26 de outubro de 2018

A Atitude Teosófica na Ação em Grupo

Trabalho Altruísta Cria
Uma Aura Coletiva Correta

Dolores Nascimento Bracet

O movimento teosófico trabalha conforme a lei da fraternidade universal



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Nota Editorial de 2018:

O artigo a seguir foi publicado pela primeira vez na edição
de janeiro-março de 1975 da revista “O Teosofista”, editada
no Rio de Janeiro. Há uma grande diferença entre os anos 1970
e as condições do movimento teosófico na era da Internet. É certo
que naqueles tempos, prévios ao computador, o caminho espiritual
já dependia sobretudo do indivíduo e da sua autorresponsabilidade.

A lei do avanço por mérito próprio individual é tão antiga quanto o
ser humano e foi ensinada desde antes de Platão até Helena Blavatsky.
 Porém, no século 21 o fato de que cada caminhante faz o seu caminho
é, talvez, mais claro. Não há possibilidade de avançar como rebanho.

O movimento teosófico depende hoje muito mais do indivíduo,
e menos dos grupos presenciais. A vida externa se torna astral  e
se desdobra pela Internet, descolando-se gradualmente do plano
físico denso. A Loja Independente de Teosofistas é um exemplo
claro disso. Mas prossegue inabalável o fato de que a ajuda mútua
é também uma lei central do desenvolvimento humano, ao lado da
lei da responsabilidade individual. O enfoque de Dolores Bracet,
voltado para o trabalho presencial, é válido para todos os tempos,
ainda que a interação presencial seja mais tênue, no século 21. Seu
texto contém lições profundas para os teosofistas de qualquer
século. Título original: “Importância da Atitude Teosófica na
Formação de Grupos”. Dolores era membro da loja teosófica
Augusto Bracet, do Rio de Janeiro.

(Carlos Cardoso Aveline)

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Na organização de grupos destinados à realização de trabalhos espirituais há, em geral, dois aspectos a considerar: um subjetivo, isto é, exclusivamente relacionado ou ligado ao espírito; outro, objetivo, porque diz respeito às coisas exteriores. Esses grupos são formados por pessoas que buscam os dois aspectos, embora em proporções diferentes. Há os que pouco vivem como seres espirituais, visto serem ainda como crianças que precisam de cuidados, proteção, amparo, vigilância e que, por comodismo, procuram seguir ordens e regras já que sua preguiça e limitação mental dificultam a própria atuação.

Os que se encontram nesse nível, cuja mentalidade foi em parte formada por orientação religiosa, quase sempre herdada, acreditam numa “proteção” que lhes diminui o senso de responsabilidade. Mesmo quando pertencem a grupos teosóficos onde se lhes oferece a oportunidade de conhecer as grandes leis que poderão ajudá-los em seu esforço pessoal, a se libertarem dos problemas inerentes à vida e, pela ampliação da própria consciência, a ampliar seu círculo de atuação esquecendo um pouco de si mesmos, aprendendo a servir melhor, a dedicar um pouco de suas energias ao soerguimento moral da humanidade, mesmo assim continuam ligados à personalidade. Suas características são: mentalidade egoísta e sobretudo comodista, orgulhosa, desejosa de sobrepor-se aos demais e, no entanto, possuidores de capacidade para colaborar e beneficiar parcialmente ao grupo.

Essa atitude vai-se diluindo ao misturar-se a grupos mais idealistas mas, de vez em quando, faz sentir suas inconveniências em atitudes separatistas de crítica, desejo de liderança, etc. Há, ainda, os que se afastam por não terem obtido um resultado imediato, incapazes de perceber que os homens, como almas, não podem retirar os elementos que desejam para beneficiar-se de uma cisterna particular, mas sim do oceano universal de onde provém a própria vida.

