Onze Trechos das Cartas dos
Mestres, Para Refletir e Meditar
Carlos Cardoso Aveline (Ed.)
Carlos Cardoso Aveline (Ed.)
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Nota
Editorial:
O texto a seguir reúne trechos
selecionados da
coletânea “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”
(Editora Teosófica, Brasília, 2001, dois
volumes). Ao
final de cada citação, indicamos entre
parênteses o número
do volume e o número da página em que
estão as palavras
citadas. Acrescentamos subtítulos, entre
colchetes, antes de
cada fragmento, e notas explicativas
numeradas quando necessário.
(CCA)
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[1. O Motivo do
Silêncio dos Mestres.]
Se
por várias gerações temos “impossibilitado o mundo de ter Conhecimento do nosso
Conhecimento”, foi devido ao seu absoluto despreparo; e se, apesar das provas
dadas, o mundo ainda se negar a aceitar as evidências, então nós, no final
deste ciclo, nos retiraremos outra vez à solidão e ao nosso reino do
silêncio... (I, 128) [1]
[2. Construindo
uma Torre de Pensamento Infinito.]
Por
incontáveis gerações os adeptos vêm construindo um templo de rochas
imperecíveis, uma Torre gigantesca de PENSAMENTO INFINITO, onde o Titã morava,
e onde, se for necessário, voltará a morar solitário, saindo dela somente no
final de cada ciclo, para convidar os eleitos da humanidade a cooperarem com
ele e o auxiliarem por sua vez a iluminar o homem supersticioso. E
continuaremos nesse nosso trabalho periódico; e não deixaremos de lado as
nossas intenções filantrópicas até aquele dia em que os alicerces de um novo
continente de pensamento estejam tão firmemente consolidados que nenhuma
opressão ou maldade ignorante, guiada pelos Irmãos das Sombras, possa
prevalecer. (I, 129)
[3. A Sabedoria
Não Está nas Palavras.]
Na
Ciência Oculta os segredos não podem
ser transmitidos subitamente, mediante uma comunicação escrita, nem mesmo oral.
Se fosse assim, tudo o que os “Irmãos” [2]
teriam que fazer seria publicar um Manual de Instruções que poderia ser ensinado
nas escolas, ao lado da gramática. É um erro comum das pessoas acreditarem que
nós nos envolvemos, e envolvemos os nossos poderes, em mistério por vontade
nossa; que desejamos manter nosso conhecimento para nós mesmos, e que por nossa
própria vontade nos recusamos a transmiti-lo - “deliberadamente e de modo
irresponsável”. A verdade é que, até que o neófito atinja a condição necessária
para aquele grau de Iluminação para o qual ele está qualificado e apto, a maior
parte dos segredos, se não todos eles, é incomunicável.
A receptividade deve ser tão grande quanto o desejo de instruir. A iluminação deve vir de dentro. Até lá, nenhum
truque de encantamento ou jogo de aparências, nem palestras ou discussões
metafísicas, e tampouco penitências autoimpostas, podem dar essa iluminação.
Todos estes são apenas meios para um fim, e a única coisa que podemos fazer é
dirigir o uso destes meios, que, como foi comprovado pela experiência das
idades, levam ao objetivo buscado. E há milhares de anos que isto não é segredo. Jejum, meditação,
castidade em pensamento, palavra e ação; silêncio durante certos períodos de
tempo para permitir que a própria natureza fale a quem se aproxima dela em
busca de informação; domínio das paixões e impulsos animais; completa ausência
de egoísmo nas intenções, e o uso de certo incenso e certas fumigações com
objetivos fisiológicos, têm sido apontados como instrumentos desde a época de
Platão e Jâmblico, no Ocidente, e desde os tempos ainda mais remotos de nossos Rishis hindus. A maneira como tudo isso
deve ser posto em prática de modo que seja adequado para cada temperamento, é,
naturalmente, tema de experimentação da própria pessoa e da cuidadosa
observação de seu tutor ou guru. Isso é de fato uma parte do seu aprendizado, e
seu guru ou iniciador só pode ajudá-lo com a sua experiência e força de
vontade, mas não pode fazer nada mais que isso, até a última e suprema iniciação. Penso também que poucos
candidatos imaginam o grau não só de desconforto, mas de sofrimento e
sacrifício, a que o mencionado iniciador se submete pelo bem do seu discípulo.
