18 de fevereiro de 2014

A Lei da Dificuldade

Vencendo os Obstáculos no Caminho da Sabedoria

John Garrigues

John Garrigues (1868-1944)

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Nota Editorial:

O pensador John Garrigues foi um dos  
fundadores da Loja Unida de Teosofistas, em
Los Angeles, em fevereiro de 1909. O artigo a
seguir apareceu inicialmente de modo anônimo
na revista “Theosophy”, em novembro de 1920,
pp. 28-29. Uma análise do seu conteúdo e seu
estilo indica que ele foi escrito pelo Sr. Garrigues.
Título Original: “The Law of Retardation”.

A imagem simbólica do caminho espiritual como
um combate, e do aprendiz como um guerreiro ou
chefe militar, está presente no Bhagavad Gita hindu,
na lenda de Jesus, no Novo Testamento cristão,
nas Cartas dos Mahatmas da literatura teosófica e
nos livros das mais diversas tradições de  sabedoria.
Este é o tema do artigo “A Lei da Dificuldade”.

(CCA)

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Adotemos como ponto de partida o fato de que existe em toda a natureza e em cada organismo a tendência de repetir cada ação realizada; e, em segundo lugar, o fato de que toda forma de consciência tem o poder de mudar qualquer ação ou sequência de ações.

Esta distinção entre consciência e forma mostra a dualidade essencial que há no fundo de toda manifestação descrita pelas palavras Espírito e Matéria.

Nenhum organismo tem qualquer inteligência ou poder de ação em si mesmo; ele é um produto, um efeito, e não uma causa.  O corpo não tem luz própria, e a mente tampouco; e o mesmo ocorre, podemos acrescentar, com os outros “princípios” da consciência no ser humano [1] e na natureza. O poder de iniciar a ação, ou de mudar a ação, ou de perceber os resultados da ação, está na Consciência e não na forma; no Espírito, e não na Matéria.

Mas todo organismo, de qualquer tipo ou característica, é composto de formas de consciência, ou “vidas”, cada uma com o seu próprio círculo de percepção, sua capacidade de iniciar ações, sua capacidade de mudar - todas elas mantidas em algum tipo de unidade de ação e coerência de direção pela força de uma Vida superior que usa a sua combinação como um veículo ou instrumento para a sua própria ação, em um círculo maior do que seria possível obter de forma isolada. 

 A imagem simbólica de um exército, com o seu general no comando, os seus oficiais, seus soldados e um grau maior ou menor de disciplina, é uma ilustração exata da natureza de cada organismo, grande ou pequeno.

O ser humano é um organismo no qual o Eu Superior é o general no comando, e os diferentes princípios ou camadas [2] no seu exército têm suas divisões e soldados tirados de cada tipo de inteligência, de cada forma de consciência e ação possível neste sistema solar.[3] Os Mestres são Eus Superiores que colocaram os seus exércitos em um estado de perfeita disciplina e perfeito controle, e são capazes, portanto, de usar um poder de ação instantâneo e supremo em qualquer direção e qualquer plano da existência.

Até o momento presente, o ser humano ainda não conseguiu disciplinar o seu exército.
Ele possui todos os elementos necessários em seu organismo, mas não tem certeza nem sobre si mesmo nem sobre seu exército. Falta a ele, em primeiro lugar, confiança em si mesmo; e, em segundo lugar, conhecimento sobre o que deve fazer e como fazer. Em outras palavras, a distância que ele deve percorrer para ter um verdadeiro exército é a mesma distância que ele deve percorrer para ser um verdadeiro general. Ele tem o comando, tem o poder, porque foi ele e mais ninguém que convocou seus soldados, vindos desde as seis direções no espaço; mas ele é alternadamente audaz e tímido, decidido e hesitante, excessivamente severo e excessivamente brando.

É claro que as entidades individuais que compõem o “exército”, ou a natureza, ou os princípios, ou os corpos do ser humano, têm, cada uma, a sua própria integridade; mas é igualmente claro que o “exército” não convocou a si mesmo, e que, na condição de exército,  não tem a iniciativa, nem possui poder de qualquer espécie, a menos que seja instigado e orientado pelo ser humano e pelo Eu Superior, o general.

