O Movimento Deliberado da
Alma na Direção do Mais Alto
Alma na Direção do Mais Alto
Carlos Cardoso Aveline

“Cada vez que o comportamento humano perde
um sentido de honestidade, de verdade e de beleza
moral, as ações cegas e irresponsáveis se espalham na
comunidade. Até que um dia o bom senso é recuperado,
e então renasce a ponte oculta para a consciência celeste.”
* Uma mudança súbita com
frequência ocorre depois de longas postergações e constantes adiamentos.
* A
felicidade é em grande parte secreta. Não há maneira de expressá-la
completamente em palavras.
* A
expansão na consciência da humanidade ganha velocidade durante o século atual. Como
consequência disso muda o Carma. Tanto a sabedoria como a ignorância se
aprimoram. A falsidade se acentua e se torna insustentável. As estruturas
sociais baseadas em ilusão ficam incapazes de resistir ao seu próprio peso. A
verdade brilha e nem tudo que ela mostra é belo. No entanto ninguém pode
impedir o Sol de erguer-se pela manhã.
* Só
quem busca escutar a sua própria alma tem interesse real em sabedoria.
* Crença
cega não ajuda. Um constante diálogo com a voz da sua própria consciência é
parte central do “sistema de orientação” de todo estudante sério de filosofia ou
teosofia clássica.
* Há
um tempo para o peregrino perceber o seu dever interno e preparar-se; e há um
tempo para agir à altura. Durante a fase preliminar, é aceitável estar
satisfeito com belos conceitos e bonitas ideias. A partir de certo momento,
cabe acordar e percorrer de fato o caminho montanha acima, sob a luz do ideal
sagrado.
* A
verdadeira compreensão está além das palavras e não pode ser transmitida apenas
verbalmente. Estar familiarizado com uma descrição da verdade, por mais correta
que ela seja, não é o mesmo que conhecer os fatos.
* Os
pensamentos desligados dos sentimentos impedem a verdadeira compreensão das
coisas. Antes de terminar o processo de observação, o observador deve ter
construído o tipo correto de relação com o fato observado.
Uma Questão de Valores
* Você
constrói o seu próprio sistema de ética com base no seu sistema de valores. O
que você considera certo e errado depende do que você define como tendo supremo
valor.
* Os
valores reais dizem respeito à alma imortal. A verdadeira ética gira em torno
destes valores, que são intangíveis, porque são permanentes. De outro lado, o apego
a valores materiais fabrica uma ética falsa, que consiste apenas em administrar
egoísmos.
* Todo
valor permanente tem a ver com a alma espiritual.
* A
sabedoria eterna e a ação correta expandem e inspiram uma à outra. Não pode
haver firmeza em nossos passos, a menos que haja autodisciplina.
* Todos
os dias a nossa vontade deve derrotar a preguiça, deixando de lado não só o
apego ao conforto, mas também a busca de mudanças de curto prazo e as esperanças
e os medos no plano imediato. Estes sentimentos não vêm da alma espiritual.
Pensar Naquilo que é Acertado
* Mesmo
enquanto fortalecemos a vontade e mantemos decisões com firmeza, devemos preservar
uma mente aberta, a humildade do coração, o calmo discernimento. Assim podemos
distinguir pouco a pouco a verdade.
* Meus
obstáculos são meus professores; devo aprender com eles.
* O
melhor modo de enfrentar os obstáculos é examiná-los de modo lúcido. É colocá-los
no contexto mais amplo do aprendizado da alma, e concentrar-me na prática da
visão correta, da compreensão correta, da contemplação inteligente, e da ação
adequada. Quando pensamos principalmente naquilo que é acertado, se atuarmos à
altura do pensamento, superaremos os erros.
* Em
torno de 2013, uma estudante de teosofia escreveu num caderno de anotações: “Uma
ausência de moderação é uma falta de respeito e de amor por si mesmo. O
propósito do indivíduo deve ser o de expandir o equilíbrio e expressar amor.” De
fato, um sentido de equilíbrio é necessário para o estudante de filosofia
esotérica lidar com os agudos contrastes produzidos pela vida. Autoconhecimento
gera autoconfiança, e a autoconfiança, no seu devido tempo, abre o caminho para
a moderação.
