A Unidade da Vida Segundo
Um Pioneiro da Teosofia Moderna
Carlos Cardoso Aveline
Carlos Cardoso Aveline

Paracelso,
ou Philippus Aureolus Theophrastus Bombast, de Hohenheim
Diferentes
peregrinos podem dedicar suas vidas a vários aspectos da mesma missão, e é
possível aprender algo da experiência acumulada dos seus esforços ao longo do
tempo.
Por
exemplo, há diversos aspectos em comum entre a vida, a personalidade e o estilo
pessoal de Paracelso (1490-1541), Alessandro Cagliostro (1743?-1795?), e Helena
P. Blavatsky (1831-1891). Vale a pena fazer um estudo comparado das três vidas.
Tanto
Paracelso (veja a imagem) como Cagliostro visitaram a Rússia, e HPB nasceu lá.
Os três enfrentaram obstáculos semelhantes, adotando diante deles com frequência
atitudes similares. Viajaram muito, e Paracelso explica:
“O
conhecimento que podemos obter não está confinado aos limites do nosso próprio
país, e não corre atrás de nós, mas espera até que procuremos por ele. Ninguém
se torna em sua própria casa um professor com experiência prática, e ninguém
encontra um mestre dos segredos da Natureza em seu quarto de dormir. Devemos
procurar pelo conhecimento onde pensamos que ele possa estar; e por que motivo
o homem que busca o saber haveria de ser desprezado?”
Paracelso
acrescenta:
“Aqueles
que permanecem em casa podem viver com mais conforto e podem ficar mais ricos
que aqueles que vivem a viajar. Mas eu não desejo viver confortavelmente, nem
desejo ficar rico. A felicidade é melhor que as riquezas materiais, e feliz é
aquele que viaja livre, sem possuir qualquer coisa que exija os seus cuidados.
Quem quiser estudar o livro da Natureza deve caminhar com os pés sobre as
folhas das árvores. Os livros são estudados olhando para as letras que eles
contêm; a Natureza é estudada pelo exame dos seus tesouros em todos os países.
Cada parte do mundo representa uma página no livro da Natureza, e todas as
páginas, juntas, formam o livro que contém suas grandes revelações.” [1]
Paracelso
antecipou a teosofia moderna. Os mais sábios entre os seres humanos são os
alunos conscientes da arte de viver. A filosofia esotérica afirma que o
autoconhecimento depende de um conhecimento da natureza, e essa correspondência
tem aspectos mágicos.
Helena
P. Blavatsky escreve:
“O
conhecimento das causas primárias e da essência última de cada elemento - de
sua vida, suas funções, propriedades e condições de mudança - constitui a base
da MAGIA. Paracelso foi talvez o único ocultista na Europa durante os últimos
séculos e desde a era cristã que era versado neste mistério. Se uma mão
criminosa não tivesse colocado fim à sua vida anos antes do tempo destinado a isso
pela Natureza, a Magia fisiológica teria menos segredos para o mundo civilizado
do que tem agora.” [2]
Em “Ísis
Sem Véu”, HPB comenta a obra de Paracelso:
“Seu
estilo incompreensível, embora vívido, deve ser lido como os rolos de Ezequiel,
‘por dentro e por fora’. O perigo de
propor teorias heterodoxas era grande naqueles dias; a Igreja era poderosa e os
feiticeiros eram queimados às dúzias. É por esta razão que Paracelso, Agripa e
Eugênio Filaletes foram tão notáveis por suas declarações piedosas quanto
famosos por suas descobertas de Alquimia e Magia. As opiniões completas de
Paracelso sobre as propriedades ocultas do ímã estão parcialmente explicadas no
seu famoso livro, o Archidaxarum, em
que descreve a tintura maravilhosa, um medicamento extraído do ímã e chamado Magisterium magnetis (...). Mas as
explicações são todas dadas numa linguagem ininteligível para o profano.” [3]
HPB
prossegue:
“Ele
demonstra, a seguir, que no homem reside escondida uma ‘força sideral’, que é uma emanação dos astros
e dos corpos celestiais de que se compõe a forma espiritual do homem - o
espírito astral. Esta identidade de essência, que podemos denominar de espírito
da matéria cometária, está sempre em relação direta com os astros de onde foi
extraída e, assim, existe uma atração mútua entre os dois níveis, pois ambos são
ímãs. A composição idêntica da Terra e de todos os outros corpos planetários e
do corpo terrestre do homem constitui a ideia fundamental de sua filosofia. ‘O
corpo provém dos elementos; e o espírito [astral], dos astros. (…) O homem come
e bebe dos elementos, para o sustento do seu sangue e da sua carne, mas dos
astros vêm o sustento do intelecto e os pensamentos de sua alma.’ Vemos
corroboradas as afirmações de Paracelso, porque o espectroscópio demonstrou a verdade da sua teoria relativa à composição
idêntica do homem e dos astros; os físicos agora dissertam em suas salas de
aula sobre as atrações magnéticas do Sol e dos planetas.” (“Ísis Sem Véu”, HPB,
vol. I, p. 237)
A
obra de Paracelso tem sido reconhecida pela ciência, e HPB afirma:
“Dos
elementos conhecidos que compõem o corpo do homem, já foram descobertos no Sol
o hidrogênio, o sódio, o cálcio, o magnésio, e o ferro, e nas centenas de
astros observados, encontrou-se hidrogênio, exceto em dois. Agora, se nos
lembrarmos de como foram censurados Paracelso e a sua teoria segundo a qual os
homens e os astros são compostos de substâncias semelhantes; de como ele foi ridicularizado
pelos astrônomos e pelos médicos por suas ideias sobre afinidade química e
atração entre uns e outros; e se constatamos que o espectroscópio validou pelo
menos uma dessas asserções, será absurdo profetizar que virá um tempo em que
todo o restante das suas teorias será confirmado?” [4]
A
alimentação do corpo humano não é meramente física, mas inclui força magnética.
