O Sistema de Trabalho dos Teosofistas
Helena P. Blavatsky
Helena P. Blavatsky
Helena Blavatsky em seu
escritório em 1887
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Nota
do Tradutor:
Edição original: “The Key to
Theosophy”,
Theosophical Publishing
Company, London,
and W. Q. Judge, New York, 1889,
310 pp.
O presente capítulo terceiro foi traduzido
ao português a partir da edição fac-similar
da edição original de 1889, publicada pela
Theosophy Co., em Los Angeles, EUA, em 1987.
Todas as notas numeradas são de H.P. Blavatsky,
a menos que se indique expressamente sua autoria.
A Sociedade Teosófica original, a que se refere
a obra, deixou de existir na década de 1890. Desde
então tem havido uma pluralidade de sociedades e
associações teosóficas independentes. Portanto,
onde se lê “Sociedade” e “Sociedade Teosófica”,
deve-se ler “movimento” e “movimento teosófico”.
(Carlos Cardoso Aveline)
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III
O Sistema de Trabalho da S. T.
OS OBJETIVOS DA SOCIEDADE
PESQ.: Quais são
os objetivos da Sociedade Teosófica?
TEOS.: Eles são
três, e foram três desde o início. (1) Formar o núcleo de uma Fraternidade
Universal da Humanidade, sem distinção de raça, cor ou crença. (2) Promover o estudo de escrituras, arianas
e outras, das religiões e ciências do mundo, e valorizar a importância da
literatura asiática antiga, isto é, das filosofias bramânica, budista e
zoroastrista. (3) Investigar os mistérios ocultos da Natureza, sob todos os
aspectos possíveis, e especialmente os poderes psíquicos e espirituais latentes
no homem. Estes são, falando em termos gerais, os três principais objetivos da
Sociedade Teosófica.
PESQ.: Você pode
dar uma informação mais detalhada sobre eles?
TEOS.: Podemos
dividir cada um dos três objetivos em tantos itens quantos forem necessários.
PESQ.: Então vamos
começar pelo início. Que meios vocês usam para promover este sentimento de
fraternidade entre raças que têm, reconhecidamente, as mais diversas religiões,
crenças, costumes e modos de pensamento?
TEOS.: Permita-me
acrescentar aquilo que você parece não querer expressar. Naturalmente nós
sabemos que, com a exceção de dois povos remanescentes de raças anteriores - os
parses e os judeus – cada nação está dividida não só contra todas as outras
nações, mas inclusive em relação a si mesma.
Isso ocorre de modo extremamente claro entre as chamadas nações
civilizadas cristãs. Portanto, você se pergunta por que motivo o nosso primeiro
objetivo lhe parece algo como uma Utopia. Não é assim?
PESQ.: Bem, é
verdade; mas o que você tem a dizer em relação a isso?
TEOS.: Não tenho
nada contra o fato em si, mas há muito a dizer sobre a necessidade de remover
as causas que hoje tornam a Fraternidade Universal uma Utopia.
PESQ.: Quais são, a seu ver, estas causas?
TEOS.: Em primeiro
lugar, o egoísmo natural do ser humano. Este egoísmo, ao invés de ser
erradicado, é fortalecido a cada dia e estimulado pela educação religiosa
atual, até que se torna um sentimento feroz e irresistível. A educação
religiosa tende não só a encorajá-lo, mas a justificá-lo. As ideias populares
sobre o que é certo e errado foram inteiramente pervertidas pela interpretação
literal da bíblia judaica. Todo o
inegoísmo dos ensinamentos altruísticos de Jesus tornou-se apenas um assunto
teórico para a oratória no púlpito; enquanto que os preceitos de egoísmo
prático ensinados na bíblia mosaica, contra os quais Cristo pregou tão
inutilmente, ficaram enraizados na vida interna das nações ocidentais. “Olho
por olho, dente por dente” tornou-se o princípio primordial da sua lei. Da
minha parte, eu digo abertamente e sem medo que a perversidade desta doutrina -
e de tantas outras - é algo que somente a
Teosofia pode erradicar.
A ORIGEM COMUM DO HOMEM
PESQ.: Como?
