24 de abril de 2024

Efeitos do Estudo da Doutrina Secreta

 
A Leitura Atenta da Obra de Helena
Blavatsky  Pode Causar Uma Revolução Pessoal
  
Carlos Cardoso Aveline




O calmo estudo da obra “A Doutrina Secreta” (DS) é uma tarefa contemplativa e ao mesmo tempo envolve uma séria pesquisa pessoal. O esforço emprega todos os níveis de consciência e percepção do peregrino, incluindo a intuição não-pensada e o estudo com apoio dos mais diversos tipos de dicionários e obras de diferentes tradições orientais e ocidentais.

Não devemos, portanto, encarar o estudo da DS como se fosse uma leitura linear, através da qual “simplesmente reunimos informação e ficamos sabendo das coisas”.

A leitura em linha reta, superficial, limitada ao plano das palavras, é no entanto a mais frequente hoje, dado o despreparo e a desinformação do leitor médio.

Poucos procuram aprimorar o modo como pensam. Mesmo no movimento esotérico, temos mais papagaios falantes do que estudantes interessados em aprender. Não são muitos os que buscam pensar por si mesmos, com clareza.

Um dos maiores desastres sofridos pelo movimento teosófico durante o século vinte, por exemplo, foi a vontade de inúmeros teosofistas de agradar os meios acadêmicos, e o desejo deles de “parecer científicos”.

Abandonando a indispensável crítica teosófica à ciência moderna, numerosos teosofistas passaram a bajular acriticamente as universidades e os pequenos mundos acadêmicos. Assim passaram a fazer tentativas infantis de dar uma aparência de legitimidade às suas próprias concepções superficiais de filosofia esotérica.

As Misérias do Mundo Científico

Na verdade, a teosofia original não critica apenas a religiosidade dogmática.

Ela mostra as misérias da ciência acadêmica, que não são poucas. Com frequência a ciência convencional e materialista é tão dogmática quanto qualquer seita religiosa intolerante e os seus adoradores buscam sobretudo dinheiro e poder de um modo muito mal disfarçado.

Veja-se por exemplo o tamanho do esforço científico hoje voltado para a fabricação de armamentos convencionais, de armamentos atômicos, de armamentos biológicos,  e outras atividades igualmente voltadas para o lucro e o consumismo destituídos de ética.

Mesmo a psicologia e a medicina sofrem um grau importante de deturpação devido ao jogo dos interesses econômicos, que, como se sabe, nada têm de científicos, exceto como disfarce para parecerem legítimos. É lamentável ver o uso intenso de conhecimentos psicológicos e tecnológicos com o objetivo de promover a dominação mental de povos inteiros.

A busca da verdade não pode ser colocada a serviço de instituições burocráticas ou materialistas, sejam elas religiosas, tecnológicas ou científicas.

Buscar a verdade, ou ler a Doutrina Secreta, será eficiente se for uma função do nosso templo interno - e independente - situado silenciosamente em cada alma humana.

Deve haver audácia, e também modéstia. O trabalho precisa ser intenso, e também humilde.

O leitor que não tem uma completa paciência e a indispensável capacidade de concentração se decepciona em pouco tempo com a necessidade de tratar quase cada frase da DS, e certamente cada parágrafo, como um quebra-cabeças, um enigma, uma equação a resolver.

No estudo eficiente da DS, o peregrino não fica simplesmente sabendo disso ou daquilo no plano verbal.

Ele incorpora em sua alma, vivencialmente, uma certa percepção direta do cosmo e das suas eternidades, no plural.

Ele percebe que ele próprio, visto como espírito, faz parte das ondas e marés da vida cósmica universal. Ele acorda com cada novo manvântara e adormece com cada começo de pralaya. Ele habita diferentes globos e faz parte de raças materiais, mais densas que a humanidade atual, assim como de raças “pré-adâmicas”, não físicas, espiritualizadas.

