A Antiga Arte de
Estimular o Melhor nos Outros
Carlos Cardoso
Aveline

O eu
superior é celestial, e o contato com ele nos abençoa
O poder de abençoar é uma energia vital superior.
Ele desperta pouco a pouco na consciência do indivíduo que dedica sua vida à
busca da sabedoria. Ele surge na medida em que o estudante da filosofia
esotérica expande gradualmente sua vivência direta do ensinamento, fortalece
seu contato com a Lei e ganha real confiança na vida e em si mesmo.
Em última
instância o poder de abençoar os outros beneficia aquele que o exerce, porque
tudo o que alguém faz a outrem volta cedo ou tarde para ele próprio. Em Atos
dos Apóstolos, 20:36, podemos ler: “Há
mais felicidade em doar do que em receber”.
A curto prazo, porém, ajudar os outros pode atrair para aquele que
abençoa algo da angústia ou da ignorância de quem estava a sofrer. Na lenda do Evangelho, Jesus foi crucificado
por fazer o bem. Abençoar implica autossacrifício. A boa vontade de quem abençoa será
constantemente testada. A arte de
despertar o melhor nos seres humanos é probatória. Não pode haver ao abençoar
uma intenção subconsciente de beneficiar a si mesmo, nem a de parecer espiritual, ou de despertar
admiração. A intenção dominante em todos
os níveis da consciência deve ser o estabelecimento impessoal de uma relação
pedagógica com a vida, na qual o ato de aprender, o processo de ensinar e a
tentativa de estimular o melhor nos outros
são apenas três aspectos criativos de um amor
incondicional pela Vida.
Teosofia
é respeito pela vida universal, e implica reconhecer que o eterno e o infinito
estão presentes em cada ser. Abençoar
não consiste em dizer a alguém “eu te abençoo”. Este formalismo ilusório tem
origem sacerdotal. O ato de abençoar é
mais profundo e mais complexo: consiste em despertar no outro sua okeidade natural, sua capacidade de estar OK, isto é, de estar
em unidade dinâmica e criativa com a
Vida ao seu redor e com a Vida dentro de si.
Abençoar é um processo gradual e contínuo, que estimula em outrem tanto
o autoconhecimento como a autorresponsabilidade.
Não nos
enganemos: viver corretamente é a única fonte real de bom carma ou de bênçãos.
Antes de desejar felicidade, é preciso merecê-la. Em consequência disso, abençoar é estimular
no outro a decisão de fazer por merecer
a bem-aventurança da paz interior.
Os
teosofistas não acreditam em bênçãos vindas de “alguém” e gratuitamente. Eles
sabem que o bem-estar real emerge do bom trabalho. O esforço diário na direção correta é um
bálsamo. O trabalho nos abençoa. Dar o exemplo de uma vida sábia é um modo
eficaz de ajudar os outros. A presença silenciosa de um ser de coração puro
inspira o melhor nos que o rodeiam. Mas não basta alguém ter o poder de
abençoar incondicionalmente e de estimular sem nada esperar em troca o que há
de mais elevado naqueles com quem entra em contato. É preciso que aquele que receberá a energia
curadora tenha a capacidade de aceitar a
libertação. E há um momento na vida em que é necessária uma forte autodisciplina para abrir mão da dor a
que estamos acostumados.
Renunciando ao Sofrimento
Desnecessário
A dor
psicológica é um hábito e o ser humano se apega a ela. O indivíduo ingênuo se
identifica com suas “feridas emocionais” - normalmente associadas ao desejo - e
se lamuria e se lamenta tanto diante dos outros como no seu discurso interno
para consigo mesmo.
Pode
haver uma estranha satisfação pessoal em gemer e constatar que se está sofrendo
muito. O autocastigo é um vício e
pode estar associado a sentimentos subconscientes, e ilusórios, de culpa. O hábito emocional de ser infeliz deve ser
compreendido e abandonado. É saudável fazer um voto solene para consigo mesmo -
e renová-lo uma e outra vez -, tomando uma resolução firme no sentido de
desapegar-se das formas costumeiras de sofrimento.
Aquilo
que causa dor emocional a uma pessoa pode não causar a outra: portanto, a dor
emocional é uma questão de opção, ainda que a escolha por sofrer seja
subconsciente.
A parte
desagradável do carma individual surge como hábitos e tendências negativas, mas
eles podem ser superados. Ao abrir mão do sofrimento desnecessário, aceitamos os
fatos como eles são e trabalhamos com sentido prático para construir a
realidade agradável que queremos ver. Deixamos de reclamar da vida ou das
circunstâncias e passamos a ter uma existência iluminada e vitoriosa a cada
novo dia. Deste modo nos capacitamos
para aceitar a felicidade e as bênçãos que estão o tempo todo à nossa
disposição - embora talvez não o saibamos - e que fluem a partir da energia universal
e pura do nosso próprio eu superior.
O pensamento
é o leme que define o rumo do carma. O pensamento correto leva ao carma
positivo, e pensar corretamente está ao alcance da livre vontade individual.
A
substância da alma imortal é abençoada. Cada ser humano pode constatar isso
diretamente. O eu superior é celestial.
Ele é feito de bem-aventurança e felicidade. Desligando-nos do hábito de desejar
e sofrer, ampliamos o nosso contato com o território sutil e revolucionário da
felicidade. Então surge em nós com força
especial a capacidade de irradiar para todos a bênção que habita nossa
consciência.
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