A Força Inspiradora de um Mantra
Malba Tahan

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Reproduzido do volume “Céu de Allah”,
contos orientais, Malba Tahan, Ed.
Conquista,
RJ, Brasil, 1956, 221 pp., ver pp.
119-122.
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A
opulenta cidade de Cabul vivia, nesse tempo, agitada por estranho boato. Diziam
alguns, afirmavam muitos, que o íntegro e prestigioso juiz Fauzi Trevic, antes
de sair para o exercício de suas altas funções do tribunal, ouvia os conselhos
de um papagaio.
Havia
até quem soubesse particularidades sobre o caso. O papagaio fora trazido das
montanhas por um feiticeiro famoso e vivia encerrado num rico aposento, longe
das vistas e dos ouvidos curiosos.
Os
mais ousados garantiam que se tratava de uma ave encantada, que trazia no corpo
o espírito de um gênio - um djin,
talvez. O maravilhoso papagaio conhecia jurisprudência e ditava leis com a
eloquência e a sabedoria dos grandes ulemás. Não havia, aliás, outra explicação
para aquele mistério, pois o juiz Trevic proferia sentenças notáveis,
fundamentadas sempre com grande elevação, e elogiadas pelos advogados mais
exigentes e intolerantes.
O
caso chegou, afinal, ao conhecimento do rei Nassin ben-Nassin.
-
“Mac Allah”! - estranhou o soberano persa. - É assombroso! Quem poderia
acreditar que houvesse, no Islã, um papagaio capaz de orientar as longas
sentenças de um sábio juiz?
Resolvido
a esclarecer de qualquer modo o enigma, o poderoso rei mandou vir à sua
presença o doutíssimo Fauzi Trevic e interrogou-o.
Seria
verdadeira aquela voz que corria pela cidade, abalando os incrédulos e enchendo
de infinito assombro os simples e os ingênuos?
-
Sim, ó rei Magnânimo!, é verdadeira a voz - confirmou o ilustre cádi. - Não
devo ocultar verdade. Todos os dias, antes de seguir para o tribunal, ouço os
conselhos de um modesto papagaio verde de bico amarelo! Juro, pelas barbas de
Maomé, que é essa a expressão da verdade!
-
Exaltado seja Allah! o Único! - exclamou o monarca. - Não creio que possa
existir, sob o céu ou sobre a terra, maravilha maior do que essa que acabais de
revelar!
-
Vejo-me forçado a dizer-vos, ó Rei do Templo! - prosseguiu o juiz - que o
papagaio, meu amigo e conselheiro, só sabe pronunciar duas palavras. Com esse limitadíssimo
vocabulário, consegue ele orientar, com segurança e clareza, todas as minhas
sentenças.
-
Com duas palavras! Que palavras mágicas serão essas, que servem, como dois
faróis, no meio do oceano das leis?
Respondeu
o digno magistrado:
-
Bondade e Justiça! Justiça e Bondade! Eis as palavras que ouço todos os dias do
meu fiel papagaio! Procuro tê-las sempre bem vivas, no fundo do coração! Quando
estudo as causas sobre as quais sou obrigado a votar e decidir, esforço-me por
ser bom e procuro ser justo. A Justiça que corrige ou castiga
deve ser inspirada pela Bondade que nobilita e eleva. E ainda: a Bondade, que
exalta o fraco, não pode prescindir da Justiça que reabilita o forte. Confesso,
pois, que todas as minhas sentenças são norteadas pelo admirável conselho do
papagaio. Bondade e Justiça!
Por
Allah, senhor dos mundos visíveis e invisíveis! Por Allah! Seguissem todos os
reis, ministros e magistrados o conselho daquele papagaio, e a felicidade
desceria sobre os povos e a paz reinaria entre as nações!
Uassalã!
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Clique para ler o artigo “O Mundo de Malba Tahan”, de Carlos Cardoso Aveline. Veja outros contos de Malba Tahan.
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