Na República Brasileira:
Cartas ao Conselheiro Rui Barbosa
Sílvio Romero

Sílvio Romero (foto) escreveu a obra “Parlamentarismo e
Presidencialismo” poucos anos depois da proclamação da República
Nota Editorial de 2018:
Nascido em 21 de abril de 1851, Sílvio Romero ou Sylvio Romero viveu até 1914.
Na obra clássica “Parlamentarismo e Presidencialismo”, da qual reproduzimos
a edição de 1893, o leitor encontra lições decisivas e constatações
fundamentais para o Brasil do século 21.
Como por exemplo:
* “A república precisa de mais tino, mais respeito à lei, mais liberdade,
mais sentimento do dever, mais largueza de ânimo, mais espírito de concórdia,
mais fraternidade.” (p. 31)
* “Sempre e sempre se verifica a eterna realidade: quando um povo abdica de
sua vontade, os espertos apoderam-se dela, ou, melhor, substituem-se a ela e as
ditaduras se aparelham nos cantos escusos da história.” (p. 74)
Buscando o melhor, Romero propõe uma visão realista do povo brasileiro. Às
páginas 64-69, ele desmonta em sua obra o mito segundo o qual o brasileiro é sempre
e necessariamente pacífico e honesto:
* “Essa teoria propala que nós os brasileiros somos o povo mais brando,
mais sensível, mais terno de índole, mais meigo de gênio, que se conhece sobre
a terra. Entre gentes assim, dizem, o despotismo com as suas crueldades não
poderá jamais levantar a cabeça e pôr as garras de fora. É a tese. Nossos
patrícios nos perdoem; não acreditamos nesta cantiga; é uma antiquada loa, que não
está de acordo com os fatos. ” (p. 65)
* “Amicus Plato, sed magis amica veritas.” [1] (“Platão é meu amigo, mas a amizade da verdade é ainda mais
importante.”) (p. 65)
Sílvio Romero denuncia o “otimismo de opereta”. Ele desmascara a hipocrisia
e ressalta a necessidade de cumprir os
deveres, antes de aproveitar dos direitos:
* “Se existe fenômeno que salte aos olhos de qualquer observador, ainda o
mais descuidoso e superficial, é a indiferença real do povo brasileiro pelos
seus deveres políticos. Note-se que dizemos deveres
e o fazemos propositalmente. O brasileiro, desde o capadócio das vilas do
interior (…) até os mais enfatuados doutores das academias e das secretarias,
que vivem perpetuamente a discretear sobre o governo e seus atos, o brasileiro é
o ente que mais fala em tal ordem de assuntos; porém, é só como objeto de
palestra e meio de desfastio; não é que ele tome a sério as necessidades
públicas e esteja disposto a cumprir o seu dever cívico, o dever de cidadão que
se sente um fator na república, na vida do país, na direção da pátria. Na hora
do trabalho, da ação, do exercício do direito, do cumprimento do dever, quase
todos esfriam, retraem-se, desaparecem.” (pp. 72-73).
* “… O compatrício, por via de regra, em se lhe metendo um cargo nas mãos,
tende logo a abusar. Em quase todos esses galhardos liberalões, esses guapos
democratas, esses denodados tribunos, que aí se pavoneiam, acha-se o estofo
tétrico de outros tantos tiranetes, outros tantos déspotas; ficai certo.” (p.
68)
* “… Este último [o regime
presidencialista] é já de origem o mais corruptível, por mais que essa
plutocracia mude de trajos e troque de nomes. Esse banqueirismo governativo não passa de uma aristocracia do dinheiro, de um patricialismo
do capital, a mais viciada e bastarda de todas as aristocracias.” (p. 58)
* “O presidencialismo há de vacilar sempre entre o despotismo dos
presidentes trêfegos e as revoltas perniciosas dos espíritos revolucionários. O
parlamentarismo, com sua marcha moderada e suave, é a forma mais perfeita do
conservadorismo progressista.” (pp. 139-140)
Na primeira frase do livro, Sílvio Romero se refere à Constituição de 24 de
fevereiro de 1891, de cujo preparo Rui Barbosa - um admirador do modelo
presidencialista norte-americano - participou de modo decisivo. [2]
(Carlos Cardoso Aveline)
NOTAS:
[1] Frase com frequência
atribuída a Aristóteles. (CCA)
[2] Veja por exemplo
“Realidades e Ilusões no Brasil, Parlamentarismo e Presidencialismo e Outros
Ensaios”, Sílvio Romero, Ed. Vozes, 324 pp., 1979, p. 36. (CCA)
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O livro “Parlamentarismo e
Presidencialismo” foi publicado em nossos websites associados dia 8 de
junho de 2018.
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