TEOS.:
Simplesmente demonstrando, com argumentos lógicos, filosóficos, metafísicos e
mesmo científicos, que: (a) Todos os homens têm a mesma origem espiritual e
física, o que é o ensinamento fundamental da Teosofia; (b) Como a humanidade
tem basicamente a mesma essência, e esta essência é una, infinita, não-criada e
eterna - quer a chamemos de Deus ou de Natureza - nada, portanto, pode afetar uma nação, ou um
homem, sem afetar todas as outras nações e todos os outros homens. Isso é tão
seguro e tão óbvio quanto o fato de que uma pedra lançada a um tanque de água
colocará em movimento, cedo ou tarde, cada gota d’água que há nele.
PESQ.: Mas este
não é o ensinamento do Cristo, e sim uma noção panteísta.
TEOS.: É aí que
você se engana. A noção é puramente cristã,
embora não judaica, e, portanto,
talvez as suas nações bíblicas prefiram ignorá-la.
PESQ.: Esta
acusação é geral e injusta. Quais são as provas que você tem para embasar esta
afirmação?
TEOS.: Elas estão
à disposição. Afirma-se que Cristo disse: “Amem-se uns aos outros” e “Amem seus
inimigos”, porque “se vocês amarem (apenas) aqueles que amam vocês, que
recompensa (ou mérito) vocês terão? Até mesmo os publicanos [1] não fazem
o mesmo? E se vocês saúdam somente os seus irmãos, o que fazem a mais que os
outros? Até mesmo os publicanos não fazem isso?” Estas são as palavras de Cristo. Mas o
Gênesis, 9:25 diz: “Maldito seja Canaã, que seja servo dos servos a seus
irmãos.” E, portanto, os povos cristãos, mas bíblicos, preferem a lei de Moisés
à lei do amor de Cristo. Eles se baseiam
no Velho Testamento, que justifica todas
as suas paixões, as suas leis de dominação, de anexação e de tirania sobre raças que eles chamam de inferiores. Só a história nos dá uma ideia, ainda que
inadequada, sobre quantos crimes têm sido cometidos com base nesta passagem
infernal do Gênesis (se encarada em sua letra morta). [2]
PESQ.: Escutei vocês dizerem que a identidade da
nossa origem física é provada pela ciência, e que a identidade da nossa origem
espiritual é provada pela Religião da Sabedoria. No entanto não vemos os
darwinistas mostrando um grande afeto fraternal.
TEOS.: Exato. Isso
mostra a deficiência dos sistemas materialistas, e mostra que nós, os
teosofistas, estamos certos. A
identidade da nossa origem física não evoca os nossos sentimentos mais elevados
e mais profundos. A matéria, destituída de sua alma e espírito, ou sua essência
divina, não pode dizer nada ao coração humano. Mas a identidade da alma e do
espírito, do homem real e imortal, tal como a teosofia nos ensina, uma vez
comprovada e profundamente estabelecida em nossos corações, nos levaria a
percorrer rapidamente o caminho da verdadeira compaixão e da boa vontade
fraterna.
PESQ.: Mas como a teosofia explica a origem comum do
homem?
TEOS.: Ensinando que a raiz de toda a natureza, objetiva e subjetiva, e de tudo o mais no
universo, visível e invisível, é, foi
e será sempre uma essência absoluta,
de onde tudo começa, e à qual tudo retorna. Essa é a filosofia ariana,
plenamente representada só pelos vedantinos e pelo sistema budista. Com este
objetivo em vista, o objetivo de todos os teosofistas é promover de todas as
maneiras práticas, e em todos os países, a propagação da educação não-sectária.
PESQ.: Nos
estatutos escritos da sua Sociedade, os seus membros são aconselhados a fazer o
quê, além disso? Me refiro a ações no plano físico.
