Trabalho Altruísta Cria
Uma Aura Coletiva Correta
Dolores Nascimento Bracet
O movimento teosófico
trabalha conforme a lei da fraternidade universal
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Nota
Editorial de 2018:
O artigo a seguir foi publicado pela
primeira vez na edição
de janeiro-março de 1975 da revista “O Teosofista”, editada
no Rio de Janeiro. Há uma grande
diferença entre os anos 1970
e as condições do movimento teosófico na
era da Internet. É certo
que naqueles tempos, prévios ao
computador, o caminho espiritual
já dependia sobretudo do indivíduo e da
sua autorresponsabilidade.
A lei do avanço por mérito próprio
individual é tão antiga quanto o
ser humano e foi ensinada desde antes de
Platão até Helena Blavatsky.
Porém,
no século 21 o fato de que cada caminhante faz o seu caminho
é, talvez, mais claro. Não há
possibilidade de avançar como rebanho.
O
movimento teosófico depende hoje muito mais do indivíduo,
e menos
dos grupos presenciais. A vida externa se torna astral e
se
desdobra pela Internet, descolando-se gradualmente do plano
físico
denso. A Loja Independente de Teosofistas é um exemplo
claro
disso. Mas prossegue inabalável o fato de que a ajuda mútua
é também
uma lei central do desenvolvimento humano, ao lado da
lei da
responsabilidade individual. O enfoque de Dolores Bracet,
voltado
para o trabalho presencial, é válido para todos os tempos,
ainda que
a interação presencial seja mais tênue, no século 21. Seu
texto
contém lições profundas para os teosofistas de qualquer
século.
Título
original: “Importância da Atitude
Teosófica na
Formação
de Grupos”.
Dolores era membro da loja teosófica
Augusto
Bracet,
do Rio de Janeiro.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Na organização
de grupos destinados à realização de trabalhos espirituais há, em geral, dois
aspectos a considerar: um subjetivo, isto é, exclusivamente relacionado ou
ligado ao espírito; outro, objetivo, porque diz respeito às coisas exteriores.
Esses grupos são formados por pessoas que buscam os dois aspectos, embora em
proporções diferentes. Há os que pouco vivem como seres espirituais, visto
serem ainda como crianças que precisam de cuidados, proteção, amparo,
vigilância e que, por comodismo, procuram seguir ordens e regras já que sua
preguiça e limitação mental dificultam a própria atuação.
Os
que se encontram nesse nível, cuja mentalidade foi em parte formada por
orientação religiosa, quase sempre herdada, acreditam numa “proteção” que lhes
diminui o senso de responsabilidade. Mesmo quando pertencem a grupos teosóficos
onde se lhes oferece a oportunidade de conhecer as grandes leis que poderão
ajudá-los em seu esforço pessoal, a se libertarem dos problemas inerentes à
vida e, pela ampliação da própria consciência, a ampliar seu círculo de atuação
esquecendo um pouco de si mesmos, aprendendo a servir melhor, a dedicar um
pouco de suas energias ao soerguimento moral da humanidade, mesmo assim continuam
ligados à personalidade. Suas características são: mentalidade egoísta e
sobretudo comodista, orgulhosa, desejosa de sobrepor-se aos demais e, no
entanto, possuidores de capacidade para colaborar e beneficiar parcialmente ao
grupo.
Essa
atitude vai-se diluindo ao misturar-se a grupos mais idealistas mas, de vez em
quando, faz sentir suas inconveniências em atitudes separatistas de crítica,
desejo de liderança, etc. Há, ainda, os que se afastam por não terem obtido um
resultado imediato, incapazes de perceber que os homens, como almas, não podem
retirar os elementos que desejam para beneficiar-se de uma cisterna particular,
mas sim do oceano universal de onde provém a própria vida.
A
parte mais subjetiva do agrupamento tem a atenção voltada para os aspectos mais
elevados da vida. Mantém uma atitude de busca, de indagação por algo melhor que
lhe aponte um caminho, uma direção. Levam seus pequeninos cântaros encontrando
por si mesmos o atalho que os conduzirá àquele oceano do qual extraem o que
necessitam, e à luz da própria intuição e de uma mente iluminada dele retiram
ensinamentos de acordo com seu progresso e suas necessidades. A mensagem
imperativa das personalidades já pertence ao passado. O trabalho em todos os
setores é feito em equipe. E nos grupos espirituais sua interação é mais
acentuada, pois compreendem que o mais importante não está na pessoa como
elemento isolado, mas sim na interação com todos na vivência do processo de
unificação grupal como alma, que se vai ampliando e estendendo-se para o plano
da objetividade, isto é, para sua ação dentro da humanidade. Já não mais
interessa a satisfação das ambições pessoais que suscitariam situações
emocionais inadequadas.