Os ensinamentos da teosofia são a arte da Guerra, que inclui a formação, a organização e o treinamento de exércitos, assim como o uso do exército quando ele estiver pronto para a guerra. O estudante é o Eu Superior que aprende e se prepara para ser um verdadeiro general. Ele está engajado nesta tarefa há um número incalculável de vidas. Ele já fez algum progresso, mas também cometeu muitos erros, e seus erros se refletem nos hábitos, nas tendências e nas características do seu exército.

Ninguém pode vencer os seus erros, exceto ele mesmo. E ele precisa lembrar que só um pequeno número dos seus soldados tem inteligência suficiente para tornar-se inteiramente flexível e obediente às suas instruções, suas orientações e ordens.  Quase todos seus soldados têm seus desejos próprios, suas ambições e ideias próprias, que contrariam o propósito do general e destroem toda verdadeira disciplina do ponto de vista da organização de um exército.  Se abandonados à sua própria sorte eles farão revoltas, se tornarão totalmente insubordinados, e finalmente, se desintegrarão.

Naturalmente o general poderia matar os soldados desobedientes. Mas se fizesse isso eles já não seriam úteis em seu exército, e ele necessita de todos eles para que o exército permaneça completo. O exército deve estar completo, para que o general seja supremo no seu campo de batalha. O que ele tem que fazer é eliminar as práticas e tendências que destroem a disciplina. Só ele pode fazer isso.

Seus esforços são dificultados pela ignorância, pela falta de motivação, pelas características  adquiridas dos elementos que compõem os seus soldados; pelas suas próprias táticas equivocadas do passado; pela sua falta de firmeza para impor obediência à sua vontade. Estes fatores constituem os dois grandes obstáculos em seu caminho: a inércia dos soldados individuais, e os elementos rebeldes e indisciplinados em suas subdivisões menores.

Confiança em si mesmo, confiança em sua própria habilidade de aprender e aplicar a ciência da guerra, e a ação a partir destas duas bases, formam a trindade que irá fazer do ser humano um Mestre do seu exército.

Quanto mais nós postergarmos, quando mais adiarmos e tentarmos contratar, subornar ou induzir outro indivíduo para que ele faça nosso trabalho por nós, mais o nosso exército se tornará difícil de controlar. Quanto mais ouvirmos o clamor dos soldados, quanto mais aceitarmos as suas falhas por falta de disciplina, tanto mais difícil será nossa tarefa. Quanto mais fugirmos e recuarmos do estudo e do esforço, tanto maior será a montanha de inércia a ser enfrentada e vencida.

Em muitas vidas diferentes já tivemos que morrer, isto é, de dispersar o nosso exército, sem cumprir a grande tarefa.  Conseguimos aprender algo, mas há duas coisas que ainda não conquistamos:

* decisão - confiança em nossa capacidade e nosso propósito -; e

* trabalho, o esforço contínuo por aprender e aplicar nosso ensinamento.

Para aprender estas duas coisas é necessário ter autodisciplina. Porque a Natureza, em todo lugar, é sempre uma ordem de acordo com o mérito.


NOTAS:

[1] Os sete princípios ou níveis da consciência humana, em teosofia original, são:  1) Sthula-sharira ou corpo físico; 2) Prana ou vitalidade; 3) Linga-sharira ou “duplo sutil”, que reúne o patrimônio genético e os registros cármicos físicos da vidas anteriores, e indica os caminhos pelos quais a vitalidade deve chegar ao corpo; 4) Kama ou centro de emoções pessoais e animais, incluindo medo e ambição, dor e prazer, e lembrança e apego ou rejeição a tais emoções;  5) Manas ou mente; 6) Buddhi ou alma espiritual, a luz do eu superior, centro da percepção da fraternidade universal; e 7) Atma, a fagulha divina, a fonte da luz espiritual, a estrela, o eu superior, o princípio supremo, universal e impessoal. (CCA)

[2] Veja a nota anterior.  Deve-se levar em conta que cada um dos sete princípios da consciência possui sete aspectos ou subprincípios.  Estes por sua vez também se subdividem em um sem-número de hábitos, possibilidades e unidades energéticas. (CCA)

[3] A astrologia mostra que cada ser humano vive a todo momento um diálogo, ainda que inconsciente, com as influências dos diferentes planetas do sistema solar, conforme os planetas avançam ocupando diferentes posições no zodíaco,  ou mapa do céu. (CCA)

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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.


Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.

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