As condições específicas, físicas, morais e intelectuais, de neófitos e Adeptos
são muito diferentes, como qualquer pessoa pode compreender facilmente. Assim,
em cada caso, o instrutor tem que adaptar as suas condições às do discípulo, e
a tensão é terrível, pois para conseguir êxito temos que nos colocar em plena sintonia com o indivíduo em
treinamento. E quanto maiores os poderes do Adepto, menos ele está em simpatia
com a natureza do profano, que, com frequência, vem até ele saturado com as
emanações do mundo exterior, aquelas emanações animais da multidão egoísta e
brutal que tanto tememos; quanto mais afastado o instrutor se encontra desse
mundo e quanto mais puro se tenha tornado, tanto mais difícil é a tarefa a que
se impõe. Além disso, o conhecimento só pode ser comunicado gradualmente; e
alguns dos segredos mais elevados, se fossem expressados, mesmo a seus ouvidos
bem preparados, poderiam soar a você como um palavrório insano, apesar de toda a
sinceridade de sua atual convicção de que “a confiança absoluta desafia a
incompreensão”. Esta é a causa verdadeira da nossa reserva. É por isso que as
pessoas se queixam tão frequentemente, com uma demonstração plausível de razão,
de que nenhum conhecimento novo lhes é comunicado, apesar de terem estado se
esforçando por ele, dois, três ou mais anos. Aqueles que realmente desejam
aprender devem abandonar tudo e vir
até nós, em vez de pedir ou esperar que nós avancemos até eles. Mas como isso
pode ser feito em seu mundo e sua atmosfera? (I, 134-135)
[4. É Impossível
Fazer uma Transmissão Súbita de Conhecimento.]
Como
posso expressar ideias para as quais até agora você não conhece palavras? As
mentes mais refinadas e sensíveis, como a sua, recebem mais que as outras, e
mesmo quando estas últimas recebem uma pequena dose extra, esta se perde pela
falta de palavras e imagens que fixem as ideias flutuantes. Talvez, e
indubitavelmente, você não saiba a que me refiro agora, mas saberá um dia - paciência.
Dar a um homem mais conhecimento do que ele está capacitado para receber é uma
experiência perigosa, e, além disso, há outras considerações que me limitam. A
comunicação súbita de fatos que transcendem tanto o comum é em muitos casos
fatal, não só para o neófito, mas também para os que o rodeiam. (I, 136)
[5. Há uma Relação
Simétrica Entre o Esforço do Mestre e o Esforço do Discípulo.]
Resumindo:
o mau uso do conhecimento pelo discípulo sempre reage sobre o iniciador, e nem
creio que você saiba que, ao compartir os seus segredos com alguém, o Adepto,
devido a uma Lei imutável, retarda o seu progresso para o Repouso Eterno.
Talvez o que digo agora possa ajudá-lo a obter uma concepção mais verdadeira
das coisas, e a avaliar melhor a nossa posição mútua. Vagar ociosamente pelo
caminho não conduz a uma rápida chegada ao fim da jornada. E deve soar a você
como uma verdade evidente que alguém
deve pagar um preço por tudo e por
qualquer verdade, e, nesse caso – NÓS pagamos. Não tenha medo; estou disposto a
pagar a minha parte, e disse isto aos que me colocaram a questão. Não o
abandonarei, nem me mostrarei menos disposto ao sacrifício que a pobre e
depauperada mortal que chamamos de “Velha Senhora”[3]. (I, 136-137)
[6. A Verdade Não
Necessita de Deuses ou Anjos.]
A
Verdade se sustentará sem a inspiração de Deuses ou Espíritos, e melhor ainda,
se sustentará apesar deles; os “anjos” em geral não fazem mais que sussurrar
falsidades e aumentar a quantidade de superstições. (I, 140)
[7. Mestres Julgam
os Seres Humanos Pelas Suas Intenções.]
Nós,
asiáticos semisselvagens, julgamos um homem pelas suas intenções e as suas são
todas sinceras e boas. Mas você tem que lembrar que está numa escola muito
dura, e tratando agora com um mundo inteiramente diferente do seu. Especialmente,
você tem que ter em mente que a mais leve causa produzida, mesmo
inconscientemente e com qualquer intenção, não pode ser desfeita, nem é
possível interceptar o progresso dos seus efeitos - nem com a força combinada
de milhões de deuses, demônios e homens. (I, 141)
[8. Um Lustrador
de Botas Honesto é Tão Bom Quanto um Rei Honesto.]
…Para
nós um lustrador de botas honesto é tão bom quanto um rei honesto, e (...) um
varredor de ruas imoral é muito melhor e mais desculpável do que um imperador imoral... (I, 158)
[9. Todo Sábio
Deixa de Lado Dor e Prazer Pessoais.]
...
Lembrem que a primeira exigência, mesmo para um simples faquir, é que ele deve
ter treinado a si mesmo até saber permanecer indiferente tanto à dor moral como
ao sofrimento físico. Nada pode causar, em NÓS, dor ou prazer pessoais. (I,
159)
[10. O Ceticismo em
Torno dos Mestres Garante a Paz Deles.]