Ele compreende alguma coisa dos diferentes tipos de tempo, da duração infinita e do espaço ilimitado. Ele sabe que a própria eternidade e a vastidão imensa estão sujeitas a algo como uma renovação cíclica, eternamente.

Neste processo, o estudante se desidentifica em relação ao mundo material denso, e passa a identificar-se com mundos sutis cujo espaço-tempo é “relativamente imenso” e quase completamente insondável.

O estudo da DS é, portanto, uma transformação lenta, simultânea, trabalhosa, dos mundos emocional, mental e espiritual do leitor.

Exige o máximo do intelecto do estudante, mas impulsiona também uma transformação do seu mundo concreto, assim como do seu espírito.

Ao estudar a DS, portanto, um primeiro passo é examinar se durante o estudo o leitor está integrado com os seus sentimentos. Em teosofia, o conhecimento que exclui emoções, intuições e pensamentos próprios não é conhecimento. É apenas a memorização superficial de palavras e ideias, atividade que caracteriza uma certa vaidade infantil, frequente em meios acadêmicos e até esotéricos.

Os sentimentos devem ser observados. Há orgulho pessoal por estar lendo uma obra tão importante? Existe uma pressa ansiosa de chegar ao fim da leitura? Há uma intenção subconsciente de mostrar erudição aos outros, graças a estes estudos? Haverá preguiça mental? Tudo deve ser observado com paciência, sabendo-se que com o tempo virão emoções mais maduras.  

A questão básica, portanto,  não é ler ou não ler a DS, mas como ler esta obra. A leitura vivencial e vivenciada é a leitura útil. A obra constitui um portal do caminho iniciático, ou seja, do caminho das Iniciações.

Toda bem-aventurança traz sofrimentos. O estudante precisa lidar com a dolorosa perda do mundo simples em que ele próprio vivia, antes de descobrir a bênção da filosofia esotérica.

A leitura é uma luta e muda o leitor. Ela expande a sua consciência, purifica a sua vida e transforma as suas prioridades. Ela o aproxima pessoalmente do cosmos num sentido vivencial direto.

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O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 24 de abril de 2024.  Uma versão inicial e ainda anônima de “Efeitos Práticos do Estudo da Doutrina Secreta” pode ser vista na edição de março de 2023 do periódico O Teosofista.

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Leia mais:





* A Doutrina Secreta, de Helena P. Blavatsky.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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22 de abril de 2024

Pensar - Desenvolva o Seu Espírito Crítico

 
Graças ao Raciocínio Correto, a Sua
Atividade Será Mais Lúcida e Eficiente
  
Jean des Vignes Rouges




Você sabe pensar corretamente, isto é, com lógica?

Você considera que esta pergunta é uma falta de respeito. No entanto, agora há pouco, você disse: “Fulano é um imbecil!” Este seu julgamento foi baseado em um estudo aprofundado da psicologia do “Fulano”? Claro que não! Aquele homem se permitiu ter uma opinião diferente da sua, ou o seu cabelo ruivo e o seu nariz torto desagradaram você, e isso foi o suficiente para desencadear a sua avaliação maldosa!

Será que isso é pensar corretamente? Evidentemente não.

Em outro momento, porque lhe disseram que um certo fato havia acabado de acontecer, você afirmou com veemência a realidade do acontecimento; depois, descobriu-se que não passava de uma mentira. Esta foi conduta de um homem razoável?

Vi você agir e pensar por pura imitação dos outros. Pelo fato de que os seus pais, as autoridades, “pessoas muito boas” ou os vizinhos agiam e pensavam de determinada maneira, você se conformava com a opinião geral.

Quantas vezes, depois de ler um só livro, um só jornal, sobre uma questão social, econômica, moral, você não declarou peremptoriamente: “Esta é a verdade!”

