A Lei de Eterna Justiça
Aleixo Alves de Souza
Um encadeamento matemático
perfeito entrelaça e harmoniza a Vida
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Nota Editorial
de 2017:
O lúcido artigo a seguir é reproduzido da revista
“O Teosofista”
de julho-agosto de 1942, páginas
90 a 92. Aleixo Alves de Souza era na época o
presidente da Sociedade Teosófica de Adyar no
Brasil.
Imperfeito como todo ser humano, Aleixo
participou das ilusões ritualistas e pseudoesotéricas
de
Annie Besant. Teve erros e acertos. Suas qualidades
positivas
são inegáveis, e foi um dos principais teosofistas
brasileiros
do século 20. É autor de vários livros, entre os
quais estão
“Contos e
Narrativas” e “Os Grandes Ideais da
Humanidade”.
(Carlos
Cardoso Aveline)
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Vivemos em um
mundo onde impera a Ordem. A desordem aparente quase sempre é implantada pelos
homens, porém essa mesma representa o caos que precede a seleção e o conhecimento,
que são o fruto direto da evolução da Vida através da Forma.
A
maior das descobertas da Ciência é a de que o mundo é regido por leis; leis
imutáveis e exatas em sua expressão e que devem ser a resultante imediata da
Ordem Cósmica que preside a manifestação e a evolução da Vida. Os fenômenos
estudados em todos os terrenos da investigação e da experimentação levam à
conclusão de que a sua invariabilidade sob dadas circunstâncias constitui a
maior garantia para o ser humano que experimenta, investiga, observa e estuda.
A
Ciência moderna, porém, quase que se detém por completo no limiar do pórtico
que dos mundos da matéria conduz aos do espírito. E detém-se com medo de que
lhe falte o terreno sob os pés e tombe no abismo das conjecturas.
Analisando,
porém, as coisas com algum cuidado, verificamos que o edifício científico dos
nossos dias repousa quase que inteiramente sobre meras hipóteses,
brilhantíssimas, racionais, perfeitamente capazes de servirem de chaves para
explicar os mais compreensíveis fenômenos da natureza porém… hipóteses. Tais
são a teoria atômica e a molecular hoje tão aprofundadas, porém que, em face
dos ensinamentos da Teosofia não tocam senão externamente a verdadeira
constituição da matéria e a real estrutura do Universo. Tais são também a
hipótese geológica da origem da terra e a de sua verdadeira condição interior.
Tudo se passa, entretanto, no Universo, como se as leis e hipóteses
investigadas pela Ciência fossem positivas e reais. Mas sê-lo-ão?
A
Teosofia diz que sim. E dizendo que sim, vai mais além, afirmando que não
existem apenas as leis físicas que regem o mundo físico, e que existem também
grandes leis morais que regem o mundo moral, leis intelectuais que regem os
fenômenos mentais e leis espirituais que governam a manifestação do Espírito
através da Matéria, sendo que matéria e espírito são, tanto um como a outra, em
sua raiz ou essência última [1], um
mistério completo.
Dentre
as leis que regem a manifestação de Vida subjetiva - se assim quisermos chamar
à Vida Interior do homem, independente ou quase das funções vegetativas da vida
corporal - uma há que recebeu um nome hoje consagrado pela terminologia mundial
teosófica: a Lei de Carma ou de Ação e Reação. Esta Lei, que pode ser chamada
com razão Lei fundamental da manifestação da Vida e de sua expressão nos três
mundos Mental, Emocional e Físico, é a que se expressa em relação a cada homem
sob o aspecto de destino ou predestinação individual.
É
uma lei complexa que parece como que o traço de união, a argamassa que liga
todos os seres e coisas do Universo, a trama
invisível que encadeia os acontecimentos, palavras, atos, pensamentos e
sentimentos de todos os seres do Universo. Encadeia essas coisas, porque cada
pensamento origina um novo pensamento; cada emoção uma nova emoção; cada desejo
um novo desejo; cada palavra uma nova palavra, cada ato um novo ato, cada
acontecimento um novo acontecimento, cada situação uma nova situação, e isto
obedecendo a uma ordem transcendentemente lógica e perfeita, embora nem sempre
ao alcance do homem vulgar.
Em
virtude desta Lei, sábia e resumidamente expressa pelo Apóstolo Paulo, “cada um
colhe o que semeia”, seja individual, seja coletivamente, pois existe o Carma
coletivo e o Carma individual, que caraterizam: o primeiro as raças, as nações,
os povos, as sociedades, as famílias, etc., e o segundo o caráter individual e
as individuais qualidades, idiossincrasias e atributos de cada indivíduo.
“Não
se colhem figos nos espinheiros nem uvas nas silvas”, disse o Cristo. “Pelo
fruto se conhece a árvore” - é uma expressão da linha cármica individual. E
estas outras palavras do mesmo grande Instrutor caracterizam outro aspecto do
Carma como Imanência Divina: “Nem um cabelo de vossa cabeça cairá sem que o Pai
saiba.”
Outro
grande Instrutor, Gautama o Buddha, ou Sakia Muni, afirmou no Dhammapada, título de uma escritura que
quer dizer “Caminho da Lei”:
“As
coisas brotam do coração e o coração as determina; aquele que fala ou age com
mau coração, a dor o acompanha como a roda acompanha o pé do animal que a
arrasta. Porém o homem que fala ou age com bom coração, a felicidade o
acompanha como a própria sombra.”
Eis
aí uma belíssima expressão figurada da atuação da Lei do Carma na vida dos
indivíduos.
Lei
que encadeia os efeitos às causas será sem dúvida a sua expressão mais
filosófica.
Porém,
o que convém manter presente é que este encadeamento é matemático, perfeito, é
um reajuste exato que entrelaça a Vida e dá a cada ser exatamente o que precisa
e o que merece para evoluir, que tal é a finalidade da existência, pois o Plano
de Deus [2] é a Evolução.
NOTAS:
[1] No original, “ulterrita”. (CCA)
[2] “Deus”, em teosofia, é a lei
universal impessoal. (CCA)
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Em
setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento
esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja
Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas
diversas dimensões da vida.
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