O Amor Se
Desdobrará Assim no
Céu Como na
Terra, em Sete Dimensões
Carlos Cardoso Aveline
“Não é por causa do marido em si que o marido é
amado, mas é por causa da presença do Espírito
Universal
na consciência do marido, que ele
é amado. Não é por
causa da esposa em si que a esposa é amada, mas é por causa
da presença do Espírito Universal na consciência
da esposa, que
ela é
amada. Não é por causa dos filhos em si
que os filhos
são amados,
mas é por causa da presença do Espírito Universal
na consciência dos filhos, que eles são amados.
(...)”
(Brihadaraniaka
Upanixade)
O vínculo
fundamental e a base de toda civilização é o casal humano. É este laboratório
das relações humanas que gera vida e energia. Ele produz, literalmente, os
cidadãos do futuro. E, ao fazer isso, ele segue os padrões cármicos, as estruturas
e os hábitos que o caracterizam em cada etapa da evolução.
Basta observar o estado do casal em uma sociedade
qualquer para ver a situação em que está o processo social. Deste fato
elementar surge uma conclusão prática: a construção de casais em que haja um
amor verdadeiro abre espaço para a civilização da fraternidade universal que já
começa a surgir.
A capacidade de amar e o conhecimento da verdade
são dois fatores inseparáveis. Eles não só produzem as civilizações saudáveis,
mas também as sustentam ao longo do tempo. A civilização do futuro será baseada
na inteligência espiritual.
Nos termos de “A Doutrina Secreta”, de H. P.
Blavatsky, a meta do esforço teosófico é fazer nascer a mente elevada e
fraterna que caracterizará a sexta sub-raça da quinta raça-raiz. Escrevendo no
século 19, a fundadora do movimento esotérico moderno afirmou que já podia ver
indivíduos pioneiros antecipando a humanidade intuitiva e universalista da
sexta sub-raça.
Mais de um século depois de Blavatsky, os
estudantes e cidadãos de boa vontade do século 21 têm o privilégio de investigar,
passo a passo, como será o casal buddhi-manásico e universal das
próximas civilizações. O estudo da teosofia original permite deduzir algumas
das suas características.
É verdade que o esforço do século 21 é
probatório: não faltam testes ou desafios. Mas já é possível construir a
vitória. O casal do futuro estará unido no plano do sexto princípio, Buddhi. Os
eus superiores do homem e da mulher que se amam com força atuarão
fundamentalmente como se fossem um; mas preservarão ao mesmo tempo um grau significativo
de diferença. Assim, a unidade será dinâmica e criativa, ajudando a transformar
o mundo para melhor. O amor existirá assim na terra como no céu: aquilo que foi
unido no plano da alma espiritual também expressará unidade na vida concreta e
palpável. Cada casal consciente será uma ponte segura entre o superior e o
inferior. Combinará em si o eterno e o transitório. O homem verá a mente e o
coração da mulher como partes de um templo sagrado, e a atitude será recíproca.
As emoções e o corpo físico serão parte deste santuário compartilhado. Ainda
que o foco prioritário do casal do futuro esteja localizado no plano do eu
imortal, o amor será intenso no plano do eu inferior. O casal será setenário.
Existirá simultaneamente em sete níveis de consciência e integração.
Haverá,
nível por nível, um alinhamento entre as duas consciências. A
correspondência e o paralelismo entre os sete princípios de cada um incluirá Prana,
o princípio da vitalidade, e Linga-sharira, o arquétipo sutil por onde
flui a energia vital. Aquilo que afetar um, afetará o outro. As auras do homem
e da mulher funcionarão como se pertencessem uma à outra, e estarão em forte
ressonância magnética durante as 24 horas do dia.
Ao serem expressados em palavras, pensamentos e
sentimentos de cada um surgirão na consciência do outro de dentro para fora, e
não de fora para dentro. Escutar a pessoa amada será como escutar a si mesmo -
com a diferença de que frequentemente será mais agradável.
