Ter um Coração Simples é
Muito Diferente de Ser Ingênuo
Carlos Cardoso Aveline
* A prática
abstrata da contemplação permite agir no mundo com mais eficácia.
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A alegria de viver pulsa com força em um coração simples. Seu alicerce é a ação
correta feita sem alarde.
* Para
trazer a transcendência até a existência diária, basta deixar de lado
gradualmente as várias formas de apego à ignorância.
* A
sabedoria é resultado de uma visão de longo prazo aplicada a espaços amplos e
abertos ao infinito.
* A
liberdade interior garante a paz. Para isso, cabe preservar a necessária
independência.
* Uma
tarefa inevitável, em filosofia esotérica, é construir uma harmonia entre o que
se diz, o que se sente, o que se faz, e o que se tem como projeto ou intenção.
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A vida ensina sabedoria a todos os seres, sem interrupção. Lições podem ser
encontradas por todo lado ao nosso redor.
* A
paz do silêncio mental profundo traz a bênção. As fontes da sabedoria estão
situadas acima do nível em que vibram os sons, e nenhuma forma de raciocínio
mundano pode alcançá-las.
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Para expandir o silêncio, cabe ouvir a Natureza. Quando o vento toca as folhas
de uma árvore, o diálogo que resulta disso fala ao coração humano.
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Árvores são inteligentes e auxiliam grande número de seres. A inteligência dos humanos
precisa crescer e transcender as palavras antes que eles possam compreender a
inteligência sutil das árvores, e interagir com ela.
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O propósito do sofrimento é testar nossa capacidade de manter o coração focado no
que é bom. Quando há a firme intenção de tentar o melhor, os momentos incômodos
passam e a paz permanece.
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A vida ensina autorresponsabilidade. Em teosofia, autocontrole é inevitável. A
consciência do estudante não deve ficar à deriva, obedecendo a condições
externas oscilantes ou a fatores de natureza astral que se comportam ao azar,
conforme os ventos dispersivos da luz astral.
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A ignorância espiritual se mostra através do desperdício de energia. A
sabedoria consiste em preservar a força vital e usá-la de modo correto e
fraterno. Cabe observar, portanto, em que aspectos da vida diária somos sábios
no uso da nossa energia, e em que aspectos falta melhorar.
* Devemos
fazer escolhas. O discernimento entre certo e errado é fundamental. Por outro
lado, cabe lembrar que pensamentos e sentimentos positivos produzem
contentamento e melhoram as circunstâncias ao nosso redor.
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Não é suficiente ter boa intenção e metas corretas. O esforço deve ser bem
administrado. O indivíduo precisa construir uma agenda realista para o mês
atual e para os meses e anos que virão. Prioridades bem organizadas, definidas
em função do tempo disponível e da energia vital e dos talentos que se possui, constituem um fator decisivo.
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Preservar e expandir o seu sentimento de boa vontade significa que você é capaz
de plantar bom carma para si próprio e os outros. Verifique a cada dia a
qualidade e a força dos seus pensamentos, especialmente seus pensamentos
habituais e repetitivos. Corrija erros adotando pensamentos corretos como
“mantras” que os anulem e desenvolvendo ações na direção mais acertada
possível.
* Não
se preocupe com resultados de curto prazo. O funcionamento da Lei não pode ser
apressado. A primavera e o novo dia não virão mais cedo apenas porque alguém
está pessoalmente ansioso pela renovação da vida.
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A mente do ser humano trabalha em uma unidade transcendente com o coração.
Nenhum divórcio é possível entre eles, exceto num nível superficial. A
cooperação entre pensamentos e emoções sempre pode ser melhorada, através do
conhecimento e da sabedoria.
* Na
era atual, o mundo não precisa de mais palavras vazias ou discursos feitos de
puro vento. A Lei do Carma exige responsabilidade. Lideranças e instituições
baseadas em mentira não têm futuro.
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Disfarçar sentimentos egoístas com discursos belos e sofisticados não é
suficiente. Enquanto a humanidade for guiada em grande parte por instintos
animais, haverá doses desnecessárias de sofrimento, medo e raiva. O
autocontrole, inseparável da simplicidade voluntária, é grande fonte de
felicidade.