Os
membros de grupos bem orientados no seu esforço de fraternização são absorvidos
pela vida da entidade grupal que nasce da fusão das auras individuais formando
um só sentir, um só pensar, uma única maneira de existir, pois unificação é
igualdade de agir pela identidade do ser como um todo individual. A tônica, a
cor, o desenvolvimento grupal é o que importa no treinamento dos trabalhadores,
e nunca a consideração do indivíduo senão em sua relação com o grupo, uma vez
que é preciso manter o equilíbrio grupal e não o interesse pessoal.
Há
uma experimentação dos indivíduos que integram o grupo na realização das
aspirações pertinentes a cada um; se tais elementos são convenientemente bem
realizados os grupos são enriquecidos e a caminhada continua visando sempre sua
maior harmonização, todos trabalhando como elementos sinceros, sensatos,
impessoais e sentimentalmente equilibrados, espargindo simpatia e amor aos seus
semelhantes. Assim, uma entidade grupal poderá transformar-se num ponto focal para
transmitir forças espirituais, ou ser a intermediária dessa transferência de
energias para um mundo necessitado e sofredor.
Na
formação dos grupos deve existir o maior cuidado na criação de uma aura
coletiva tranquila, continuamente vitalizada pelas correntes de energias
nascidas dos corações unidos sob o mesmo impulso amoroso que iguala a todos
dentro da faixa psicovibratória comum, que poderá ser mantida por um total
desapego para que seja permanente o sentido da impessoalidade. Isso porque a
consciência grupal consolidada e ativa só existe quando todos no grupo são um:
internamente, pelo sentimento e pensamento que os animam, e externamente, pela
realização do trabalho em conjunto.
Dentro
de seu grupo, cada indivíduo é um organismo sensível e percebe o que concerne
ao seu desenvolvimento espiritual, sabendo que precisa crescer como consciência
em evolução. Assim, todas as sugestões devem ser apresentadas ao grupo, e nunca
em separado. Cada qual poderá fazer o próprio autojulgamento, e reconhecer
honestamente o que fez e, ainda mais, o que deixou de fazer. Todo êxito do
trabalho pertence ao grupo; ninguém deve atribuí-lo a si mesmo, pois isso
redundaria em separatividade, enfraquecimento. Blavatsky afirmou que uma vara
pode ser facilmente quebrada, mas o mesmo não acontece a um feixe. Um grupo
verdadeiramente unido representa uma força ativa.
Vimos
que a consciência global consolida-se quando todos os do grupo são um pela identidade de
propósitos, de compreensão, de sentimento de unidade que se propõe a
estabelecer maior captação das energias superiores. Diz-se que “Deus é pai e
ama igualmente a todos”. [1] Ele é a
fonte de vida, de energia, de amor que derrama sobre todos os seres. A estes
cabe aprender a captar essa energia, utilizando-a em benefício próprio e dos
demais. Todos somos canais para a descida das Energias Divinas, que são atraídas
para os agrupamentos segundo suas aspirações mais elevadas em virtude da lei
das afinidades. Os grupos espiritualistas, em geral integrados por indivíduos
que se dedicam a um trabalho impessoal dando o melhor de si aos outros, atraem
energias de tipo elevado, sutil, que permanecem nas suas proximidades. Cada um
de seus componentes estabelece um canal de ligação com essa energia segundo
suas próprias possibilidades, e a mesma energia irá não somente beneficiar o
grupo como também aumentar as de cada um individualmente. É o amor de Deus [2] derramando-se sobre todos os seres.
Não
existe ninguém separado; somos todos interdependentes tanto no plano espiritual
como no físico, onde dependemos de centenas de pessoas para podermos viver.
Nosso corpo, durante a vida terrena, compõe-se de corpos de matéria física, etérica,
astral, mental, etc. Tudo que acontece a um desses corpos atinge os demais. É
como uma pedra que atirada numa superfície líquida movimenta todas as suas partículas
tanto em profundidade quanto em extensão. Um grupo é uma força, mas não o
indivíduo isoladamente. O amor de Deus, a Energia Divina, não tem preferências,
é igual para com todos.[3] Pode
derramar-se através de canais diferentes, partindo de Seres muito elevados, até
baixar o campo vibratório da própria consciência para igualar-se a eles.