* A paz
e a ordem costumam andar juntas.
* Os
conflitos humanos podem ser vistos como sintomas de um déficit em ordem; a
desordem gera frustração e hostilidade.
* A
ordem, a cooperação e o conhecimento são necessários para que haja
produtividade. Estes três elementos formam um círculo virtuoso, e ele merece ser estudado. O conhecimento da
dinâmica das relações humanas produz uma percepção da unidade, da qual surge o
espírito de cooperação. O processo da cooperação sincera, por sua vez, abre a
porta para uma forma natural de ordem e para a paz durável.
* Tempo
e Energia são dois recursos naturais de grande valor. Usá-los de maneiras
sábias é uma ciência em si mesma, e constitui parte da arte de plantar aquilo
que desejamos colher.
Alargar Horizontes
* Enquanto
o horizonte do aprendiz é estreito e sua meta permanece limitada ao tempo de
curto prazo, um sentido de fracasso ensinará a ele a arte de alargar os
horizontes, e a ciência de buscar por um objetivo elevado e duradouro. E quando
o horizonte for largo e a meta for quase infinita, então as suas ações de curto
prazo terão mais importância porque farão parte de um contexto muito maior.
* Cada
ação que fazemos na vida, cada projeto posto em prática e cada ideia que
abrigamos, tendem a expandir um ou dois aspectos do nosso caráter. As ações
corretas criam um caráter correto, expandindo-o e fortalecendo-o, enquanto
mantêm tendências negativas à distância. Portanto a pergunta revolucionária é a
seguinte: “Será que estou fazendo o melhor que posso neste exato momento?”
* Devido
à lei do equilíbrio, cada passo na multiplicação do egoísmo e da ignorância ao
redor do mundo é compensado por uma igual quantidade de crescimento em
sabedoria; o qual, no entanto, pode permanecer “invisível” por algum tempo.
* Aquele
que julga ver mais ignorância que sabedoria nos tempos atuais deve lembrar: o
universo é governado pela Lei e os assuntos humanos não são uma exceção. O
ritmo da justiça não é o ritmo do erro; no entanto a Justiça é poderosa e o
erro não o é. A justiça é simetria, e a sua expressão inclui a lei do plantio e
da colheita. A vida é feita de movimentos ondulatórios. A justiça é um processo
dinâmico. Os seus acertos de contas se fazem no momento adequado de cada ciclo.
* A
calma concentração resulta de uma singularidade de propósito e de uma renúncia
a questões secundárias.
* Uma
movimentação lenta reúne magnetismo. A ansiedade é a mãe infeliz da rapidez e
da aceleração modernas. Lento é o crescimento de uma árvore e de uma floresta.
Rápida é a destruição. Não há pressa ao respirar durante a prática da Ioga; a
respiração superficial denota nervosismo. O tipo correto de calma pode ser tão
rápido quanto o relâmpago, enquanto a pressa parece movimentar-se muito - mas
não leva a lugar algum.
* Sinceridade
e boa vontade são universalmente aceitas, em teoria. Todos gostam delas,
enquanto elas não questionam a opinião pessoal, a rotina dos pensamentos e o
conforto dos sentimentos favoritos. A falsidade, por outro lado é elegante,
superficialmente bonita ao primeiro olhar, e sobretudo - politicamente correta.
* Embora
os frutos da hipocrisia sejam amargos e produzam desastres, os seus resultados
de curto prazo são com frequência agradáveis, especialmente no caso das pessoas
tolas o suficiente para viver de aparências e sem pensar por si mesmas. Por
estas e outras razões, o caminho que leva à verdade é longo, estreito, íngreme,
inseguro, e é também o único caminho disponível na direção de uma real
existência.
A Lição Oculta
* A
beleza da vida está no seu caráter ilimitado. O bebê que nasce, a nova
compreensão que surge em nós e o Sol que se ergue pela manhã, todos falam de
renovação e transcendência. E no entanto a estabilidade também é parte da
beleza da vida. A relativa permanência das coisas é necessária para que possamos
entender a mudança das estações, e todos os outros tipos de mudança também.