TEOS.: Para
despertar o sentimento de fraternidade entre as nações, devemos ajudar no
intercâmbio internacional de artes e produtos úteis, através de conselhos, de
informações e de cooperação com todos os indivíduos e associações de mérito
(com a condição, no entanto, acrescentam os Estatutos, “de que nenhum lucro ou
porcentagem seja retirado pela Sociedade ou pelos membros como compensação
pelos seus serviços corporativos”). Como
exemplo, vejamos uma situação prática. A organização da Sociedade descrita por
Edward Bellamy em sua magnífica obra “Looking Backwards” [“Daqui a Cem Anos –
Revendo o Futuro”, Ed. Record, RJ] representa admiravelmente a ideia teosófica
do que deveria ser o primeiro grande passo na direção da realização completa da
fraternidade universal. O estado de coisas que ele descreve não é perfeito,
porque o egoísmo ainda existe e opera nos corações humanos. Mas, em termos
gerais, o egoísmo e o individualismo foram vencidos pelo sentimento de
solidariedade e pela fraternidade mútua, e o esquema de vida descrito na obra
reduz a um mínimo as causas que tendem a criar e promover o egoísmo.
PESQ.: Então, como teosofista, você participa de um
esforço para realizar este ideal?
TEOS.: Certamente,
e nós temos comprovado isso pela ação. Você não ouviu falar dos clubes e do
partido nacionalista que surgiram na América do Norte desde a publicação do
livro de Bellamy? Eles agora estão vindo à frente com destaque, e o farão mais
e mais à medida que passar o tempo. Bem, estes clubes e este partido foram
criados inicialmente pelos teosofistas. Um dos primeiros, o Clube Nacionalista
de Boston, Massachusetts, tem teosofistas como presidente e secretário, e a
maior parte da sua direção pertence à S. T.
Na constituição de todos os seus clubes, e do partido que eles estão
formando, a influência da teosofia e da Sociedade é plena, porque todos eles tomam como sua base, como
seu princípio primeiro e fundamental, a Fraternidade da Humanidade tal como
ensinado pela teosofia. Em sua
declaração de princípios, eles afirmam: “O princípio da Fraternidade da
Humanidade é uma das verdades eternas que conduzem o progresso do mundo por
linhas que distinguem a natureza humana
da natureza dos animais.” O que poderia
ser mais teosófico do que isso? Mas não é o suficiente. Também é necessário
conscientizar os homens de que, se a raiz da humanidade é uma, então também deve haver uma verdade que encontra expressão em
todas as várias religiões - exceto a judaica, já que você não a encontra expressa nem mesmo na Cabala.
PESQ.: Isso se refere à origem comum de todas as
religiões, e você pode estar certo nesse ponto. Mas como se aplica este
princípio à fraternidade prática no plano físico?
TEOS.: Primeiro,
porque o que é verdade no plano metafísico deve ser verdade também no plano
físico. Segundo, porque não há fonte mais fértil de ódio e conflito do que as
diferenças religiosas. Quando uma ou outra crença pensa que é a única
proprietária da verdade absoluta, torna-se algo natural pensar que os outros
estão sob o domínio absoluto do Erro ou do Demônio. Porém quando o homem perceber que nenhuma
crença tem toda a verdade, mas que
todas elas são mutuamente complementares, e que a verdade completa só pode ser
encontrada através de uma visão combinada de todas elas, depois que aquilo que
for falso em cada uma delas tiver sido eliminado - então a verdadeira
fraternidade religiosa será estabelecida. O mesmo ocorre no plano físico.
PESQ.: Explique
isso melhor, por favor.
TEOS.: Vejamos um
exemplo. Uma planta consiste de uma
raiz, um caule, e muitos galhos e folhas. A humanidade, como um todo, é o caule
que cresce a partir da raiz espiritual, e o caule significa também a unidade da
planta. Quando se fere o caule, é óbvio que cada galho e cada folha irá sofrer.
O mesmo ocorre com a humanidade.
PESQ.: Sim, mas se
você fere uma folha ou um galho, você não fere toda a planta.
TEOS.: E por isso
você pensa que, ao ferir um homem,
você não fere a humanidade? Mas como você
sabe? Você tem consciência de que, segundo até mesmo a ciência materialista, qualquer
ferimento em uma planta, mesmo leve,
afetará toda a trajetória do seu crescimento e do seu desenvolvimento futuros?
