Perguntas e Respostas Sobre Uma
Questão Decisiva
Theosophy

Através da verdadeira meditação, o coração se fixa a algo nobre
000000000000000000000000000000000000000000000000
Nota Editorial:
O artigo a seguir é especialmente importante pelo
fato de que as escolas pseudoesotéricas recomendam
práticas mecânicas de meditação diária, com grave
prejuízo para seus alunos. A popularidade de
tais ilusões
torna mais oportuna a perspectiva esotérica autêntica.
O texto foi traduzido da revista “Theosophy”,
de Los
Angeles, EUA,
edição de janeiro / fevereiro de 2007, pp. 56-59.
(CCA)
000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
A meditação, tal como
usada por nós, é o que se chama
em sânscrito de Dhyana, isto é, ausência de movimento
e unidirecionalidade. O
principal ponto é libertar a mente
do poder dos sentidos, e
erguer uma corrente de pensamento
que exclua todas as
outras. “A compreensão surge da
concentração na coisa a ser compreendida”. W.Q. Judge
afirma: “Meditar no Eu
Superior é difícil; procure, então, a
Ponte, os Mestres. A paciente concentração mental em um só
pensamento resulta na
obtenção de sabedoria, e é deste
modo que surge o
verdadeiro Ocultista. A aspiração pelo Eu
Superior deve fazer parte
da meditação diária; a elevação
até os planos mais
elevados do nosso ser, que não podem
ser encontrados a menos que se procure por eles. O desejo
reverente e profundo de obter o esclarecimento
e a orientação
do Mestre começará o
processo de sintonia da natureza
com a vibração daquilo ao qual a natureza deverá um dia
responder. A concentração em um único ponto do
Ensinamento é um caminho
para a filosofia; o autoexame, um
caminho para o
conhecimento de si mesmo. Colocar-se no
lugar de outro, compreender as suas dificuldades, e deste
modo ser capaz de
ajudá-lo, é aquela capacidade que,
quando
ampliada, torna possível
ao Adepto compreender a natureza
da pedra ou de qualquer
outra forma de consciência.”
A meditação é uma prática
boa e benéfica que leva a uma grande
meta. É também uma grande
destruidora da ideia de eu pessoal.
(Robert Crosbie, em “The Friendly Philosopher”,
Theosophy Company, Los Angeles,
EUA, p. 93.)
PERGUNTA:
Como a Teosofia vê, ou define, a meditação?
COMENTÁRIO:
Na realidade,
meditação é o processo pelo qual o coração se fixa a alguma coisa. Todos
têm, no mais profundo da sua natureza, uma subcorrente constante e sempre
renovada de pensamento, vontade e desejo, em alguma direção. Esta corrente é como um grande rio que drena uma grande área de terra, pela qual
fluem centenas ou milhares de correntes menores. A meditação da vida de uma pessoa média é um
constante pensar sobre o que agrada ou desagrada, seja no plano físico ou no
plano metafísico - a meditação do ser pessoal.
PERGUNTA:
Por que há tão pouca orientação específica sobre “como
meditar” na literatura teosófica? Às
vezes parece que os estudantes são até alertados contra a meditação, o que
contraria muitos livros, cursos e seminários voltados para o ensino de antigas
técnicas de meditação.
COMENTÁRIO:
Meditação, no sentido verdadeiro, se refere à atividade
de certos princípios que passam a maior parte do tempo adormecidos na vida
diária. A ativação desses princípios, ao mesmo tempo que dá vislumbres de
estados profundos de consciência normalmente fora do nosso alcance, também pode
despertar paixões adormecidas cuja existência é igualmente desapercebida em
nossa consciência diária. Podemos descobrir que o que se imagina ser meditação
e concentração é simplesmente uma continuação das atividades da mente pessoal.
Estes são os “perigos dos IDDHIS inferiores”, sobre os quais somos alertados
nas primeiras linhas da obra “A Voz do Silêncio”, de H.P.B. A nossa “ignorância” em relação a estes perigos nos faz aventurar-nos nas águas
profundas da verdadeira natureza da Mente antes que tenhamos desenvolvido mapas
ou sistemas de orientação para saber navegar.
PERGUNTA:
O que são estes “Iddhis” inferiores, e como os
combatemos?
COMENTÁRIO:
A natureza das “energias psíquicas e mentais inferiores,
mais densas”, que são da mente pessoal, é discutida por W.Q. Judge, que
comenta:
“Ele [o princípio
mental] é colorido por cada objeto que lhe é apresentado, seja um objeto de
pensamento ou objeto material. Isso quer dizer que Manas Inferior, operando através do cérebro, é imediatamente
alterado adotando a forma e outras características de qualquer objeto, mental
ou não. Isso lhe confere quatro peculiaridades: Primeira, de naturalmente voar para longe de qualquer ponto,
objeto, ou assunto; segunda, de voar
para uma ideia agradável; terceira, de voar para uma ideia
desagradável; quarta, de se manter
passivo, sem cogitar em nada.” [1]
Como um primeiro passo, devemos “fazer um levantamento”
da nossa natureza tal como a conhecemos. Será que nós conseguimos concentrar,
quando queremos, uma atenção absoluta sobre qualquer objeto da nossa escolha, e
especialmente sobre qualquer dever que deva ser cumprido? Podemos controlar o olhar dispersivo e o ouvido inquieto, e
limitá-los a ver o que queremos ver e ouvir o que queremos ouvir? A constante e
vigilante atenção do nosso instrumento humano em todas as ações e relações da
vida comum, embora não seja normalmente chamada de “meditação”, na realidade
constitui o grande talismã para um encontro mais profundo com nossa natureza
interior. Como Patañjali afirma, “Concentração, ou Ioga, é a inibição das
modificações do princípio pensante”. [2]
PERGUNTA:
O que acontece quando isso é alcançado?
