7 de fevereiro de 2018

A Filosofia Prática dos Amish

Lemas e Axiomas dos que
Seguem o Ensinamento Cristão Original

Carlos Cardoso Aveline

Vivendo de modo simples, os Amish evitam as cidades
modernas  e preferem meios de transporte tradicionais



As comunidades Amish seguem o ideal anabatista do cristianismo primitivo.

Tendo como fonte de inspiração o ensinamento do Novo Testamento e dos Atos dos Apóstolos, os Amish optam pela simplicidade voluntária. São radicais em sua não-violência, evitam usar automóveis, deixam de lado a alta tecnologia e permanecem de fora do consumismo cego. Eles rejeitam a maior parte dos confortos modernos. Vivem longe das cidades materialistas e praticam formas cooperativas de economia.

Uma vida limpa e um coração puro são prioridades para os Amish. Sem perder o foco das suas metas centrais, eles têm uma mente aberta. Não há entre eles sacerdotes profissionais. As burocracias teológicas brilham por sua ausência. Preferem o ensinamento original. São o mais tradicional dos grupos menonitas, e procuram manter relativamente intato o espírito do que há de melhor na tradição cristã, enquanto cultivam a humildade. É fácil perceber que a vida deles merece um estudo respeitoso desde o ponto de vista teosófico. A sociedade ecologicamente correta dos Amish, a sua economia cooperativa e o seu cultivo da modéstia são exemplos a serem seguidos na civilização do futuro.

Porém, a vida raramente é fácil para quem busca por uma meta nobre. Obter algo de muito valor requer um esforço supremo. O ideal de construir uma vida correta exige grande determinação e desapego, porque é necessário desafiar a ignorância organizada das comunidades.

A história dos Amish é feita de heroísmo e sacrifício. Durante muito tempo foram perseguidos, torturados e assassinados na Europa. A campanha contra os Amish era organizada pelas formas dominantes de cristianismo, que se associam ao poder do Estado.

Vemos o seguinte testemunho em uma crônica das perseguições contra os primeiros anabatistas:

“Muitos sofriam maus tratos ininterruptos, feitos com ardis e astúcia extremados. Monges e sacerdotes vinham com palavras suaves, e eruditos nas Escrituras traziam falsos ensinamentos; eles insultavam e ameaçavam, atacavam e abusavam com mentiras e blasfêmias horríveis. Mas isso não fazia os fiéis desanimarem. Alguns dos que sofreram estes aprisionamentos cruéis cantavam canções de louvor a seu Deus, porque estavam cheios de contentamento. Alguns fizeram isso quando foram levados da prisão para o local em que seriam assassinados. Eles cantavam, contentes, suas vozes soando no ar como se caminhassem para encontrar seus noivos e noivas na cerimônia de casamento. (…) Por causa do derramamento de tanto sangue inocente, cristãos surgiam de toda parte. O número de crentes [anabatistas] aumentou em todos aqueles lugares….”[1]

Durante os séculos 18 e 19, os Amish e outros grupos anabatistas passaram a encontrar lugares para viver em paz, principalmente nos Estados Unidos. Embora eles não façam proselitismo, ou talvez por causa disso, as suas comunidades floresceram. Nelas eles podem hoje educar os filhos de acordo com sua filosofia tradicional de amor à vida.

Lemas das Escolas Amish Sobre a Arte de Viver

O interior das escolas das comunidades Amish é frequentemente decorado com lemas e desenhos feitos pelas crianças, mas que contêm lições válidas para adultos de qualquer religião ou filosofia.

Estes são alguns lemas coletados das suas escolas, no Estado norte-americano da Pensilvânia:

* Eu sou só um, mas mesmo assim eu sou alguém.

* Eu não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa.

* O fato de eu não poder fazer tudo não me dá o direito de não fazer nada.

* É meu dever fazer o que eu posso, e nunca devo dizer que não posso enquanto não tentar; e então, se no começo eu não conseguir êxito, devo tentar de novo.

