Um Trecho do Livro “Os Sete Níveis da
Intimidade”
Matthew Kelly
Matthew Kelly
Quando você pensa na palavra “disciplina”, o que lhe vem à mente? Para
muitos, disciplina faz lembrar um professor exigente, um pai ou
mãe controladores. Tente deixar de lado essa ideia e pense na disciplina
que um atleta adota livremente para obter o melhor de si mesmo. Ninguém pode
torná-lo disciplinado. A disciplina é um presente que damos a nós mesmos.
Todos os aspectos do ser humano
desabrocham com disciplina, e o mesmo acontece com os relacionamentos. A
disciplina é o preço que a vida cobra pela felicidade. Novamente, não estou
falando do prazer passageiro, e sim de felicidade duradoura. Você não pode ser
feliz por um período longo se não tiver disciplina.
A disciplina é a estrada que leva
à plenitude da vida.
Pense nos quatro aspectos do ser
humano: físico, emocional, intelectual e espiritual. Quando nos alimentamos
bem, nos exercitamos com frequência e temos uma rotina de sono regular, nos
sentimos mais plenamente vivos fisicamente. Quando amamos, quando damos
prioridade aos relacionamentos significativos de nossas vidas, quando nos
dedicamos a ajudar os outros em sua jornada, nos sentimos mais vivos
intelectualmente. Quando entramos na escola do silêncio e nos postamos diante
de Deus [1] em oração,
vivenciamos a vida mais plenamente do ponto de vista espiritual.
Cada uma dessas formas de vida
mais plena requer disciplina.
Alimentar-se bem requer
disciplina. Exercitar-se requer disciplina. Pensar nas necessidades dos outros
antes das nossas requer disciplina. Tornar-nos as melhores pessoas que podemos ser exige escolhas, e as
escolhas requerem disciplinas.
Você está desabrochando? Ou
apenas sobrevivendo?
Quando nos sentimos mais
plenamente vivos? Quando adotamos uma forma de disciplina. O ser humano
desabrocha com a disciplina.
A disciplina é a chave da
liberdade. É fácil ceder ao apelo dos prazeres momentâneos que este mundo oferece
com tanta facilidade, mas todos os grandes homens e mulheres conhecem o valor
de adiar as gratificações imediatas. Os heróis, líderes, campeões e santos que
povoam os livros de história souberam adotar a disciplina muito bem.
Neste momento da história, o
prazer e a gratificação imediata parecem ser os mestres da maioria das pessoas.
Nós nos vemos escravizados e aprisionados por milhares de caprichos, anseios,
vícios e apegos. Interiorizamos a ideia de que liberdade é a capacidade de
fazer o que se quer, quando e onde se tem vontade, sem interferência de
qualquer autoridade.
Mas liberdade não é a capacidade
de se fazer o que se quer. Ser livre é
ser capaz de escolher. Liberdade é a capacidade de escolher a cada momento o que é bom,
verdadeiro, nobre e certo, para ir se
tornando a melhor pessoa que você pode ser. Liberdade sem disciplina é
impossível.
Mas a liberdade não é o centro da
vida. Não. O amor é a essência da vida. O amor é a grande alegria da vida
e sua maior lição. O amor é a única razão pela qual se dá a vida. Nós nos
mantemos ocupados com tantas coisas e deixamos de lado, ignoramos,
negligenciamos essa única e grandiosa tarefa. O amor é a principal e mais
importante tarefa - amar a si mesmo, esforçando-se para se tornar a melhor
pessoa possível; amar os outros, incentivando-os em sua busca para se tornarem
as melhores pessoas possíveis; e amar a Deus, tornando-se tudo aquilo que você
foi criado para ser.
Para amar, porém, você precisa
ser livre, pois amar é entregar-se a alguém ou a alguma coisa gratuitamente, de
forma completa, incondicional e sem reservas. Mas, para se entregar - a outra
pessoa, a uma missão, a Deus -, é preciso primeiro se conhecer e ser dono de si
mesmo. A posse de si mesmo é a liberdade. Ela é um pré-requisito para o amor e
só pode ser obtida por meio de disciplina.
É por isso que tão poucos
relacionamentos florescem na nossa época. A própria natureza do amor exige a
posse de si mesmo. Sem autocontrole e autodomínio, somos incapazes de amar e de
nos entregarmos.
O problema é que não queremos
disciplina. Queremos que alguém nos diga que podemos ser felizes sem
disciplina. Mas é impossível. Na verdade, se você quiser medir seu nível de
felicidade, meça o nível de disciplina em sua vida. Os dois estão diretamente
relacionados.
Cada passo em direção à
melhor pessoa que podemos ser requer disciplina. (...)
Se não houver disciplina,
não há amor.
NOTA:
[1] A
filosofia esotérica ensina que os deuses monoteístas são uma ilusão
predominantemente medieval, fabricada por sacerdotes desinformados. Em
teosofia, a palavra “deus” pode significar a Lei Universal do Equilíbrio e da
Justiça. No caso do recolhimento em oração e meditação, o estudante se reúne
com a voz da sua consciência, a voz sem palavras do seu próprio eu superior ou
alma espiritual. O estudante é inspirado pela lei impessoal de justiça e
harmonia que rege o universo.
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Reproduzido das pp. 53-55 do livro “Os Sete Níveis da Intimidade”, de
Matthew Kelly, Ed. Sextante, RJ, 2007, 221 pp.
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Sobre o mistério do despertar individual
para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com
tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos,
85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The
Aquarian Theosophist”.
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