Portanto, você está errado, e a analogia é perfeita. Se, no entanto, você
deixar de lado o fato de que um corte em um dedo pode frequentemente fazer com que todo o corpo sofra, provocando reações
em todo o sistema nervoso, eu terei de lembrá-lo de que talvez haja ainda
outras leis espirituais, operando sobre as plantas, os animais e a humanidade,
embora, como você não reconhece a ação delas sobre as plantas e os animais,
você possa negar a sua existência.
PESQ.: A que leis você se refere?
TEOS: Nós as chamamos de leis cármicas, mas você
não entenderá todo o significado da expressão a menos que estude Ocultismo. No
entanto, o meu argumento não se apóia sobre a premissa destas leis, mas na
analogia da planta. Expanda a ideia, leve-a até uma aplicação universal, e você em breve descobrirá que, na verdadeira
filosofia, cada ação física tem o seu efeito moral e eterno. Se você fere um
homem causando-lhe um ferimento físico, você talvez pense que a dor e o sofrimento
dele não podem espalhar-se aos que lhe são próximos, e muito menos a todos os
homens das outras nações. Nós afirmamos que isso
ocorrerá, no devido tempo. Portanto, dizemos nós, a menos que cada ser humano seja levado a
compreender como uma verdade axiomática
que ao prejudicar um homem nós prejudicamos não só a nós próprios, mas a longo
prazo também ao conjunto da humanidade, o sentimento fraternal tal como foi
ensinado pelos grandes reformadores, principalmente por Buddha e Jesus, não
será possível na terra.
NOSSOS OUTROS OBJETIVOS
PESQ.: Você pode
explicar os métodos pelos quais vocês se propõem a realizar o segundo objetivo?
TEOS.: Coletar todas
as boas obras que pudermos sobre as religiões do mundo, para a biblioteca em
nossa sede geral, em Adyar, Madras (e os membros das Lojas devem coletar para
as suas bibliotecas locais). Colocar em forma escrita informação correta sobre
as várias e antigas filosofias,
tradições e lendas, e disseminar estas informações de maneiras práticas,
através da tradução e da publicação de obras originais de valor, e resumos e
comentários sobre tais obras, ou as instruções orais de pessoas que têm
profundo conhecimento em suas áreas de estudo.
PESQ.: E quanto ao
terceiro objetivo, que é desenvolver no ser humano os seus poderes espirituais
ou poderes psíquicos latentes?
TEOS.: Isso também
deve ser alcançado por meio de publicações, naqueles lugares em que as
palestras e os ensinamentos pessoais não são possíveis. Depois da devida investigação, e de reunir provas da sua natureza
irracional, o teosofista deve opor-se e
contrapor-se ao fanatismo sob qualquer forma, seja ele religioso, científico,
ou social, e sobretudo à hipocrisia, seja
como sectarismo religioso, como crença em milagres ou em qualquer coisa
sobrenatural. O que devemos fazer é tentar obter conhecimento de todas as leis da natureza, e difundi-lo. Devemos encorajar
o estudo das leis que são menos conhecidas pelos povos modernos, as leis das
chamadas Ciências Ocultas, com base no
conhecimento verdadeiro da natureza, ao invés de, como ocorre hoje, ter
como base a autoridade e a crença cega. O folclore e as tradições populares,
por mais que às vezes sejam fantasiosos, podem, quando filtrados, levar à
descoberta de segredos da natureza perdidos há muito tempo, mas valiosos. A Sociedade visa, portanto, seguir esta linha de investigação com a
esperança de ampliar o campo de observação científica e filosófica.
O CARÁTER SAGRADO DO COMPROMISSO
PESQ.: Vocês têm algum sistema ético que seja
colocado em prática na Sociedade?
TEOS.: Existe uma ética, ela é clara e está pronta
para quem quiser segui-la. Ela é a essência
e a nata da ética do mundo, reunida a partir dos ensinamentos de todos os
grandes reformadores. Portanto, você
encontrará nela Confúcio e Zoroastro, Lao-tzu e o Bhagavad-Gita, os preceitos
de Gautama Buddha e de Jesus de Nazaré, de Hillel e sua escola, assim como de
Pitágoras, de Sócrates, de Platão e das
suas escolas.
