Por Que um
Movimento Teosófico
Legítimo Necessita
Ter Independência
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline
Escritório de Helena Blavatsky em
Londres, 1887-1888: um desenho de William Judge
Ao mesmo
tempo que o trabalho dos websites associados e da Loja Independente lentamente
se consolida, cresce entre os membros da Sociedade Teosófica de Adyar a
percepção de que “é preciso estudar Helena Blavatsky e as Cartas dos Mestres”.
Cabe
então examinar uma pergunta:
Os
blavatskianos de Adyar têm futuro?
O
mero estudo verbal de Blavatsky (e das Cartas) dentro da ST de Adyar serve para
um embelezamento decorativo, e para lançar uma ideia de legitimidade sobre o
que é ilegítimo, como se bastasse ler alguém para mudar a realidade. É preciso
bem mais do que isso. É necessário tirar lições práticas do que se lê.
A
teosofia de Adyar sempre tolerou o estudo de Blavatsky, mas rejeitou e continua
a rejeitar a ação com base nos ensinamentos de Blavatsky. Esta separação entre
o que se pensa e o que se faz é uma das armadilhas mais graves criadas pelos “clarividentes”
besantianos.
Para
que algo mude para melhor, no movimento controlado por Adyar, é preciso fazer
uma autocrítica pelos erros passados e religar a palavra com a ação.
Cabe
abandonar a estrutura de poder pseudomaçônica, pseudoesotérica, baseada em
falsas fotos de mestres e numa atitude diante do ensinamento segundo a qual “recitar
é suficiente”.
H.P. Blavatsky escreveu em “Por Que Não Volto à
Índia”:
“… E tampouco posso - se eu quiser ser fiel ao meu
compromisso e aos meus votos de vida inteira - viver na Sede Geral [da Sociedade Teosófica em Adyar] da qual
os Mestres e o espírito Deles foram virtualmente banidos. A presença dos Seus
retratos não ajudará. Eles são letra morta.” [1]
E a situação piorou bastante desde que ela fez esta
constatação básica.
No
começo do século vinte, Annie Besant inaugurou o uso político da ideia de
“liberdade de pensamento” como desculpa para manter o ritualismo vazio no
centro da estrutura de poder, e como justificativa para negar a necessária
relação entre conhecimento e ação.
O
consenso besantiano consiste em rotular de imediato como “intolerante” e como “radical”
qualquer ideia de eliminar as formas de crença cega que pertencem ao período de
1900-1934, em que floresceu a falsa
clarividência. A tática é utilizada até hoje. [2]
Nesta perspectiva, as obras de Helena Blavatsky são consideradas perfeitamente aceitáveis como algo que se pode memorizar e repetir no plano das palavras. São também
úteis como ferramenta de marketing, porque produzem um ar de saber clássico e
de legitimidade. Qualquer indivíduo que adote o ensinamento verdadeiro como um
guia para a ação, porém, será automaticamente considerado “um radical de ideias
perigosas”.
“Cada
um pensa o que quer”, diz o mantra politicamente correto. E o compromisso com
os fatos, com a investigação da verdade, com a pesquisa, assim como a vontade
de rejeitar falsidades são discretamente proibidos, embora isso seja feito com
a aparência de uma atitude fraterna e em nome do sentimento sagrado da amizade
entre almas.
No
reino da superficialidade mental, ler Blavatsky é uma questão de curiosidade
limitada ao nível das palavras e ninguém pode ir além disso.
Se
as fraudes besantianas forem abandonadas, porém, terá lugar uma mudança
abençoada e de longo prazo.
Até
que isso ocorra, a primavera e o renascimento da real vitalidade terão de ser
preparados em círculos independentes e em associações que estejam livres de
interesses burocráticos e institucionais.
Os
websites associados interpretam o número crescente de membros da Sociedade de
Adyar entre seus leitores como um pequeno sinal dos tempos. A primeira metade
do século atual parece ser uma ocasião adequada para deixar de lado os erros do
século passado e construir um movimento teosófico mais legítimo.
NOTAS:
[1] Do
artigo “Por Que Não Volto à Índia”.
[2] Sobre
fraudes e ilusões, veja por exemplo: “Besant Anuncia Que é Mahatma”;
“Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros”;
“Bispo Católico Visita Plantações em Marte”
e “A Fraude da Escola Esotérica”.
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O artigo
acima foi publicado como item independente nos websites associados dia 01 de
julho de 2020.
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