Origem e Significado
de Uma Imagem Universalista
Carlos Cardoso
Aveline

Qual é o símbolo do movimento teosófico
moderno, fundado por Helena Blavatsky em sete de setembro de 1875? Quais são a
sua origem, a sua força oculta e o seu significado?
O símbolo contém em si a ideia central da
famosa “Tábua de Esmeralda”, que se relaciona com a tradição egípcia e é tema
de um artigo específico. [1] A
imagem expressa o fluxo constante e eterno da vida entre o céu e a terra, entre
o plano espiritual e o plano material, a essência e a forma.
Acima dos outros elementos, vemos na imagem a
palavra sânscrita e sagrada Om, ou AUM, uma evocação ao princípio supremo da Lei
e da vida universal.
A serpente que morde o próprio rabo simboliza
os ciclos do tempo cósmico, cujos inícios e finais se encontram. Seu nome
é Uróboro. Ela é a animadora universal.
Os estudiosos de simbologia afirmam que ela não é apenas promotora da vida, mas
da duração. Ela cria o tempo e a vida.
Outro elemento da imagem está junto ao ponto
de encontro entre a boca e a cauda da serpente. Ali vemos a cruz suástica. Este
é um símbolo hinduísta milenar, que reforça o significado da Uróboro ao
expressar o processo ilimitado pelo qual os universos surgem, vivem e se
desfazem, para surgirem novamente depois de um longo descanso. Este símbolo do antigo
hinduísmo e do budismo foi distorcido e usado para fins criminosos pelos
nazistas, durante a primeira metade do século vinte.
Em seguida temos no símbolo dois triângulos
entrelaçados formando o selo de Salomão, cuja origem, na verdade, também é
oriental. Nas “Cartas dos Mahatmas”, um Mestre dos Himalaias explica:
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O duplo triângulo, visto pelos cabalistas judeus como o Selo de Salomão, é,
como muitos de vocês certamente sabem, o Sri-yantra
[2] do Templo Ariano antigo, o
“mistério dos mistérios”, uma síntese geométrica de toda a doutrina oculta. Os
dois triângulos entrelaçados são os Buddhangams
[3] da Criação. Eles contêm “a
quadratura do círculo”, a “pedra filosofal”, os grandes problemas da Vida e da
Morte, e - o Mistério do Mal. O chela que
puder explicar este signo em cada um dos seus aspectos é virtualmente um adepto. Como é então que, a única pessoa entre
vocês que chegou perto de descobrir o mistério é também a única pessoa que não
retirou nenhuma das suas ideias de livros? Inconscientemente, ela revela - a quem tiver a chave - a
primeira sílaba do Nome Inefável! Naturalmente vocês sabem que o
triângulo duplo - o Satkona Chakram
de Vishnu - ou a estrela de seis pontas, é o sete perfeito. Em todas as antigas
obras sânscritas - védicas e tântricas - você vê o número 6
mencionado com mais frequência que o número 7. Este último, o ponto central,
está implícito, porque é o germe e a matriz dos seis. Ele é assim, então... - o
ponto central representa o sete, e o círculo, o Mahakasha - o espaço sem fim - representa o sétimo Princípio Universal. Em certo sentido, ambos são
vistos como Avalokitesvara porque são
respectivamente o Macrocosmo e o microcosmo. Dos triângulos entrelaçados, o que
aponta para cima é a sabedoria oculta, e o que aponta para baixo é a Sabedoria revelada (no mundo fenomênico). O
círculo indica a qualidade definidora de limites e perimetral, do Todo, do Princípio Universal que, de
qualquer ponto, se expande e abarca todas as coisas, enquanto corporifica a
potencialidade de cada ação no Cosmo. Como o ponto, portanto, é o centro ao
redor do qual é traçado o círculo, os dois são idênticos e um só; embora, do ponto de vista de Maya e Avidya – (ilusão e
ignorância) - um esteja separado do outro pelo triângulo manifestado, cujos
três lados representam os três gunas
- os atributos finitos. Em simbologia, o ponto central é Jivatma (o sétimo
princípio) e portanto Avalokitesvara, o Kwan-shai-yin,
a “Voz” manifesta (ou Logos), o
ponto germinal da atividade manifesta; e daí surge, na terminologia dos
cabalistas cristãos, “o filho do Pai e da Mãe”, e de acordo com a nossa
terminologia - “o Ser manifestado no Ser - Yi-hsin,
a forma única de existência”, gerada por Dharmakaya (a essência universalmente difusa), ao mesmo tempo
masculina e feminina. Parabrahm ou “Adi-Buddha”, enquanto atua através daquele
ponto germinal externamente e como força ativa, reage a partir da
circunferência internamente como a Potência Suprema, mas latente. Os dois
triângulos simbolizam o Grande Passivo e o Grande Ativo; o masculino e o feminino;
Purusha e Prakriti. Cada triângulo é uma trindade porque apresenta um aspecto
tríplice. O branco representa, com suas linhas retas, Jnanam (Conhecimento); Jnata
(o Conhecedor); e Jneyam (aquilo que
é conhecido). O triângulo preto representa a forma, a cor e a substância;
também as forças criativas, preservadoras
e destrutivas, e tudo está mutuamente
correlacionado, etc., etc. [4]
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Até aqui, a explicação do Mahatma.
