Se Quisermos Sobreviver, Teremos
Que Nos Manter Próximos à Natureza
Que Nos Manter Próximos à Natureza
Henrique Luiz Roessler
Porto Alegre, com o rio Guaíba ao fundo
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Neste artigo de 1959, Roessler
tece uma visão válida não só para as
grandes capitais brasileiras do século 21,
mas também para as cidades de porte médio.
(CCA)
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A união das cidades e vilas ao longo
da Rodovia Federal, que se processa em ritmo acelerado entre Porto Alegre e
Novo Hamburgo, em poucos anos formará uma gigantesca área urbana de vários
milhões de habitantes.
Parece incrível que tantos homens do campo
ainda vendam suas terras amplas, abandonando uma vida livre, sadia e feliz,
para virem morar nas cidades, atraídos por um falso esplendor, ganhos e
divertimentos fáceis de uma vida artificial, para se tornarem autômatos anônimos
sem alma, a vegetar no borborinho enervante.
Como vive a multidão desse enorme centro
industrial, enclausurada entre paredes? É o que muitos, antes de se desfazerem de
suas propriedades rurais, não estudam. É o que vamos esclarecer àqueles que
pretendem se atirar na desgraça.
Na grande cidade, o homem está rodeado de
pedras, aço, vidro, cimento armado e asfalto; cores berrantes e luz artificial
transtornam a sua visão; o barulho ensurdecedor nas ruas e fábricas martiriza o
seu cérebro; mau cheiro e clima antinatural terá que suportar; é obrigado a
respirar o ar viciado com o pó das ruas, o gás das descargas dos automotores e
a fumaça envenenada expelida por milhares de chaminés.
Sofrerá o sacrifício das correrias e o
perigo do trânsito para chegar aos locais do trabalho, morará em prédios de
apartamentos como num formigueiro humano ou em pequeninas casinhas dos subúrbios,
muitos no submundo das vilas de malocas anti-higiênicas dos marginais, num
ambiente de imundície e de crime.
A vida familiar desaparece na maioria dos
casos, e a lembrança do passado não deixa de os incriminar pela maldita troca
que fizeram.
Daí a eterna saudade da natureza que
trazem no coração, que os obriga a correr nos fins de semana para fora do
inferno da urbe para o idílio das matas, à procura de descanso debaixo de
frondosas árvores, para brincar nos prados e nos arroios, beber a água cristalina
das fontes, respirar ar puro, observar os animais silvestres, se deleitar com
os gorjeios dos passarinhos.
Tudo isto não custa nada, é uma dádiva
divina como a luz do sol. É um lenitivo para os nervos agitados e saúde para os
corpos enfraquecidos na luta encarniçada pela vida. Felizes os citadinos que
ainda encontram um mato ou um parque para os seus devaneios.
Desgraçadamente, com a extensão das
cidades, vilas e loteamentos, sempre maiores áreas estão sendo devastadas,
próximas aos centros urbanos.
Por isso, as autoridades competentes não
deveriam se descuidar em reservar, enquanto é tempo, muitas áreas verdes ainda
existentes, mas já tão raras, antes de concederem autorizações de novos
loteamentos, para uso e gozo de populações de poucos recursos.
Lembramos aqui o Horto Florestal de 800
hectares de Sapucaia, situados bem no centro da área industrial descrita,
antiga aspiração do povo.
Virá o tempo, e muito breve, em que a
importância do mato como fornecedor de matéria-prima (madeira, lenha e carvão),
como regulador das águas, como filtro da atmosfera, como protetor contra
perigosos movimentos da terra, em muito retrocederá diante de sua tarefa de
área de recreio para a população.
Devemos reconhecer que, se quisermos
sobreviver, teremos que nos manter próximos à natureza. No claro reconhecimento
dessa necessidade, já está raiando a aurora no espírito dos responsáveis. Mas
também os proprietários de matos deviam desistir da sua destruição, e o
reflorestamento das áreas nuas não deveria ficar para trás quando se trata da
humanidade, da sua saúde, da sua vida.
Sem esperar medidas acauteladoras por
parte do Serviço Florestal, devem sempre prevalecer os artigos primeiro e
segundo do Código Florestal: as florestas e demais formas de vegetação constituem
bem de interesse comum, exercendo-se os direitos de propriedade com as
limitações que a lei em geral e especialmente este Código estabelecem.
Temos toda a razão em nos apressar. O amor
à Natureza não deve perecer.
Por isso é necessário aguçar as consciências
para que compreendam o empenho da UNIÃO PROTETORA DA NATUREZA em bem servir à
humanidade, às árvores e aos animais com sua propaganda educativa.
Todos são convidados a auxiliar na
Campanha de Conservação dos nossos recursos naturais.
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O artigo “Monstrópolis - a Grande Capital” está disponível nos websites
associados desde o dia 19 de julho de 2021.
O texto foi publicado pela primeira
vez no jornal “Correio do Povo”, de
Porto Alegre, Brasil, em 05 de junho de 1959. Mais tarde foi reproduzido na
obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”,
de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220
pp., ver pp. 205-206.
Henrique Luiz Roessler nasceu em 16
de novembro de 1896 e viveu até 14 de novembro de 1963. Foi o primeiro
ecologista do Rio Grande do Sul e um dos primeiros do Brasil. Entre os
pioneiros da preservação ambiental no país, parece ser o único que deixou uma
obra escrita importante e uma presença marcante na sociedade. (CCA)
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Helena Blavatsky (foto) escreveu
estas palavras: “Antes de desejar, faça
por merecer”. 000
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