O Caminho Íngreme Que Vai da Ilusão Até
a Sabedoria
Carlos Cardoso Aveline

Carlos Cardoso Aveline

“É preciso estudar
para conhecer, conhecer
para compreender,
compreender para julgar.”
[Um filósofo antigo, citado por
H.P. Blavatsky]
Pode haver camadas profundas e
desafiadoras de significado na ideia aparentemente simples expressada pelo lema
do movimento teosófico:
“Não há religião
mais elevada que a verdade”.
Talvez a
frase resuma o projeto de longo prazo do movimento. A sua calma avaliação pode
ajudar o estudante a ver desde uma perspectiva mais ampla alguns velhos
obstáculos no seu caminho, e certos mecanismos de ignorância espiritual que são
tanto individuais quanto coletivos.
Para
compreender melhor o lema do movimento teosófico, deve-se estudar a teoria de
Maya ou Ilusão. Mas se o estudante quiser ir além e também viver à
altura do lema, ele terá que tomar algumas providências práticas para encontrar
o seu próprio caminho de ruptura com Maya. Será uma viagem longa. No entanto, o
próprio processo de manter o lema vivo no templo da sua mente e do seu coração
o ajudará a chegar ao velho caminho estreito e íngreme, montanha acima, que
leva à verdade.
O
movimento teosófico adotou o antigo lema do Maharajá de Benares, na Índia, e é
originalmente sânscrito: “Satyat Nasti
Paro Dharmah”. É famosa a tradução que H.P. Blavatsky faz dele na edição
original de “A Doutrina Secreta”:
“NÃO HÁ
RELIGIÃO (OU LEI) MAIS ELEVADA QUE A VERDADE” [1]
Incluída
entre parênteses, a palavra “lei” indica que “dharma” não significa apenas “religião”.
Na verdade, “Dharma” significa religião, lei, escritura sagrada, doutrina,
ciência, dever, conduta correta, virtude, equidade, justiça e filosofia.
O outro
termo da equação oculta presente no
lema é “Satyat”, que também possui um significado relativamente amplo. “Satyat”
não é sinônimo apenas de “verdade”, mas também de realidade suprema, ser
supremo e essência suprema. “Satyat” sugere “Sat”, a realidade única e sempre
presente, a Condição Essencial de Ser ou “Ser-alidade” que corresponde à
primeira proposição fundamental da Doutrina Secreta. [2]
O lema do
movimento é um axioma multidimensional. Se preservarmos os dois principais
conceitos sânscritos que fazem parte dele, teremos a frase “Não há Dharma mais
elevado que Satyat”, que também pode ser traduzido como “Não há Dever mais
elevado que a Verdade” e “Não há Escritura mais elevada que a Compreensão
Direta”, entre outros significados possíveis. Assim, o modo como vemos o lema
pode ser mais profundo e mais dinâmico do que se pensa à primeira vista.
Os
aspectos mutáveis da busca da Verdade são essenciais para a filosofia
esotérica. Eles questionam as rotinas ilusórias estabelecidas. Eles levam a luz
e o foco da consciência individual para a esfera do eu superior, onde existe a
verdadeira estabilidade. Na medida em que a alma espiritual do indivíduo vive
não só no território da verdade, mas também vive em comunhão interior com todos
os seres, a verdade não pode ser encontrada com separatividade.
É
natural, portanto, que o primeiro objetivo do movimento teosófico seja criar um
ambiente coletivo em que a lei cármica da solidariedade entre todos os seres
possa ser vivida como uma experiência consciente. A verdade e a fraternidade
são dois termos ou polos inseparáveis de uma outra equação oculta.
Embora a
busca da verdade possa ser uma meta suprema e transcendente para qualquer
indivíduo, ela deve começar com os elementos simples da sua vida. A verdade
deve ser buscada nas coisas grandes e nas coisas pequenas, e por isso a
Teosofia é inseparável da Ética. Em cada aspecto da vida, nós devemos tornar-nos gradualmente a Verdade que
buscamos.