Cabe registrar que o duplo triângulo - o “selo
de Salomão” usado pelo povo judaico - é hoje a principal imagem na bandeira do
Estado democrático de Israel, fundado após a segunda guerra mundial.
A
Origem do Símbolo Teosófico
William Judge escreveu sobre a origem do
símbolo do movimento teosófico. Ele demonstrou que o selo é uma adaptação do
brasão pessoal usado por Helena Blavatsky antes que ela fundasse o movimento em
1875. A imagem do brasão de Helena era a seguinte:

Helena Petrovna Blavatsky era uma condessa
russa, embora não usasse este título de nobreza. William Q. Judge - um dos três
principais fundadores do movimento ao lado de Henry Olcott e de Helena - explicou
o brasão da seguinte maneira:
“É muito claro que, substancialmente, esta
imagem é o nosso símbolo. A parte omitida do símbolo é a cruz egípcia no centro.
No lugar daquela cruz, aparecem as letras ‘E.B.’, e estas letras significam ‘Elena
Blavatsky’, com o primeiro ‘E’ sendo aspirado. Mais acima está a coroa de uma
condessa. Estão presentes, dentro do círculo, signos astrológicos e
cabalísticos da proprietária que usava o símbolo. A proprietária era H. P.
Blavatsky. O símbolo foi usado com frequência em papel timbrado para
correspondência ( ... ). De quem, então,
veio a ideia do nosso símbolo? Será de H.P.B., ou de mais alguém?” [5]
A origem
do selo do movimento teosófico moderno é mais uma evidência da importância central
que a vida e o trabalho de Helena Blavatsky possuem para este movimento. Por outro
lado, a força combinada dos vários símbolos reunidos neste “brasão” e “escudo”
é uma fonte de inspiração inesgotável para os estudantes da filosofia esotérica
autêntica.
NOTAS:
[1] Veja em nossos websites associados o artigo “A Tábua de Esmeralda”, de Carlos Cardoso Aveline. A chamada Tábua de Esmeralda registra o mais antigo texto existente sobre o tema da pedra filosofal; e um Mahatma dos Himalaias, como se verá mais adiante no presente artigo, afirma que os triângulos entrelaçados do símbolo teosófico expressam a ideia da pedra filosofal. O Mestre se refere a este fato nas primeiras linhas da longa citação que fazemos de uma das Cartas dos Mahatmas.
[2] Sri-yantra - grande disco. Yantra, em sânscrito é roda, disco giratório. (Nota da edição brasileira
de “Cartas dos Mahatmas”)
[3] Buddhangams - O Encyclopedic Theosophical Glossary
(Theosophical University Press) informa que esta palavra composta, sânscrita,
significa órgãos ou partes componentes da luz, da sabedoria e do conhecimento.
(Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[4] “Cartas dos Mahatmas Para A. P.
Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, edição em dois volumes, ver volume II, Carta
111, pp. 213-214.
[5] “A Reminiscence”, artigo incluído
em “Theosophical Articles”, William Q. Judge, edição em dois volumes, Theosophy
Co., Los Angeles, 1980, ver volume II, pp. 160-162.
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O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em 21 de outubro de 2016.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa
análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes
decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma
das suas prioridades a construção
de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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