Em determinada situação, você adotou uma atitude feroz com grande convicção porque, segundo disse, era “uma questão de princípio”. Ora, este princípio era na verdade simplesmente um preconceito e uma ideia pronta sobre a qual nunca você tinha refletido.

E não preciso falar dos casos em que, por preguiça, por negligência ou indiferença, você se absteve de pensar corretamente. São tão numerosos!

Será necessário lembrar também das inúmeras situações em que uma determinada ideia ou possibilidade de ação lhe pareceu contrária aos seus interesses? Você então rejeitou a ideia como absurda, sem examiná-la mais profundamente, qualificando-a ainda como imoral, ridícula ou contrária à honra da pátria.  

Não conheço a sua vida íntima, por isso posso dizer, sem ferir a sua sensibilidade, que há quem ame uma mulher feia, estúpida e perversa e fica extasiado diante da beleza, da inteligência e da gentileza daquela que o cega. E nenhum homem pode ter a pretensão de que não é esse indivíduo.

Esta lista não pretende humilhá-lo, mas visa simplesmente fazê-lo compreender que, como todos os homens, você pensa que está usando a sua inteligência para perceber a verdade, quando, na realidade, são os seus hábitos, seus preconceitos, as suas simpatias, os seus ódios e seus apegos que se expressam sem qualquer preocupação com a lógica, e às vezes sem qualquer bom senso.

Isto traz alguns inconvenientes para você que deseja ter uma vontade forte, uma vontade inteligente, capaz de levá-lo ao sucesso; porque quem age raciocinando erradamente, ou deixando-se enganar pelos seus sentimentos, não entra em contato com a realidade, nem com a verdade; ele se movimenta num mundo de ficção e erro; ele mente para si mesmo, assim como mente para os outros; ele é um “caçador de borboletas”. Em suma, a sua vontade não pode ser eficiente.

Você deve treinar-se, portanto, para pensar corretamente, ou seja, para poder registrar os fatos tal como eles são e examiná-los sem preconceitos, submetendo-os a críticas agudas, sabendo interpretá-los com inteligência, tirando conclusões por meio de raciocínios cujo rigor lógico você verificou, e buscando provas claras, nítidas e convincentes das suas hipóteses. Deve recusar-se a se deixar levar por impressões e opiniões inspiradas pela paixão. Precisa rejeitar as teorias vagas e confusas, clarificar as suas decisões através de um conhecimento amplo, de um espírito sutil capaz de enxergar as nuances, e finalmente deve ter a coragem de reconhecer os seus erros.  

Parece fácil seguir este programa. Na realidade, ele é um convite ao atletismo espiritual. De fato, a prática de todas estas operações intelectuais supõe que já tenhamos superado a formidável barreira representada pela crença espontânea de que estamos na posse da verdade.

Veja quantas vezes - por fraqueza, por vaidade, preguiça, autoestima, ou ciúme, por necessidade de impressionar o público ou de enfurecer a sua sogra - você adota esta ou aquela opinião, ideia, atitude, e fica absolutamente convencido de “estar certo”. Levado pelo sentimento, ou pelo automatismo do seu pensamento, você proclama a sua boa-fé e o rigor absoluto das suas argumentações. Veja mais provas deste fenômeno nas opiniões expressas por um proprietário de imóvel e seu inquilino relativamente a uma lei de alugueis. Examine com que sinceridade cada um deles descreve a lei como uma “negação da justiça”, ou como “um ato de elevada sabedoria”, dependendo de se ela prejudica ou beneficia os seus interesses materiais.

Você compreende, deste modo, por que motivo é necessária às vezes uma extraordinária reserva de imparcialidade para julgar de modo correto e razoável: o processo pode questionar as mais sólidas certezas.

Você já ouviu algumas vezes - não é mesmo? - um perfeito imbecil falando asneiras com um orgulho presunçoso que lhe pareceu cômico ou irritante, conforme o caso. “Como é possível”, pensou você, “que alguém engane a si mesmo desta maneira?”

