6 de janeiro de 2013

O Teste da Corresponsabilidade Planetária

O Campo Magnético Dos
Que Têm Uma Intenção Nobre

Carlos Cardoso Aveline

A ideia da corresponsabilidade planetária é uma
das prioridades da Loja Independente de Teosofistas 



Qualquer observador isento vê hoje sem dificuldade nos movimentos espirituais e esotéricos um ambiente que inclui “orgulho espiritual”. O estranho fenômeno da “espiritualidade egocêntrica” ocorre amplamente na Sociedade Teosófica de Adyar mas não é, de modo algum, uma exclusividade dela.

Há, em muita gente e em diversas instituições, um ar de quem já descobriu a verdade, e ao mesmo tempo uma ausência de qualquer sentimento de real corresponsabilidade pela atual situação do processo civilizatório. Em alguns casos, podemos ver uma evidente busca de fama, dinheiro ou poder pessoal. Em outros casos, há a fantasia infantil de obter “conhecimentos ocultos” e maravilhosos, curiosos, extraordinários.

Não foi nesta perspectiva que foi criado em 1875 o movimento esotérico moderno. O mais importante, para as gerações atuais, é perceber que a eficiência da ação teosófica ou espiritual de um indivíduo, ou de um grupo, está na razão direta do seu sentido de corresponsabilidade cármica e criativa pelo futuro do processo planetário.

Há uma carta de um mestre dos Himalaias que esclarece esse ponto.

Dos diversos mestres ou raja-iogues (orientais e ocidentais) que inspiraram a criação do movimento teosófico, houve um que se envolveu mais diretamente com o trabalho público de H. P. Blavatsky e com o ensinamento teosófico (embora não fosse o mestre individual dela).

Em determinado momento, no início dos anos 1880, este raja-iogue fez uma consulta ao seu próprio Mestre, a quem chama de Chohan, em relação às linhas de ação do movimento que estava nascendo. O resultado da consulta foi um relatório, hoje conhecido como “Carta do Chohan”.

Neste documento, sem dúvida um dos mais importantes de toda a vasta literatura teosófica, os Mestres estabelecem a diferença abismal entre o verdadeiro movimento esotérico e teosófico e os campos magnéticos em que há excessivo “egoísmo espiritual”, ou seja, aquela forma de ignorância que se disfarça, tentando adornar-se e embelezar-se com os aspectos externos da chamada vida espiritual.

Toda a Carta merece ser lida e relida muitas vezes. Quero trazer agora apenas um trecho dela que trata especificamente da questão do amor pela humanidade em seu conjunto, e da solidariedade ativa com todos os seres, como única salvaguarda (e ainda assim parcial) contra o que se poderia chamar de narcisismo pseudoespiritual.

Devemos levar em conta que, quando o raja-iogue nesta Carta se refere à S.T. (Sociedade Teosófica), está-se referindo à sociedade teosófica original, que fragmentou-se logo depois da morte de H. P. Blavatsky e desde a década de 1890 não existe mais. Hoje, esta citação se refere ao movimento teosófico e esotérico em sua pluralidade total.

Diz o mestre, na carta-relatório:  

“O mundo em geral, e especialmente a cristandade, abandonado por dois mil anos ao regime de um Deus pessoal, bem como a seus sistemas políticos e sociais baseados nessa ideia, provou agora ser um fracasso. Se os teosofistas dizem: ‘Nada temos com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores (aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não são motivo de preocupação para nós e devem arranjar-se como podem’ - o que acontece com nossas belas declarações sobre benevolência, filantropia, reforma etc.? Serão tais declarações falsas? E se forem falsas, poderá a nossa senda ser a verdadeira? Não deveríamos nos dedicar a ensinar a alguns poucos europeus, que vivem na abundância - muitos deles carregados com as dádivas de uma fortuna imerecida - a explicação racional dos fenômenos de campainhas soando no ar, da materialização de xícaras, do telefone espiritual e da formação do corpo astral, e deixar os numerosos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados, humildes e oprimidos, tomar conta de si mesmos e de sua vida futura da melhor forma possível que poderem? Nunca! Antes pereça a S.T., com os seus dois infelizes fundadores, do que permitirmos que ela se transforme em mera academia de magia, um centro de ocultismo.”

E ainda:

“Que nós, os devotados seguidores daquele espírito encarnado do absoluto autossacrifício, da filantropia, da divina benevolência, assim como de todas as mais elevadas virtudes que se pode alcançar nesta terra de tristeza - o homem dos homens, Gautama Buda - permitíssemos, em algum momento, à S.T. representar a corporificação do egoísmo, o refúgio dos poucos que jamais pensam nos muitos, é uma estranha ideia, meus irmãos.” [1]

Estas linhas delimitam claramente, qual é, digamos, o vasto campo magnético em que os raja-iogues dos Himalaias e seus discípulos têm real interesse.

É o campo magnético dos seres humanos de boa vontade, que desejam o bem da humanidade e do processo planetário como um todo, e que agem movidos pelo desejo de aprender e vivenciar as verdades universais através, inclusive, da solidariedade interior e exterior com todos os seres. Um ser humano que conheça bem a literatura esotérica mas só pense em seu próprio bem não é de interesse porque não é útil à evolução comum nem beneficia a si mesmo. Um ser humano que não conheça bem a literatura mas tenha uma intenção altruísta e nobre e deseje aprender entra no campo magnético dos grandes mestres porque a intenção é que vale, e não a quantidade de leituras.

No caso do estudante que sabe o que quer, este propósito de aprender atravessa os diferentes estados de consciência, como vigília, sono, sonho, e os estados meditativos ou de supravigília.

Não são apenas os associados da Loja Independente de Teosofistas que devem, portanto, pensar nestas ideias e avaliar regularmente as suas intenções e motivações.

Também cada estudante independente, assim como os membros da Sociedade de Adyar, da Universidade da Paz, da Universidade Brahma Kumaris, os maçons, rosacruzes, estudantes de Alice Bailey, budistas não-sectários e cristãos de mente aberta devem levar a sério este desafio da eficiência pelo altruísmo.

É deste modo que se pode julgar até que ponto as ações e instituições religiosas, filosóficas ou esotéricas são verdadeiramente eficazes. Rituais embelezados, apego a instituições, busca de cargos, vaidades humanas revestidas de aparências de espiritualidade, estes fatores são parte do problema e não da solução.

O estudante só tem a ganhar criando oportunidades em que possa repensar estas questões, reexaminando e passando a limpo as suas metas individuais.

NOTA:

[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, ver Carta 1, da primeira série.

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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida. 

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