H.P.
Blavatsky comenta que a palavra “Teosofia” foi usada pela primeira vez pelos
filósofos de Alexandria, que eram chamados de “amigos da verdade” ou filaleteus. Ela acrescenta que a meta
daquele sistema teosófico era, em primeiro lugar, “transmitir algumas grandes
verdades morais a seus discípulos, e a todos os que eram ‘amantes da verdade’.
Disso surgiu o lema adotado pela Sociedade Teosófica .....”. [3]
Vemos
deste modo que o lema do movimento teosófico e a sua homenagem à verdade têm
uma origem oriental em Benares, Índia, e uma origem ocidental em Alexandria,
Egito. Assim como o movimento, o próprio lema é uma ponte entre o Oriente e o
Ocidente.
Quando a
Verdade e a Fraternidade se encontram, elas fazem isso no território comum da
Ética, e H.P.B. escreveu, em uma das suas mensagens aos teosofistas
norte-americanos:
“...A Ética da Teosofia é muito mais
importante que qualquer divulgação de leis e fatos psíquicos. Estas leis e
fatos se referem inteiramente à parte material e passageira do homem setenário,
mas a Ética é absorvida e guia o homem real - o eu superior reencarnante.” [4]
A Ética nos permite entrar em
sintonia direta com Satyat, a
Verdade. Não há bênção mais elevada que o fato de entrar em harmonia com a
verdade suprema. Para alcançar esta meta, não basta ter um objetivo nobre no
nível voluntário da mente. A lei do
carma fará, inevitavelmente, com que cada intenção altruísta seja amplamente
testada. As intenções nobres do indivíduo não serão atacadas apenas por eventos
externos. Elas serão desafiadas especialmente pela sua própria ignorância, e
pelos hábitos e padrões involuntários alimentados por esta ignorância. Camadas
e aspectos insuspeitados da falta de sabedoria do estudante irão surpreendê-lo
em um grande número de maneiras e ocasiões. H.P.B. escreveu:
“A primeira condição
necessária para obter autoconhecimento é tornar-se profundamente consciente da
ignorância; sentir com cada fibra do seu coração que se é incessantemente
autoiludido. O segundo requisito é uma convicção ainda mais profunda de que tal
conhecimento - um conhecimento intuitivo e seguro - pode ser obtido por esforço
próprio.” [5]
O processo de autoilusão não é
apenas individual. Ele também é coletivo. Os grupos, os países e as famílias
são todos confrontados pelo carma. Desde a década de 1890, o movimento
teosófico, por exemplo, vem tentando com grandes falhas avançar pelo caminho
íngreme que leva à verdade e à fraternidade. Geração após geração, os
teosofistas devem continuar tentando uma e outra vez, até que o crescimento da
margem de sucesso dos seus esforços comece a acelerar por sua dinâmica própria.