PESQ.: Os membros
da sua Sociedade colocam em prática estes preceitos? Ouvi falar de grandes
divergências e conflitos entre eles.
TEOS.: Isso é
natural, já que, embora a reforma (em sua forma atual) possa ser qualificada
como nova, os homens e mulheres a serem reformados têm a mesma natureza humana
e pecadora de antigamente. Como já foi
dito, os membros que trabalham com
dedicação são poucos; mas são muitas as pessoas sinceras e de boa vontade, que
fazem o melhor que podem para viver à altura dos seus próprios ideais e dos
ideais da Sociedade. Nosso dever é
encorajar e ajudar individualmente os membros no seu auto-aperfeiçoamento
intelectual, moral e espiritual, sem acusar ou condenar aqueles que fracassam.
Estritamente falando, não temos o direito de negar admissão a ninguém -
especialmente na Seção Esotérica da
Sociedade, na qual “aquele que entra é como um recém-nascido”. Mas se qualquer
membro, apesar dos seus compromissos sagrados para com seu Eu imortal com base em sua palavra de honra, decide continuar,
depois do “novo nascimento”, e como novo homem, os vícios ou defeitos da sua
vida antiga, e cai neles ainda na Sociedade, então, naturalmente, é mais do que
provável que lhe será solicitado que renuncie e que se retire; ou, caso ele se
recuse, que ele seja expulso. Temos regras muito definidas para estas
emergências.
PESQ.: Você poderia mencionar alguns exemplos?
TEOS.: Sim.
Para começar, nenhum membro da Sociedade, seja da instância exotérica ou
esotérica, têm o direito de impor suas opiniões pessoais sobre outro membro.
“Não é correto que nenhum dirigente da Sociedade
Matriz expresse em público, por palavras ou atos, qualquer hostilidade ou
preferência por qualquer seção [3],
religiosa ou filosófica, em relação a outra. Todos têm igual direito a ver as
características essenciais da sua crença religiosa colocadas diante do tribunal
de um mundo imparcial. E nenhum
dirigente da Sociedade, em sua função de dirigente, tem direito de pregar sua
crença e sua visão própria e específica para membros reunidos, exceto quando o
encontro reunir seus colegas de religião. Depois da devida advertência, a
violação desta regra será punida pela suspensão ou expulsão.” Esta é uma das infrações
previstas na Sociedade em geral. Quanto à seção interna, agora chamada de Esotérica, as seguintes regras foram
estabelecidas e adotadas, já desde o ano de 1880. “Nenhum membro usará para
fins egoístas qualquer conhecimento transmitido a ele por qualquer membro da
primeira seção (atualmente um ‘grau’ mais alto); a violação desta regra será
punida pela expulsão.” Agora, no entanto, antes que qualquer conhecimento deste
tipo possa ser transmitido, o solicitante deve comprometer-se através de um
compromisso solene a não usá-lo para fins egoístas, nem revelar nada do que lhe
foi dito, exceto com autorização.
PESQ.: Mas um homem que é expulso, ou que está
renunciando à seção, tem a liberdade de revelar alguma coisa que ele possa ter
aprendido, ou de romper qualquer
cláusula do compromisso que ele assumiu?
TEOS.: Certamente
não. A sua expulsão, ou renúncia, apenas
o liberta da obrigação de obediência ao professor, e da obrigação de cumprir um
papel ativo no trabalho da Sociedade; mas seguramente não o liberta do
compromisso sagrado de segredo.
PESQ.: Será que isso é justo e razoável?
TEOS.: Sem dúvida
alguma. Para qualquer homem ou mulher que tenha o mais leve sentido de honra,
um compromisso de segredo assumido com base na sua palavra de honra - e com muito mais razão se assumido com base em
seu Eu Superior, o Deus interior - é
válido até a morte. E embora ele possa deixar a Seção e a Sociedade, nenhum
homem ou mulher que sejam honrados pensarão em atacar ou causar dano a um corpo
em relação ao qual assumiram um compromisso assim.
PESQ.: Mas isso não é ir um pouco longe demais?
TEOS.: Talvez
seja, de acordo com o baixo padrão dos tempos atuais, e da atual moralidade.