Os
elementos mais velhos de um grupo devem ajudar os mais novos fornecendo-lhes
elementos necessários para que eles, com seu próprio esforço, possam dar um
passo à frente. O que importa é o progresso do grupo, pois é ele que avança
como um todo no presente e também no futuro, quando o grupo reencarna para
continuar o mesmo trabalho. As reencarnações individuais e grupais são novos
capítulos de uma mesma vida. Trabalho realizado deve ser trabalho esquecido,
não mais mencionado, iniciando outro sem perder tempo na admiração da própria
obra. Isso evitará que o personalismo se manifeste.
Os
grupos fornecem energias que poderão ser encaminhadas mentalmente como
elementos de ajuda aos que sofrem ou necessitam de auxílio. Cada Loja é um
ponto de luz; a reunião desses pontos de luz formará uma luz maior. A luz
ilumina segundo a capacidade de cada um em recebê-la, de acordo com o ângulo em
que se coloca, a distância e sua possibilidade refletora. Essa luz também pode
ser recebida e transformada em energia refletora irradiando-se para os outros.
Um indivíduo pode receber energia de planos mais elevados; um agrupamento,
porém, poderá recebê-la multiplicada e integrada por forças benéficas e
irradiantes. É a Energia Divina diversificada em milhões de fragmentos, é Deus
descendo através dos planos e limitando-se cada vez mais. É como a luz que se
divide iluminando tudo, mas continuando intacta.
Existe
um “mantra” de unificação que diz: “Eu sou um ponto de luz dentro de uma luz
maior.” Sendo meramente ilusória a separatividade exterior que parece fazer de
nós indivíduos independentes, isolados, devemos concluir que somos, no Todo,
como gotas d’água que formam uma grande onda em cujo seio todas avançam juntas.
Assim, quando um homem realiza um progresso definido, especializado, seus
irmãos se beneficiam e o benefício concretiza-se no aumento da consciência do
grupo, no magnetismo grupal que produz notáveis efeitos curativos e
unificadores sobre os grupos afins. Esses grupos unidos, formando grupos
maiores, o dos Servidores do Mundo, servirão a Humanidade como unidade
resultante da fusão individual de todas as criaturas.
A
Alma imortal não tem um destino individual: está imersa no UNO; seu destino é o
do grupo, o do Todo.
Estes
são os ensinamentos dos Mestres de Sabedoria sobre a formação de grupos unidos
nos quais os seres humanos esquecem-se de si mesmos para manter, íntegra, a
“cadeia do Amor” que é a base de todo o edifício espiritual erguido pelos
Servidores do Mundo através dos séculos sem fim.
NOTAS
DE 2018:
[1] A
teosofia original esclarece que os vários Deuses monoteístas, administrados
conforme os interesses desta ou daquela seita ou igreja, são ilusões fabricadas
por teólogos desinformados. Veja por exemplo os artigos “Mestres Ensinam Que Não Há Deus”
e “Carta de Prayag - a Dimensão Sutil da Crença em Deus”.
Em teosofia a palavra “Deus” só pode ser usada de modo correto no sentido impessoal
de Lei do Universo, de Eu Superior, ou
no sentido de coletividade de inteligências divinas. É nestas acepções que Dolores emprega o
termo. (CCA)
[2] “Deus”, ou mais precisamente - neste caso - a lei da ajuda mútua, a lei da
unidade na diversidade, a lei do altruísmo. (CCA)
[3] Em outras palavras, todos são iguais perante a Lei. Não há favores
pessoais. (CCA)
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O
artigo “A Atitude Teosófica na Ação em
Grupo” foi publicado em nossos websites associados no dia 26 de outubro de
2018.
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Sobre
a história do movimento teosófico no Brasil, veja em nossos websites associados
os artigos “Como Surge a Loja Rio de
Janeiro”, “Breve Histórico da Teosofia
no Brasil”, “Leadbeater Diz Que Matou
Brasileiros”, “Bispo Católico Visita
Plantações em Marte”, “A Teosofia no Brasil”, “A Fraude da Escola
Esotérica” e “Origem do Movimento Teosófico no Brasil”.
Examine
os textos “Besant Anuncia Que é Mahatma”, “Carta de Seidl Para
Gervásio, Sem Data”, “Krishnamurti e a Teosofia”, “Fabricando um Avatar”, “Celebrando o Dia Oito de
Maio” e “O Exemplo de Sória Lima dos Santos”.
Estes
são outros títulos sobre a história do movimento: “A Teosofia e a Segunda Guerra
Mundial”, “Krishnamurti e as Ilusões
Besantianas”, “Uma Nova Era de Paz Para Todos”, “Prelúdio Para Um Irmão Que
Parte” e “O Racismo em Nome daTeosofia”.
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Em 14 de setembro de 2016, um grupo de
estudantes decidiu criar a Loja
Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um
futuro saudável.
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