Gostaria
de poder imprimir em suas mentes uma profunda convicção de que não desejamos
que o sr. Hume ou você provem conclusivamente ao público que nós realmente
existimos. Por favor, compreenda o fato de que, enquanto os homens duvidarem,
haverá curiosidade e pesquisa, e que a pesquisa estimula a reflexão, que gera o
esforço; mas, uma vez que o nosso segredo tenha sido completamente vulgarizado,
não só a sociedade cética não terá grandes benefícios, como também a nossa
privacidade estaria constantemente em perigo e teria que ser resguardada a um
custo irracional de energia. (.....) Ah, Sahibs, Sahibs! Se vocês pudessem pelo
menos catalogar-nos, rotular-nos e
colocar-nos no Museu Britânico, então de fato o seu mundo poderia ter a verdade absoluta, a verdade dissecada.
(I, 162-163)
[11. Dogmatismo
Religioso é Incompatível Com Teosofia.]
O
que temos nós, discípulos dos verdadeiros Arhats,
do Budismo esotérico e de Sang gyas, a ver com os Shastras [4] e o
Brahmanismo ortodoxo? Há 100 milhares de faquires, sannyasis e sadhus levando
vidas totalmente puras e, entretanto, porque estão no caminho do erro, nunca tiveram uma oportunidade de
nos encontrar, de nos ver ou sequer ouvir falar de nós. Os antepassados deles
expulsaram da Índia os seguidores da única filosofia verdadeira existente sobre
a terra [5], e agora não são estes
que irão até eles, mas eles é que devem vir até nós se o quiserem. Quem
entre eles está disposto a se tornar um budista, um Nastika [6], como eles
nos chamam? Ninguém. Aqueles que acreditaram em nós e nos seguiram obtiveram a
sua recompensa. Os senhores Sinnett e Hume são exceções. As suas crenças não
são barreiras para nós, pois não têm nenhuma.
Eles podem ter tido influências ao seu redor, más emanações magnéticas
resultantes da bebida, da sociedade mundana e de associações físicas promíscuas
(resultantes até mesmo de apertar a mão de homens impuros); mas todos esses
impedimentos são físicos e materiais, aos quais podemos nos opor com um pequeno
esforço, e mesmo eliminá-los sem muito esforço para nós. Mas é diferente com o
magnetismo e os resultados invisíveis produzidos por crenças errôneas e
sinceras. [7] A fé em Deuses ou em
Deus e outras superstições atraem milhões de influências alheias, entidades
vivas e poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veríamos obrigados a
usar algo mais que o exercício comum de poder para afastá-los. Nós decidimos
não fazê-lo. Não consideramos necessário nem proveitoso perder o nosso tempo
travando uma guerra com planetários
atrasados que se deliciam personificando deuses e, às vezes, personagens
famosos que viveram na terra. (I, 165-166)
NOTAS:
[1] O
“final do ciclo” ocorreu entre os anos 1897 e 1900. Em 1897 completaram-se os
primeiros 5.000 anos do Kali Yuga. Em 1900 houve a passagem para a Era de
Aquário. A missão de Helena Blavatsky, feita sob a coordenação dos Mestres,
preparou estes dois eventos. (CCA)
[2] “Irmãos”,
isto é, Adeptos, Mahatmas, Mestres. (CCA)
[3] “Velha
Senhora”: H. P. Blavatsky. (CCA)
[4] “Shastras”
- Escrituras sagradas do hinduísmo. (Nota da ed. bras. das Cartas)
[5] Menção
ao fato de que, na antiguidade, os hindus ortodoxos expulsaram os budistas da
Índia. Já no século 20, o líder indiano Mohandas “Mahatma” Gandhi, cuja
filosofia é amplamente teosófica, foi assassinado a sangue frio em 1948 por um
hindu ortodoxo radical. (CCA)
[6] “Nastika”
- Ateu, ou alguém que não reconhece
deuses e ídolos. (Nota da ed. bras.
das Cartas)
[7] Para os
Mestres, mais importante que a pureza meramente física é a intenção do
indivíduo, conforme foi dito em trecho citado antes. O fanatismo fecha a porta
para a verdade e acaba em hipocrisia. Este princípio é ilustrado no Novo Testamento
através do modo como Jesus enfrenta os escribas e fariseus. Veja por exemplo
João, 8: 1-11, e Mateus, 23: 13-29. (CCA)
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O texto
acima é reproduzido da edição de março de 2012 do boletim “O Teosofista”. A ortografia foi atualizada.
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Para conhecer
um diálogo documentado com a sabedoria de grandes pensadores dos últimos 2500
anos, leia o livro “Conversas na
Biblioteca”, de Carlos Cardoso Aveline.
Com 28
capítulos e 170 páginas, a obra foi publicada em 2007 pela editora da
Universidade de Blumenau, Edifurb.
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