COMENTÁRIO:
Nossa mente e nosso coração então começam a considerar a
unidade de toda a vida, vendo cada contato, cada comunhão, cada movimento da
consciência como a ação do espírito único que está presente na ilimitada variedade de formas, e a permeia.
Esta é aquela meditação universal em que o indivíduo vê a si mesmo como parte
de toda a vida e não como separado dela e de todas as suas condições, sejam agradáveis ou dolorosas, boas ou más. Esse
tipo de meditação nos leva naturalmente a avaliar como podemos adaptar-nos para
viver em harmonia com todos os seres, de todos os graus. Isto nos traz a um
estudo da nossa própria natureza e a um constante esforço para usar essa
natureza para a melhoria das condições de todos.
PERGUNTA:
Há algum método para conseguir este estado?
COMENTÁRIO:
De modo geral, a meditação como conjunto de performances
ou práticas rotineiras não é recomendada. Aqueles que são mais verdadeiramente
capazes de meditar não sabem disso. A
pessoa não “aprende” o que já sabe;
simplesmente usa o conhecimento. Quem
fala com muita frequência de meditação é quem tem menos conhecimento sobre ela.
Às vezes encontramos pessoas cuja vida inteira é um exemplo notável de
meditação, mas se pedirmos a essas pessoas que definam o termo, elas dirão que
não sabem. No entanto, elas a vivem
diariamente.
Como diz bem “Luz no Caminho”, os primeiros passos na
verdadeira meditação são negativos, e
não positivos, e envolvem o abandono de uma posição, não o avanço para uma nova
posição:
“Antes que os olhos possam ver, eles devem ser incapazes
de lágrimas. Antes que o ouvido possa
ouvir, deve ter perdido sua sensibilidade. Antes que a voz possa falar na
presença dos Mestres, deve haver perdido o poder de ferir.” [3]
Sabemos que nossa mente e nossos sentidos são mal-treinados:
estes passos são recomendados para
reverter o seu uso habitual. À medida que eles se voltam para uma nova direção,
pouco a pouco começamos a ver quais são os passos positivos - isto é, o avanço
para uma nova condição da mente.
“A Voz do Silêncio” registra que “Não elogiada pelos
homens e humilde é a mãe de todos os rios....”. [4] Esta simples afirmação é
um saudável antídoto para a agressividade da mente pessoal. No seu devido
tempo, se verá que intervalos de silêncio são tão necessários e frutíferos como
os períodos de comunicação. Pode-se
comer em dez minutos o que demora horas
para ser digerido e que provê energia para um período ainda mais longo. Na
civilização estressante em que vivemos,
poucos são capazes de compreender o grande valor do pensamento e da reflexão
para o crescimento da alma. Avaliar conscientemente o que foi lido, estudado ou
vivido, ajuda a assimilar a essência do significado em nossa
natureza interna.
A versão de W.Q. Judge do “Bhagavad Gita” e o volume “Notes on the Bhagavad Gita”, nos
encorajam a ver que Krishna e Arjuna não são dois seres separados, mas a
cristalização em palavras daquela autocomunicação sem som, invisível e
contínua, que ocorre o tempo todo entre nossa mente pessoal e nossa mente impessoal. À medida que aprendemos a controlar e
purificar a mente pessoal, este diálogo silencioso se mostra como a essência do
puro ser.
Nesta Grande Viagem de descoberta interior, “cada homem é
o seu próprio absoluto legislador, produzindo para si glória ou trevas”.[5] É correto lembrar, no entanto, que,
como em qualquer viagem em que se tem
várias experiências agradáveis e desagradáveis,
estas não são o objetivo da viagem.
Um estado de bem-aventurança, embora nos eleve e seja reconfortante, não
é em si mesmo nada mais, nem menos, que um estado de bem-aventurança. A verdadeira meditação, portanto, consiste em
uma resposta que evolui constantemente e que é dada a esta questão: que
práticas levam ao conhecimento, ao
autocontrole, à sabedoria e ao serviço altruísta?
NOTAS:
[1] Este trecho está em “O Oceano da
Teosofia”, de William Q. Judge, capítulo
VII, p. 30, edição em PDF em nossos
websites associados.
[2] “Aforismos de Ioga, de
Patañjali”, Livro I, número 02, edição online completa em nossos websites
associados.
[3] “Luz no Caminho”, M.C., The
Aquarian Theosophist, Portugal, 2014, 86 pp., ver p. 19.
[4] “A Voz do Silêncio”, H.P.
Blavatsky. A obra está
disponível, completa, em PDF, em nossos websites associados. Veja o aforismo
171, p. 24.
[5] “Luz no Caminho”, The Aquarian
Theosophist, Portugal, 2014, p. 29.
000
Sobre o que é realmente Meditação em
Raja Ioga e em Teosofia, veja também o texto clássico “A Contemplação”, de Damodar Mavalankar. O texto de Damodar pode ser
facilmente localizado em nossos websites associados.
000
Em setembro de 2016, depois de cuidadosa
análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de
estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que
tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões
da vida.
000