A Sabedoria Universal Brilha
Em Cada Povo de Modo Diferente
Carlos Cardoso Aveline
Com frequência
as ilusões obtêm grande popularidade por algum tempo.
Graças
ao avanço das comunicações eletrônicas, a partir do final dos anos 1990
criou-se a impressão em certos meios de que os estados nacionais deveriam desaparecer
o antes possível.
Um
determinado número de teosofistas, assim como outros cidadãos, passaram a ver o
globalismo como algo muito positivo, e o nacionalismo como uma ideologia
retrógrada a ser abandonada em nome da fraternidade universal.
Pouco
a pouco, porém, foi ficando claro que o globalismo tal como está colocado na
agenda humana hoje é amplamente controlado pelo grande capital financeiro
especulativo, aliado de atividades contrárias à lei, protegendo dinheiro de
paraísos fiscais e diversos tipos de atividades ilegítimas.
Esta
forma de globalização faz ataques especulativos contra países. Sua legitimidade
ética e econômica é altamente questionável. Seus procedimentos financeiros
atropelam a soberania dos estados e passam por cima de governos eleitos,
abandonando a um lado a democracia e o respeito aos povos.
A
teosofia valoriza as nações e considera importante a sua independência. A
filosofia esotérica não apoia o globalismo a qualquer preço. Tampouco vê
fraternidade nem sabedoria no ato de desprezar os estados nacionais.
As
nações não podem ser canceladas artificialmente, porque elas organizam o carma
dinâmico dos povos. Os estados dão forma às nações. Eles estruturam um carma
coletivo saudável, um processo de aprendizagem de almas que precisa ter uma
forma concreta no mundo.
A
fraternidade universal constitui uma lei, e funciona em círculos concêntricos.
Tendo uma visão positiva da nossa cidade e do nosso país, podemos compreender
melhor o planeta em que vivemos.
É
preciso amar o seu país para amar a humanidade. E vice-versa. O amor ao seu
povo leva a ser amigo de todas nações. A boa vontade em relação ao planeta
inteiro permite ser um melhor amigo da sua comunidade.
O
respeito à soberania das nações estimula a ajuda mútua nas relações
internacionais. O nacionalismo saudável anda ao lado da admiração e do respeito
pelos outros povos. Quem ama o seu país sabe que a colaboração entre todas as
nações é indispensável.
Assim,
no mundo lusófono e desde uma perspectiva teosófica, o nacionalismo angolano
deve ser bem-vindo, se for um sentimento sensato; assim como os nacionalismos
timorense, moçambicano, português, cabo-verdiano, brasileiro e dos outros
países que compartilham o idioma.
Em
qualquer lugar do mundo, nacionalismo não é sinônimo de xenofobia, assim como
internacionalismo não é sinônimo de fraternidade.
O
sentimento nacional é um sentimento comunitário e fraterno que se harmoniza com
a vivência da colaboração entre todos os povos e com a prática da fraternidade
universal. Este equilíbrio entre o todo e as partes é precisamente o ideal da
Organização das Nações Unidas. É uma ideia correta, realista, e indispensável.
A
construção de um país soberano e solidário faz parte da construção da
fraternidade planetária. Escrito no século 19, o romance utópico de Edward
Bellamy “Daqui a Cem Anos - Revendo o Futuro” [1] descreve um mundo ideal baseado na cooperação entre as pessoas.
Com um sucesso de público extraordinário, a obra deu lugar a um movimento
nacionalista nos Estados Unidos.
Em
“A Chave da Teosofia”, Helena Blavatsky escreve:
“Você
não ouviu falar dos clubes e do partido nacionalista que surgiram na América
[do Norte] depois da publicação do livro de Bellamy? Vão ganhando terreno cada
dia e com o tempo irão ganhando muito mais. Esses clubes e esse partido foram
criados no princípio por teósofos. Um dos primeiros, o Clube Nacionalista de
Boston (Massachusetts), tem teósofos como presidente, secretário e a maioria do
conselho executivo. Na constituição de todos os clubes e na do partido, a
influência teosófica e da Sociedade [Teosófica] é franca e aberta, porque a
base e o princípio fundamental é o da fraternidade humana, tal como a ensina a
Teosofia. Na sua Declaração de Princípios dizem: ‘O princípio da fraternidade é
uma das verdades eternas que dirigem o progresso do mundo por caminhos que
distinguem a natureza humana da natureza irracional’. O que é mais teosófico
que isto? Mas não basta: é necessário também imprimir nos homens a ideia de que
se a origem da humanidade é uma, deve
então haver igualmente uma verdade comum em todas as diferentes religiões…”. [2]
Na
página 27 da mesma obra fica claro que a religião judaica, assim como a
religião cristã e outras, contém a sabedoria universal.
Referindo-se
ao filósofo Amônio Saccas, Blavatsky escreve:
“Podemos
provar a origem de cada religião,
assim como de cada seita, até a mais insignificante. Não são as últimas mais do
que pequenas ramificações nascidas das maiores; mas umas e outras saem do mesmo
tronco, a Religião da Sabedoria.”
“Provar
isto foi o objetivo de Amônio, que tentou fazer com que cristãos e gentios,
judeus e idólatras, abandonassem suas lutas e disputas para que pudessem
perceber que todos estavam de posse da mesma verdade, oculta sob diferentes
aspectos, e que todos provinham de uma única origem. O mesmo objetivo guia a
Teosofia.” [3]
A
sabedoria universal brilha em cada povo e tradição cultural de maneira
diferente.
Todas
as formas específicas de ver a sabedoria eterna fazem erros e acertos. Cada uma
delas tem algo a ensinar, e algo a aprender. O progresso não é obtido
desprezando esta ou aquela tradição ou nacionalidade, nem acreditando na
superioridade de algum povo. Cada povo deve ser valorizado, começando pelos
povos que conhecemos melhor.
A
arrogância e a vontade de dominar derrotam tanto os países ingênuos como as
pessoas desinformadas.
A
cooperação e o respeito mútuo são as chaves do progresso na caminhada para a
sabedoria. O melhor alicerce do sentimento de fraternidade universal é o amor
ao local em que nascemos e ao país em que vivemos.
NOTAS:
[1] “Daqui
a Cem Anos - Revendo o Futuro”, de Edward Bellamy, Ed. Record, RJ, 1960, 204 páginas.
Prefácio de Erich Fromm. Em inglês, “Looking Backward”.
[2] “A
Chave da Teosofia”, de Helena Blavatsky, Ed. Planeta. Veja a página 61, na
edição disponível em nossos websites associados.
[3] “A Chave da Teosofia”. Veja a
página 27.
000
O artigo
acima foi publicado como item independente nos websites associados dia 29 de
junho de 2020. Uma versão inicial de “A
Filosofia Esotérica e o Amor Pelo Nosso País” faz parte da edição de junho
de 2020 de “O Teosofista” (pp. 18 a
20). Ali o texto está publicado sem indicação de nome de autor.
000
Leia
mais:
000