HPB escreve, referindo-se a Paracelso:
“O
ponto seguinte que os fisiologistas devem verificar é a sua proposição de que a
alimentação do corpo se faz pelo estômago, ‘mas também, imperceptivelmente,
pela força magnética, que reside em toda a Natureza e da qual todo indivíduo
colhe para si o seu alimento específico.’ O homem, diz ele a seguir, colhe não
só a sua saúde dos elementos, quando eles estão em equilíbrio, mas também a sua
doença, quando eles estão perturbados. Os corpos vivos estão sujeitos às leis
da afinidade química, segundo admite a Ciência; a propriedade física mais
notável dos tecidos orgânicos, de acordo com os fisiologistas, é a propriedade
de absorção. O que há de mais
natural, então, do que essa teoria de Paracelso, segundo a qual o nosso corpo
absorvente, atrativo e químico acumula em si mesmo as influências astrais ou
siderais? ‘O Sol e as estrelas nos atraem para eles, e nós os atraímos para
nós.’ Que objeção oferece a Ciência contra esse fato? O que exalamos foi
mostrado através da descoberta do Barão Reichenbach das emanações ódicas do
homem, que são idênticas às que provêm dos ímãs, dos cristais e de todos os
organismos vegetais.” [5]
A
teosofia afirma que não há separação no cosmos, e HPB explica:
“A
unidade do universo foi anunciada por Paracelso, que diz que ‘o corpo humano possui
matéria primordial’ (ou matéria cósmica); o espectroscópio provou esta
afirmação ao mostrar que ‘os mesmos elementos químicos que existem sobre a
Terra e no Sol também podem ser encontrados em todas as estrelas.’ O
espectroscópio faz mais ainda: mostra que todas as estrelas ‘são sóis, similares em constituição ao nosso
sol’; e o Prof. Mayer acrescenta que as condições magnéticas da Terra mudam de
acordo com cada variação da superfície do sol, e considera-se que estão ‘sujeitas
às emanações do sol’. Como as estrelas são sóis, devem também emitir emanações
que nos afetam de modo proporcional.” [6]
Helena
Blavatsky prossegue sua análise citando semelhanças entre as plantas e os seres
humanos:
“ ‘Nos
nossos sonhos’, diz Paracelso, ‘somos como as plantas, que também possuem o corpo
elemental e vital, mas não o espírito. No nosso sono, o corpo astral é livre e
pode, pela elasticidade da sua natureza, pairar ao redor do seu veículo
adormecido ou erguer-se mais alto, para conversar com os pais estelares ou
mesmo comunicar-se com os seus irmãos a grandes distâncias. Os sonhos de
caráter profético, a presciência e as necessidades atuais são as faculdades do
espírito astral. Esses dons não são concedidos ao nosso corpo elemental e
grosseiro, pois com a morte ele desce ao seio da Terra e se reúne aos elementos
físicos, ao passo que muitos espíritos retornam às estrelas. Os animais’,
acrescenta, ‘têm também os seus pressentimentos, pois também têm um corpo
astral’.” [7]
Os
seres humanos vivem em constante diálogo com minerais, plantas, animais, planetas
e estrelas.
Cada
cidadão é um microcosmo ou resumo do universo, e tem muito a aprender com a
observação do seu diálogo com os objetos celestes. Essa interação pode ser lida
através de uma abordagem filosófica da astrologia.
O
indivíduo também deve observar sua relação cotidiana com os diversos reinos da
natureza. De que modo ele interage com os animais e com os cidadãos do reino
vegetal?
Sabe-se
há milênios que as plantas têm sentimentos. Plotino escreveu que elas procuram
a felicidade. As plantas podem ensinar teosofia para a nossa humanidade, se
formos sábios o suficiente para aprender com elas sobre a unidade da vida em nosso planeta.
NOTAS:
[1] Paracelso, citado no livro “The
PARACELSUS of Robert Browning”, de Christina Pollock Denison, The Baker and
Taylor Company, New York, 1911, 239 pp., ver pp. 30-31.
[2] “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky,
Theosophy Co., Los Angeles, volume I, p. 263.
[3] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky,
Editora Pensamento, São Paulo, volume I, pp. 236-237. Na edição fac-similar em
inglês, Theosophy Co., “Isis Unveiled”, volume I, pp. 167-168. Nas diversas
citações de “Ísis sem Véu” do presente artigo, revisamos quando necessário a
versão da Editora Pensamento, tendo em conta a edição original em inglês.
[4] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Editora
Pensamento, São Paulo, volume I, p. 237. Na edição original em inglês, volume
I, p. 168.
[5] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Editora
Pensamento, São Paulo, volume I, p. 238. Na edição original em inglês, volume
I, p. 169.
[6] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Editora
Pensamento, São Paulo, volume I, p. 238. Na edição original em inglês, volume
I, p. 169-170.
[7] “Ísis Sem Véu”, H. P. Blavatsky, Editora
Pensamento, São Paulo, volume I, p. 238. Na edição original em inglês, volume
I, p. 170.
000
Um esboço inicial
do texto acima foi publicado sob o mesmo título na edição de outubro de 2013 de
O Teosofista.
000
Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia
a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.

Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete
capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
000