A Relação Interna Entre a
Alma Humana e a Alma das Árvores
Alma Humana e a Alma das Árvores
Henrique Luiz Roessler
Bosque de pinheiros em Canela, RS, Brasil
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Nota Editorial de 2021:
A Teosofia ensina que o espírito da vida universal está
presente em todos os reinos da natureza, unindo por exemplo a
pedra, a árvore, o animal, o homem e as inteligências divinas. No
texto a seguir, um dos grandes pioneiros da ecologia no Brasil conta
fatos que ilustram esta relação de almas entre bosques e humanos.
Cabe lembrar que um posteiro é um empregado que mora junto
ao limite de uma fazenda. Sua função é cuidar das cercas, para
que não haja invasão das terras da fazenda por gado dos vizinhos.
(Carlos Cardoso Aveline)
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No rancho junto ao grande pinhal da
Fazenda, morava há muitos anos o velho posteiro Francisco.
Várias vezes ele viu chegarem os doutores
filhos do patrão, que moravam longe, na capital, acompanhados duns homens
estranhos, os quais queriam comprar os pinheiros que o pai queria conservar,
porque neles via uma imensa fortuna.
O posteiro ficava apreensivo com as
insistências dos madeireiros, porque amava a floresta, que lhe dava todo o
conforto - caça, lenha para os frios invernos, a água límpida da fonte, sombra
e proteção dos ventos, o cantar dos passarinhos.
O patrão, muito bondoso, o tranquilizava,
dizendo:
“Nunca os pinheiros serão cortados e tu
serás guarda deles para sempre.”
Mas inesperadamente o fazendeiro faleceu e
logo a desgraça caiu sobre o pinhal.
Os herdeiros materialistas, loucos por
dinheiro para continuar com sua vida de luxo, venderam as árvores por cem
cruzeiros cada, preço em 1942. Hoje [1962]
valeriam dez mil cruzeiros. Casos dessa natureza acontecem frequentemente em
muitas famílias cujos filhos só esperam a morte do pai para avançar nos seus
bens.
Quando foram marcados os 8 mil pinheiros, destinados
à morte, o velho posteiro se tomou de coragem e pediu aos herdeiros que
deixassem a ponta do capão junto ao seu rancho, lembrando-os da promessa do seu
pai.
A resposta chocante foi esta:
“Você está louco, homem, nada temos com
promessas feitas pelo falecido. Em todo caso vamos deixar fora de venda aquele
grande pinheiro que faz sombra ao seu rancho.”
Iniciou-se a derrubada. Ouvia-se
incessante bater dos machados, o sibilar das serras mecânicas, o roncar dos
tratores e de vez em quando o fragoroso estraçalhar das grandes copas batendo
no chão, seguidos dos gritos vitoriosos dos cortadores. Tudo devastado e o mato
baixo todo quebrado e recortado de picadas dos arrastos, a turma cercou o
último pinheiro, o reservado para o posteiro.
Ao primeiro golpe de machado, este se
lançou de joelhos na frente dos homens e suplicou-lhes com lágrimas nos olhos:
“Pelo amor de Deus, não matem o ‘meu’
pinheiro.”
Veio o capataz, enfurecido e insensível
por terem os cortadores, penalizados, atendido a desesperada súplica, agarrou o
velho Chico e dando-lhe um empurrão, gritou: “Afaste-se, seu velho bobo
caduco”, e aos homens ordenou: “Continuem”.
O posteiro, estarrecido, se encostou no
seu rancho e assistiu o assassinato da árvore amiga de longos anos, sem poder
salvá-la. Depois viu seguirem os brancos cadáveres florestais com destino à
Serraria. Chico não falava mais com ninguém e mal se alimentava. Foi visto
sentado no banco do rancho, com a cabeça apoiada nas mãos, muito triste. Certa
manhã o encontraram morto, deitado do lado do cepo do “seu” pinheiro. O fato
não impressionou ninguém, nem sequer comoveu os diretamente responsáveis. Dizem
que o velho Chico morreu de saudades, de coração partido. Que estranho
sentimento de amor pela natureza num homem simples e incompreendido.
Esta história não é ficção. Aqui a registramos
como uma homenagem.
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O artigo “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” foi publicado nos websites associados em 17 de julho de 2021.
A narrativa faz parte de um texto maior, publicado no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Brasil, em 14 de setembro de 1962 e mais tarde reproduzido na obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220 pp., ver pp. 52-53.
O dia e o mês da primeira publicação de “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” coincidem com a data de fundação da Loja Independente de Teosofistas, que aconteceu décadas mais tarde em 14 de setembro de 2016.
O artigo “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” foi publicado nos websites associados em 17 de julho de 2021.
A narrativa faz parte de um texto maior, publicado no jornal “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Brasil, em 14 de setembro de 1962 e mais tarde reproduzido na obra “O Rio Grande do Sul e a Ecologia”, de Henrique Luiz Roessler, Martins Livreiro Editor, Porto Alegre, RS, 1986, 220 pp., ver pp. 52-53.
O dia e o mês da primeira publicação de “Velhas Árvores Mortas Estupidamente” coincidem com a data de fundação da Loja Independente de Teosofistas, que aconteceu décadas mais tarde em 14 de setembro de 2016.
Sobre a presença do espírito
universal em todas as coisas, veja os artigos “As Encarnações de Um Poema” e “Um Cosmo Em Cada Feto Humano”.
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