O amor e o afeto não dependerão de condições
externas. O casal estará unido tanto nas marés fáceis como nas marés difíceis
da vida. O fato de que o foco da vida estará situado no plano da alma imortal, onde
reina o altruísmo, levará os dois a trabalhar pela causa da Humanidade.
Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma. A predominância do casal sábio está por surgir no futuro próximo da
evolução humana, mas essa não é a primeira vez que isso ocorre. O tempo é
cíclico, e o amor do futuro já existiu no passado. O alvorecer da era de
Aquário torna possível resgatar a sabedoria das eras anteriores. O amor pessoal
já pode ser vivido outra vez como parte do amor universal e infinito, conforme anunciava
na Índia antiga o “Brihadaraniaka Upanixade”:
“Não é por causa do marido em si que o marido é
amado, mas é pela presença do Espírito Universal na consciência do marido, que
ele é amado. Não é por causa da esposa em si que a esposa é amada, mas é devido
à presença do Espírito Universal na consciência da esposa, que ela é amada. Não
é por causa dos filhos em si que os filhos são amados; é pela presença do Espírito Universal na
consciência dos filhos, que eles são amados.” [1]
Em todos os povos, nas mais variadas épocas, os
membros de um casal sempre colocaram suas vidas nas mãos um do outro.
No futuro, homens e mulheres saberão cumprir com
eficiência o dever de gerar a felicidade do ser amado, e de abster-se de gerar
sofrimento.
A satisfação de cada um surgirá em primeiro lugar
do ato de fazer o outro tão feliz quanto possível, nos diversos níveis de
consciência. Em segundo lugar, a sensação de plenitude virá do ato de preservar
e expandir a felicidade de quem amamos, dentro daquilo que é permitido pelas condições
práticas do trabalho pelo bem da humanidade.
Cada um refletirá, como um espelho, as
possibilidades mais sagradas e mais elevadas do outro. Assim, o casal reconhecerá
seu afeto a dois como parte do processo maior da compaixão universal.
A semente do futuro germina hoje: o casal da
próxima civilização já existe como experiência pioneira. Pesquisar a natureza
do amor universal é uma bênção que está ao alcance das gerações atuais. A
energia regeneradora do casal do futuro é um dos fatores aceleradores do despertar
planetário que estamos vivendo.
“A pureza do amor terreno purifica e prepara para a realização do
Amor Divino. Imaginação humana alguma pode conceber os ideais da divindade a
não ser através daquilo que lhe é familiar. Aquele que se prepara para
compreender o Infinito deve compreender antes o finito.”
Em outra oportunidade, o mesmo sábio afirmou:
“...Onde um amor verdadeiramente espiritual
busque consolidar-se através de uma união pura e permanente de duas pessoas, no
sentido terreno, não há pecado nem crime aos olhos do grande Ain-Soph [2], pois esta é somente a repetição divina dos princípios Masculino e Feminino -
o reflexo microcósmico da primeira condição da Criação. Diante de uma tal união
os anjos bem poderão sorrir! Mas uniões como essas são raras, Irmão meu, e
podem ser criadas apenas sob a sábia e amorosa supervisão da Loja (...)”.[3]
No futuro, este processo pioneiro será cada vez
menos raro.
Unidos nos planos da alma eterna e da
inteligência universal, o homem e a mulher não dependerão da presença física
para sentir que estão juntos. A presença de cada um na aura do outro será
perceptível mesmo quando estiverem geograficamente distantes. Havendo
necessidade, saberão manter a relação de casal num estado “implícito” e
concentrarão por um ato de vontade a sua energia recíproca no foco superior do afeto,
enquanto desempenham impessoalmente os deveres propostos pelo Carma. Cessada a
necessidade, eles deixarão que a energia do amor se irradie outra vez livre e
criativamente. Ela se manifestará como uma versão microcósmica da luz do Sol,
avançando através dos sete planos da vida e irradiando uma força benéfica na
direção de todos os seres.