Sempre podemos ter certeza de que
o caminho para a verdade não será fácil. No entanto, a razão para a existência
de tantos obstáculos ao longo do caminho é surpreendentemente simples. Ela está
no fato de que a verdade é uma coisa difícil de encontrar, e de transmitir, mas
isso não é tudo. A verdade é frequentemente difícil de aceitar, e é difícil sobretudo viver
à altura dela, mesmo depois que ela é colocada diante de nós em toda a sua
clareza. H.P.B. reproduziu em mais de uma ocasião estas palavras secamente
realistas de Sergeant Cox:
“Não há falácia mais terrível que
a ideia de que a verdade prevalecerá por sua própria força, e de que basta ela
ser vista para ser aceita. Na verdade, o desejo de alcançar a real verdade
existe em muito poucas mentes, e a capacidade de distingui-la em um número
menor ainda. Quando os seres humanos dizem que estão buscando a verdade, eles
querem dizer que estão procurando por evidências que apoiem algum preconceito
ou predisposição. Suas crenças são moldadas pelos seus desejos. Eles veem tudo,
e mais do que tudo, o que parece confirmar aquilo que desejam; e eles são cegos
como morcegos para qualquer coisa que o contradiga. Os cientistas não estão
mais isentos deste erro comum do que os outros.” [6]
A
percepção da verdade não é um processo apenas mental. Ela envolve mais de um
nível de consciência. Nossa capacidade de ver a realidade depende do nosso
estilo de vida. Uma mente aberta e uma clara percepção espiritual só podem
emergir de um coração puro e de uma vida limpa, entre outros fatores. Em seus
famosos “versos gêmeos”, o “Dhammapada” budista explica:
“Aqueles que vivem no mundo de prazeres da fantasia
enxergam verdade no que é irreal e inverdade no que é real. Eles nunca chegam à
verdade. Aqueles que se estabelecem no mundo do pensamento correto enxergam
verdade no que é real e inverdade no que é irreal. Eles chegam à verdade.” [7]
O
pensamento correto está profundamente ligado à memória correta, à palavra
correta e ao meio de vida correto, entre outros fatores. A busca da verdade não
é, portanto, um empreendimento fácil ou de curto prazo. Ela tampouco é apenas
um processo individual ou de um pequeno grupo. Ela tem uma dimensão planetária.
Ela constitui um fator central na preparação de longo prazo para a sexta sub-raça
da quinta raça-raiz, da qual o verdadeiro
movimento teosófico (e não o movimento teosófico meramente nominal) deve ser um
instrumento de ação durável.
A sexta
sub-raça emergirá com um foco de consciência mais forte e mais ativo no nível
de Buddhi-Manas, a inteligência espiritual e universal. Ela possuirá uma “clara
percepção espiritual” e enxergará mais longe. Isso não pode ser preparado às
pressas, e os pioneiros da nova série de civilizações devem ter uma coragem, uma
paciência e um espírito de sacrifício que permitam abrir espaço para um ideal universal
tão amplo que hoje o mundo ainda não consegue entendê-lo completamente.
O movimento
teosófico foi certa vez descrito por um Mahatma como um “esforço desesperado”[8], e isso se deve à especial
intensidade de Maya, a Ilusão, no ciclo atual. Helena Blavatsky escreveu em
“Ísis Sem Véu”:
“As
especulações mais profundas e transcendentes dos antigos metafísicos da Índia e
de outros países têm todas como alicerce o grande princípio budista e bramânico
que está na base de toda a sua metafísica religiosa - a ilusão dos sentidos. Tudo o que é finito é uma ilusão, e tudo o que
é eterno e infinito é verdadeiro. Forma, cor, aquilo que ouvimos e sentimos, ou
vemos com nossos olhos mortais, só existe enquanto puder ser transmitido para cada
um de nós pelos nossos sentidos. (......) Nós todos vivemos sob o domínio
poderoso da fantasia. Só os mais altos e invisíveis originais emanados do pensamento do Desconhecido são seres, formas
e ideias reais e permanentes; na terra, nós vemos apenas os seus reflexos, mais
ou menos corretos, e sempre dependendo da organização física e mental da pessoa
que olha para eles.” [9]
Em outro
trecho da mesma obra, H.P.B. cita um texto hermético:
“ ‘Só a
verdade’, diz Pimander, ‘é eterna e imutável; a Verdade é a primeira das bênçãos; mas a Verdade não está e não pode
estar na terra; é possível que Deus às vezes dê a alguns homens a capacidade de
compreender coisas divinas junto com a de compreender corretamente a verdade;
mas nada é verdadeiro na terra, porque tudo tem matéria em si, e é revestido de
uma forma corpórea sujeita a mudanças, a alterações, a decadência, e a novas
combinações. (.....) A Verdade, assim, é só aquilo que é imaterial e não está preso
a um envelope corpóreo, aquilo que não tem cor nem forma, que é isento de
mudanças e alterações; aquilo que é ETERNO.’ ” [10]
A grande
distância entre a verdadeira realidade e a percepção média das pessoas cria o
território imprevisível das ilusões, em que os seguidores do “relativismo ético”
enganam a si próprios enquanto desorientam outras pessoas.
