O Campo Magnético Dos
Que Têm Uma Intenção Nobre
Carlos Cardoso Aveline
A ideia da corresponsabilidade planetária é uma
das prioridades da Loja Independente de Teosofistas
das prioridades da Loja Independente de Teosofistas
Qualquer observador isento vê hoje sem dificuldade
nos movimentos espirituais e esotéricos um ambiente que inclui “orgulho
espiritual”. O estranho fenômeno da “espiritualidade egocêntrica” ocorre
amplamente na Sociedade Teosófica de Adyar mas não é, de modo algum, uma
exclusividade dela.
Há, em muita gente e em diversas
instituições, um ar de quem já descobriu a verdade, e ao mesmo tempo uma
ausência de qualquer sentimento de real corresponsabilidade pela atual
situação do processo civilizatório. Em alguns casos, podemos ver uma evidente
busca de fama, dinheiro ou poder pessoal. Em outros casos, há a fantasia
infantil de obter “conhecimentos ocultos” e maravilhosos, curiosos,
extraordinários.
Não foi nesta perspectiva que foi
criado em 1875 o movimento esotérico moderno. O mais importante, para as
gerações atuais, é perceber que a eficiência da ação teosófica ou espiritual de
um indivíduo, ou de um grupo, está na razão direta do seu sentido de corresponsabilidade
cármica e criativa pelo futuro do processo planetário.
Há uma carta de um mestre dos
Himalaias que esclarece esse ponto.
Dos diversos mestres ou
raja-iogues (orientais e ocidentais) que inspiraram a criação do movimento
teosófico, houve um que se envolveu mais diretamente com o trabalho público de
H. P. Blavatsky e com o ensinamento teosófico (embora não fosse o mestre
individual dela).
Em determinado momento, no início
dos anos 1880, este raja-iogue fez uma consulta ao seu próprio Mestre, a quem
chama de Chohan, em relação às linhas de ação do movimento que estava nascendo.
O resultado da consulta foi um relatório, hoje conhecido como “Carta do Chohan”.
Neste documento, sem dúvida um
dos mais importantes de toda a vasta literatura teosófica, os Mestres
estabelecem a diferença abismal entre o verdadeiro movimento esotérico e
teosófico e os campos magnéticos em que há excessivo “egoísmo espiritual”, ou
seja, aquela forma de ignorância que se disfarça, tentando adornar-se e embelezar-se
com os aspectos externos da chamada vida espiritual.
Toda a Carta merece ser lida e
relida muitas vezes. Quero trazer agora apenas um trecho dela que trata
especificamente da questão do amor pela humanidade em seu conjunto, e da solidariedade
ativa com todos os seres, como única salvaguarda (e ainda assim parcial)
contra o que se poderia chamar de narcisismo pseudoespiritual.
Devemos levar em conta que,
quando o raja-iogue nesta Carta se refere à S.T. (Sociedade Teosófica), está-se
referindo à sociedade teosófica original, que fragmentou-se logo depois da morte
de H. P. Blavatsky e desde a década de 1890 não existe mais. Hoje, esta citação
se refere ao movimento teosófico e esotérico em sua pluralidade total.
Diz o mestre, na carta-relatório:
“O mundo em geral, e especialmente a cristandade, abandonado por dois mil
anos ao regime de um Deus pessoal, bem como a seus sistemas políticos e sociais
baseados nessa ideia, provou agora ser um fracasso. Se os teosofistas dizem:
‘Nada temos com tudo isso; as classes mais baixas e as raças inferiores
(aquelas da Índia, por exemplo, na concepção dos britânicos) não são motivo de
preocupação para nós e devem arranjar-se como podem’ - o que acontece com
nossas belas declarações sobre benevolência, filantropia, reforma etc.? Serão
tais declarações falsas? E se forem falsas, poderá a nossa senda ser a
verdadeira? Não deveríamos nos dedicar a ensinar a alguns poucos europeus, que
vivem na abundância - muitos deles carregados com as dádivas de uma fortuna
imerecida - a explicação racional dos fenômenos de campainhas soando no ar, da
materialização de xícaras, do telefone espiritual e da formação do corpo
astral, e deixar os numerosos milhões de ignorantes, de pobres e desprezados,
humildes e oprimidos, tomar conta de si mesmos e de sua vida futura da melhor
forma possível que poderem? Nunca! Antes pereça a S.T., com os seus dois
infelizes fundadores, do que permitirmos que ela se transforme em mera academia
de magia, um centro de ocultismo.”
E ainda:
“Que nós, os devotados seguidores daquele espírito encarnado do absoluto autossacrifício,
da filantropia, da divina benevolência, assim como de todas as mais elevadas
virtudes que se pode alcançar nesta terra de tristeza - o homem dos homens,
Gautama Buda - permitíssemos, em algum momento, à S.T. representar a corporificação do egoísmo, o refúgio dos
poucos que jamais pensam nos muitos, é uma estranha ideia, meus irmãos.” [1]
Estas linhas delimitam
claramente, qual é, digamos, o vasto campo magnético em que os
raja-iogues dos Himalaias e seus discípulos têm real interesse.
É o campo magnético dos seres
humanos de boa vontade, que desejam o bem da humanidade e do processo
planetário como um todo, e que agem movidos pelo desejo de aprender e vivenciar
as verdades universais através, inclusive, da solidariedade interior e exterior
com todos os seres. Um ser humano que conheça bem a literatura esotérica mas só
pense em seu próprio bem não é de interesse porque não é útil à evolução comum
nem beneficia a si mesmo. Um ser humano que não conheça bem a literatura mas
tenha uma intenção altruísta e nobre e deseje aprender entra no campo magnético
dos grandes mestres porque a intenção é que vale, e não a quantidade de
leituras.
No caso do estudante que sabe o
que quer, este propósito de aprender atravessa os diferentes estados de
consciência, como vigília, sono, sonho, e os estados meditativos ou de supravigília.
Não são apenas os associados da
Loja Independente de Teosofistas que devem, portanto, pensar nestas ideias e
avaliar regularmente as suas intenções e motivações.
Também cada estudante
independente, assim como os membros da Sociedade de Adyar, da Universidade da
Paz, da Universidade Brahma Kumaris, os maçons, rosacruzes, estudantes de Alice
Bailey, budistas não-sectários e cristãos de mente aberta devem levar a sério este
desafio da eficiência pelo altruísmo.
É deste modo que se pode julgar
até que ponto as ações e instituições religiosas, filosóficas ou esotéricas são
verdadeiramente eficazes. Rituais embelezados, apego a instituições, busca de
cargos, vaidades humanas revestidas de aparências de espiritualidade, estes
fatores são parte do problema e não da solução.
O estudante só tem a ganhar criando
oportunidades em que possa repensar estas questões, reexaminando e passando a
limpo as suas metas individuais.
NOTA:
[1] “Cartas
dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica,
Brasília, ver Carta 1, da primeira série.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da
situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu
formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas
prioridades a construção de um futuro
melhor nas diversas dimensões da vida.
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