21 de novembro de 2015

O Otimismo e a Filosofia Esotérica

A Teosofia Original Ensina a Confiar no Futuro

Carlos Cardoso Aveline

O otimismo teosófico surge de uma percepção correta do universo



A ética não pode ser estimulada com eficiência através de mera propaganda. Os comportamentos sutilmente desonestos são sintomas de um processo psicológico que deve ser compreendido.  A atitude egoísta diante da vida - frequentemente disfarçada sob aparências “espirituais” - é uma forma de cegueira desnecessária.

Na ausência de uma visão correta de futuro, o comportamento humano é dominado por uma busca de satisfações de curto prazo.  Problemas como crise ética, apego a rotinas, dispersão mental ou uma luta exagerada pelo poder estão associados à ausência de uma percepção adequada do futuro. Eles surgem porque não há uma compreensão do mistério do Tempo e do Carma.

A teosofia ensina que a vida pode e deve ser renovada a todo momento, individual e coletivamente. O renascimento interior é sempre possível. Quando o indivíduo e a comunidade veem as causas do sofrimento, a compreensão substitui a dor. A fonte central das aflições é a ignorância. Um projeto de vida correto é inseparável de uma clara percepção do tempo cíclico de longo prazo, incluindo o processo da reencarnação.

O passado, o presente e o futuro devem ser reconhecidos como aspectos diferentes de uma só Duração Ilimitada.  O tempo é eterno e indivisível. Quando isso é percebido, a lei do carma pode ser compreendida e a doença do egoísmo encontra a sua cura no interior da alma. O aprendiz deve erguer-se acima das trivialidades pessoais. Então a sua visão de futuro se torna estimulante outra vez,  o propósito da vida fica claro, as suas potencialidades positivas se tornam visíveis, o  egoísmo não faz sentido, e o desânimo e a dispersão mental parecem não ter existido jamais.  

Otimismo e Felicidade

A questão do otimismo em teosofia é fundamental, porque o significado da palavra “otimismo” é  confiança no futuro,  e o movimento teosófico existe, precisamente, para preparar um futuro melhor.

Toda verdadeira filosofia oferece a seus estudantes um caminho para a felicidade através do conhecimento do universo e do autoconhecimento. A teosofia não é uma exceção, e a sua visão de mundo é prática. O otimismo teosófico surge quando se compreende que a felicidade interior é um resultado natural do ato de viver corretamente.

Aquele que alcança um real conhecimento da lei da vida tem motivos sólidos para confiar no futuro, porque aprende a plantar o que deseja colher.  Um antigo ditado recomenda:

“Plante uma ação, e colherá um hábito;
Plante um hábito, e colherá um caráter;
Plante um caráter, e colherá um destino.” [1]

O Caminho do Nirvana

O nobre óctuplo caminho ensinado por Gautama Buddha é o caminho para a felicidade ou nirvana. A teosofia só pode ser descrita como um caminho de sacrifício do ponto de vista do eu inferior, cujo mundo é ilusório.

O sofrimento é parte da vida porque a vida implica ilusão. Dukkha, dor ou aflição, é a primeira nobre verdade do Budismo. Ela deve ser vista logo no início, porque a sua correta compreensão é o ponto de partida no Caminho da bem-aventurança.   

A filosofia esotérica não ensina apenas que para cada dor há uma lição, e frequentemente mais de uma. Ela também afirma que o aprendizado pode ser feito de modo consciente. Para viver com os olhos abertos, basta buscar sinceramente pelas Causas do sofrimento. No verdadeiro otimismo não há uma idealização emocional. A confiança no futuro requer atenção.  A vigilância é o preço a pagar pelo discernimento, e o discernimento é a base da sabedoria e da felicidade.

Quando conhecemos o modo como a Vida funciona, percebemos que é possível confiar nela. O otimismo ensina a confiança em si mesmo e permite ao indivíduo preservar a sua felicidade interior apesar dos desafios.   

Nenhuma dor é mais intensa que a lição ensinada por ela. A aflição humana não pode superar a bênção que a compensará em seu devido tempo.  Um Mestre de Sabedoria escreveu: 

“A natureza tem um antídoto para cada veneno, e suas leis possuem uma recompensa para cada sofrimento. A borboleta devorada pelo pássaro se torna aquele pássaro, e o pequeno pássaro morto por um animal alcança uma forma mais elevada. Essa é a lei cega da necessidade e da eterna adequação das coisas...” [2]

É verdade que o otimismo filosófico parece excessivamente severo para as mentes superficiais. Sendo profundo, ele não está preso ao plano das aparências. A confiança transcendente no futuro é uma fonte essencial daquela visão da vida que sustenta, por exemplo, o autossacrifício de longo prazo. É preciso ter um verdadeiro otimismo para dedicar sua existência a um ideal elevado, deixando de lado o apego ao conforto pessoal. E deve-se levar em conta que a verdadeira teosofia não é um anestésico. Ela elimina gradualmente a causa, e não apenas os sintomas, da dor humana.

Uma fonte decisiva de otimismo está na relação direta que há entre o indivíduo e o universo como um todo. A sabedoria antiga afirma que cada alma humana possui uma estrela inspiradora no céu, e um clássico teosófico acrescenta:

“Quando tiveres encontrado o começo do caminho, a estrela da tua alma mostrará sua luz; e por esta luz perceberás como é grande a escuridão em que ela brilha. (...) Não fiques assustado nem aterrorizado por esta visão; mantém os teus olhos fixos na pequena luz e ela crescerá. (...) Então tu começarás a compartilhar de um contentamento que traz, de fato, um trabalho terrível e uma profunda tristeza, mas também provoca uma satisfação grande, e cada vez maior.” [3]

Otimismo, em filosofia esotérica, não é alguma esperança ingênua. Ele surge da capacidade de compreender a vida infinita e de manter-se em harmonia com ela independentemente das circunstâncias externas. Todos os seres e situações existem no território da lei universal, e a chave da felicidade está em obter, por mérito próprio, uma ligação consciente com o que é ilimitado. 


NOTAS:

[1] De um artigo intitulado “The Genesis of Evil in Human Life”, assinado por “I” e publicado na revista “Lucifer”, de Londres, edição de janeiro de 1889, pp. 373-378. A palavra “Lúcifer” significa “portador da luz”. É um nome da antiguidade para o planeta Vênus, a “estrela do amanhecer”. Desde a idade média, no entanto, o termo foi distorcido por teólogos desinformados e usado para justificar a tortura e o assassinato de pessoas - em nome de Jesus Cristo - por parte da igreja católica. Felizmente, desde o século 20 a igreja católica já não se atreve mais a matar e torturar pessoas.

[2] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, dois volumes, ver Carta 88, volume II, p. 60.

[3] “Luz no Caminho”, de M. C., tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, 85 páginas. A obra foi publicada em 2014 por The Aquarian Theosophist. Ver pp. 26-27.

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O texto acima corresponde a um capítulo da obra “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline (The Aquarian Theosophist, Portugal, 2013, 255 pp.) Título: “Optimism in Esoteric Philosophy”.

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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.


A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de  2013 por “The Aquarian Theosophist”. 

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