Há pouco
mais de um século, a Sociedade Teosófica de Adyar, por exemplo, vem imitando a
Igreja Católica de Roma no processo de produção de mentiras piedosas, oferecidas ao público para que acredite nelas. Alguns
líderes da Sociedade de Adyar evitam assumir responsabilidade pelas fraudes
políticas e “espirituais” cometidas no período 1894-1934. Eles utilizam a
relatividade das verdades humanas como desculpa para justificar a ausência de
ética em algumas das suas políticas institucionais. Eles parecem acreditar que
a relatividade da verdade é um fato absoluto.
Se
alguém mostra a eles provas cabais de que os livros de Charles Leadbeater não
são verdadeiros, eles respondem: “Talvez você tenha razão: tudo depende do
ponto de vista.” Se um estudante mostra a eles que mesmo hoje há uma imagem
falsa e fabricada de Jiddu Krishnamurti como um santo e um grande pensador,
será fraternalmente acusado de ser “muito radical” e mesmo “antifraterno” - mas
o tema incômodo será, rápida e discretamente, deixado de lado.
Quase
sempre com as melhores intenções, o relativismo ético combina mentiras e fatos,
fraudes e lealdades, escondendo o resultado desta mistura sob uma nuvem
deliberada de incertezas. Do ponto de vista destes sofistas, “não há de fato
verdades, nem falsidades, porque a
verdade depende inteiramente de como olhamos para ela; e sempre poderemos
escolher o que preferimos pensar.”
Esta
pode ser uma maneira astuciosa de “flutuar
acima do carma” a curto prazo, mas não chega a ser muito original. Ao
descrever o trabalho dos jesuítas na Índia, H.P.B. mostrou que uma das suas
principais táticas, no seu esforço por eliminar as tradições orientais de
sabedoria, era “lançar sobre a história da Índia antiga uma nuvem de incerteza
e escuridão” (......). [11]
Há
também um raciocínio teológico por trás da produção e da preservação de mentiras piedosas. O raciocínio é formulado
por Paulo na sua Epístola aos Romanos, 3: 4-11. Em um estilo surpreendentemente
direto, o texto antecipa o ponto de vista jesuítico:
“Seja
Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem, conforme está escrito. (.....) E, se
por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para sua glória,
por que sou eu ainda condenado como pecador? (.....) Façamos males para que
venham bens (.....). Como está escrito: não há um justo, nem um sequer.”
Neste
capítulo da Epístola, os seres humanos são descritos como pecadores e
mentirosos. Uma vez que este ponto de vista seja aceito, parece bastante
natural pensar que “pessoas religiosas devem mentir e fazer fraudes para o bem
das suas Igrejas e Sociedades”. A lei do Carma é aparentemente abolida. O ser
humano não é justificado por seus atos, mas por sua crença cega, como Paulo parece
imaginar:
“Concluímos,
pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.” (Romanos, 3:28.)
Esta
afirmação contradiz diretamente, é
claro, o ponto de vista cem por cento teosófico adotado por Jesus no Novo
Testamento: “Vocês são meus amigos, se fizerem o que eu recomendo.” (João,
15:14) Quanto a H.P. Blavatsky, ela diz, como Jesus: “Teosofista é aquele que
age teosoficamente.”[12]
H.P.B.
escreveu que foi a ideia das mentiras
devocionais, presente na Epístola de Paulo aos Romanos, que inspirou um lema
adotado mais tarde pela Igreja de Roma, de acordo com o qual “é um ato de
virtude enganar e mentir, quando por estes meios os interesses da Igreja podem
ser promovidos.” [13]
No
entanto o problema não começou com Paulo. Desde Protágoras - o sofista que foi
desafiado diretamente por Platão na Grécia antiga - sempre tem havido uma
corrente de pensamento no Ocidente segundo a qual a verdade é apenas uma
questão de conveniência. Este é o alicerce ideológico dos ataques feitos contra
a teosofia, tanto de fora como de dentro do movimento teosófico moderno.