Você tem uma profunda certeza de que sempre terá, em relação a si mesmo, mais discernimento do que esse indivíduo?

A Coragem de Fazer Algumas Perguntas

Para se acostumar a pensar corretamente sobre “o verdadeiro” e “a realidade”, tenha a coragem - ou talvez o heroísmo - de se fazer de vez em quando perguntas como estas:

Acabei de renunciar a um empreendimento, a uma competição para alcançar um emprego, por uma questão de “gentileza de alma”, segundo eu disse. Não houve também timidez ou preguiça na minha desistência?

Creio que estou expressando a minha tenacidade ao continuar este projeto que depende do puro acaso. Isso não será prova de uma teimosia absurda?

Tive muito sucesso em determinada questão. Foi um prazer enorme. Sinto-me orgulhoso, considero-me um “sujeito bastante forte”, dotado de um discernimento a toda prova. Será que esta crença não me empurrará para uma aventura que terminará mal?

​ Durante uma competição, meu adversário fugiu de mim por covardia. Devo concluir disso que a minha coragem é inabalável?

Aquilo que eu considero em mim mesmo como “um nobre orgulho”, e “uma dignidade orgulhosa” não se assemelha, por acaso, à arrogância estúpida ou à vaidade estúpida que observo nos outros?

Acabo de passar por uma derrota, e expliquei-a aos outros e a mim mesmo alegando todo tipo de razões que tornam a situação mais fácil para a minha autoestima. “Arrumei” um pouco os fatos, atribuí a mim mesmo o bom papel, mencionei “inimigos amargos” e a “sorte contrária”. Será que essas explicações são consistentes com a realidade? Talvez seja melhor eu procurar as verdadeiras causas do meu fracasso. Eu aprenderia, com isso, uma lição valiosa.

Finalmente, em outras circunstâncias, force-se a pensar:

“Neste momento, estou-me deixando levar pela covardia, pela preguiça, e evito fazer um esforço para pensar. Estou errado, tenho que reagir!” Ou repita estas palavras: “Neste instante estou tomado pela raiva, pelo ódio, pela ambição, pela indignação, pelo amor, ou pelo medo; este estado mental não me permite discernir a verdade. Devo dominar esses sentimentos agitados para ajustar minhas ações à realidade, e não às ficções que o meu cérebro produz.”

Pensar corretamente, portanto, é ter força e coragem para superar a si mesmo.

“E também é uma espécie de suicídio”, diz você, tristemente. Exato! O exercício da razão inclui a obrigação de limitar uma parte da sua personalidade. Devemos sacrificar e esmagar com dúvidas e suspeitas, boa quantidade de sentimentos que seria agradável deixar em liberdade.

O Preço a Pagar Pela Vitória

Mas a conquista da verdade é obtida pagando este preço. Você tem que pagar por ela. Em compensação, você será capaz de compreender a realidade com mais força, e de lidar com ela de forma eficaz. Graças ao pensamento correto, você escapará dos erros e dos perigos aos quais os impulsos descontrolados, ou as rotinas paralisantes, o empurrariam. Você dominará até seus instintos e seus apetites. Assim a sua atividade, melhor esclarecida, será mais produtiva.

Porém, chegando ao fim desta análise, encontro de novo uma verdade que domina todas as outras: a necessidade de evitar os excessos, de respeitar o equilíbrio vital. Por isso apresso-me a acrescentar: a preocupação de pensar corretamente não deve se transformar em uma preocupação ansiosa em relação ao que é a verdade. A dúvida prévia e o pensamento crítico, quando se tornam uma mania, matam toda iniciativa. Devemos ter dúvidas para agir melhor, e não pelo prazer de analisar a nós próprios.

As perguntas que você se coloca, para tornar mais eficiente o seu instrumento mental de investigação e de raciocínio, devem visar, portanto, sobretudo as relações entre as coisas e os homens. O objetivo é compreender estas relações e não criar obstáculos artificiais à sua ação.

