Treze Pontos Úteis na
Construção de uma Autodisciplina
Carlos Cardoso Aveline
A autodisciplina diária é um fator decisivo na
aprendizagem da teosofia, e não pode ter como base a obediência cega. Deve
emergir de um conhecimento direto, ainda que parcial, de nosso eu superior e
das suas potencialidades sagradas.
Os treze pontos a seguir, que reproduzo em negrito, foram
publicados pela primeira vez em “The Theosophist”, Índia, em outubro de 1880,
quando Helena Blavatsky era a editora da revista.[1]
Antes de transcrever as recomendações, H.P. Blavatsky
escreveu apenas:
“Foi criada em Kuntiyana, Kattywar uma sociedade chamada
Sociedade Aryavatsal, e ela adotou as seguintes regras, que revelam bom senso.”
Acrescento em itálico alguns comentários a cada um dos pontos,
levando em conta as circunstâncias do século 21.
1) Devotar uma
hora todas as manhãs e todas as noites a meditar sobre o Espírito Divino em um
ponto retirado e com um estado mental perfeitamente calmo, passando o tempo
todo com atitude sagrada.
A transição entre o estado de vigília e o estado de sono (com ou sem
sonhos) tem grande importância em teosofia profunda. As primeiras horas da
manhã são extremamente produtivas para o estudo e a reflexão. O estado de
espírito deve ser calmo e elevado logo antes de dormir.
2) Falar sempre
a verdade, sabendo que nossa consciência é testemunha de todas as nossas ações.
A sabedoria criará meios de expandir constantemente a nossa “quota de
sinceridade” na vida diária. É a pureza e a elevação de pensamentos que permitem
ser sincero.
3) Comer, beber
e conviver com todos, sabendo que somos todos semelhantes ao nascer e
considerar a humanidade toda como uma fraternidade.
Essa é uma alusão à necessidade de ignorar diferenças religiosas ou de
classes sociais e, no caso da Índia, ignorar as diferenças de casta social.
4) Não cometer
adultério nem ceder à luxúria; em outras palavras, obter controle sobre as
paixões do corpo.
A lealdade e o seu oposto ocorrem antes de tudo no plano emocional e em
pensamento. Sentimentos como luxúria e gula na verdade não são do corpo físico,
embora o utilizem e frequentemente abusem dele ameaçando sua saúde: as emoções
desreguladas ocorrem no quarto princípio, o princípio emocional, sede dos medos
e desejos.
5) Ser simples e
regular ao comer e beber, ao vestir, ao falar, e em todos os hábitos.
A simplicidade voluntária expressa desapego e uma capacidade de viver em
unidade com o que é essencial.
6) Não ingerir
drogas ou bebidas alcoólicas.
Evitar o exagero de bebidas estimulantes como café e assemelhados.
7) Não maltratar ou
matar animais. Lembrar que todos os seres são criaturas do mesmo Deus, e que os
outros sentem a mesma dor que nós.
Não matar animais implica abstenção de alimentação carnívora; quem come
carne está indiretamente matando animais. Usando linguagem popular, este item
afirma que todos são “criaturas do mesmo Deus”. Na verdade, não existe um Deus
monoteísta no universo, nem sequer fora dele, conforme os Mestres de Sabedoria
esclarecem na Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas” (Editora Teosófica). Em
teosofia é correto dizer que todos os seres são igualmente “criaturas da Lei
Universal”, ou discípulos da Lei Eterna.
8) Ser honestos
em todas as nossas ações, e nunca usar de mentira ou fraude.
Esta afirmação retoma e reforça o item dois, acima. A honestidade é função
de antahkarana, a ponte para nossa alma imortal; a astúcia e deslealdade
bloqueiam antahkarana.
9) Lembrar de
todas as ações más que já cometemos e tentar permanecer livres delas.
Deste modo evitamos os ciclos repetitivos e nos mantemos humildes, deixando
de lado a arrogância e outras formas de ilusão.
10) Evitar a companhia de pessoas imorais.
O convívio cria afinidades. Deve-se ajudar quem erra, se há possibilidades
efetivas de ajuda no sentido de que a pessoa se afaste do erro, mas é
necessário buscar a companhia dos melhores e mais sábios.
11) Evitar matrimônio prematuro.
Embora o preceito seja válido para todos, ele contém uma referência mais
específica ao costume indiano tradicional do casamento infantil, arranjado e
decidido pelos pais das crianças.
12) Consultar nossa consciência em relação ao que é certo e o que é errado, e
então adotar a ação adequada, ditada pela intuição.
A voz da nossa consciência fala sem palavras desde antahkarana,
fazendo a síntese entre alma imortal e alma mortal.
13) Ser amável para com os pobres e ajudá-los na medida em que nossos meios
materiais o permitirem.
A simplicidade voluntária leva a uma atitude solidária para com todos.
NOTA:
[1] Foram publicados também, sob o título “Rules for Daily
Life”, na edição de agosto de 2012 da publicação internacional “The Aquarian
Theosophist”. Em português, apareceram na edição de agosto de 2014 de “O Teosofista”.
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Para conhecer a
teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de
Carlos Cardoso Aveline.
Com 19 capítulos e
191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de
Brasília.
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