A Filosofia Como Uma Sabedoria de Vida
Carlos Cardoso Aveline
Estátua clássica supostamente
representando Demócrito
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Nota Editorial:
A fonte das citações
neste artigo é o livro
“Los Filósofos Presocráticos - Leucipo y
Demócrito”, Introdução, Tradução e Notas
de Maria Isabel Santa
Cruz de Prunes e Nestor
Luis Cordero, Ed.
Planeta DeAgostini/Gredos,
Madrid, Espanha,
1998, 308 pp. A página de
onde foi traduzido
cada trecho é indicada
entre parênteses ao
final das citações. [1]
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O filósofo grego Demócrito de Abdera, pré-socrático
atomista, tem datas controversas. Nasceu em algum momento entre 470 e 460 antes
da era cristã, e morreu com uma idade situada em algum ponto entre os 90 e os 109
anos de idade.
Perto do fim, sentindo que o corpo físico estava
suficientemente gasto, Demócrito decidiu jejuar até a morte. Depois de quatro
dias sem nada comer, conta Hermipo:
“Sendo já muito ancião, próximo à morte, sua irmã estava
aflita porque morreria durante a festa das Tesmofórias e ela não poderia,
então, cumprir com seu dever para com a deusa. Demócrito pediu-lhe tranquilidade,
e lhe ordenou que lhe levasse, a cada dia, pães quentes. Limitando-se a
aproximar os pães do nariz, Demócrito conseguiu deste modo manter-se durante a
festa. Quando esta concluiu, depois de três dias, ele abandonou a vida sem
sofrimentos – como diz Hermipo – com a idade de 109 anos.” (p. 43)
Segundo alguns relatos, Demócrito ria constantemente.
Ele ria do apego pelas coisas fúteis que é típico do ser
humano. Um riso contínuo agitava seu peito. Tudo o que dizia respeito ao homem,
para ele, era ridículo. Ele era chamado de “a Sabedoria que ri”. (p. 37)
Demócrito (470 a.C? - 370 a.C.?) foi contemporâneo de
Sócrates (470 a.C.- 399 a.C.). Sua inclusão entre os “pré-socráticos”,
portanto, tem valor relativo. Seguramente, Demócrito afirma o mesmo princípio
fundamental da filosofia socrática (“só sei que nada sei”), e faz isso a
partir da sua própria elaboração física e atomista.
Vejamos alguns fragmentos nesse sentido:
* “Que não
compreendemos como é em realidade cada coisa, e como não é, tem sido
demonstrado de inúmeras maneiras.”
* “Com ajuda desse
princípio, o homem deve compreender que está afastado da verdade.”
* “Esse argumento
mostra também, certamente, que em realidade nada sabemos sobre coisa alguma.”
* “Por convenção é
o quente, por convenção o frio; mas, na realidade, existem só átomos e vazio...
Na realidade, nada concebemos pois a verdade jaz no que é profundo.” (pp. 207-208)
Os sofistas, que não vivem o que dizem e ensinam apenas
por dinheiro, tiram vantagem da dificuldade deste princípio central,
distorcem-no, e caem no relativismo moral.
Esta doutrina de Sócrates e Demócrito, porém, corresponde
à doutrina budista e hindu sobre maya, a ilusão.
Na mesma linha, o Tao Te king chinês ensina na
abertura do seu capítulo 56:
“Quem fala não sabe, quem sabe não fala.”
O nada saber
também é o êxtase místico e o samadhi da ioga. Sobre a ilusão contida neste nada saber, e a bênção profunda
que ele oculta, a poeta brasileira Cecília Meireles escreveu:
“Os teus ouvidos estão enganados.
E os teus olhos.
E as tuas mãos.
E a tua boca anda mentindo
Enganada pelos teus sentidos.
Faze silêncio no teu corpo.
E escuta-te.
Há uma verdade silenciosa dentro de ti.
A verdade sem palavras.
Que procuras inutilmente,
Há tanto tempo (...).” [2]
O vazio budista também aparece no atomista Demócrito,
segundo registra Cícero:
* “Demócrito
sustenta que os átomos, como ele os chama, isto é, corpos indivisíveis devido à
sua solidez, estão no vazio infinito no qual não há nem alto nem baixo, nem
centro nem extremos, e eles se movem de um modo tal que se encontram e se unem
entre si, produzindo dessa maneira todas as coisas que existem e nós vemos.
Afirma, além disso, que esse movimento dos átomos não tem início algum, mas que
se produz eternamente.” (p. 94)
É tocante a simplicidade de Demócrito quando ele revela,
como físico e como cientista, o parentesco direto que a alma do homem tem com o
sol e a lua:
* “O sol e a lua
estão constituídos de átomos lisos e redondos; de modo semelhante está
constituída a alma...”. (p. 165)
E o pensador clássico Aécio de Antioquia documenta:
* “Demócrito diz
que a alma, que é ígnea, é um composto de integrantes cognoscíveis através da
razão, que tem forma esférica e caráter ardente, e que é um corpo.” (p.
165)
Essa segunda afirmação já não parece tão ingênua, e
coincide com a filosofia esotérica.
Outros trechos de Demócrito:
* “O mestre dos
insensatos não é a palavra, mas o sofrimento.”
Aqui, cabe a cada um de nós perguntar-se: “Isso tem
alguma coisa a ver comigo? Por que eu sofro? Seria eu um insensato na opinião
de Demócrito?”
* “O valente não é
só o mais forte frente ao inimigo, mas frente aos prazeres. Há quem domina as
cidades e é escravo das mulheres.” (p. 254)
* “Muitos são os
que parecem amigos sem sê-lo; muitos, ao contrário, são os que não parecem
amigos, mas o são.” (p. 255)
* “Quando a sorte
nos acompanha, encontrar um amigo é coisa fácil; mas, no infortúnio, é
dificílimo.” (p. 255)
Em inglês, há o ditado: “friends in need, friends
indeed”: “amigos na necessidade, amigos de verdade”.
* “Os deuses amam
apenas a aqueles que detestam fazer injustiças”. (p. 246)
De fato, a justiça é a base das relações equilibradas.
* “Toda a Terra é
acessível para o homem sábio, porque a pátria da alma grande é todo o universo.”
(p. 247)
* “É melhor
identificar os próprios erros que censurar os erros alheios.” (p. 249)
Jesus resgata essa ideia no Novo Testamento, Mt, 7: 3, ao
afirmar:
“Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão,
quando não percebes a trave que está no teu?”
NOTAS:
[1] Sobre Demócrito, veja também o
volume “Pré-Socráticos”, Coleção Os Pensadores, Ed. Nova Cultural, SP, 2000, 320 pp., especialmente pp.
259-313.
[2] Na obra Cânticos, poema IX, em Poesia
Completa, Cecília Meireles, Org. Antônio Carlos Secchin, Ed. Nova
Fronteira, RJ, 2001, edição em dois volumes, ver volume um, pp. 125-126.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação
do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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