* A
adoção de um ideal de vida que seja nobre
e desafiador liberta o peregrino da mediocridade organizada e da morte
espiritual associada a ela. Este é o primeiro passo, que serve para inaugurar a
caminhada. Será necessário lutar década após década, reduzindo pouco a pouco o
contraste entre a intenção nobre e as ações imperfeitas.
* Um
progresso gradual é suficiente.
* Ao
escutar a voz do silêncio na alma, alcançamos o ponto de equilíbrio em nossa
consciência e o eixo de simetria em nosso carma.
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Momentos diários de retiro e silêncio são indispensáveis para o fortalecimento
da paz interior. Manter uma atitude serena diante das oscilações da vida requer
força de vontade e uma decisão firme.
* Ter um coração simples é muito diferente de ser ingênuo. Há
uma diferença entre transcender as
complexidades da vida e ser incapaz de vê-las. Só se pode obter a simplicidade
depois de identificar rigorosamente e dizer “não” a todas as falsidades e todo
fingimento.
* Um
jeito eficiente de ajudar o mundo a alcançar a paz é viver em paz você mesmo
sob quaisquer circunstâncias. Então o mundo ao redor absorverá silenciosamente
a paz que você irradia. Mas lembre: viver a harmonia implica ser ativo, criativo,
humilde e, quando necessário, severo.
* Não
sejamos ingênuos. Não nos enganemos se em algum momento um muro aparentemente
sólido cortar o caminho à nossa frente. Olhadas desde o ângulo correto, as
dificuldades abrem a porta para a transmutação. O fogo probatório põe em
movimento a alquimia da alma imortal. A revolução interior transforma o carma
bruto da ignorância no carma maleável e criativo de um aprendizado que avança
na direção da luz.
* Justiça
implica colocar limites aos erros - especialmente erros conscientes ou
semiconscientes - e estimular a ação correta. Quem protege erros não consegue
estimular ações nobres. As pessoas devem ser aceitas como são. Os erros, no
entanto, precisam ser corrigidos no tempo certo. E é um dever ético evitar que os
mesmos velhos erros se repitam indefinidamente.
* Em
astrologia e filosofia esotérica, é bem conhecida a correspondência entre o sol
e o coração humano. Nem todos levam em conta o fato de que uma mente iluminada
se une completamente ao coração, e se transforma, por sua própria dinâmica, em
uma miniatura do centro do nosso sistema solar. Veja, a propósito, as “Cartas
dos Mahatmas”. [1]
* Quando
os desafios no caminho espiritual ameaçam a integridade do coração de alguém, é
preferível optar pela prudência, pelo vagar e pela boa vontade silenciosa. Vale
mais a colaboração no plano do pensamento do que uma ação externa para a qual
não estejamos preparados.
* Os
pensamentos se ouvem, as ideias flutuam no ar, os sentimentos causam efeitos
palpáveis. É a comunhão de bons pensamentos que sustenta o trabalho teosófico,
e se o silêncio amigo sustenta e consolida os bons pensamentos, então este é o
caminho correto. O desapego é nosso mestre. O mais importante é ouvir a voz sem
palavras dos nossos corações e perceber a paz que ultrapassa o entendimento
humano.
NOTA:
[1] Ver “Cartas dos Mahatmas”, Ed.
Teosófica, Brasília, 2001, volume II, Carta 93-B, item 9, p. 128. Ali um Mestre
escreve: “A cabeça de um homem, em uma
condição de êxtase intenso, quando toda a eletricidade do seu sistema está
centrada ao redor do cérebro, possui - especialmente na escuridão - uma
semelhança perfeita com o Sol durante estes períodos.”
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O artigo acima foi publicado como texto independente em 18 de abril de 2018.
Uma versão inicial dele está incluída de modo anônimo na edição de abril de
2015 de “O Teosofista”.
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em
língua inglesa “Thoughts Along the Road”, do mesmo autor, não há uma
identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
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