Henry
Sidgwick, o fundador da Sociedade de Pesquisas Psíquicas (SPP) de Londres, era sem
dúvida um homem esperto. Ele fez muito mais do que apenas ajudar a fabricar uma
fraude que serviu de base para a S.P.P. atribuir desonestidade a H.P.Blavatsky.
Em 1874, uma década antes de Sidgwick presidir as mentiras contra os Mestres de
Sabedoria e contra o movimento, um livro dele foi publicado sob o título “The
Methods of Ethics” (“Os Métodos da Ética”). Sua obra é hoje um clássico do
“relativismo moral”. O livro antecipa muito mais do que a lógica da futura fraude contra a teosofia. Ele também formula a
lógica deliberadamente ambígua da “ética” adotada pela maior parte dos líderes
de Adyar, após H.P.B.
Um
exemplo disso, entre muitos, é que Sidgwick duvida da relação direta entre o
cumprimento do dever e a felicidade, sugerindo que o não-cumprimento do dever
poderia ser mais vantajoso. Ele claramente questiona a filosofia de Platão do
ponto de vista de Protágoras. [14] A
mesma ambiguidade que é essencial para o pensamento de Sidgwick pode ser
encontrada no modo como alguns membros da Sociedade de Adyar tentam evitar
questões embaraçosas, como são as fraudes criadas, dentro do movimento, contra
os ensinamentos dos Mestres. Este ato de esconder-se da verdade é
frequentemente feito de boa-fé. O motivo é que tais pessoas não tiveram acesso
ao privilégio de conhecer a verdadeira teosofia.
Os
discípulos modernos de Protágoras aproveitam a Lei de Maya para fazer pessoas
pensarem que, afinal de contas, a lei do carma pode ser substituída pela
crença, e que toda verdade pode ser livremente distorcida e colocada a serviço
de interesses de curto prazo.
No
século 18, o filósofo britânico David Hume abordou esta “filosofia”. Ele criou
o conceito de “velhaco esperto” ou “patife sensato”, para descrever o homem que
esconde suas ações desonestas em uma nuvem de incertezas éticas.
David
Hume escreveu, no estilo clássico do seu século:
“... De
acordo com a maneira imperfeita como os assuntos humanos são conduzidos, um
patife sensato pode pensar, em certas circunstâncias, que um ato de iniquidade
ou de infidelidade irá aumentar consideravelmente a sua fortuna, sem causar
nenhuma ruptura considerável na união e confederação social. Que a honestidade é a melhor norma, pode ser uma boa regra geral; mas ela está sujeita a
muitas exceções: e talvez se possa pensar que alguém se comporta com mais
sabedoria quando observa a regra geral e tira vantagem de todas as exceções.
