humanamente aceitáveis.
Quanto mais profundo for o conhecimento a que o aprendiz tem
acesso, maiores serão os testes ocultos. E eles surgirão sem avisos.
Se tiver
a coragem de seguir o seu próprio coração, o estudante pode sentir-se
inteiramente sozinho em certas ocasiões - e talvez até desesperadamente sozinho.
Mas, se perseverar, saberá que nos momentos difíceis ele está mais presente do
que nunca no vasto campo magnético que é mantido sob a observação geral dos
Adeptos e dos seus discípulos diretos.
Um
Mestre escreveu a um discípulo leigo, em 1882:
“A
Natureza uniu todas as partes do seu Império por meio de fios sutis de simpatia
magnética, e há uma relação mútua até mesmo entre uma estrela e o homem; o
pensamento corre mais rápido do que o fluido elétrico, e o seu pensamento irá
encontrar-me caso seja projetado com um impulso puro (.....). Assim como a luz
no vale sombrio é vista pelo montanhista do alto dos seus picos, cada
pensamento luminoso em sua mente, meu Irmão, brilhará atraindo a atenção deste
seu distante amigo e correspondente. Se descobrimos deste modo os nossos
Aliados naturais (.....) - e nossa lei manda aproximar-nos de todo aquele que
tenha dentro de si ainda que só o mais leve lampejo da verdadeira luz do ‘Tathagata’ - então tanto mais fácil será para você atrair-nos!”[2]
A Lei
dos Mestres manda que eles se aproximem de cada aspirante que possui em si um lampejo
da verdadeira luz universal. Esta aproximação e observação são feitas em
silêncio. Os sábios mantêm contato com o eu superior presente no coração e na
consciência do estudante, e não com a sua casca ou personalidade externa. Robert
Crosbie escreveu:
“Os
Mestres não olham para os nossos defeitos. Eles olham para as nossas intenções
e nossos esforços.” [3]
Em uma
das Cartas, um sábio dos Himalaias menciona o aspecto externo do ser humano. Chamado
em sânscrito de rupa [“forma” ou “veículo”], ele oculta o aspecto
interno, invisível e verdadeiro da individualidade. Em seguida, o mestre
acrescenta:
“Com o
indivíduo ‘visível’ nós nada temos a ver. Ele é para nós apenas um véu que
oculta dos olhos profanos o outro ego em
cuja evolução nós estamos interessados. No rupa
externo, faça o que você quiser, pense o que quiser: só quando os efeitos
dessa ação voluntária são vistos no corpo que está em sintonia conosco é nosso
dever prestar atenção a ela.” [4]
Os Mestres
observam o campo coletivo geral dos aspirantes. Com algumas poucas exceções, a
observação realizada por eles não pode ser sentida nem percebida pelos
estudantes que estão em observação. Normalmente é necessário um longo tempo
para que o buscador da Verdade chegue ao momento que é descrito da seguinte
maneira no Fragmento I de “A Voz do Silêncio”:
“Silencia
os teus pensamentos e fixa toda tua atenção em teu Mestre, que ainda não vês,
mas sentes.”
A obra
prossegue:
“Funde os teus sentidos em um
só sentido, se queres estar seguro contra o inimigo. É por este sentido apenas -
que está escondido dentro do vazio do teu cérebro - que o caminho íngreme até o
teu Mestre pode ser revelado diante dos teus olhos turvos.” [5]
O estudo
das obras clássicas de filosofia esotérica sugere que na maior parte dos casos
os Mestres observam e ajudam o Aspirante por um longo tempo antes que ele
perceba a presença sutil de um instrutor. O tempo cronológico de curto prazo não
tem importância neste nível de aprendizado. A ajuda não-percebida pode ocorrer
durante algumas encarnações, enquanto vai sendo construído o verdadeiro alicerce
do discipulado, isto é, uma relação mais forte entre as sucessivas personalidades mortais do estudante e a sua alma espiritual imortal. É depois dessa etapa que o Aspirante
desenvolve a capacidade de perceber a influência não-verbal e sutil dos Mestres
em sua vida. Ele poderá até mesmo interagir com um instrutor em um plano abstrato,
sem imagens ou palavras. Isso, como sugere “A Voz do Silêncio” no trecho visto
acima, ocorre longo tempo antes de ser capaz de ouvir ou ver (e
reconhecer) um Mestre.