Porque devemos reconhecer a importância daquilo que os filósofos chamam de “mentiras vitais”. Nenhum homem pode viver sem alimentar em si mesmo esperanças que, na verdade, são inverificáveis. Elas são geradas pelas exigências da nossa natureza. Elas representam nossas maneiras de sentir, nossas necessidades profundas, a nossa personalidade. A razão e o pensamento crítico devem guiar estas forças, mas é preciso cuidado para não destruí-las.

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Jean des Vignes Rouges é o pseudônimo literário do militar e escritor francês Jean Taboureau (1879-1970).

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O artigo acima foi publicado como item independente nos websites da LIT no dia 22 de abril de 2024. “Pensar - Desenvolva o Seu Espírito Crítico” pode ser lido também na edição de fevereiro de 2024 de “O Teosofista”. O texto é parte do livro “Dictionnaire de la Volonté”, de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 319 pp., 1945, pp. 76-79. Veja o original em francês: “Penser - Développez Votre Esprit Critique”. A tradução é de Carlos Cardoso Aveline.

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Leia mais:






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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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19 de abril de 2024

O Teosofista - Abril de 2024

 




O artigo “Jesus, um Sábio do Deserto”, abre a edição de abril. Helena P. Blavatsky, a autora do texto, informa: “O reformador Nazareno recebeu sua educação nas moradas essênias”.

À página quatro temos o artigo “Livro Raro Faz Viagem no Tempo Antes de Chegar a Seu Destino”. 

A página cinco apresenta uma nota de Eugène Veuillot sobre a vida monástica dos essênios: “Antes dos Padres do Deserto”. Logo em seguida, um link chamando para “Fontes Orientais da Sabedoria Cristã - Um Estudo Comparado Sobre a Arte de Agir com Ética”.

Outros temas do Teosofista de abril:

* Disciplina Diária: O Paradoxo da Vontade Humana.

* O Mistério dos Templários - Link para o texto clássico de HPB.

* O Conhecimento Correto Derrota o Hábito de Viver na Subconsciência.

* Uma Lição de Roma Antiga - um Diálogo de Duas Moscas Durante a Chegada do Imperador.  

* Lições de Um Bicho-Preguiça - o Poder Revolucionário das Situações Tediosas.

* Ideias ao Longo do Caminho - a Vigilância, a Atenção e o Despertar Interior da Alma.

Com 21 páginas, o Teosofista inclui a lista dos itens publicados pelos websites associados nas semanas anteriores.

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A edição acima foi publicada dia 19 de abril de 2024.  

A coleção completa de “O Teosofista” está disponível nos websites associados.

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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.

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17 de abril de 2024

Lembrando que Jesus é um Judeu

 
O Respeito Mútuo é uma
Bênção em Escala Mundial
 
Carlos Cardoso Aveline
 
Visão parcial da pintura “Salvator Mundi”, de
Leonardo da Vinci, e a bandeira de Israel [Wikipedia em inglês]



Às vezes é fascinante olhar para a história humana desde o ponto de vista do primeiro objetivo do movimento teosófico, isto é, a construção de um núcleo da fraternidade universal que mantenha o devido respeito pelas diferenças humanas. O observador fica perplexo ao ver, por exemplo, o processo dinâmico do ódio supersticioso contra os judeus.

As coisas óbvias são facilmente esquecidas. Todos sabem que Jesus Cristo é judeu. A sua mãe, Maria, é judia. O marido de sua mãe, José, é judeu. Todos os discípulos diretos de Jesus eram hebraicos. Jesus nunca se voltou contra o seu povo. Jamais atacou Israel. Seus seguidores não se opuseram ao judaísmo, e tampouco rejeitaram as escrituras sagradas judaicas. Depois da crucificação de Jesus, os primeiros cristãos eram todos israelitas.

