Espíritos Antievolutivos
Animam Crenças Religiosas Convencionais
Carlos Cardoso Aveline
Não
existe monopólio do conhecimento divino, e cada
tradição
cultural aponta para alguns aspectos da verdade eterna
A crença popular em um Deus pessoal é estimulada pelas igrejas e religiões do
monoteísmo organizado, e isso ocorre por um motivo prático.
Elas buscam dominar seus seguidores manipulando sentimentos
de medo e esperança pessoais. Igrejas e sacerdotes se colocam como
intermediários em uma relação comercial. O crente ingênuo visa comprar favores e
vantagens de um deus todo-poderoso, cujo comportamento poderia ser supostamente
controlado através de uma crença, uma promessa, uma vela acesa, ou do pagamento
do dízimo a seus representantes.
A manipulação sacerdotal dos povos acontece há milênios e
constitui uma causa desnecessária porém central do sofrimento humano, segundo alerta
a Carta 88 das “Cartas dos Mahatmas”. [1]
Obedecendo ao desejo de seus sacerdotes, o deus
monoteísta de cada tribo ou nação justifica mentir, matar e oprimir quando tais
crimes forem feitos - pelo menos nominalmente - para maior glória dele
próprio.
Há milênios os sacerdotes de várias religiões monoteístas
abençoam guerras e destruição sempre renovadas, enquanto o budismo, por exemplo
- que não trabalha com o conceito de deus -, jamais promoveu uma guerra.
Pode ser difícil para alguns perceber o velho mecanismo
da credulidade dos povos, pelo qual nações inteiras são vítimas da ignorância
da casta sacerdotal, que não sabe o que faz. No entanto, este é apenas um
primeiro passo.
Um documento incluído em “Cartas dos Mahatmas” mostra um
aspecto mais sutil e pouco conhecido do processo da crença em deus.
Trata-se da Carta número 30, no volume I, que inclui uma
mensagem colocada no papel por H.P. Blavatsky, sob ditado do Mestre dela. O
Mahatma mostra o erro dos teosofistas da cidade de Prayag (Allahabad), e por
isso o documento é conhecido como “Carta de Prayag”.
Na Carta 36 de “Cartas dos Mahatmas”, vemos estas palavras
do Mestre de HPB:
“E ainda há os teosofistas de Prayag (…). Não fazem nada e esperam que nós mantenhamos
correspondência com eles. Homens tolos e arrogantes.”
O texto da Carta de Prayag revela que os deuses das religiões dogmáticas são
energias sutis animadas por espíritos
planetários antievolutivos, cuja função cármica é evitar que a Vitória da Sabedoria Universal no coração
humano ocorra de modo
prematuro.
O Mestre designa tais espíritos
planetários atrasados pelo nome de Ma-Mo Chohans.
Na mesma Carta, o Mahatma explica por que motivo um Raja-Iogue
não pode ajudar em sua caminhada a quem crê em superstições como “Deus” e “Deuses”
no sentido convencional. Este tipo de crença destrói as possibilidades de uma
afinidade magnética com a sabedoria divina, porque fecha a aura do indivíduo
para a expansão de consciência que constitui a substância do caminho
espiritual.
Diz a Carta 30:
“A fé em Deuses ou em Deus e
outras superstições atraem milhões de influências alheias, entidades vivas e
poderosos agentes para perto das pessoas, e nos veríamos obrigados a usar algo
mais que o exercício comum de poder para afastá-los. Nós decidimos não fazê-lo.
Não consideramos necessário nem proveitoso perder o nosso tempo travando uma
guerra com planetários [2] atrasados que se deliciam personificando deuses e, às vezes,
personagens famosos que viveram na terra. Existem Dhyan-Chohans, e ‘Chohans das
Trevas’, não o que eles chamam de diabos, mas ‘Inteligências’ imperfeitas que nunca nasceram nesta ou em
qualquer outra terra ou esfera, tanto quanto os ‘Dhyan-Chohans’, e que nunca
farão parte dos ‘construtores do Universo’, as Inteligências Planetárias puras
que presidem cada Manvântara,
enquanto que os Chohans das Trevas presidem os Pralayas. Explique
isso ao sr. Sinnett (....) - diga-lhe
que leia de novo o que disse a eles nas poucas coisas que expliquei ao sr.
