7 de maio de 2015

A Verdadeira Amizade

Para Voltaire, a Amizade é Inseparável da Sabedoria

Carlos Cardoso Aveline




Às vezes a palavra “amizade” é usada de modo tão vago que não sabemos o que ela significa de fato para esta ou aquela pessoa.

O filósofo iluminista francês François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, escreveu o seguinte:  

“Amizade é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque um monge, um solitário, pode não ser ruim e viver sem conhecer a amizade. Virtuosas, porque os maus não buscam mais que cúmplices. Os sensuais buscam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantêm relações. Os príncipes têm cortesãos.    Só os virtuosos possuem amigos.” [1]   

Assim, na realidade, amigo não é cúmplice e não é comparsa.

Quem engana os outros deve procurar ser um pouco mais inteligente e fazer um autoexame honesto para ver-se livre deste problema, porque está, seguramente,  enganando sobretudo a si mesmo. Pretender ser mais esperto que os outros é prova de uma deficiência mental profunda, mal disfarçada pela astúcia de curto prazo.  A mentira, ainda que supostamente “bem-intencionada”, faz o mentiroso perder a noção de realidade.

A base inevitável da sinceridade é o autoconhecimento. Só se pode ser amigo dos outros sendo, antes, amigo de si mesmo e do seu próprio eu superior.  Em sua origem, a palavra “filosofia” significa “amor à sabedoria”, e Voltaire acrescenta: 

“O filósofo é um amigo da sabedoria, ou seja, da verdade. Esse duplo caráter esteve presente em todos os filósofos. Não houve nenhum na Antiguidade que não desse exemplo de virtude aos homens e lições de verdades morais.” [2]            

Não é por acaso que o lema do movimento teosófico afirma: “não há religião mais elevada que a verdade”.  

A amizade é um privilégio exclusivo dos que dizem a verdade tal como a percebem. Para a prática da fraternidade universal - grande meta da evolução humana - cada um deve reaprender a ser sincero com todos  os outros.  

NOTAS:

[1]Dicionário Filosófico”, Voltaire, Ed. Martin Claret,  p. 23.

[2] “Dicionário Filosófico”, p. 232.


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