Mas se o compromisso não tiver esta validade, para que serve, então, um compromisso? Como
pode alguém esperar que lhe seja ensinado um conhecimento secreto, se
ele puder libertar-se quando quiser de todas as obrigações que assumiu? Que
segurança ou confiança poderiam existir entre os homens, se compromissos como
este não tivessem qualquer força real? Creia-me, a lei da retribuição (Carma)
logo alcançaria alguém que quebrasse o seu compromisso, talvez tão cedo quanto
chegaria, a ele, o desprezo de todo homem honrado, mesmo neste plano físico.
Como foi bem colocado na revista “Path”,
de Nova Iorque, em texto sobre este assunto citado há pouco: “Depois de assumido, um compromisso
solene é válido para sempre, tanto no
mundo moral como no mundo oculto. Se o rompemos uma vez e somos punidos,
isso não nos autoriza a quebrá-lo outra vez; e enquanto nós o fizermos, a
poderosa alavanca da Lei (do Carma) reagirá contra nós.” (Revista “Path”, julho
de 1889.)
NOTAS DE HPB:
[1] Publicanos – vistos como ladrões e batedores de
carteira naqueles dias. Entre os judeus, o nome e a profissão de um publicano
era a coisa mais odiosa do mundo. Eles não tinham permissão para entrar no
Templo, e Mateus (18: 17) fala de ser pagão e de ser publicano como de
situações idênticas. E no entanto eles
eram apenas coletores de impostos romanos, ocupando a mesma posição que os funcionários britânicos na Índia e em outros
países dominados.
[2] “Ao final da idade média, sob o poder das forças
morais, o escravismo havia quase desaparecido da Europa. Mas dois acontecimentos
significativos derrubaram o poder moral que se fazia sentir na sociedade
europeia, e produziram um número tão grande de maldições sobre a terra como
dificilmente a humanidade havia sentido antes. Um destes acontecimentos foi a
primeira viagem até uma costa habitada e bárbara onde o comércio de seres
humanos era uma prática comum. O outro foi o descobrimento de um novo mundo,
onde se abriam brilhantes fontes de riqueza, uma vez que fosse importada
mão-de-obra para extraí-las. Durante quatrocentos anos, homens, mulheres e
crianças foram arrancados de todos a quem conheciam e amavam, e foram vendidos
na costa da África para traficantes estrangeiros. Eles eram acorrentados abaixo
do convés, com os mortos frequentemente ao lado dos vivos – durante a horrível
‘passagem do meio’; e, de acordo com Bancroft, um historiador imparcial,
duzentos e cinquenta mil, entre três milhões e duzentos e cinquenta mil, foram
atirados no mar naquela passagem fatídica, enquanto o resto era condenado a um
sofrimento sem nome nas minas, ou sob os relhos, nas plantações de cana de
açúcar e nos campos de arroz. A culpa deste crime pertence à Igreja Cristã.
‘Em nome da Santíssima Trindade’, o governo espanhol (católico romano) concluiu
mais de dez tratados autorizando a venda de quinhentos mil seres humanos. Em
1562, Sir John Hawkins viajou pelo mar para cumprir sua tarefa diabólica de
comprar escravos na África e vendê-los nas Índias Ocidentais em um navio que
tinha o nome sagrado de Jesus; enquanto Elizabeth, a rainha protestante,
condecorou-o por seu êxito nesta primeira aventura dos ingleses no tráfico
desumano, ao autorizá-lo a usar como seu escudo de armas ‘um meio-mouro em sua
cor natural, amarrado com uma corda, ou, em outras palavras, um escravo negro
acorrentado’.” (“Conquests of the Cross”, citado no “Agnostic Journal”.)
[3] Um “ramo” ou loja, composto de membros da mesma
religião, ou uma loja in partibus
como agora é chamada, de um modo um pouco exagerado. [ Nota do tradutor brasileiro: “in partibus” é abreviação da expressão latina “in partibus infidelium”, que significa
“em terra de infiéis”. No contexto, “uma
loja em terra de infiéis”. (CCA)]
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Final do capítulo III.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos
Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014
por “The Aquarian Theosophist”.
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