Referindo-se
aos Mahatmas, William Q. Judge escreveu:
“Eles
também afirmaram que eles não se tornam objetivamente perceptíveis para aqueles
que acreditam neles, exceto quando tais crentes estão prontos em todos os
aspectos da sua natureza, quando assumiram um compromisso definitivo com o
trabalho deles, e quando possuem uma completa compreensão do significado do
compromisso. Mas eles disseram ainda que ajudam todos os buscadores sinceros da
verdade, e que não é necessário que tais buscadores saibam de onde vem a ajuda,
bastando que a ajuda ocorra. (.....) Pessoalmente, sei que os Mestres ajudam
intensamente, embora de modo invisível, todos aqueles que trabalham com
interesse e confiam sinceramente em sua própria natureza superior, seguindo a
voz da sua consciência sem dúvidas nem hesitações.” [6]
Uma
questão bastante prática que surge quando se pensa em discipulado é: “Como
calcular o tamanho da distância entre um aspirante e os Adeptos?”
É
recomendável levar em conta que a distância existe em modos de vibração. A “separação” entre os sábios e a humanidade consiste
em uma falta de afinidade em padrões
vibratórios, já que as barreiras geográficas ou espaciais não existem para os Mestres
e os seus discípulos diretos. A distância vibratória é criada exclusivamente
pela nossa própria ignorância. Um dos Mahatmas escreveu a um discípulo leigo:
“Posso
aproximar-me de você, mas você deve atrair-me mediante um coração purificado e
uma vontade que se desenvolve gradualmente. Como a agulha da bússola, o adepto
segue as suas atrações.” [7]
Cada
aspirante deve primeiro encontrar em si mesmo o modo de diminuir a distância
entre ele e o Dharma, ou Ensinamento.
No
coração silencioso do Ensinamento, durante a reflexão meditativa feita ao longo
do dia, o aluno pode encontrar em boa parte a faixa vibratória em que operam os
Instrutores. Mas isso não é suficiente. A ação prática é indispensável. Um
Mahatma escreveu estas palavras decisivas para o discipulado no século 21:
“Olhe ao
seu redor, meu amigo: veja os ‘três venenos’ devastando o coração dos homens -
o ódio, a cobiça e a ilusão; e as cinco escuridões: a inveja, a paixão, a
hesitação, a preguiça e a descrença, sempre impedindo-os de ver a verdade. Eles
nunca se verão livres da poluição dos seus corações vaidosos e maldosos, nem
perceberão a parte espiritual que há neles mesmos. Irá você tentar - para diminuir
a distância entre nós - libertar-se da rede da vida e da morte em que todos
eles estão presos (.....)?” [8]
Cabe a
cada estudante dizer se aceita este convite, e decidir se dará os passos
necessários para libertar-se de metas e compromissos ilusórios. Não há pressa:
o trabalho dos Mestres é de longo prazo.
Embora
as condições externas tenham mudado desde os tempos de H. P. B., permanece vivo
um elo magnético triangular que une os Mestres e os Estudantes através do
estudo e da vivência do Ensinamento. Isso pode ser visto por observação direta
e também nas Cartas dos Mahatmas. Uma delas afirma:
“Podemos
dirigir e guiar os esforços e o movimento em geral. Embora separados do seu
mundo de ação, nós não estaremos inteiramente afastados dele enquanto a
Sociedade Teosófica existir.” [9] Neste
trecho, a expressão “Sociedade Teosófica” equivale a “Movimento Teosófico”. A definição
do trabalho como algo de longo prazo também aparece em outra carta:
“...Não podemos aceitar a ideia de inundar o
mundo, sob pena de afogá-lo, com uma doutrina que deve ser revelada
cautelosamente e gota a gota, como um tônico demasiado poderoso que tanto pode
matar como curar (.....). A Sociedade nunca morrerá como instituição, embora
isso possa ocorrer com lojas e indivíduos que fazem parte dela.” [10] Aqui, novamente, o termo
“Sociedade” deve ser entendido como “Movimento”.
