Percebendo a Unidade em Tudo o Que Há
Gilmar Gonzaga
Parte superior de um trabalho em
equilíbrio de pedras
A abrangência da Lei do Equilíbrio é ampla e
as possíveis abordagens das suas formas de expressão são múltiplas, no plano conceitual
e pela experimentação.
Uma primeira ideia pode ser obtida por meio
do artigo “O Centro Interno de Equilíbrio”, de John Garrigues:
“Exatamente no centro da Terra há um ponto de
perfeito equilíbrio. Vacilar a partir dele em qualquer direção provoca uma perda
de equilíbrio e coloca em ação forças instáveis. Este é um fato
multidimencional.”
“Cada esfera, desde um átomo até o sistema solar, tem o seu ponto de
equilíbrio. É nele que todas as forças têm igual influência e a harmonia reina
suprema.” [1]
Partindo para o campo da experimentação,
recorro à minha própria vivência na comunhão com o reino mineral para
demonstrar alguns aspectos dessa lei fundamental.
Mantenho um hábito que considero saudável e
útil enquanto exercício de concentração, que é o hábito de empilhar pedras.
Seja nas trilhas por onde ando ou mesmo no
quintal da minha casa, empilho-as. Verticalmente! Pequenas, grandes,
arredondadas ou pontiagudas, lisas e onduladas. Não as parto nem acrescento
pedaços a elas, apenas as uso como são e obtenho resultados com uma estética
singular, própria do reino mineral, cujos formatos mais ou menos rudes refletem
o estado de densidade da matéria peculiar a esse reino.
A estética final impressiona pelos desenhos
resultantes, exatamente porque as formas se encaixam para produzir um tipo de
escultura única não planejada, imprimindo-lhe um caráter original. Mas o que
“captura” a atenção dos observadores é o equilíbrio desafiador que induz à
percepção de aparentes paradoxos, observáveis na interação com as pedras, que
podem ser descritos como: a coesão do
diferenciado, a unidade da multiplicidade ou a leveza do pesado. Aqueles que observam em silêncio as formas resultantes
são capazes de sentir a tensão equilibrante ou até mesmo alcançar um
estado de paz por meio da harmonia do equilíbrio.
O interessante do exercício é que enquanto
interajo com os elementos desse reino, percebo o “ponto de equilíbrio” fluindo
a partir de mim e se estendendo e envolvendo as pedras.
Carlos Cardoso Aveline escreveu:
“Na prática do equilíbrio das pedras, (...)
o contato com a própria alma permite o diálogo direto com a natureza e a lei do
universo.” [2]
De acordo com a Teosofia, a “consciência”
ou inteligência está presente em tudo. Helena P. Blavatsky ensina em “A
Doutrina Secreta”:
“O Nous
que move a matéria, a Alma que tudo anima, imanente em cada átomo, manifestado
no ser humano, latente na pedra, tem vários graus de poder; e esta ideia
panteísta de um Espírito-Alma geral que permeia toda a Natureza é a mais antiga
de todas as noções filosóficas.” [3]
Em outra passagem da mesma obra, a questão
da unidade é apresentada sob a perspectiva evolucionária:
“A Respiração
se torna uma pedra; a pedra, uma planta; a planta, um animal; o animal, um
homem; o homem, um espírito; e o espírito, um deus.”
[4]
Esse conhecimento revela a unidade,
imanente em tudo que existe. Assim sendo, ao considerarmos o exemplo da nossa
interação consciente com as pedras, podemos estender os resultados dessa
experiência às nossas próprias vidas, uma vez que a percepção da unidade nos dota de um sentido de equilíbrio.
Com efeito, há que se considerar que o grau
de consciência existente nas pedras difere significativamente da consciência
presente nas individualidades humanas. O equilíbrio no reino mineral é
alcançado pela ação mais direta das leis naturais, incluindo o poder da
gravidade. Ou pode ser forjado pela intervenção criativa dos seres humanos. A
complexidade desse equilíbrio forjado dependerá do grau de consciência das
pessoas a partir do conhecimento das leis naturais. As pedras, percebo,
transmitem-nos um efeito “equilibrante”, caracterizado por um sentimento ou
sensação de estabilidade e segurança.
Na seara humana manter o equilíbrio
torna-se mais complexo, individual ou coletivamente. A dinâmica inerente ao
estágio evolucionário alcançado por cada individualidade humana é definida pelo
grau do “vacilar” em relação ao ponto de equilíbrio e indica a partir de onde
cada indivíduo autoconsciente deve buscar retomar o equilíbrio em si e mantê-lo
como um centro de paz.