De acordo com a própria Bíblia cristã - que os cristãos pegaram emprestada do povo judeu, acrescentando a ela apenas o Novo Testamento - os judeus são o povo escolhido por Deus. Este ponto deveria ser suficiente para que os cristãos que acreditam em sua Bíblia sentissem um profundo respeito pelos judeus.

Deus é Judeu?

Ninguém nega o fato de que Jesus é um judeu, e a maior parte da cristandade alega que Jesus é Deus. Devemos portanto concluir que, para a maioria dos cristãos, Deus é Judeu. Este deveria ser um motivo para que todos os cristãos sentissem uma sincera admiração pelo povo de Israel.

De acordo com o judaísmo e a teosofia, no entanto, Jesus foi um grande sábio e não uma divindade, nem Deus. Alguns cristãos, como os Unitários, pensam igual. A teosofia rejeita imagens personalizadas da inteligência universal. Ela as vê como ideias simbólicas e poéticas, usadas como meio de referir-se à Lei Cósmica Eterna e a inteligências divinas que, na verdade, estão além da precária expressão verbal dos seres humanos.

Algumas pessoas podem ter raiva dos judeus com base num sentimento de inveja, porque a Bíblia afirma que eles são o povo eleito. Na verdade, a teosofia considera que um indivíduo eleito é aquele que escolhe a si mesmo para buscar a verdade, fazendo isso através do estudo e da prática da sinceridade em todas as situações. Cada nação deve escolher a si mesma e deixar que as outras escolham a si próprias; e todas as nações precisam aprender a viver em paz, juntas.     

O cristianismo nasceu como um movimento religioso judaico. Qual é a importância que o judaísmo tem tido para os cristãos, desde a idade média?  

A gratidão é uma virtude recomendada pelo cristianismo.

Ninguém pode negar o fato de que os cristãos em todo o mundo estudam as escrituras sagradas dos judeus, e fazem isso como se estes textos fossem seus próprios. No entanto, ao invés de agradecer aos judeus, a maior parte dos cristãos os tem perseguido e humilhado há pelo menos quinze séculos. Todos nós sabemos que odiar alguém contradiz expressamente os principais ensinamentos de Jesus Cristo, o sábio judeu que ensinava a paz.

Os fatos são claros. Desde que o cristianismo deixou de ser um movimento popular de base e se transformou numa religião imperial e Romana, as estruturas cristãs de poder passaram a perseguir os judeus. O ódio substituiu a gratidão, e o antissemitismo entrou em cena.

A Crucificação Coletiva dos Judeus  

Expulsos da sua terra, os judeus tiveram que se espalhar pelo mundo, e foram oprimidos e assassinados durante séculos. Em vários países, eles eram queimados em praça pública diante das mais altas autoridades, enquanto as suas escrituras sagradas eram sistematicamente destruídas. Em geral a perseguição era feita em nome de Jesus, o Mestre da Compaixão.

No Novo Testamento, Jesus é crucificado primeiro moralmente, depois no plano físico. Da mesma maneira a nação hebraica - o povo de Jesus - foi humilhada moral e fisicamente. Pode-se dizer que a nação do Cristo Messias foi toda ela crucificada no mundo cristão. O fato mostra a que ponto pode chegar a falta de lógica da ignorância humana. Ao mesmo tempo, a crucificação coletiva do povo judeu expande e fortalece a identidade espiritual interior de Jesus com os judeus.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas alemães fizeram um esforço sistemático para assassinar judeus indefesos até o último, se fosse possível. Esta seria a “solução final” para os criminosos liderados por Hitler. Mas a extinção do povo judeu não ocorreu: pelo contrário.

Os nazistas foram derrotados, pelo menos a nível militar. O povo judeu ergueu-se novamente. Em 1948, o estado moderno e independente dos judeus surgiu sob o nome de Israel. Tolerado pela ONU, foi aprovado e respeitado tanto pela Rússia como pelos Estados Unidos.

