30 de junho de 2013

A Arte de Agradecer

Uma Prática Diária Que
Prepara a Felicidade Eterna 

Carlos Cardoso Aveline





Alguns dos segredos mais valiosos da sabedoria teosófica estão ocultos sob a aparência externa do óbvio.  Embora eles sejam decisivos na busca da felicidade, para percebê-los é preciso ir além das palavras e da casca externa das ideias.  O artigo a seguir examina um deles.

Há milênios, a experiência acumulada da busca da sabedoria indica que a arte de agradecer figura entre as chaves secretas do Caminho da verdade.  

O conhecimento de alma que permite optar conscientemente entre a ambição e o agradecimento constitui uma lição avançada em filosofia esotérica.  

“Ao invés de desejar o que não tem, agradeça pelo que possui”, aconselham os sábios. A arte de agradecer liberta o ser humano de expectativas e de ansiedade, e o reconcilia com os fatos como eles são.  Graças a ela, o indivíduo adota uma posição de vitorioso, e estabelece uma sintonia positiva com o que é bom e correto.    

Agradecer é uma opção pela simplicidade, e a simplicidade permite percorrer o caminho da bem-aventurança. Ser grato é reconhecer que a vida - embora flua em um movimento incessante - é completa em si mesma a cada momento. A renúncia consciente ao desejo pessoal por objetos ou situações externas é algo que abre as portas da riqueza interior, dando acesso ao “tesouro que está nos céus”. 

Agradecer é, também, aceitar o outro e aceitar a Vida. Quando percebemos a importância do momento presente, passamos a ser gratos pelas oportunidades que nos rodeiam o tempo todo. Agradecer é um ato de amor incondicional, e é um exercício de desapego.  É uma opção pelo suficiente, e contém em si a semente da humildade.  

A autorrestrição voluntária do eu inferior, quando acompanhada de paz interna, leva a uma plenitude ilimitada que existe no plano do eu superior ou alma espiritual.  Através do agradecimento renunciamos às ilusões e abrimos espaço em nossa aura para que coisas agradáveis ocorram em todos os níveis do fluir da vida.

Agradecer Como Verbo Intransitivo

Para agradecer, não é necessário pensar em um fato isolado e agradável que nos tenha ocorrido.  Podemos agradecer intransitivamente, isto é, sem objeto. O agradecimento incondicional ou intransitivo não depende de fatos externos. Não é um formalismo, mas um ato interior.  

Uma gratidão espontânea surge inevitavelmente quando percebemos que a vida biológica não nos pertence. Ela constitui uma dádiva provisória. Ela é colocada ao nosso alcance para que possamos aprender sabedoria num processo cíclico para o qual somos convidados durante algum tempo. Somos hóspedes, e não proprietários, e, sendo hóspedes, devemos agradecer. 

O exato oposto do agradecimento é o desejo pessoal intenso. O budismo e a teosofia ensinam que o desejo é uma fonte central de infelicidade.  A emoção do desejo é probatória. Ela normalmente traz consigo ilusão e pode tecer com movimentações impensadas um círculo vicioso de ansiedades e frustrações que terminam por produzir apenas desânimo. 

O sábio não deseja  pessoalmente que isso ou aquilo ocorra. Não alimenta esperanças. Ele aceita os fatos como são. Ele define metas claras e toma providências práticas para alcançá-las. Mais do que desejos, portanto, o estudante experiente de filosofia esotérica deve ter projetos.  Todo desejo desacompanhado de uma intenção prática constitui uma perda de energia. Helena Blavatsky escreveu em seu artigo “Chelas e Chelas Leigos”:

“Antes de desejar, faça por merecer”.

Uma Prática Silenciosa

O agradecimento liberta do desejo. Graças a ele o indivíduo evita a dor psicológica causada por esperanças divorciadas da realidade.  Agradecer é uma opção voluntária que produz uma liberdade invisível diante do carma futuro e do carma presente.   

Para que haja eficácia, a arte oculta do agradecimento deve ser praticada mais em silêncio do que em palavras. É importante dizer aos outros “Muito Obrigado”.  Trata-se de uma prática saudável e necessária. Mas é ainda mais importante ser grato em nossa própria consciência. Agradeça sem palavras em seu coração, e será feliz.  O sentimento interno de gratidão resulta da constatação direta de que a vida está OK, e de que você está OK.  

Agradecendo a Todos os Seres

A opção pelo agradecimento nos liberta da má vontade e da estreiteza mental e constitui um modo eficaz de celebrar a Vida. Cada parte do Universo vive e pulsa. Todos os seres interagem e cooperam entre si.  O teosofista agradece pelos acontecimentos difíceis em sua vida diária porque aprende com eles a ser realista no modo como vive seu ideal. Ao vencê-los, acumula uma experiência que o ajudará a dar novos passos e a enfrentar outros desafios ao longo do caminho.

Embora os budistas estejam certos ao desejar tradicionalmente paz a todos os seres, nesta prática ainda há algo a ser desejado. O estudante de filosofia esotérica, por sua vez,  reconhece que a paz já está presente em todo o universo [1] e que ela não necessita ser almejada no plano emocional. Ele pode dizer, então:

“Agradeço a todos os seres.”

Deste ponto de vista o ciclo energético está completo em si mesmo. Nenhum desejo é necessário. Existem metas evolutivas de longo prazo a serem alcançadas através de ações práticas e com calma determinação. Segundo a teosofia original, a gratidão não deve ficar no terreno das palavras: a melhor maneira de agradecer é ajudar outros seres ao longo do caminho.

NOTA:      

[1] A paz está em toda parte,  mas não é sempre visível. Frequentemente está oculta sob a forma de Lei Universal.   

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Leia também o texto “O Poder de Abençoar”, de Carlos C. Aveline, que está disponível em nossos websites associados.

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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