Devo confessar que se um homem pensa que este raciocínio requer uma resposta,
será difícil achar alguma resposta que pareça satisfatória e convincente para
ele. Se o seu coração não se rebela contra princípios tão perniciosos, se ele
não sente aversão a pensamentos vis e baixos, ele perdeu de fato um dos grandes
motivos para seguir o caminho da virtude; e podemos esperar que a sua prática
esteja à altura das suas especulações. Mas em todos os temperamentos sinceros,
a antipatia à traição e à velhacaria é demasiado forte para ser compensada por
quaisquer interesses de lucro ou vantagem monetária. A paz interior da mente, a
consciência da integridade, uma revisão satisfatória da sua própria conduta;
estas são circunstâncias muito necessárias à felicidade, e serão valorizadas e
cultivadas por todo homem honesto, que sente a importância delas.” [15]
Immanuel
Kant também nos ajuda a compreender a força invencível da verdade. Todo
teosofista honesto deveria ponderar calmamente sobre estas palavras escritas
pelo filósofo alemão, sobre o fenômeno da falsidade
deliberada:
“A
característica intrínseca da maldade moral é que as suas metas (especialmente
em relação a outras pessoas de mentalidade semelhante) se contradizem a si
mesmas e são autodestrutivas, e assim ela abre espaço para o princípio moral da
bondade, ainda que o progresso neste sentido seja lento.” [16]
Qual é a
melhor maneira de curar e prevenir ativamente a doença da mentira piedosa no
movimento esotérico? Talvez ela esteja em estimular desde o começo em cada estudante
a prática de viveka, ou
discernimento. Desenvolver a capacidade de questionar a realidade com
independência - e de ver por si mesmo as ideias verdadeiras e falsas - deve ser
uma meta essencial dos estudantes. Nenhuma verdade que tenha sido expressada
com palavras merece ser colocada acima de um exame racional. Um dos princípios
que podem proteger com mais eficiência o movimento da ilusão é bem expressado
nestas palavras de Narada, um filósofo hindu do mundo antigo citado por H.P.B.:
“Nunca
diga estas palavras: ‘Eu não conheço isso - portanto isso é falso’.”
“É preciso
estudar para conhecer, conhecer para compreender, compreender para julgar.” [17]
Na
medida em que os teosofistas chegam a compreender em profundidade o fato de que
não há efetivamente nada melhor ou mais elevado que a verdade, eles se colocam pouco
a pouco em harmonia real com uma tradição imensamente antiga, da qual tanto
Platão quanto Jesus fazem parte. Platão, que foi um pitagórico e um teosofista,
escreveu no trecho 357 de “Protágoras”:
“Não há
nada mais poderoso que o conhecimento.”
E o
Jesus do Novo Testamento, também um teosofista, ensinou:
“E vocês
conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” (João, 8: 32.)
Esta
percepção não é unânime. Ainda há muitos amigos iludidos que, voluntária ou
involuntariamente, preferem não aceitar o lema
universal do movimento em direção à verdade.
No
entanto, quando chega o momento certo, nada pode impedir que o sol inaugure um
novo dia. Então, se as pessoas não procuram a verdade, a verdade procura por
elas. Na primeira parte do século 21, a transição para um novo ciclo do
desenvolvimento humano está claramente acelerando, e o acesso à Verdade passa a
ser inevitavelmente maior para todos. O aspecto mais claro e mais transparente
de todas as coisas já está trazendo paz para alguns, e ansiedade, medo e
conflitos para outros.
A
verdade não é algo fácil de ver, quando as mentes não estão preparadas. Um
mestre de sabedoria divina escreveu, certa vez, que a percepção da verdade é
como um tônico demasiado forte, que pode matar, tanto quanto curar. No momento
atual da humanidade, a lição prática a ser tirada desta frase é que a teosofia
autêntica é cada dia mais útil e mais necessária, porque ela torna mais fácil
para as pessoas administrar de modo correto a energia da verdade. Esta energia vem crescendo com rapidez, e
é frequentemente perigosa, desafiadora e estimulante.
NOTAS:
[1] Veja os parágrafos finais da
Introdução de “A Doutrina Secreta”, na
tradução passo a passo da sua edição original, que está disponível em
nossos websites associados. Em
inglês, “The Secret Doctrine”, H.P. Blavatsky, Theosophy Company, Los
Angeles, 1982, volume I, p. xli.
[2] Veja em nossos websites o texto
“As Três Proposições Fundamentais”, de Helena P. Blavatsky. Em inglês, “The
Secret Doctrine”, obra citada, volume I, p. 14.