Depois disso, o antissemitismo agiu com criatividade e mudou de cara. “Já não se trata”, dizem os antissemitas, “de eliminar os judeus, mas apenas de eliminar Israel”, que, não por acaso, é a Terra dos Judeus. Desde 1948, as guerras contra Israel têm sido travadas, uma após a outra, em intervalos regulares de tempo. Os agressores foram quase sempre derrotados. Como resultado, o território de Israel tem crescido: a lei do carma está em vigor, e o que se planta se colhe. 

Os cidadãos que possuem bom senso não consideram necessário fingir para si mesmos que não sabem de um fato básico: a derrota do antissemitismo, e a aceitação fraterna do povo israelense vivendo em paz na sua terra ancestral, será uma grande bênção para a humanidade como um todo -; e mais especialmente para o cristianismo, que assim pode curar-se da hipocrisia, crescer em sabedoria e ajudar a melhorar o mundo todo, de dentro para fora.

Esta é uma bênção que já começou a acontecer em todo o planeta. Em número crescente, as igrejas e grupos cristãos percebem que são nada menos que irmãos dos judeus; que Israel também é a sua terra sagrada, e que as diferenças religiosas devem ser aceitas como parte da vida. Este poderá ser o primeiro passo para o cumprimento de uma profecia interessante, que mostra o judaísmo salvando o cristianismo do perigo. Eliphas Levy escreveu sobre isso no século 19: o tema é examinado em outro artigo. [1]

Enquanto isso, os desafios à paz e os sentimentos agressivos também se espalham. A fabricação de rancor, aparentemente proposital, ganha impulso. Muitas pessoas materialistas sentem agora uma espécie de euforia histérica ao ridicularizar todos os mecanismos de diálogo pacífico. A psicanálise - criada aliás por um judeu - poderia ajudar a tratar com sucesso muitas das pessoas que se afundam em sentimentos de ódio. 

Estão acontecendo fatos inspiradores que promovem a ajuda mútua entre diferentes países, religiões e civilizações. É verdade que os meios de comunicação social do Ocidente têm ignorado sistematicamente estes fatos, talvez por razões lucrativas. E, no entanto, a intensidade da cooperação fraterna entre judeus e não-judeus, e entre todos os grupos sociais ao redor do mundo, precisa crescer com rapidez. Não há razão para perder tempo. Cada ocasião é um momento adequado para despertar do pesadelo das ações doentias, que não obedecem a um sentimento básico de sensatez e boa vontade.  

NOTA:


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O texto “Lembrando que Jesus é um Judeu” foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 17 de abril de 2024. Trata-se de uma tradução de “Remembering that Jesus is a Jew”. O artigo original pode ser lido no blogue teosófico em “The Times of Israel”. A tradução ao português foi feita pelo autor.

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Leia mais:





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10 de abril de 2024

Ideias ao Longo do Caminho - 57

 
O Centro da Aura de um País
é Feito de Justiça e Equilíbrio
  
Carlos Cardoso Aveline
  
Moeda de um centavo emitida pelo governo do
Brasil em 1998, em homenagem a Pedro Álvares Cabral



* Quem possui verdadeiro conhecimento pensa devagar e usa as palavras com cuidado. O indivíduo sensato tira lições dos seus fracassos e procura corrigir seus erros.

* Aquele que não dispõe de bom senso, por sua vez, prefere lançar opiniões professorais sobre tudo e qualquer coisa. O desinformado projeta a sua própria ignorância sobre seus semelhantes. Quer convencer a si mesmo e aos outros de que possui um conhecimento muito superior.

* Os estudantes socráticos e buscadores da verdade tentam, em primeiro lugar, não iludir a si próprios. Eles costumam dizer: “Eu só sei que sei muito pouco, quase nada.” Evitar a ilusão pessoal é importante: a humildade permite que o estudante seja capaz de aprender e olhar para o alto, na direção da fonte sagrada que flui em seu interior.

