Teosofia Original Ensina Que
o Trigo Veio de Vênus;
Lenda Carajá Diz o Mesmo
Sobre Agricultura e Cereais
Carlos Cardoso Aveline
As informações científicas
disponíveis na primeira parte do século 21 parecem concordar com a ideia de que
o trigo jamais foi encontrado como planta nativa em parte alguma do nosso
planeta. O seu uso agrícola se confunde com a própria origem da civilização
humana, cuja memória histórica não vai muito além de seis mil anos atrás.
Pesquisas
admitem que o material genético das várias espécies do trigo é bastante
complexo, se comparado com a maior parte das espécies de plantas. Também se
constata que, com o tempo, surgiram cruzamentos do trigo com outras espécies de
plantas gramíneas. Daí, provavelmente, a sua diversidade atual.
Não há,
em enciclopédias ou estudos conhecidos, uma informação que diga que o trigo é
natural deste ou daquele país. Mesmo nos registros mais antigos, o trigo já
aparece como uma espécie vegetal “domesticada” e não como um “mato nativo”. Ele
parece ter estado sempre ligado à agricultura.
Esta
planta herbácea, da família das gramíneas, está presente nas lendas de quase
todas as religiões, e elas lhe atribuem uma origem divina. Os fenícios
agradecem pelo trigo às suas divindades; os hindus são gratos a Brahma. Para os
gregos antigos, o trigo é um presente de Demeter, a deusa da agricultura, e
para os romanos se trata de um presente da deusa Ceres: de “Ceres” vem o nome
“cereal”. Os muçulmanos e cristãos também afirmam que a origem do trigo é
celeste.
A
filosofia esotérica tem uma explicação mais elaborada para a origem divina do
trigo. A obra “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky, foi escrita com
base nos registros esotéricos da evolução do nosso planeta, que estão sob a
guarda de sábios do Oriente. Referindo-se a um momento decisivo da evolução
terrestre e humana, esta obra clássica afirma o seguinte:
“Frutos
e grãos, desconhecidos na Terra até aquele momento, foram trazidos pelos ‘Senhores
da Sabedoria’ desde outros lokas [esferas], em benefício daqueles que
governavam.” [1]
A frase diz
respeito a Vênus, porque é de lá que vieram os “Senhores da Sabedoria”. Pouco
mais adiante, HPB menciona o fato de que o trigo jamais foi encontrado em
estado silvestre em nosso planeta. E acrescenta:
“Todos
os outros cereais tiveram as suas formas primogênitas localizadas em várias
espécies de gramíneas silvestres, mas o trigo tem desafiado até agora os
esforços dos botânicos que tentam conhecer sua origem. E devemos lembrar, a
respeito, que este cereal era considerado sagrado pelos sacerdotes egípcios; o
trigo era colocado inclusive junto às suas múmias, tendo sido encontrado em
ataúdes milhares de anos depois.” [2]
Poucas
linhas mais adiante, HPB lembra que no livro egípcio dos mortos a deusa Ísis
afirma:
“Eu fui
a primeira a revelar aos mortais os mistérios do trigo e dos cereais... Eu sou
aquela que se ergue na constelação do cão (a estrela do cão)....”.
HPB esclarece
que a estrela Sírio era chamada de
estrela-cão. E ainda hoje a astronomia define Sírio como uma grande estrela da Constelação do Cão Maior.
Blavatsky
menciona em seguida o fato de que, segundo o I-Ching chinês, a agricultura surgiu graças “às instruções dadas
aos seres humanos por espíritos celestes”. [3]
Deste
modo, fica claro um fato básico. Cada vez que o cristianismo usa o pão como
hóstia em seus rituais, ou cultua “o pão nosso de cada dia”, está obedecendo a uma
antiga tradição pagã segundo a qual o trigo tem origem divina e extraterrestre.
Os diversos
mitos ocidentais sobre a origem do trigo e a abordagem de “A Doutrina Secreta”
são confirmados também pela mitologia dos índios brasileiros Carajás.
Houve um
tempo, durante a infância da humanidade - diz uma lenda - em que a nação dos
Carajás não sabia fazer roça, nem plantar o milho cururu, nem ananás, nem mandioca.
A nação
só vivia de frutas do mato, dos bichos terrestres que matava, e de peixe.