A parte mais subjetiva do agrupamento tem a atenção voltada para os aspectos mais elevados da vida. Mantém uma atitude de busca, de indagação por algo melhor que lhe aponte um caminho, uma direção. Levam seus pequeninos cântaros encontrando por si mesmos o atalho que os conduzirá àquele oceano do qual extraem o que necessitam, e à luz da própria intuição e de uma mente iluminada dele retiram ensinamentos de acordo com seu progresso e suas necessidades. A mensagem imperativa das personalidades já pertence ao passado. O trabalho em todos os setores é feito em equipe. E nos grupos espirituais sua interação é mais acentuada, pois compreendem que o mais importante não está na pessoa como elemento isolado, mas sim na interação com todos na vivência do processo de unificação grupal como alma, que se vai ampliando e estendendo-se para o plano da objetividade, isto é, para sua ação dentro da humanidade. Já não mais interessa a satisfação das ambições pessoais que suscitariam situações emocionais inadequadas.

Os membros de grupos bem orientados no seu esforço de fraternização são absorvidos pela vida da entidade grupal que nasce da fusão das auras individuais formando um só sentir, um só pensar, uma única maneira de existir, pois unificação é igualdade de agir pela identidade do ser como um todo individual. A tônica, a cor, o desenvolvimento grupal é o que importa no treinamento dos trabalhadores, e nunca a consideração do indivíduo senão em sua relação com o grupo, uma vez que é preciso manter o equilíbrio grupal e não o interesse pessoal.

Há uma experimentação dos indivíduos que integram o grupo na realização das aspirações pertinentes a cada um; se tais elementos são convenientemente bem realizados os grupos são enriquecidos e a caminhada continua visando sempre sua maior harmonização, todos trabalhando como elementos sinceros, sensatos, impessoais e sentimentalmente equilibrados, espargindo simpatia e amor aos seus semelhantes. Assim, uma entidade grupal poderá transformar-se num ponto focal para transmitir forças espirituais, ou ser a intermediária dessa transferência de energias para um mundo necessitado e sofredor.

Na formação dos grupos deve existir o maior cuidado na criação de uma aura coletiva tranquila, continuamente vitalizada pelas correntes de energias nascidas dos corações unidos sob o mesmo impulso amoroso que iguala a todos dentro da faixa psicovibratória comum, que poderá ser mantida por um total desapego para que seja permanente o sentido da impessoalidade. Isso porque a consciência grupal consolidada e ativa só existe quando todos no grupo são um: internamente, pelo sentimento e pensamento que os animam, e externamente, pela realização do trabalho em conjunto.

Dentro de seu grupo, cada indivíduo é um organismo sensível e percebe o que concerne ao seu desenvolvimento espiritual, sabendo que precisa crescer como consciência em evolução. Assim, todas as sugestões devem ser apresentadas ao grupo, e nunca em separado. Cada qual poderá fazer o próprio autojulgamento, e reconhecer honestamente o que fez e, ainda mais, o que deixou de fazer. Todo êxito do trabalho pertence ao grupo; ninguém deve atribuí-lo a si mesmo, pois isso redundaria em separatividade, enfraquecimento. Blavatsky afirmou que uma vara pode ser facilmente quebrada, mas o mesmo não acontece a um feixe. Um grupo verdadeiramente unido representa uma força ativa.

Vimos que a consciência global consolida-se quando todos os do grupo são um pela identidade de propósitos, de compreensão, de sentimento de unidade que se propõe a estabelecer maior captação das energias superiores. Diz-se que “Deus é pai e ama igualmente a todos”. [1] Ele é a fonte de vida, de energia, de amor que derrama sobre todos os seres. A estes cabe aprender a captar essa energia, utilizando-a em benefício próprio e dos demais. Todos somos canais para a descida das Energias Divinas, que são atraídas para os agrupamentos segundo suas aspirações mais elevadas em virtude da lei das afinidades. Os grupos espiritualistas, em geral integrados por indivíduos que se dedicam a um trabalho impessoal dando o melhor de si aos outros, atraem energias de tipo elevado, sutil, que permanecem nas suas proximidades. Cada um de seus componentes estabelece um canal de ligação com essa energia segundo suas próprias possibilidades, e a mesma energia irá não somente beneficiar o grupo como também aumentar as de cada um individualmente. É o amor de Deus [2] derramando-se sobre todos os seres.