* A garantia da vitória, e da clareza de rumo, está em ouvir bem a voz da consciência. A coerência aos olhos do mundo é menos importante que ser leal aos conselhos da alma. A tarefa da disciplina consiste em manter o ritmo e evitar a dispersão.

* Se fosse fácil, a disciplina da caminhada não teria grande valor. Quando a sociedade ao seu redor coleciona crises enquanto cultua a pressa e a ansiedade, você precisa ter uma boa dose de firmeza na decisão de manter a paz na vida diária.

* A causa dos testes e provações está na necessidade de eliminar os processos da ingenuidade, da desatenção, e do apego ao conforto de curto prazo. Fortalecer a alma é uma tarefa inevitável, e isso se faz enfrentando desafios.

* As civilizações têm os seus próprios carmas. Cada vez que uma sociedade se desliga ou esquece do processo de evolução e aprendizagem da alma, esta “perda de memória” e de interesse pelo mundo espiritual trará as lições correspondentes, que nem sempre são agradáveis e em alguns casos podem ser bastante amargas. Mas a porta para a regeneração individual e coletiva está sempre aberta diante de todos.

* O instante contém a eternidade. Qualquer minuto, em quaisquer circunstâncias, é o momento certo para reafirmar o contato com a paz em nosso interior.

O Centro da Aura

* Todo ser e todo país têm uma aura, e a aura está organizada em torno de um centro.

* O centro da aura funciona como uma espécie de Sol. Ele irradia e organiza as energias de um determinado campo energético. O ponto central da aura é encontrado através da justiça e da simetria. Todos os pontos do círculo amplo que rodeia o Centro devem guardar dele uma distância proporcional à natureza de cada um. Isso simboliza o fato de que todos são iguais perante a Lei do plantio e da colheita, e diante da lei das forças magnéticas.

* O centro da aura funciona através de Justiça e Equilíbrio.

* Na ausência de justiça em assuntos que se referem ao centro da aura, o organismo inteiro sofre os desequilíbrios correspondentes. Disso surge a necessidade de um indivíduo ser justo e grato em relação a seus pais, em relação a seu eu superior, e aos outros seres. Por esse motivo, entre outros, cada país deve agir com justiça em relação a seus fundadores e seus líderes do passado.

* Está disponível nos websites associados o livro “Pedro Álvares Cabral”, de Metzner Leone. Sua publicação é um pequeno gesto da Loja Independente de Teosofistas para ajudar a colocar o centro da aura do Brasil no seu devido lugar. O livro de 522 páginas faz justiça a Cabral. Foi publicado em papel em Lisboa, em 1968, para celebrar os 500 anos de nascimento do navegador, ocorrido em 1468 ou 1467.[1] 

* A obra foi publicada online em 2020 para celebrar os quinhentos anos da conclusão da vida inspiradora do pioneiro português. Pedro Álvares morreu isolado e esquecido, em 1520. Mas o seu exemplo de integridade e grandeza interior ainda nos acompanha, e nos acompanhará no futuro.

NOTA:

[1] A respeito do ano de nascimento do navegador, veja a p. 42 da obra “Pedro Álvares Cabral”. O dia e o mês de nascimento são discutidos na página 57, inclusive nota de rodapé.

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Sobre a ideia de centro da aura, veja também o texto de capa da edição de outubro de 2019 de “O Teosofista”.

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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho - 57” foi publicado como item independente em 10 de abril de 2024. Uma versão inicial e anônima pode ser vista na edição de abril de 2020 de “O Teosofista”, pp. 10-11.  

Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos do autor. Desde 2018 a série “Thoughts Along the Road” está sendo publicada também em espanhol sob o título de “Ideas a lo Largo del Camino”.

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Leia mais:






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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 

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