Em
relação ao fato de que os Mahatmas mantêm sob sua observação o campo magnético
geral dos aspirantes sinceros à Verdade e ao discipulado, é interessante
observar estas palavras de Robert Crosbie:
“Aqueles
Grandes Seres que eu sei que existem veem cada discípulo dedicado e de coração
puro, e estão dispostos a fazer girar a chave do conhecimento, quando chega a
hora do progresso do discípulo. Ninguém que se esforça para trilhar o caminho é
deixado sem ajuda. Os Grandes Seres veem a sua ‘luz’, e é dado a ele o que ele
necessita para melhorar o seu desenvolvimento. Esta luz não é uma imagem
poética. Ela existe de fato, e a sua natureza revela a condição espiritual do
indivíduo; não há véus naquele nível de visão. A ajuda deve ser de um tipo que
preserva para o indivíduo uma perfeita liberdade de pensamento e ação; se não
fosse assim, as lições não seriam aprendidas.” [11]
De
acordo com H. P. B., “o paradoxo parece ser a linguagem natural do Ocultismo” [12]. A ajuda dada pelos Mestres é um
exemplo disso. Ninguém é deixado sem ajuda; mas para que o estudante mereça
ajuda de fato, ele deve - e este é um paradoxo - assumir completa
responsabilidade pela sua própria caminhada ao longo da estrada. A ação
independente é, portanto, um fator de importância decisiva para que alguém
mereça e receba ajuda do alto. Uma vez
que este princípio básico seja aceito, surge outra questão. Como o aspirante
pode avaliar realisticamente as suas possibilidades de progresso na
aprendizagem, e quais são os limites do seu crescimento?
Não há
resposta fácil neste ponto.
O
aprendizado oculto é um processo multidimensional e depende de muitos elementos
dinâmicos que interagem entre si. No entanto, alguns fatores podem ser
enumerados e examinados.
Sete Pontos Para uma Avaliação
1) Observar a “maré”
sempre mutável do carma coletivo.
As condições
do carma coletivo estão o tempo todo ajudando ou atrapalhando o processo de
aprendizagem. Devemos lembrar que quando surgem momentos difíceis os esforços
mais intensos aumentam o bom carma do aprendiz. Em cada obstáculo há mais de
uma oportunidade positiva. “A Voz do Silêncio” afirma que, no aprendizado
esotérico, há uma serpente enroscada sob cada flor.[13] Mas existe uma lei da simetria, e o contrário também ocorre.
Assim como os progressos externos provocam perigos no plano sutil, assim
também os obstáculos externos criam oportunidades internas.
Por isso
um mestre dos Himalaias escreveu a Francesca Arundale sobre a arte de enfrentar
dificuldades:
“Ah! Se
seus olhos estivessem abertos, vocês poderiam ter tamanha visão das bênçãos
potenciais para vocês mesmos e para a humanidade, que repousam no germe do
esforço de agora, que teriam suas almas incendiadas pela alegria e pelo
entusiasmo! Esforcem-se em direção à Luz, todos vocês, bravos guerreiros da
Verdade.....” [14]
2) Examinar o patrimônio
cármico do estudante.
Quanto
mais recursos cármicos de longo prazo a alma tiver acumulado, melhores e mais
numerosos serão os meios ao seu dispor para enfrentar os desafios atuais, e
mais força estará disponível para que seja desenvolvida uma ação eficaz na
direção correta.
Este
patrimônio cármico inclui a quantidade de desenvolvimento já obtida na área das
sete paramitas de autoaperfeiçoamento. Elas são: Dana, compaixão e amor
imortal; Shila, Harmonia em palavra
e ação; Kshanti, paciência imperturbável;
Viraga, indiferença em relação a
prazer e dor; Virya, energia indômita que abre caminho até a Verdade; Dhyana,
ou contemplação incessante; e Prajna, a chave da integração que faz de um ser humano um
Bodhisattva. [15]
Os
desafios são estimulantes e despertam o patrimônio interior. Até certo ponto, o
tamanho da alma é revelado pela dimensão da meta que ela busca.
3) Levar em conta a
intensidade dos esforços do aspirante.
Em dezembro
de 1880, H. P. Blavatsky publicou em The
Theosophist estas palavras de Thomas
Taylor, o pensador platônico:
“Um
pouco de sabedoria é coisa perigosa e agônica
Beba
muito, ou não absorva um só gole da fonte PLATÔNICA;
Nela
alguns poucos goles intoxicam o cérebro,
E beber grande
quantidade nos torna outra vez sóbrios.”[16]
De modo
semelhante, lemos no Apocalipse do Novo Testamento:
“Conheço
as tuas ações, e não és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim,
porque és morno, e não és frio nem quente, eu te vomitarei da minha boca.” (3:
15-16)
A ideia
também se relaciona com Mateus, 6:24: “Ninguém pode servir a dois senhores,
porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o
outro.”