Um sábio oriental escreveu:
“A mulher não deve ser vista simplesmente como
uma propriedade do homem, já que ela não foi feita apenas para seu benefício ou
prazer, assim como ele não é apenas propriedade dela. Os dois devem ser
compreendidos como energias iguais, que fluem por individualidades diferentes. Até
a idade de sete anos, os esqueletos das meninas não diferem de forma alguma dos
esqueletos dos garotos, e o osteólogo teria dificuldade em identificá-los. A missão
da mulher é tornar-se a mãe dos futuros ocultistas - daqueles que nascerão sem
pecado. A redenção e a salvação do mundo dependem da elevação da mulher. E
enquanto a mulher não romper os laços da sua escravidão sexual, à qual tem sido
sempre submetida, o mundo não terá ideia do que ela realmente é, ou do
verdadeiro lugar dela na economia da natureza.”
E o Mestre concluiu:
“A luz que será derramada sobre esta questão e
sobre o mundo como um todo, quando o mundo descobrir e realmente apreciar as
verdades que estão na base do vasto problema do sexo, será como ‘a luz que jamais brilhou sobre o mar ou a
terra’, e terá de vir aos seres humanos através do movimento teosófico.
[4] Esta luz levará ao despertar da verdadeira
intuição espiritual. Então o mundo terá uma raça de Buddhas e Cristos,
porque a humanidade terá descoberto que os indivíduos têm dentro de si mesmos a possibilidade de gerar crianças semelhantes
a Buddha - ou demônios. Quando este conhecimento vier, todas as religiões
dogmáticas, e com elas os demônios, deixarão de existir.” [5]
As palavras acima merecem ser examinadas com atenção. Elas convidam
os casais de boa vontade a investigar de modo prático e transcendente - assim
no nível físico como no plano metafísico - o mistério da felicidade a dois.
Uma tal investigação é eficaz quando colocada a serviço da
libertação humana. Porque a vida é um laboratório alquímico, e, nele, o casal
produz um fogo criador do futuro.
NOTAS:
[1] “The
Principal Upanishads”, edited by S. Radhakrishnan, The Muirhead Library of
Philosophy, London: George Allen & Unwin Ltd, Fourth Impression, 1974, ver
pp. 282-283.
[2] Ain-Soph - na tradição da Cabala, o princípio Absoluto e
imanifestado.
[3] Cartas 18 e 19, segunda série, no volume “Cartas dos Mestres
de Sabedoria”, Editora Teosófica, Brasília. Veja as pp. 189 e 190.
[4] Movimento teosófico; no original, “Sociedade Teosófica”. A
expressão se refere à Sociedade Teosófica original, que deixou de existir pouco
depois da morte de H. P. Blavatsky, em 1891, devido à traição de Annie Besant e
outros pseudoesoteristas que desprezaram a ética e a verdade. Hoje, existe um
movimento teosófico amplo e marcado pela diversidade.
[5] “The
Paradoxes of the Highest Science”, de Eliphas Levi, “With Foot-Notes By a
Master of the Wisdom”, Theosophical Publishing House, Adyar, Madras (Chennai),
India, 1922, 172 pp., ver p. 172. Título da
edição brasileira: “Os Paradoxos da Sabedoria Oculta”.
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Leia também os textos “O
Casal Como Centro da Civilização”, e “Transformar
Uma Casa Num Templo”. Ambos estão disponíveis em nossos Websites Associados.
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Sobre o crescimento
interior e a transformação pessoal no século 21, leia a obra “O Poder da Sabedoria”, de Carlos
Cardoso Aveline.
O livro
foi publicado pela Editora Teosófica, de Brasília, tem 189 páginas divididas
por 20 capítulos e inclui uma série de exercícios práticos. Está na terceira
edição.
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