Hume, e que ele se lembre de que, assim como tudo neste universo é contraste
(não posso traduzi-lo melhor) assim também a luz dos Dhyan Chohans e sua
inteligência pura é contrastada pelos ‘Ma-Mo Chohans’ - e sua
inteligência destrutiva. Esses são os deuses que hindus, cristãos, maometanos e
todos os demais integrantes de religiões e seitas intolerantes fanáticas
adoram; e enquanto a sua influência se fizer sentir sobre os seus devotos, não
nos ocorreria a ideia de associar-nos a eles nem de opor-nos a seu trabalho, do
mesmo modo como em relação aos Gorros Vermelhos [3]
na terra, cujos resultados maléficos tratamos de diminuir, mas com cujo
trabalho não temos direito de imiscuir-nos, enquanto eles não se interpuserem
em nosso caminho.”
Depois desta mensagem ditada pelo raja-iogue, Helena
Blavatsky prossegue na carta acrescentando uma explicação sua. Ela diz o
seguinte (colocamos alguns termos explicativos entre colchetes, em itálico e
sublinhados):
“Aqui (...) [o Mestre]
quer dizer que eles não têm o direito, nem o poder, de ir contra a natureza, ou
contra aquele trabalho que foi destinado pela lei da natureza para cada tipo de
seres ou coisas existentes. Os Irmãos [os Mahatmas], por exemplo,
podem (....) até certo grau reduzir o mal e aliviar o sofrimento: mas não podem
destruir o mal. Do mesmo modo os Dhyan Chohans [espíritos planetários evolutivos, que trabalham pela libertação
humana] não podem impedir o trabalho dos Mamo Chohans, pois a Lei destes
é trevas, ignorância, destruição, etc., assim como a Lei dos primeiros é Luz, conhecimento e
criação. Os Dhyans Chohans respondem a Buddh, Sabedoria Divina e Vida em conhecimento abençoado, e os
Ma-mos são a corporificação na natureza de Shiva, Jeová e outros
monstros inventados, que têm a ignorância como seguidora.”
Vemos assim que, de acordo com a filosofia esotérica, há
de fato “algo real” que interage no plano sutil com as seitas religiosas baseadas
em dogmatismo e crença ritualista. Este “algo” são espíritos planetários antievolutivos,
que obstaculizam o progresso da humanidade.
A tarefa da teosofia e da filosofia ocidental clássica é
libertar a humanidade do pensamento pré-filosófico, que busca perpetuar a
ingenuidade dos povos com base em crença cega e em rituais fabricados na idade
média.
O ecumenismo e o diálogo
inter-religioso devem ser incentivados. Eles mostram implicitamente a fraude da
pretensão de cada igreja que se propõe como proprietária única do imaginário deus
monoteísta, e da verdade.
Não existe monopólio do
conhecimento divino: a sabedoria universal está parcialmente presente em cada
religião. O cidadão transcende a armadilha sacerdotal ao perceber que a luz
espiritual, assim como a luz solar, não tem proprietários.
O debate filosófico e o sentimento de dever intercultural
para com o futuro libertam a mente humana de sofrimentos desnecessários, e
abrem as portas para uma nova ética planetária - a ética da fraternidade entre
todos os seres.
[1] “Cartas dos Mahatmas
para A. P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, dois volumes. Coordenação
editorial de Carlos Cardoso Aveline.
[2] Isto é,
espíritos planetários. (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[3] Seita asiática
cuja ação dificulta a evolução espiritual dos seres humanos.
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Uma versão inicial do texto acima foi
publicada de modo anônimo na edição de fevereiro de 2010 de “O Teosofista”. Ele foi publicado como
artigo independente em março de 2014, e revisado e atualizado em julho de 2018.