4) Calcular a
durabilidade dos esforços feitos.
A
sustentabilidade de longo prazo e a resistência aos testes parecem ser mais
ainda importantes que a intensidade do esforço. Os melhores resultados só
surgem a longo prazo, e eles necessitam de uma ação de longo prazo para
amadurecerem. Construir um processo lento de aceleração contínua é muito melhor
do que viver um entusiasmo súbito cuja base é a autoilusão. Entusiasmos
passageiros não são apenas fonte de autoengano. Também revelam a
superficialidade de uma mente espiritualmente infantil.
5) Avaliar o grau de pureza
das motivações do estudante.
Robert
Crosbie escreveu:
“Muitas
vezes a intenção ostensiva não é a verdadeira intenção, e nisso nós
frequentemente enganamos a nós mesmos. A ambição surge do nada, e o desejo de
obter a aprovação dos nossos amigos turva a nossa visão. Há muitas tentações, e
algumas delas podem aparecer disfarçadas como anjos de luz.” [17]
Nossos
pensamentos e intenções existem e vivem em
vários níveis de consciência que são bastante diferentes uns dos outros.
Algumas intenções são abertas e declaradas. Outras intenções são conscientes,
mas não são declaradas. Há também motivações subconscientes e involuntárias,
que surgem de velhos hábitos e dos instintos da “alma animal”, kama-manas. E há
as intenções mais elevadas, mais nobres, “supraconscientes”, que surgem do eu
superior.
Devemos
observar todos estes níveis e tipos de motivações em nossas vidas. À medida que
aprendemos a ouvir a voz do silêncio, as intenções menores surgem dentro do nosso
campo de observação e são gradualmente compreendidas e controladas. A auto-observação,
feita desde o ponto de vista da nossa potencialidade superior, submete os
nossos desejos pessoais ao exame e à vontade do nosso verdadeiro eu.
6) Perceber em que níveis
de consciência é realizada a maior parte dos esforços.
Estudar
as obras de Helena Blavatsky apenas no plano mental tende a criar orgulho, além
de um sentimento de autoimportância e outros obstáculos à verdadeira
aprendizagem. Mas se o estudante vai além desse limite artificial, se ele escuta
o silêncio e desafia as rotinas diárias desde o ponto de vista da sabedoria
teosófica, então a intuição o ajudará e o processo de aprendizado se tornará cada
vez mais amplo e mais profundo.
7) Determinar o grau
de amplitude na percepção do tempo e do espaço.
Um fator
central na eficiência do esforço teosófico é a capacidade do estudante de
identificar-se com o tempo eterno e o espaço infinito.
O início
desta identificação ocorre através do calmo estudo de textos clássicos de
filosofia esotérica. Pouco a pouco o estudante desenvolve uma relação interna
com os ciclos maiores de espaço e tempo, até que passa a ver a si mesmo tal
como é: um fragmento microcósmico do espaço-tempo eterno, momentaneamente
“individualizado” e “personalizado”.
Deste
modo o estudante obtém uma perspectiva ampla do trabalho dos Iniciados pela
humanidade. Ele percebe melhor a influência deles na evolução humana ao longo
de muitos séculos e através das mais diversas religiões, filosofias e ciências.
Em relação à história da humanidade, um Mahatma escreveu em 1880:
“Discutiremos
inicialmente a (.....) suposta incapacidade [ dos membros] da ‘Fraternidade’ de ‘deixar qualquer marca na
história do mundo’. (.....) Como você sabe que eles não deixaram tal marca
impressa? (.....) A primeira condição para o êxito deles era que não fossem
jamais supervisados ou obstruídos. Eles sabem o que eles têm feito; os que
estão do lado de fora do seu círculo só podem observar resultados, cujas causas
foram afastadas do campo de visão.”
