2 de julho de 2014

A Arte de Compreender o Tempo

Um Exame da Nossa Relação com a Eternidade

Carlos Cardoso Aveline




O que nós conhecemos como momento presente não está separado do tempo eterno. Não há coisa alguma isolada no universo. Estamos rodeados pelas sombras de acontecimentos passados e futuros, e elas nos influenciam de muitos modos. Tais imagens serão chaves eficazes para a felicidade, se desenvolvermos modos inteligentes de olhar para elas.

Verdadeiras ou falsas, imprecisas ou bem delineadas, as sombras do que ocorreu e do que pode acontecer habitam nossa alma e nossa consciência. Elas contêm lições e potencialidades ilimitadas, porque a vida é cíclica e aquilo que existiu voltará a surgir de maneiras renovadas.

Para aquele que busca aprender, as sombras dos acontecimentos passados e futuros devem estar permeadas pela luz da razão, para que não sejam demasiado opacas. Quando as  sombras de momentos diferentes no tempo são densas, elas ameaçam a chama criativa do instante presente. O aspecto mais importante do nosso Carma é esta Chama: seu brilho significa que estamos sempre plantando novo carma, e nisso a escolha é nossa.

A sabedoria que permite compreender o tempo é uma arte em si mesma, e é tão contemplativa quanto prática. Há possibilidades ilimitadas na expansão do nosso conhecimento sobre o passado, o presente e o futuro, assim como nas sementes de liberdade oferecidas por estes três aspectos da Duração.

Quando adotamos uma visão mais ampla da Vida, o progresso na direção da vitória sai da sua fase preliminar e ganha força e impulso. À medida que compreendemos nossas derrotas prévias e nos tornamos responsáveis hoje por nossos sonhos e imagens em relação ao futuro, a preparação para um progresso maior se acelera.

A vitória real começa com o desapego em relação aos fatores que não são essenciais. Em qualquer época há dias fáceis na vida e também dias difíceis. É sábio ter humildade em relação às coisas agradáveis que o carma oferece, e viver com coragem e paciência as situações dolorosas.

O sofrimento passa, as suas lições permanecem. Um sentimento de gratidão pelas oportunidades de aprendizado capacita o peregrino para ver a vida como um todo. O ato de agradecer faz com que ele perceba que o nosso planeta é uma grande sala de aula para todos os seres que vivem nele.

No entanto, a dinâmica da vida é probatória. Quem começa a caminhar para uma meta nobre e buscar a sabedoria do altruísmo, logo compreende que progredir significa enfrentar vários tipos de perigo. Mas o peregrino também dispõe de diversas espécies de proteção. Entre elas se destacam a pureza das intenções e a prática diária da sabedoria universal.

A Estrada do Peregrino é o Tempo 

Mais do que caminhar pelo espaço, o peregrino caminha ao longo do tempo.

Saber disso implica aceitar o fato de que a vida humana se renova sem parar em cada um dos seus aspectos. O caminho que percorremos é o Tempo, e, em última instância, o Peregrino é o nosso eu superior ou alma espiritual.

Já que toda vida experimenta silenciosamente uma transmutação constante, nenhum peregrino pode ter expectativas de uma rotina muito estável em sua existência pessoal. Ele precisa estar sempre alerta, e a vigilância é apenas uma das lições a aprender enquanto caminha ao longo da estrada.

Não só a paisagem da consciência humana muda, mas cada um dos fatores presentes nela também muda. Toda existência é transitória. O tempo faz com que velhas estruturas caiam sob seu próprio peso ou sejam deixadas de lado, na vida social e na alma de cada um. Para substituí-las, deve-se construir realidades melhores começando pelo plano abstrato e levando em conta que tudo é cíclico. É preciso primeiro plantar, depois proteger aquilo que foi semeado, perseverando durante o tempo necessário até que a colheita possa ocorrer.  

A tarefa principal é aprender, observar, compreender. As ações cegas são piores que inúteis, mas elas deixam de ser cegas quando abrimos os olhos e aceitamos aprender com os erros. Devemos dizer não às ilusões agradáveis e às formas atraentes de deixar a ética de lado. As armadilhas mais bonitas são as piores.

É um dever do peregrino concentrar a mente e suas ações no centro da vida, evitando atribuir demasiada importância às imagens passageiras do mundo dos efeitos e da aparência.

A verdade permanece ao longo do tempo: o que é falso se desmancha no ar.  À medida que a roda da lei e da vida se movimenta na transição para um novo ciclo, o seu centro se mantém imperturbado.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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