* O
movimento deliberado da alma na direção do mais alto provoca um realinhamento
das camadas inferiores do carma do peregrino. Esta adaptação não é
necessariamente agradável nos seus procedimentos purificadores. A simetria
entre o mais alto e o mais baixo é inevitável. A firmeza e a transcendência são
dois fatores igualmente necessários, em cada nível de consciência do peregrino.
* As
falhas humanas não nos devem impedir de ver os fatos. Apesar de todas as formas
espetaculares de egoísmo, e não obstante as mais espalhafatosas expressões de
ignorância agressiva - tão numerosas hoje em dia - permanece ainda assim o fato
básico de que a compaixão, a amizade, os sentimentos amáveis, a confiança, a
confiabilidade, a boa vontade e a ajuda mútua impulsionam e sustentam a vida
por toda parte, em todos os tempos, e são onipresentes onde quer que haja seres
humanos. E nisso está uma lição oculta. Assim como normalmente as pessoas não
veem o ar que respiram, muitos também não percebem a atmosfera de solidariedade
em que os humanos vivem desde o momento em que nascem. A afinidade é invisível.
É quase secreta. É preciso acordar e abrir os olhos, antes de vê-la acontecendo
o tempo todo.
* Os
absurdos e a falta de bom senso que todos podem ver facilmente hoje em muitos
aspectos da sociedade são humildes expressões da lei universal. Porque a eterna
Lei do Equilíbrio afirma algo sobre a decadência que pode ser expressado de
muitas maneiras diferentes, e cuja ideia principal permanece a mesma: “Cada vez que o comportamento humano perde um
sentido de honestidade, de verdade e de beleza moral, as ações cegas e
irresponsáveis se espalham na comunidade. Até que um dia o bom senso é
recuperado, e então renasce a ponte oculta para a consciência celeste.”
Evitar Conclusões Impensadas
*
Quando alguém ou um grupo social perde contato com a ética dos níveis
superiores de consciência, o resultado imediato da queda é um sentimento de
orgulho e um exagero na autoconfiança. O indivíduo (ou coletividade) fica
eufórico e deixa de lado coisas como prudência e moderação.
*
Sempre que há uma aceleração cármica, torna-se mais necessário que o indivíduo
pense antes de agir, e examine devidamente os fatos, para só depois tomar
decisões.
* Em
tempos de grande agitação e impulsividade, cabe permanecer ligado ao que é
fundamental - e evitar conclusões impensadas.
* O
apego automático a aparências e circunstâncias é uma armadilha. O silêncio
interior e a independência diante de ideias coletivas adotadas instintivamente são
duas proteções eficazes para aquele que busca a verdade.
* A
questão a ser examinada pelo indivíduo de hoje não é se um progresso ético e um
crescimento em sabedoria são possíveis na comunidade humana. Porque a resposta
é “sim” para aqueles que fazem um esforço honesto nesta direção, e “não” para
aqueles que não o fazem. O medo, a preguiça e o desânimo preferem pensar
negativamente sobre o futuro humano.
* É
preciso ter real contato com a alma espiritual, para ver que o futuro é
luminoso e trabalhar para que ele aconteça sem perda de tempo. Precisamos
examinar, portanto, se temos consciência da nossa responsabilidade pelo destino
humano, e também se somos capazes de agir à altura.
* Quando
a paz vem até o peregrino, ele sente que é benéfico deixar de lado o apego a
posses pessoais. Ele compreende que sua eficiência é maior ao atuar no plano
das Causas, embora deste modo ele pareça estar fazendo pouco.
* Quando
a consciência se expande e se aprofunda o suficiente, o pensamento não é mais
considerado o principal meio de perceber a realidade. O indivíduo vê então que
a verdade e a amizade são dois aspectos da luz eterna, inseparáveis. A verdade
sem o amor é tão falsa como o amor sem a verdade, porque estes são nomes
diferentes para o mesmo fato. A alma pode ver antes de olhar, compreender antes
de pensar e terminar antes de começar.
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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 34” foi publicado como item independente em 11 de agosto de 2021. Uma versão inicial e anônima dele faz parte da edição de junho de 2017 de “O Teosofista”, pp. 12 a 16.
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em
língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há
uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
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Helena Blavatsky
(foto) escreveu estas palavras: “Antes
de desejar, faça por merecer”.
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