E o
Mestre prossegue:
“Nunca
houve uma época, antes ou durante o chamado período histórico, em que os nossos
predecessores não estivessem moldando os acontecimentos e ‘fazendo história’,
cujos fatos foram a seguir sempre distorcidos pelos historiadores para que se
adaptassem aos preconceitos da época. Você tem completa certeza de que as
figuras heroicas visíveis, nos seus dramas sucessivos, não foram frequentemente
apenas suas marionetes? Nunca tivemos a pretensão de levar o conjunto das
nações a este ou àquele momento decisivo, contrariando o rumo geral das
relações cósmicas do mundo. Os ciclos devem percorrer suas rondas. Períodos de
luz e escuridão - no plano mental como no plano moral - devem suceder-se uns
aos outros assim como o dia e a noite. Os yugas maiores e menores devem ser
concretizados de acordo com a ordem estabelecida das coisas. E nós, carregados
pela poderosa maré, só podemos modificar e direcionar algumas das suas
correntes menores. Se tivéssemos o poder do Deus Pessoal imaginário, e as leis
universais e imutáveis fossem apenas brinquedos em nossas mãos, realmente nós
poderíamos haver criado condições que teriam transformado esta terra em uma
arcádia de almas elevadas. Mas tendo que lidar com uma lei imutável, e sendo
nós próprios filhos desta lei, temos feito o que podemos, e somos gratos. Houve
ocasiões em que ‘uma parte considerável de mentes esclarecidas’ recebeu
instrução em nossas escolas. Houve épocas
assim na Índia, na Pérsia, no Egito, na Grécia e em Roma.” [18]
À medida
que o estudante passa a compreender o trabalho de longo prazo feito pelo bem da
humanidade, ele começa inevitavelmente a deixar de lado as suas preocupações
pessoais e suas metas mundanas de curto prazo. Tais temas perdem importância quando
ele vê a ampla linha de tempo da evolução humana.
Deste
modo, no templo interno da sua consciência mais elevada, o estudante oferece os
seus esforços à sua própria Mônada imortal, ou talvez ao plano de trabalho dos
Mestres. As duas possibilidades estão interligadas.
A partir
de então, dentro dos seus limites individuais, o aprendiz aceita o fato de que
é corresponsável pelo futuro da humanidade e tenta agir à altura do desafio.
Ele faz isso mudando a sua própria vida.
NOTAS:
[1] “The Friendly Philosopher”, Robert
Crosbie, The Theosophy Company, Los Angeles, 1945, ver p. 373.
[2] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes, ver Carta
47, volume I, pp. 217-218.
[3] “The Friendly Philosopher”,
Robert Crosbie, 1945, 415 pp., ver p. 39.
[4] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 42, p. 190.
[5] “A Voz do Silêncio”, de H. P.
Blavatsky, Fragmento I. A obra está publicada em nossos websites associados.
[6] “Forum Answers”, livro de William Q. Judge, Theosophy Co., Los Angeles,
1982, 141 pp., ver pp. 75-76.
[7] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 47, p. 216.
[8] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume I, Carta 47, p. 214.
[9] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume II, Carta 99, p. 156.
[10] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume II, Carta 87, p. 52-53.
[11] “The Friendly Philosopher”,
Robert Crosbie, ver p. 07, metade inferior.
[12] Veja o primeiro parágrafo do
texto “O Grande Paradoxo”, de Helena P. Blavatsky, que pode ser facilmente
encontrado em nossos websites associados.
[13] “A Voz do Silêncio”, H. P.
Blavatsky. Fragmento I, em nossos websites associados.
[14] “Cartas dos Mestres de
Sabedoria”, transcritas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília,
primeira série, Carta 20, p. 66.
[15] “A Voz do Silêncio”, H. P.
Blavatsky, obra citada. Veja o início do Fragmento III.
[16] “The Theosophist”, Bombay, volume
II, 1880-1881. Na época esta publicação era editada por H. P. Blavatsky. Ver a
edição facsimilar feita por Eastern School Press, 1983 (Wizards Bookshelf), página
52. Os versos em inglês são os seguintes:
“A little learning is a dangerous thing, / Drink deep, or taste not the
PLATONIC spring; / There shallow draughts intoxicate the brain, / And drinking
largely sobers us again.”
[17] “The Friendly Philosopher”,
Robert Crosbie, ver p. 07, metade superior.
[18] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Editora Teosófica, volume II,
Anexo I, pp. 345-346.
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Sobre o mistério do despertar
individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com tradução, prólogo e notas de
Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada
em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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