* Lembre-se de que, quando você fala, só repete o que já sabe; mas se você escutar, poderá aprender alguma coisa.

* Vamos orar, não para ter fardos mais leves, mas para possuir ombros mais fortes.

* Quanto mais você postergar a realização de um trabalho, mais difícil ele se tornará.

* Não faça suas tarefas com pressa, nem na escola nem em casa.

* Naturalmente, você sempre tentará fazer o melhor que pode; mas não fique chateado nem desanime se você não puder fazer uma coisa perfeita.

* Embora nossas mentes possam trabalhar mais devagar do que as mentes de algumas crianças, não esqueçamos que já é uma bênção as nossas mentes funcionarem de algum modo.

* Comece cada dia como quem começa do zero, e como se o mundo inteiro tivesse sido feito de novo.

* A escola é um bom lugar para aprender a conviver com outras pessoas; isto ajudará você quando crescer.

* Somos conhecidos pelo que fazemos, na verdade, e não pelo que contamos vantagem dizendo que podemos fazer.

* Fique contente, e não se preocupe nem tente acompanhar a inquietação e a velocidade do mundo.

* Nunca tenha medo de fazer o que é certo, mesmo que todos os outros estejam fazendo o que é errado.

* Não dê demasiada atenção aos erros dos seus pais ou de seu professor. Em vez disso, ajude-os nos esforços que fazem, e a sua própria vida se tornará mais agradável.

* As pessoas que estão sempre com pressa aparentemente obtêm muito pouca satisfação ao viver.

* Uma pessoa que pensa só em si mesma nunca conhece as verdadeiras alegrias da vida.

* Você pode ser agradável sem falar muito. Pense duas vezes antes de dizer alguma coisa.

* Cantar [canções religiosas] é um passatempo agradável, constitui bom exercício para os pulmões e um modo eficaz de dar graças a Deus. [2]

Em teosofia, “Deus” é a lei da justiça universal, ou a própria alma imortal de cada ser humano. Cantar canções religiosas é uma variante cristã da prática oriental dos mantras.

A filosofia dos Amish contém elementos centrais do “saber viver” da filosofia clássica, e seu estudo é útil para os teosofistas de coração puro, especialmente se eles estiverem aptos para o estudo intercultural e a observação comparada de tradições.

O uso fraternal do silêncio como forma de comunicação, a ausência de pressa, a arte de ensinar pelo exemplo, e o respeito prático pelos ritmos da natureza são princípios básicos da vida dos Amish. Estas regras permanecem amplamente não-faladas e constituem fontes de inspiração para a sociedade ocidental.

Todo cidadão de boa vontade pode ver e decodificar lições úteis nos diferentes aspectos da vida. Ele sente que compartilha a essência de todas tradições cuja meta é a busca vivencial da verdade suprema. Em qualquer tempo ou lugar, o estudante da filosofia esotérica vive tanto quanto possível de acordo com o princípio da não-violência, e é um companheiro de caminhada de quem, como os Amish, coloca a busca da sabedoria acima do conforto pessoal.

NOTAS:

[1] Do livro “Amish Roots, a Treasury of History, Wisdom, and Lore”, editado por John A. Hostetler, The Johns Hopkins University Press, Baltimore e Londres, 1989, 319 pp., ver p. 20.

[2] “Amish Roots, a Treasury of History, Wisdom, and Lore”, editado por John A. Hostetler, ver pp. 220-221.

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O texto “A Filosofia Prática dos Amish” foi publicado nos websites associados dia 7 de fevereiro de 2018. Uma versão inicial dos seus primeiros parágrafos foi publicada anonimamente em “O Teosofista”, edição de novembro de 2017, p. 12.

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Leia também o artigo “A Lição dos Anabatistas”.


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Em 14 de setembro de 2016, depois de uma análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um futuro saudável

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