Não existe ninguém separado; somos todos interdependentes tanto no plano espiritual como no físico, onde dependemos de centenas de pessoas para podermos viver. Nosso corpo, durante a vida terrena, compõe-se de corpos de matéria física, etérica, astral, mental, etc. Tudo que acontece a um desses corpos atinge os demais. É como uma pedra que atirada numa superfície líquida movimenta todas as suas partículas tanto em profundidade quanto em extensão. Um grupo é uma força, mas não o indivíduo isoladamente. O amor de Deus, a Energia Divina, não tem preferências, é igual para com todos.[3] Pode derramar-se através de canais diferentes, partindo de Seres muito elevados, até baixar o campo vibratório da própria consciência para igualar-se a eles.

Os elementos mais velhos de um grupo devem ajudar os mais novos fornecendo-lhes elementos necessários para que eles, com seu próprio esforço, possam dar um passo à frente. O que importa é o progresso do grupo, pois é ele que avança como um todo no presente e também no futuro, quando o grupo reencarna para continuar o mesmo trabalho. As reencarnações individuais e grupais são novos capítulos de uma mesma vida. Trabalho realizado deve ser trabalho esquecido, não mais mencionado, iniciando outro sem perder tempo na admiração da própria obra. Isso evitará que o personalismo se manifeste.

Os grupos fornecem energias que poderão ser encaminhadas mentalmente como elementos de ajuda aos que sofrem ou necessitam de auxílio. Cada Loja é um ponto de luz; a reunião desses pontos de luz formará uma luz maior. A luz ilumina segundo a capacidade de cada um em recebê-la, de acordo com o ângulo em que se coloca, a distância e sua possibilidade refletora. Essa luz também pode ser recebida e transformada em energia refletora irradiando-se para os outros. Um indivíduo pode receber energia de planos mais elevados; um agrupamento, porém, poderá recebê-la multiplicada e integrada por forças benéficas e irradiantes. É a Energia Divina diversificada em milhões de fragmentos, é Deus descendo através dos planos e limitando-se cada vez mais. É como a luz que se divide iluminando tudo, mas continuando intacta.

Existe um “mantra” de unificação que diz: “Eu sou um ponto de luz dentro de uma luz maior.” Sendo meramente ilusória a separatividade exterior que parece fazer de nós indivíduos independentes, isolados, devemos concluir que somos, no Todo, como gotas d’água que formam uma grande onda em cujo seio todas avançam juntas. Assim, quando um homem realiza um progresso definido, especializado, seus irmãos se beneficiam e o benefício concretiza-se no aumento da consciência do grupo, no magnetismo grupal que produz notáveis efeitos curativos e unificadores sobre os grupos afins. Esses grupos unidos, formando grupos maiores, o dos Servidores do Mundo, servirão a Humanidade como unidade resultante da fusão individual de todas as criaturas.

A Alma imortal não tem um destino individual: está imersa no UNO; seu destino é o do grupo, o do Todo.

Estes são os ensinamentos dos Mestres de Sabedoria sobre a formação de grupos unidos nos quais os seres humanos esquecem-se de si mesmos para manter, íntegra, a “cadeia do Amor” que é a base de todo o edifício espiritual erguido pelos Servidores do Mundo através dos séculos sem fim.

NOTAS DE 2018:

[1] A teosofia original esclarece que os vários Deuses monoteístas, administrados conforme os interesses desta ou daquela seita ou igreja, são ilusões fabricadas por teólogos desinformados. Veja por exemplo os artigos “Mestres Ensinam Que Não Há Deus” e “Carta de Prayag - a Dimensão Sutil da Crença em Deus”. Em teosofia a palavra “Deus” só pode ser usada de modo correto no sentido impessoal de Lei do Universo, de Eu Superior,  ou no sentido de coletividade de inteligências divinas.  É nestas acepções que Dolores emprega o termo. (CCA)

[2] “Deus”, ou mais precisamente - neste caso - a lei da ajuda mútua, a lei da unidade na diversidade, a lei do altruísmo. (CCA)

[3] Em outras palavras, todos são iguais perante a Lei. Não há favores pessoais. (CCA)

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O artigo “A Atitude Teosófica na Ação em Grupo” foi publicado em nossos websites associados no dia 26 de outubro de 2018.

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Em 14 de setembro de 2016, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um futuro saudável.  

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