No caso das pedras ou em outras construções
que fazemos, podemos forjar um arranjo equilibrado por meios mecânicos, ou
“intuitivamente” através da extensão da nossa própria sensibilidade. Também em
nós, individualmente, podemos forjar um equilíbrio interno mecânico ou forçado
que só poderá ser mantido à custa de algum tipo de tensão psicológica ou
mental.
Para alcançarmos um equilíbrio ou uma paz
natural e duradoura, que perdure enquanto agimos ou atuamos no mundo,
precisamos promover mudanças significativas em nosso interior e eliminar as
fontes de desequilíbrio.
Em todos os casos - a experiência revela -
a vida daqueles que buscam estabelecer em si a Paz Interior passa pela
necessidade de uma grande mudança que exige continuada dedicação. O essencial
desse processo pode ser caracterizado, por um lado, como Simplificação (do ter)
e, por outro, como Expansão (do Ser).
A Naturalidade pode ser considerada um
fator e uma expressão do Equilíbrio Interno. Vários indicadores sinalizarão se
a naturalidade está presente no processo. Entre eles podemos citar o
contentamento e a boa vontade perante a vida.
Para promover as transformações necessárias
à manutenção do centro de paz e alcançarmos o equilíbrio dinâmico em face da
nossa atuação no mundo, precisamos encontrar o ponto de equilíbrio em nós.
Garrigues lança luz sobre essa questão:
“Uma vez que encontramos o ponto de equilíbrio em nós próprios,
reconhecemos que ele está em toda parte, e o vemos como Aquilo sobre o qual
todos os mundos se apoiam. Não chegamos ao ponto de equilibro indo para um ou
outro lugar, mas simplesmente reconhecendo-o.”
“(…) Este lugar não é um ‘lugar’
situado no espaço e no tempo. Quando ele é percebido pelo sentimento e pela
compreensão, então nós vemos que o nosso dever mais elevado consiste em
esforçar-nos com uma firme determinação para permanecer em paz e em contato com
o centro de equilíbrio, sem perturbar-nos por coisa alguma que possa acontecer.
Nosso dever consiste em agir desde este centro para equilibrar gradualmente
todas as causas e efeitos dentro da nossa esfera de ação, mesmo que sejam
necessárias várias encarnações para conseguir a meta.”
E finaliza:
“Cada ser humano deve fazer os ajustes adequados dentro da sua própria
esfera. Ao fazê-los, ele não trabalha apenas para o seu bem individual, mas
para o bem de todos, porque percebe que este centro é o único Centro de tudo o
que há. Assim, é inútil arrepender-se ou lamentar-se, ou ter vontade de estar
em qualquer outro lugar diferente daquele em que se está. Em algum momento, em
algum lugar, cada indivíduo deve realizar esta tarefa. Mantendo uma firmeza de
sentimentos, podemos Erguer-nos e dedicar-nos, com uma decisão
inabalável, ao cumprimento do nosso dever.” [5]
O Equilíbrio pode ser chamado de Caminho do
Meio.
O contato consciente com a Natureza nos
leva a uma trajetória em que as atitudes são moderadas em relação aos extremos.
NOTAS:
[1] Do artigo “O Centro Interno de Equilíbrio”, de John
Garrigues.
[2] Comentário feito
por escrito durante um estudo da Loja Independente de Teosofistas, em setembro
de 2018.
[3] “A Doutrina Secreta”, Helena P. Blavatsky,
tradução passo a passo da edição original, p. 87.
[4] “A Doutrina Secreta”, Helena P. Blavatsky,
tradução passo a passo da edição original, p. 138.
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Parte superior de um trabalho em equilíbrio de pedras
O artigo acima foi publicado em nossos
websites associados em 10 de novembro de 2018.
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Sobre as pedras e a filosofia esotérica, clique para
ler os artigos “A LIT Como Pedra e Como Sonho” e “O Poder Mágico da Safira”. Com relação a Helena Blavatsky,
pedras e ocultismo, vale a pena examinar “Um Parentesco Entre a Índia e os Andes”. Em inglês, o artigo “Mystic Lore of Gems and Crystals”. É importante também o poema “O Reino Mineral”, de Augusto de Lima.
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Em 14 de setembro de 2016, um
grupo de estudantes decidiu criar a Loja
Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um
futuro saudável.
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