Naquela época, conta-se que um casal vivia com suas duas filhas. Durante um anoitecer
estrelado, a filha mais velha do casal olhou para Tahina-Can - Vênus, a “grande
estrela” - e desejou fortemente viver com o planeta. Ao ver isso, o pai da moça
riu, e disse que ninguém poderia alcançar Tahina-Can. A estrela vespertina
estava muito longe.
O significado
simbólico da passagem é que a humanidade olha para o alto em busca de ajuda em
sua evolução. Ela aspira a algo maior, mas, inicialmente, a ajuda parece
impossível.
À noite,
quando todos dormiam - prossegue a lenda - um velho de idade avançada surgiu e apresentou-se
à moça. Disse que era Tahina-Can, Vênus, e perguntou a ela se queria casar com
ele. Surpresa, ela disse que não.
“Você é
velho e feio”, explicou.
A
velhice simboliza a sabedoria.
A forma
externa decepcionante serviu para testar o discernimento da discípula e saber
se ela podia ir além das aparências. A humanidade de Vênus é mais velha e mais
sábia que a humanidade terrestre. Porém, em geral, quando a ajuda do alto
finalmente vem para os humanos, aqueles que a pediram nem sempre estão dispostos
a aceitá-la, porque ela não corresponde às expectativas criadas desde o ponto
de vista da rotina e da ignorância.
Neste
caso específico, a ajuda vinda de Vênus pode ter sido rejeitada pelas sub-raças
mais antigas da terceira raça-raiz, simbolizadas na lenda pela irmã mais velha.
Diante
da reação da jovem, Tahina-Can começou a chorar. O choro de seres divinos
simboliza não só a compaixão universal, mas também a irrigação, a purificação,
a renovação da vida. A história não acaba neste ponto, portanto. Denakê, a
filha mais moça do casal, tinha um coração especialmente bondoso. Ela
compadeceu-se do velhinho. Ela disse que se casaria com ele, e ficaram juntos.
A
bondade de coração abre as portas da sabedoria. O casamento entre o velho de
Vênus e a filha mais nova do casal terrestre simboliza entre outras coisas a
união alquímica entre o eu superior - velho porque imortal - e o eu inferior,
que é novo porque, sendo mortal, nasce outra vez a cada encarnação.
Conta e
lenda que no dia seguinte, cedo pela manhã, o velho Tahina-Can, Vênus, foi
trabalhar. Ele colheu sementes em um rio e criou a agricultura. Ele deu ao povo
da terra os grãos e os cereais, e passou a usar um corpo físico jovem, adaptado
ao processo terrestre. Assim se renovou o processo vital do nosso planeta. [4]
Esta
lenda Carajá, do rio Araguaia, coincide com afirmativa feita em “A Doutrina
Secreta”, de que as inteligências espirituais do planeta Vênus estão ligadas à
invenção da agricultura e ao começo do uso do trigo em nosso planeta.
A
sabedoria deste planeta irmão deu apoio em vários momentos decisivos da
evolução humana. Veio de Vênus o fogo da consciência, o princípio mental que
nos faltava, muitas eras atrás. Quando olhamos Vênus a cada anoitecer, ou
quando comemos uma simples fatia de pão, vale a pena lembrar que a evolução
terrestre não é um processo isolado. Nosso ambiente natural mais imediato é o sistema solar inteiro, e a dimensão cósmica
e metafísica da vida está presente inclusive nos sanduíches nossos de cada dia.
NOTAS:
[1] Ver “A Doutrina Secreta”, de
Helena Blavatsky, na edição original em inglês: “The Secret Doctrine”, HPB, Theosophy
Co., Los Angeles, volume dois, p. 373.
[2] “The Secret Doctrine”, obra
citada, volume II, pp. 373-374.
[3] “A Doutrina Secreta”, obra
citada, volume II, p. 374.
[4] “Lendas do Índio Brasileiro”,
organização de Alberto da Costa e Silva, terceira edição, Ediouro, RJ, 300 pp.,
ver pp. 293-296.
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Uma versão inicial do texto acima
foi publicada, sem indicação do nome do autor, em “O Teosofista” de março de 2010, sob o título “A Teosofia e o Pão
Nosso de Cada Dia”.
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Para conhecer a teosofia original
desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.
Com 19 capítulos e 191 páginas, a
obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.
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