Dois Exemplos de uma Sabedoria Prática
Malba Tahan
A Torá tradicional
do judaísmo
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Nota
Editorial:
Malba Tahan foi o nome literário e o
autor-personagem criado pelo professor
de Matemática brasileiro Júlio César de
Mello e Souza (1895-1974). A sua obra ensina
a sabedoria ética universal ao mesmo
tempo que
promove a paz e o entendimento
inter-religioso.
As duas narrativas a seguir são
reproduzidas do
livro “Lendas do Bom Rabi”, de Malba
Tahan,
Edição Saraiva, SP, Brasil, 1951, 197 páginas.
O
primeiro conto está à p. 170. O segundo,
à p. 130.
A obra “Lendas do Bom Rabi” está
publicada
também sob o título de “Lendas do Povo
de Deus”.
(Carlos Cardoso Aveline)
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1. Humildade do
Rei
Discorrendo
sobre a humildade, um sábio ensinou ao rei Tejuan que o homem humilde está
fadado a longa e ditosa vida.
A
fim de usufruir desse dom conferido aos humildes, meteu-se o monarca num trajo
surrado, mudou-se para um casebre e proibiu que seus súditos lhe tributassem a
menor deferência. Examinando-se, porém, de boa-fé, averiguou que, na sua
humildade aparente, se tornara ainda mais soberbo. O filósofo advertiu-o:
-
Podeis abandonar esses andrajos e cobrir o vosso corpo com ouro e púrpura
conservando, porém, a humildade em vosso coração.
E
para revelar ao rei no que consiste a falsa humildade, o sábio narrou a
seguinte história:
-
“Um homem instruído, inteligente e caridoso, tinha infelizmente o defeito da
soberba. Disseram-lhe que, se aprendesse a ser humilde, se tornaria perfeito.
Ele seguiu o alvitre: estudou todas as regras de humildade, até sabê-las
inteiramente de cor. Certa vez um pobre campônio, ao passar por ele, esqueceu-se
de o saudar com o devido respeito.
O
pretenso humilde, voltando-se para o campônio protestou:
-
“Idiota! Não sabes então que, desde que aprendi a humildade, sou um homem de
caráter perfeito?”
E
o filósofo concluiu:
-
Era a voz recalcada do orgulho que assim falava. Naquele homem havia, apenas, a
aparência de humildade. Aparência e ... nada mais.
Esse trecho é inspirado nas “Máximas
de Baal Schem-Tov”. Os humildes são, pelos sábios israelitas, exaltados em
todos os momentos. Em certos textos não se referem os mestres aos “santos” mas
sim aos “humildes”. O espírito de santidade estará forçosamente ligado ao mais
profundo e sincero sentimento de humildade. (Cfr. A.Cohen, “Le Talmud”, trad. de Jacques Marti,
Payot, Paris, 1933.)
2. Humildade
Um fabricante
de sandálias, num momento de exaltação, feriu com grave ofensa o Rabi Johanan.
Um dos discípulos procurou o sábio no mesmo dia e, muito solícito, disse-lhe:
-
Mestre, permite que eu castigue aquele homem deseducado e estúpido que vos
injuriou?
-
Não é digno de respeito - corrigiu com sereno semblante o sábio - aquele que
concede a outrem permissão para proceder mal.
E
logo justificou, dogmático e conciliador:
-
Quem não domina o seu gênio carece de inteligência. Quem é poderoso? O que
responde à insânia com humildade e sabe reprimir os impulsos condenáveis. Quem
não domina os seus furores muito menos saberá corrigir a cólera alheia. A
origem do êxito do humilde é que os seus semelhantes o ajudam, graças à sua
submissão. Mais amparo encontra o homem na sua própria humildade do que na
força dos poderosos.
Distinguem-se os rabinos pelo
espírito de humildade que revelavam. O perdão das ofensas alheias figura entre
os preceitos talmúdicos, Yoma 23.a; Chabbat, 151, b. São inúmeros os exemplos
colhidos a tal respeito na imensa literatura religiosa de Israel.
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Os contos reunidos sob o título de “Lições dos Judeus Sobre Humildade” foram
publicados nos websites associados dia 23 de agosto de 2019.
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Clique para
ler o artigo “O Mundo de Malba Tahan”, de
Carlos Cardoso Aveline. Veja outros contos filosóficos de Malba Tahan.
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