[3] Veja o artigo “A Chave da Teosofia - 1”, de Helena P. Blavatsky, que está disponível em
nossos websites. A passagem pode ser encontrada nos parágrafos iniciais do
primeiro capítulo, em qualquer uma das várias edições da obra em língua
portuguesa. Em inglês, “The Key to Theosophy”, H. P. Blavatsky, Theosophy
Company, Los Angeles, 1987, pp. 1-2.
[4] “Five Messages”, de Helena P.
Blavatsky, The Theosophy Company, Los
Angeles, 1922; veja a Terceira Mensagem, de 1890, p. 26. O livreto “Five Messages” está disponível em nossos
websites associados.
[5] Veja em nossos websites o artigo
“Como Alcançar o Autoconhecimento”, de Helena P. Blavatsky. Em inglês, “Collected Writings”, H.P.
Blavatsky, TPH, EUA, volume VIII, p.
108.
[6] “Isis Unveiled”, H. P.
Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, volume I, p. 615. Veja a versão da edição
brasileira em “Ísis Sem Véu”, H.P.B., Ed. Pensamento, SP, volume II, p. 283.
[7] “O Dhammapada”,
edição online completa disponível em nossos websites associados. Ver
capítulo 1, versos 11-12. Em inglês, “The Dhammapada”, The Theosophy Company,
Los Angeles, EUA, 140 pp., p. 03.
[8] “Cartas dos Mahatmas para A.P.
Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília,
volume I, Carta 15, p. 104.
[9] “Isis Unveiled”, volume II, pp.
157-158. Na versão da edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, Ed. Pensamento, volume
III, p. 140.
[10] “Isis Unveiled”, volume I, pp.
624-625. Na edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, volume II, p. 293.
[11] “Isis Unveiled”, volume I, p.
586. Na edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, volume II, p. 260. É interessante
observar que os jesuítas falsificavam a literatura, segundo H.P.B. mostra nesta
passagem. C. W. Leadbeater e Annie Besant também falsearam a literatura
teosófica após a morte de H.P.B.
[12] Veja o artigo “A Chave da Teosofia - 2”, de Helena P. Blavatsky, que está disponível em
nossos websites. Nas diversas edições
brasileiras, capítulo dois, imediatamente antes do subtítulo “Teósofos e
membros...”. (Por exemplo, “A Chave da Teosofia”, Editora Três, 282 pp.,
1973, p. 40.) Em inglês, “The Key to Theosophy”, Theosophy Co., Los
Angeles, Section II, p. 20.
[13] “Isis Unveiled”, volume II, p.
303. Na edição brasileira, “Ísis Sem Véu”,
volume III, pp. 266-267.
[14] “The Methods of Ethics”, Henry
Sidgwick, Indianapolis / Cambridge: Hackett Publishing Company, 1981, 528 pp., ver
Chapter V, pp. 162-175.
[15] “An Enquiry Concerning the
Principles of Morals”, David Hume, Indianapolis/Cambridge: Hackett Publishing
Company, 1983, 122 pp., ver pp. 81-82.
[16] “Perpetual Peace and Other
Essays”, Immanuel Kant, Indianapolis / Cambridge: Hackett Publishing Company,
152 pp., ver p. 134. Em uma edição brasileira, “À Paz Perpétua”, Ed. L&PM
Pocket, RS, 86 pp., 2008, vemos na p. 72 uma tradução não muito clara deste
trecho.
[17] “Isis Unveiled”, volume I, p.
628. Na edição brasileira, “Ísis Sem Véu”, vol. II, pp. 295-296.
000
O texto acima foi publicado pela
primeira vez na revista canadense “FOHAT”, na sua edição do verão de 2008
(hemisfério norte). Título original: “No Religion Higher Than Truth: The Long
Transition From Maya to Wisdom”.
000
Veja aqui um vídeo de um minuto, produzido pelos nossos websites
associados:
000